Por Tali Feld Gleiser.
As partes acordaram manter afastada à imprensa de suas negociações sobre um tratado de paz desproporcionado no qual, segundo transcendido, os palestinos terão que conformar-se com menos da metade do território que lhes atribuiu a ONU em 1948 e sem poder ver de retorno aos mais de quatro milhões de palestinos refugiados que têm fugido das agressões israelenses através da história.
Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) iniciaram na última segunda-feira sua primeira ronda de negociações, destinada a impulsionar os acordos alcançados no passado mês de novembro durante a Conferência sobre Oriente Médio que se realizou na cidade estadunidense de Annapolis, Maryland (este), e que procuram alcançar a paz entre duas nações enfrentadas faz mais de 60 anos.
A cita, encabeçada pela chefa da equipe negociadora de Israel, a ministra de Exteriores, Tzipi Livni, e Ahmed Qurea, seu interlocutor palestino e assessor do presidente da ANP, Mahmud Abbas, transcorreu com total hermetismo.
As partes acordaram nessa segunda, previamente à reunião que tiveram num hotel de Jerusalém, manter as negociações afastadas da imprensa, segundo explicou Livni antes do seu encontro com Qurea. (...)
Na sua visita da semana passada aos territórios israelenses e palestinos, Bush circunscreveu esse novo Estado Independente palestino a Jerusalém Oriental, Gaza e Cisjordânia, que Israel ocupa militarmente desde 1967, trás a chamada “Guerra dos Seis Dias”.
Estes três territórios somam em total 6 mil 200 quilômetros quadrados, frente aos perto de 15 mil do Estado árabe que, junto ao israelense, a ONU desenhou em 1947 numa partição do antigo Mandato britânico da Palestina.
Em 1947 a ONU aprovou o Plano de Partição da Palestina, que propunha sua divisão em dois Estados, um árabe e outro judeu, outorgando a maior parte aos sionistas.
À comunidade judia, com arredor de um 30 por cento da população que morava nesses territórios se lhe adjudicou 55% do território, enquanto que aos árabes, com uma população majoritária do 67% , apenas se lhe atribuiu o 45% restante, partição que foi rechaçada pelos palestinos, mas que se aplicou contra sua vontade.
Por todo isso, o plano que atualmente negociam Israel e a ANP é rejeitado pela grande maioria dos palestinos e pelos grupos de resistência, como Hamas, principal força política que ganhou as eleições legislativas de março de 2006 com mais do 70% do respaldo.
Além disso, no novo Estado palestino que procura aprovar, e que tem como prazo um ano, permaneceriam ao menos três grandes blocos de assentamentos judeus da Cisjordânia, onde há mais de 200 colonos que ocupam ilegalmente os poucos territórios que Israel lhe deixou aos palestinos trás sua ocupação.[5]
“O presidente palestino, Mahmud Abbas, indicou hoje (pelo 11/10/07) que está disposto a ceder uma extensão do território da Cisjordânia a Israel, se esse país lhe outorga em troca uma extensão de terra como resultado do processo de paz entre ambos os povos.
‘6.205 Km2 quadrados em Cisjordânia e Gaza. Queremos que seja assim indicou Abbas quando foi perguntado sobre a extensão e as características do futuro Estado palestino numa entrevista que transmitiu hoje a cadeia oficial palestina[6] ”.
A partir destas duas notícias nota-se uma rara coincidência entre o que Mr. Bush decretou que devia ser o estado palestino no encontro de Annapolis em novembro de 2007 e o “pedido” de Mr. Abbas de outubro do mesmo ano. Mr. Abbas diz que se conforma com os 6.200 km2 que configuram Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Em quantos quilômetros quadrados se mede a paz na Palestina? Que paz pode haver nos 360 km2 de Gaza onde a densidade de população em 2005 era de 3.880 habitantes por quilômetro quadrado? Se é que é verdade que o governo de Israel aceita um estado palestino (com as condições que eles e EE.UU. impõem), como se unirão Gaza e Cisjordânia territorialmente?
E Jerusalém que seria “administrada” pela ONU segundo a resolução de 1947, que status terá? Segundo a lei de Jerusalém de 1980[7] , Israel não aceita outra condição para sua capital que não seja a de ficar completamente com o domínio dessa cidade. E todas suas ações conduzem a isto. “Jerusalém é uma cidade cada vez mais judia. Não se contratam pessoas não judias, quer dizer: cristãos e muçulmanos basicamente, não se renovam licenças de residência para os palestinos que por algum motivo, leia-se doença ou estudos, tiveram que deixar o país por uma temporada cumprida, se nega a permissão de reabilitação das casas palestinas com o objetivo de derrubá-las alegando motivos de segurança por mal estado ou que os donos estão reabilitando a casa sem permissão (...)”.[8] Em relação aos recursos naturais, de aonde vai extrair Palestina a água necessária já que o aqüífero de Gaza cada vez menos água porque se lhes permitiu aos colonos que perfuraram seus próprios poços? E o 95% dos recursos de água originários da Cisjordânia, são usados em Israel e nos assentamentos judeus dos territórios ocupados da Palestina, o que deixa apenas um 5% de água, cada vez mais salobra, para os palestinos.
Essa é a paz proposta por Bush e sua colônia Israel que o “representante” palestino aceita? E por que Hamas não tem nenhuma representação quando ganharam legitimamente as eleições parlamentarias que o mundo ocidental exigia na Palestina?
Qual é a “reparação” que quer dar uma parte de uma das vítimas diretas dos nazistas? Se essa reparação existe, certamente, não é a de um estado num território infinitamente mais reduzido que o original no qual habitavam parte das vítimas indiretas do nazismo. O povo palestino deve voltar ao seu território original co-existindo com a população israelense que ali se encontra com todos os direitos que isso implica. Difícil? Dificílimo, porém, mais do que justo.
P.S.: Você conseguiu ler este artigo? Que sorte. Em Gaza não se pode.Não tem luz porque o bloquieo de Israel deixou o território sem energia elétrica. A única central ficou sem combustível para funcionar. (20 de janeiro).
Versão em português: Raul Fitipaldi de América Latina Palavra Viva.
[2] EFE - Jerusalem - 11/10/2007 00:50.
[3] Lei de Jerusalem: Foi aprovada pelo Parlamento israelense em 30 de julho de 1980 e proclamou a cidade de Jerusalem, «inteira e unificada», como capital de Israel. O município estava unificado de fato desde a Guerra dos Seis Día (1967) em que Israel tinha conquistado os bairros orientais (Jerusalem Leste) e a Cidade Velha de Jerusalem, que tinham permanecido desde 1948 sob administração jordana. http://es.wikipedia.org/wiki/Ley_de_Jerusal%C3%A9n.