terça-feira, 6 de maio de 2008

Urgência da solidariedade à Bolívia





Altamiro Borges

De todas as experiências progressistas na América Latina, decorrentes das vitórias eleitorais de forças mais à esquerda, a que atualmente corre maior risco de retrocesso é a da Bolívia. Segundo inúmeros analistas, a nação vizinha está à beira de uma guerra civil. A oligarquia racista, que até hoje não engoliu a histórica eleição do líder camponês e indígena Evo Morales, está apostando as suas fichas na divisão do país, num movimento separatista de caráter fascistóide. O "referendo da autonomia" no rico departamento de Santa Cruz, em 4 de maio, pode ser o estopim do confronto.

Numa iniciativa ilegal, contrária à Constituição e à unidade territorial, Rubén Costa, governador do estado e líder dos separatistas, alardeia que o referendo será o primeiro passo para a cisão do país. Outros três departamentos (Pando, Tarija e Beni) pretendem trilhar o mesmo rumo. Desde a posse de Evo Morales, em janeiro de 2006, a burguesia boliviana orquestra este golpe, que visa separar a parte oriental, "Media Luna", mais industrializada e rica em recursos naturais, da parte ocidental – mais pobre e com predomínio da população indígena. Para impor a divisão, ela conta com o apoio escancarado dos EUA e recruta mercenários para um previsível confronto armado.

O embaixador separatista

A ação intervencionista do presidente-terrorista George Bush é aberta. Numa nítida provocação, ele nomeou como embaixador na Bolívia o temível Philip Goldberg. Este agente do imperialismo ficou famoso pelas ações de estímulo ao separatismo nos Bálcãs, na chamada "Missão Kosovo". Como denuncia Stella Calloni, no texto "Contra-insurgência y golpismo", "Goldberg é conhecido como especialista em agudizar conflitos étnicos e raciais e por sua intervenção e experiência nas lutas étnicas desde a Bósnia até a separação da ex-Iugoslávia". Seu passado "diplomático" inclui ainda o golpe do Haiti que derrubou Jean Aristides e a militarização do Plano Colômbia.

Para ela, "não há dúvidas de que as mãos de Goldberg estão por trás do processo separatista em Santa Cruz de la Sierra", iniciado logo após a posse de Morales e que já resultou em sabotagens e mortes. "Quando chegou à Bolívia, os empresários croatas de Santa Cruz (seus velhos amigos) conformaram o movimento ‘Nação Camba’. Um dos principais líderes do movimento, com laços empresariais no Chile, Branco Marinkovic, é o maior promotor das medidas de desestabilização, com influência no restante da Media Luna", e tem sólidos vínculos com o embaixador ianque.

Manobras militares na região

No ano passado, na 17ª Cumbre Iberoamericana, no Chile, o presidente Evo Morales exibiu aos chefes de Estado várias fotos do embaixador Goldberg sorrindo ao lado do mafioso e paramilitar colombiano Jairo Vanegas. Até funcionários da embaixada dos EUA em La Paz revelaram que George Bush encarou a vitória de Morales como "ameaça à segurança da região" devido ao seu "populismo radical" e aos vínculos com Hugo Chávez e Fidel Castro. O ex-secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, chegou a declarar que "a Bolívia agora faz parte do eixo do mal".

Noutra ação provocativa, tropas ianques realizam exercícios militares no vizinho Paraguai desde fins de 2005, quando já era certa a vitória do líder indígena. "Forças especiais dos EUA atuam na fronteira comum em manobras dissimuladas de ação cívica, uma velha tática contra-insurgente", alerta a autora. Os Esquadrões Operativos Adiantados (EOA) contam com forte estrutura no país vizinho, inclusive uma pista aérea de 3,8 mil metros na base de Mariscal Estigarribia, construída na época do ditador Alfredo Stroessner. A chegada de Fernando Lugo à presidência do Paraguai ameaça anular estes acordos militares, o que poderia precipitar uma aventura militar na Bolívia.

Grupos fascistas e mercenários

Desesperada com as mudanças graduais promovidas pelo governo Morales, mas animada com o apoio aberto dos EUA, a oligarquia racista se arma para o confronto. Manfred Reis, ex-militar na ditadura de Hugo Banzer e influente autonomista de Cochabamba, organizou grupos de jovens fascistas responsáveis por violentos confrontos que resultaram em mortos e feridos. Atualmente, ele está refugiado em Santa Cruz. Em novembro de 2006, a agência de notícias Erbol informou que um grupo de empresários viajou a Espanha para contratar mercenários. Donos de empresas de "segurança" confirmaram o rentável negócio. Um deles disse que agenciou 650 "combatentes, antigos membros de unidades de elite, que já estão operando nas zonas limítrofes da Bolívia".

Os golpistas também contam com a milionária ajuda da Usaid e da NED, órgãos dos EUA que financiam organizações não-governamentais de oposição a Morales. O serviço de inteligência do governo provou recentemente a doação de milhões de dólares para líderes separatistas, grêmios estudantis e jornalistas na campanha contra a Constituinte. O financiamento garantiu os "paros cívicos" e os bloqueios violentos de estradas. Em 2007, o consulado da Venezuela e a residência de um médico cubano foram alvos de atentados e uma funcionária da embaixada dos EUA foi detida com armas e munição. Neste processo, "os meios de comunicação são os protagonistas da contra-insurgência, incentivando o confronto interno e a intervenção externa", afirma Calloni.

Internacionalismo ativo e pressão

A manobra separatista da oligarquia boliviana, que deve adquirir nova dinâmica com o referendo de maio em Santa Cruz, tem recebido críticas de todos os lados. Até a Organização dos Estados Americanos (OEA), famosa por seu passado servil aos EUA, condenou o golpismo. Numa sessão extraordinária em Washington, em 26 de abril, a OEA apoiou a institucionalidade democrática e conclamou ao diálogo os governantes da Media Luna. Intelectuais e lideranças políticas, sociais e religiosas – entre elas, Pérez Esquivel, Noam Chomsky, Eduardo Galeano e os brasileiros Frei Betto, Oscar Niemeyer e Fernando Morais – também divulgaram um manifesto de solidariedade:

"O processo de mudança na Bolívia corre o risco de ser brutalmente interrompido. A ascensão ao poder de um presidente indígena e seus programas sociais e de recuperação dos recursos naturais enfrentam desde o primeiro momento as conspirações oligárquicas e a ingerência imperial. Nos dias mais recentes, a escalada conspirativa alcançou seus graus máximos. As ações subversivas e anticonstitucionais com que os grupos oligárquicos pretendem dividir a nação boliviana refletem a mentalidade fascista e elitista destes setores... Diante desta situação, queremos expressar nosso respaldo ao presidente Evo Morales. Ao mesmo tempo, rechaçamos o estatuto autonômico de Santa Cruz por seu caráter inconstitucional e por atentar contra a unidade de uma nação da nossa América".

A grave situação boliviana, que coloca em perigo a própria onda progressista na América Latina, exige a solidariedade ativa de todos os setores democráticos e populares do continente e do mundo. É urgente denunciar a trama separatista e golpista da oligarquia, apoiada pelos EUA, nas bases dos trabalhadores, no parlamento e na mídia progressista. É necessário pressionar a OEA e o governo Lula para que adotem posições mais ativas diante deste risco de retrocesso na região.

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro recém-lançado "Sindicalismo, resistência e alternativas" (Editora Anita Garibaldi).

Déficit habitacional no campo é de dois milhões de famílias

Adital


O déficit habitacional brasileiro é de mais de 7,5 milhões de moradias. No campo, são cerca de dois milhões de famílias sem casa e dessas 80% têm renda de até 3 salários mínimos. Para que o governo implemente uma política de habitação que diminuía esse déficit, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) está, hoje (05), mobilizado em 10 estados.

Desde a manhã, agricultores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Rondônia estão nas ruas protestando. Em Brasília, a movimentação também começou pela manhã, com uma reunião entre representantes do MPA e o vice-presidente da Caixa Econômica Federal.

Pela tarde, houve uma reunião no Ministério das Cidades. Para amanhã e quarta-feira, estão programadas reuniões com a Casa Civil, com o Ministro das Cidades e, novamente, com o vice-presidente da Caixa. A reivindicação dos agricultores é para que o governo aumente o volume de recursos destinado à moradia no campo.

Para esse ano, os recursos liberados não dariam para construir 20 mil casas, enquanto o MPA pede a disponibilidade de recursos para a construção imediata de 200 mil unidades habitacionais. De acordo com a integrante da Direção Nacional do MPA, Maria Costa, é preciso aumentar os subsídios governamentais e diminuir a burocracia.

Além disso, o governo precisa repensar as formas de pagamento, já que todos os financiamentos prevêem parcelas mensais, e, na grande maioria das vezes, o rendimento dos trabalhadores do campo é anual, pois vem com a safra. "Só que trabalha com coentro, cebolinha e leite tem renda mensal, o resto tem renda anual", disse Maria. Assim, a proposta dos trabalhadores é de financiamentos com parcelas semestrais, ou anuais.

A política nacional de habitação deve ainda ser uma "política social estratégica para conter o êxodo rural, manter a juventude no campo e repovoar as comunidades camponesas, aplicando, em escala crescente, tecnologias de bioconstrução", disse o MPA, em nota. Ela tem que mudar as condições de vida no campo e fazer do meio rural um lugar bom para se viver.

O MPA está desenvolvendo projetos experimentais de bioconstrução em todo o país. Com isso, os custos das moradias seriam barateados, além de serem utilizados materiais ecologicamente menos agressivos. São usados materiais encontrados na própria região, o que anula ainda o custo com transporte.

O projeto propõe a troca de cimento queimado por cimento prensado, o uso da permacultura (um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis), a construção de casas de taipa - que permitem uma sensação técnica melhor -, só que com materiais de mais qualidade que os usados nas casas de taipa atuais.

Alimentação: Se não têm arroz, que comam batata


Por Thalif Deen.

IPS.

Nações Unidas – Quando multidões de camponeses famintos se queixavam da escassez de pão na França do século XVII, a reina Maria Antonieta lançou um comentário hoje célebre: “Que comam bolo”.

Os historiadores polemizam sobre essa declaração de aparência cruel. Alguns alegam que foi mal citada ou mal traduzida.

Porém, não houve ambigüidade nas declarações atribuídas ao comandante do exército de Bangladesh e chefe do governo interino, general Moeen U. Ahmed, quem recomendou aos seus compatriotas que, se não têm arroz, deveriam comer batatas.

Enquanto a crise alimentaria continua expandindo-se por todas as nações em desenvolvimento, o preço do alimento básico dos perto de 150 milhões de habitantes de Bangladesh aumenta: só em março se encareceu em 87 por cento, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Bangladesh, que espera produzir uns oito milhões de toneladas de batatas este ano – foram cinco milhões em 2007 -, tem sido pragmática, ao passar de um alimento básico a outro.

O rancho dos soldados bengalis inclui agora 125 gramas de batatas diárias, “independentemente do seu cargo”, disse o general Ahmed, no almoço com diretores de jornais em Dhaka no mês passado.

Segundo o jornal da capital, Daily Star, o menu incluiu, nessa ocasião, batatas fritas, sopa de batatas, batatas com espinafres, pudim de batatas e outros pratos com esse tubérculo.

Um jornalista disse que os cozinheiros do exército, ao fim de um dia estafante na cozinha, tinham ficado sem receitas.
Coincidentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) comemora o “Ano Internacional da Batata”, em uma tentativa de “aumentar a consciência sobre a importância” deste produto “como alimento nas nações em desenvolvimento”.
Bangladesh, localizado pela ONU entre os 50 países menos adiantados do mundo, sofreu duas severas enchentes e um ciclone que destruíram arredor de três milhões de toneladas de grãos no ano passado.
O governo desse país tenta conter os efeitos de uma epidemia de fome de alcance planetário. “O preço dos alimentos, em pronunciada ascensão, converteu-se em uma real crise mundial”, disse semanas atrás à imprensa o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon.
A diretora executiva do PMA, Josette Sheeran, disse que os habitantes dos países industrializados gastam apenas entre 15 % e 18 % dos seus ingressos por lar em alimentos, o que melhora sua capacidade de afrontar os desastres e as subidas de preços.

Por outro lado, os lares do mundo em desenvolvimento gastam, na média, arredor de 70% de seus ingressos em alimentos.

Sheeran disse que os elevados preços dos alimentos estão “criando o maior desafio que o PMA afrontou em seus 45 anos de história, um tsunami silencioso que ameaça com sumir na fome a mais de 100 milhões de pessoas de cada continente”.
O PMA, que proporciona assistência alimentária direta, possui um orçamento central de entre 3.100 e 4.300 milhões de dólares anuais. Até agora, só arrecadou 1.000 milhões.

“E, naturalmente, esta soma de 4.300 milhões de dólares não leva em conta o novo rosto da fome”, disse a porta-voz do PMA, Bettina Luescher.

“Também necessitaremos uma quantidade ainda indeterminada para começar a fazer frente ao novo rosto da fome: o que sofrerão quem podiam remediar-se quando o pão estava em 30 centavos a fatia, mas hoje não, pois custa 60 centavos”, observou.

A secretaria geral disse que a ONU está muito preocupada, como todos os outros membros da comunidade internacional. “Devemos atuar imediatamente de modo concertado”, disse Ban.

O Conselho Econômico e Social da ONU tem programada uma reunião sobre segurança alimentária a meados de maio, e depois uma cúpula patrocinada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) que se realizará de 3 a 5 de junho em Roma.

A crise alimentaria também estará na agenda da cúpula do Grupo dos Oito (G-8) países mais poderosos que terá lugar em julho no Japão.

Consultado sobre como deveria abordar o foro mundial a crise alimentaria, o secretário geral disse à imprensa: “No curto prazo, devemos abordar todas as crises humanitárias, que têm impactado aos mais pobres dos pobres do mundo, porque 100 milhões de pessoas foram conduzidas a esta crise de fome adicional”.

Ban disse que o mês passado convocou o Grupo Diretivo da África para os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio. Na reunião, disse: “Adotamos várias recomendações importantes, que aprovamos como uma das iniciativas para tentar lançar a revolução verde africana”.

Este assunto se discutirá em profundidade com todas as agências, os chefes de agências, fundos e programas da ONU, assim como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, disse Ban.

“Depois tentaremos ver que tipo de ações imediatas e ao longo prazo podemos adotar como parte de uma iniciativa liderada pela ONU”, assinalou. (FIN).

Versão em português: Raul Fitipaldi de América Latina Palavra Viva.

domingo, 4 de maio de 2008

É CAMPEÃO....É CAMPEÃO....É CAMPEÃO....

É CAMPEÃO....

MASSACRE NO BEIRA-RIO....

COLORADO 8 X 1 EX-TÔCA...
Eu nunca fui um neoliberal, diz FHC em entrevista no exterior

Durante uma entrevista no exterior, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elogia Lula, diz que ele é “uma representação simbólica para o País”, além de dizer que a pobreza teve uma queda “impressionante”. FHC também frisou que “nunca fui um neoliberal”.


Quando mencionou alguns dados, de que a pobreza reduziu de 40% para 28% desde 1995, FHC foi interrompido para ouvir: “Desculpe-me Cardoso, mas muitos brasileiros diriam que a redução da pobreza tem sido muito mais efetiva e muito mais acelerada depois que o senhor deixou o governo e a partir da posse do presidente Lula. A percepção é que Lula destinou mais recursos”, disse o entrevistador.


- É verdade, disse FHC.

Quando falaram sobre corrupção, a entrevista teve um caráter revelador. FHC disse que em seu governo “não existiu nenhum caso de alguém que tenha sido indiciado, ou acusado que tenha sido protegido por mim”.

O entrevistador rebateu: “O senhor nomeou para o cargo de procurador geral o senhor Geraldo Brindeiro, que permaneceu no cargo durante anos e, segundo a imprensa brasileira, recebeu mais de 600 processos criminais contra funcionários do governo, tendo arquivado a grande maioria, o que lhe rendeu o apelido de ‘Engavetador Geral’. E o senhor quer então me dizer que não havia nada de errado no governo durante os seus mandatos, ou ele simplesmente resolveu sentar nos processos?”.

FHC foi categórico. “Ele era independente para tomar suas decisões”.

“Mas foi o senhor que nomeou ele”, indagou o entrevistador.


Assista aos vídeos

1ª parte:
http://www.youtube.com/watch?v=o0t2i5mv1cs

2ª parte:
http://www.youtube.com/watch?v=30O47FolIbI&feature=related

créditos: AHoraEAVez

Joe Satriani - Professor Satchafunkilus and the Musterion of Rock - 2008

sábado, 3 de maio de 2008

John Lee Hooker - Endless Boogie (1971)

http://i306.photobucket.com/albums/nn266/photoapo/Covers/JLH_Endless_front.jpg

John Lee Hooker - Endless Boogie (1971)
mp3 320 Kbps 164 Mb (covers) MCA Total time: 72:40


Faixas:
1. (I Got) A Good un 5:14
2. House Rent Boogie 6:23
3. Kick Hit 4 Hit Kix U (Blues For Jimi And Janis) 6:43
4. Standin At The Crossroads 6:07
5. Pots On, Gas On High 11:23
6. We Might As Well Call It Through (I Didnt Get Married To Your Two-Timing Mother) 8:04
7. Doin' The Shout 3:31
8. A Sheep Out On The Foam 6:30
9. I Dont Need No Steam Heat 4:18
10. Sittin' In My Dark Room 5:38
11. Endless Boogie, Parts 27 And 28 8:43
All song written by John Lee Hooker

Personagens:
John Lee Hooker (Guitar and Vocal)
Cliff Coulter (Electric Piano and Guitar) - 1,3,5,6,8-11
Steve Miller (Guitar) - 1-4,7,9-11
Mel Brown (Guitar) - 1,9-11
Gino Skaggs (Fender Bass) - 1-4,7,8,10
Billy Ingram (Drums) - 1,10
Mark Naftalin (Piano) - 2-6,9-11
Dave Berger (Harmonica) - 2,11
Dan Alexander (Guitar) - 2,8
Ken Swank (Drums and Tambourine) - 2-4,7,8,11
Jesse Davis (Guitar) - 5,6
Carl Radle (Fender Bass) - 5,6
Jim Gordon (Drums) - 5,6
John Turk (Electric Piano and Organ) - 9,11
Reno Lanzara (Drums) - 9,11
Jerry Perez (Guitar) - 11

Download abaixo:

http://www.filefactory.com/file/b0120d/


Todas as mulheres do mundo

Como a condição feminina mudou ao longo da história. De primeira dama do paraíso, virgem santíssima e carolas a Madonas, Leilas Diniz e mulheres-maravilha — muitas vezes à beira de um ataque de nervos. Preconceitos, assédios, triplas jornadas de trabalho: a mulher do século 21

Cláudio César Dutra de Souza, Sílvia Ferabolli

Pegamos emprestado o título do filme de Domingos de Oliveira, de 1966, com Paulo José e a paradigmática Leila Diniz no auge de sua beleza e talento, para fazer algumas reflexões pertinentes sobre o panorama histórico da condição feminina.

Há milênios, a mulher é submetida por formas mais ou menos explícitas de violência e contenção. A primeira é descrita no gênesis bíblico, no qual nossa mãe Eva é alçada a uma condição de inferioridade ao homem, primeiro por ser um “subproduto” de uma parte de seu corpo e não o resultado vivo do sopro divino como fora Adão. Em seguida, Eva é feita culpada pela expulsão do Éden, ao tomar parte ativa no processo de desobediência divina, ao dar ouvidos à serpente e, por conseqüência, nos jogando para fora da boa vida paradisíaca.

Segundo o culto mariano católico, mesmo num casamento restrito e monogâmico, a mulher é impura - já que não é possível ser mãe e virgem

Antes de Eva havia o mito de Lilith. No Talmude, ela é descrita como a primeira mulher de Adão que, devido a sua insubmissão a um plano divino que a colocava como naturalmente inferior, foi lançada aos infernos, como Lúcifer, tornando-se, entre outras coisas, o símbolo do desregramento sexual e sedução maligna. Características que alertavam para perigos envolvidos em um papel mais ativo da mulher. Na era cristã, a Virgem Maria apareceu como resgate e modelo para a mulher nos próximos séculos. Infelizmente, o culto mariano impõe à mulher um modelo nocivo ao seu desenvolvimento subjetivo. Mesmo dentro de um casamento restrito e monogâmico, ela jamais seria suficientemente “pura” - ostentando em si a vergonhosa mácula do pecado sexual, visto que a maternidade e a virgindade são obviamente incompatíveis.

Em qualquer revisão histórica que se efetue da condição feminina, chegam-se a conclusões semelhantes que apontam para períodos mais ou menos misóginos [1] no Ocidente. A Igreja Católica de 2008 é contida pelo Ocidente laico que, a partir do Renascimento, vem limitando, a muito custo e com relativo sucesso, o seu poder imperial. Se assim não fosse, as idéias do Vaticano na atualidade não difeririam muito de seus ancestrais medievos. Exemplo disso são as declarações dos últimos dois papas acerca da condição feminina, fatalmente ligadas aos pecados da carne, aborto, sexualidade e comportamentos sociais diversos. “Tirem os vossos rosários de nossos ovários”, bradam as feministas ainda hoje. E com razão.

Em contrapartida, por meio da luta de mulheres e homens, principalmente no século 20, foram formuladas leis de proteção e benefícios fundamentais à correção de injustiças de gênero históricas. Porém, elas, paradoxalmente, não inibem violências das mais diversas contra a descendência de Eva. Ainda hoje, mulheres vivem sob jugo patriarcal e, em certos casos, sofrem violências sob o beneplácito do próprio Estado, que, ou introduz a submissão em seu breviário de leis, ou é frouxo no julgamento e condenação com bases na honra viril maculada. Notadamente presente em países como a China, Tailândia, algumas regiões da África e Oriente Médio e também na América Latina, essa característica possui tentáculos suficientemente grandes para abarcar países do "primeiro mundo", que não são de modo algum isentos de registros de violência e contenção do gênero feminino.

Nada contra uma mulher adulta usar o corpo como lhe convier - inclusive fazendo sexo remunerado. O que preocupa é a relação submissa que a prostituiçao cria, sob mediação do dinheiro

Poderíamos pensar que há algo de errado com os homens... Será? Descartando, por ora, aqueles que são mais ignorantes ou provenientes de culturas que reduzem a importância do feminino, nos deteremos naqueles que possuem educação cultural e meios favoráveis para um comportamento menos machista e opressor com as mulheres. Porém, não se furtam de ser cúmplices do turismo sexual do terceiro mundo, de pertencerem a redes internacionais de pedofilia e de perpetrarem de forma oculta aquilo que já não podem fazer às claras.

Donos dos meios de produção, pertencentes à elite branca e dominante, tais homens perceberam, há muito, que existem formas sutis de burlar as regras às quais estão submetidos para poderem dar vazão ao primitivismo que resiste ainda dentro de si. A primeira e mais evidente se dá no território da prostituição. Ela prospera a passos largos no mundo inteiro. Clientes cada vez mais fiéis e assíduos utilizam-na como forma de exercer menos a sexualidade do que uma relação de poder onde, sob a mediação do dinheiro, se tem a mulher que se quer e da forma mais conveniente. A manutenção da indústria da prostituição tem como princípio a miséria de mulheres e meninas nas regiões mais vulneráveis do planeta e a demanda sempre crescente por esse serviço.

Não somos contrários à decisão de uma mulher adulta usar o seu corpo da forma como mais lhe convier, e isso pode incluir o ato sexual mediante remuneração. Contudo, preocupa-nos que esse homem descrito anteriormente está sempre ávido por “carne nova” e, ao que parece, cada vez mais jovem. Para isso não hesita em aproveitar-se da indigência financeira e moral que acomete alguns países do terceiro mundo, cujo comércio de escravas sexuais movimenta altas somas financeiras e destrói a vida de adolescentes e crianças, vítimas das mais cruéis situações de maus-tratos e violência.

Nas grandes empresas, esse mesmo homem aprendeu a valer-se da mão-de-obra feminina. Farta e abundante, está sempre disposta a dar o melhor de si no ambiente laboral, visto que o fantasma de suas avós, dependentes e oprimidas, ainda se faz presente em uma mulher que hoje em dia coloca a carreira em pé de igualdade com o desejo de casar e ter filhos. E por que seriam excludentes ambas as coisas? Infelizmente as pioneiras da década de 50 a 70 pagaram um alto preço pela sua independência. Eram vistas como condenadas a ser pouco atraentes e frustradas no campo amoroso, em troca de ascensão profissional. É algo que a mulher contemporânea já não aceita. E, graças a isso, temos as famosas duplas, triplas e quádruplas jornadas da mulher. Acorda cedo, trabalha o dia todo, dá atenção à cria e de noite é esposa atenciosa e uma amante ardente para o seu marido que, por ser homem, não precisa provar muita coisa, já que, historicamente, esse sempre teve valor em si e, de certa forma, ainda mantém essa premissa interiorizada.

Modelo por modelo, preferimos a Leila Diniz: subversiva sem ser patrulhadora, amante sem acrobacias, maternal sem culpas, trabalhadora consciente de seu valor, sedutora sem ser manipuladora

Nas classes populares percebe-se a incidência cada vez maior de um matriarcado estabelecido a partir de condições sociais que destacam uma situação favorável ao trabalho feminino, em contraste ao masculino. Mulheres da periferia obtêm renda como manicures, cozinheiras, costureiras, babás, faxineiras, ou, na pior das hipóteses prostitutas - trabalhos tradicionalmente associados ao feminino. Os homens nessas mesmas condições percebem a sua capacidade tradicional de trabalho diminuída no que se refere às atividades mais tradicionalmente ligadas ao masculino, seja por terem que dividi-las com as mulheres, seja pela perda de postos de trabalho ou exigências cada vez maiores de qualificação para ocupá-las. Assim não são raros os homens ociosos, alcoolistas e, muitas vezes, violentos com suas mulheres – aquelas mesmas que arcam com o orçamento familiar, custos de criação dos filhos e que, não raro, sofrem com a violência e desprezo masculino, que insiste em negar-lhes o valor merecido. De acordo com a pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), feita no Brasil em 1998, a violência doméstica é a causa de uma a cada cinco faltas de mulheres ao trabalho [2].

É uma premissa comum no universo do liberalismo econômico o de capitalizar as revoluções a fim de domesticá-las e inseri-las em um contexto lucrativo e palatável. E a revolução feminina das últimas décadas parece não fugir a essa mesma regra. Tendo adquirido o direito a uma sexualidade livre, a mulher ainda continua a sofrer com estigmas morais e a perder o seu valor com o declínio da beleza e da juventude. Tendo conseguido ascender ao mercado de trabalho, sofre explorações, assédios e humilhações. Isso reflete-se na vida pessoal, tornando-a estressante e sofrida, o que acarreta em moléstias que vão da depressão, ausência de libido até moléstias cardíacas - que incidem de forma cada vez mais preocupante no universo feminino.

Tais exemplos sugerem que talvez a mulher pós-feminista tenha tornado-se um bom negócio comercial, sexual e laboral. O que poderia ter dado errado em décadas de lutas feministas então? Talvez Camille Paglia tenha algumas respostas. Ela denuncia o feminismo xiita e politicamente correto dos anos 70, que tentou anular algumas premissas básicas em relação á estruturação subjetiva daquilo que nomeamos como o “feminino”, criticando violentamente a geração de Betty Friedan e o feminismo militante que anulava as diferenças entre os sexos. Palavras de Camille na Folha de São Paulo do dia 27 de março de 2006: "No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o stalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza."

Afora os deslumbramentos de Miss Paglia, Madonna certamente é um ícone da modernidade, que fornece algumas pistas para o entendimento das benesses e das armadilhas em que as mulheres se vêem envolvidas atualmente, na ânsia de buscarem o absoluto, que é reservado a poucas (e poucos). Modelo por modelo, ao invés da apolínea popstar norte-americana, optamos pela nossa dionisíaca Leila Diniz que, na década de 60, já previa a multiplicidade de formas e contradições do feminino, que cada vez mais se pronunciam nesse milênio, só que de uma forma mais fluídica e prazerosa. Desobrigada da perfeição estética e da produção maquinal de gozos, Leila era subversiva sem ser patrulhadora, amante sem acrobacias, maternal sem culpas, trabalhadora consciente de seu valor, sedutora sem ser manipuladora, enfim, essa foi a imagem quase arquetípica que dela ficou.

Nunca a mulher desfrutou de tanta liberdade como hoje, em certos agrupamentos sociais. E o avanço da condição feminina só acrescenta, ao universo masculino, a companhia de uma mulher mais plena

Estamos convencidos de que o avanço da condição feminina só acrescenta benesses ao universo masculino, que, ao longo das últimas décadas, desfruta da companhia de uma mulher mais plena e companheira. Nunca ela desfrutou de tanta liberdade em certos agrupamentos sociais como nos dias de hoje. Infelizmente, ecos medievais ainda subsistem nos corações e mentes. Até mesmo nos daqueles que, aparentemente, se apresentam como os mais evoluídos, sendo que ainda estamos longe do ideal de igualdade entre os gêneros, visto que basta a experiência de uma guerra para que o nosso verniz civilizatório venha por água abaixo [3].

Mudar a mentalidade masculina torna-se um imperativo para que possamos reduzir comportamentos agressivos e misóginos no mundo atual. Para isso, entendemos ser necessário uma conscientização feminina no sentido de que as mulheres assumam a sua parcela de culpa na transmissão de inúmeros preconceitos. Principalmente, na educação das crianças, da qual ainda são as grandes responsáveis direta, como mãe e indiretamente como educadoras, visto que a quase totalidade desse ramo profissional, mais incisivamente na América Latina, se constitui de mulheres que, não raro, educam meninos e meninas sob as regras mais conservadoras possíveis - fato que, na maioria dos casos, não lhes é consciente.

Temos esperanças de que as reivindicações e lutas em prol de uma sociedade menos sexista e injusta frutifiquem nas próximas décadas. Mas para que isso se cumpra, ainda há muitas lutas a empreender. Recordemos, por exemplo, que somente com o novo Código Civil, que passou a valer a partir de 2003, o homem deixou de ser considerado como a “cabeça do casal”, bem como foram suprimidos outros arcaísmos humilhantes tal como o bizarro conceito de “mulher honesta” [4]. Que o Dia Internacional da Mulher, que comemoramos no mês de março, não sirva apenas para afagos e flores compensatórias, mas que seja também o dia em que Eva, Lilith, a Virgem Maria, Madonna, Leila Diniz, Condoleeza Rice, a mãe, a virgem, a puta, a trabalhadora, enfim, todos os arquétipos e estereótipos possam se unir em um ser integral pleno de contradições, qualidades, defeitos e subjetividades inerentes a qualquer ser humano, independente do gênero a que pertença.