Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
John Coltrane - Traneing In (1957)
Genre: Jazz / hard bop
MP3 / 320Kbps / RS.com: 86mb / covers
Músicos:
John Coltrane (saxophone),
Red Garland (piano),
Paul Chambers (bass),
Arthur Taylor (drums)
Faixas:
1. Traneing In 12:34
2. Slow Dance 5:27
3. Bass Blues 7:46
4. You Leave Me Breathless 7:23
5. Soft Lights and Sweet Music 4:41
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Mahmud: Imortal!
Por Elaine Tavares. |
“Venham companheiros de correntes e tristezas
Caminhemos para a mais bela margem
Nós não nos submeteremos
Só podemos perder
O ataúde”.
Ele era assim. Essa voz poderosa chamando para a revolução. Queria ver seu povo livre, soberano, feliz. Queria de volta a sua Palestina, não como concessão de algum político bonzinho, mas porque esse é o direito do povo, usurpado em 1948 pela criação do Estado de Israel. Mahmud Darwish, poeta, guerreiro, anjo, criança, renitente, insistente. Encantou no último sábado (dia 9) quando seu coração, pesado de tanta dor, deixou de bater. Mas, enganam-se aqueles que pensam que Mahmud vivia por conta de seu coração. Não. Ele vivia pelas palavras que criava, pelas construções poéticas que erguia e, estas, nunca haverão de morrer.
Ninguém disse nada, mas quando os olhos de Mahmud apagaram para este mundo, abriram-se para a velha aldeia onde nasceu, Al Barwua, de onde sua família foi expulsa pelas armas de Israel. Um lugar que não existe mais, a não ser nos sonhos do menino que nunca a esqueceu. Encravado no coração da Galiléia, o povoado é hoje um acampamento judeu. Mas, para Mahmud sempre foi seu torrão natal, seu ninho. E é possivelmente lá que agora ele passeia, entre as oliveiras.
“Registra-me
Sou árabe
O número de minha identidade é cinqüenta mil
Tenho oito filhos
E o nono... virá logo depois do verão
Vais te irritar por acaso?”
Mahmud foi o poeta palestino que de forma mais radical imortalizou a dor e a luta de seu povo. Até porque nunca se limitou a ser apenas um escrevinhador. Era um animal político, absolutamente conectado com as ações e com a vida real. Seu canto poético brotava das vísceras à mostra, do homem pé-no-chão, do palestino encarcerado, do humano grávido de esperanças. Suas palavras nunca foram criações estéticas. Eram o gume cortante de uma vida real, expressa em sangue e lágrimas. Seu poema nos arranca da apatia e nos convida a lutar, concretamente.
“Ainda verte a fonte do crime.
Obstruam-na!
E permaneçam vigilantes
Prontos para o combate”
Pois agora a mão que rasgava em fogo o papel com o grito da Palestina ocupada já não escreverá mais. Mas precisa? Seu canto de liberdade está cravado na terra fértil dos corações que sonham com o ainda-não, e dali nunca fugirão. Mahmud passeia em Al Barwa. Mahmud passeia nas terras antigas, onde vivia uma gente livre. Mahmud passeia nas cabeças das gentes e grita, com elas. Mahmud imortal, imenso, menino, homem, pura vontade de ser aquilo que sempre foi: palestino, livre, soberano. Porque a liberdade, afinal, vive lá dentro, no profundo do humano. Mahmud! Presente! Sua alma imortal dançará no dia da vitória!
“selvagens... árabes”
sim! Árabes
e estamos orgulhosos
e sabemos como empunhar a foice
como resistir
inclusive sem armas
e sabemos como construir a fábrica moderna
a casa
o hospital
a escola
a bomba”
Primeira entrevista com o Presidente depois do triunfo no revogatório
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Poderosos interesses não permitem efetivo estudo da Amazônia | | | |
Gabriel Brito e Valéria Nader | |
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Com o planeta cada vez mais mergulhado na crise sobre como tratar as questões ambientais, não é difícil imaginar que os olhos, não só de governos, como também de grandes parcelas da sociedade internacional, se dirijam crescentemente ao território brasileiro e seu ecossistema, dotado de riquezas praticamente inigualáveis.
Mediante esse quadro, pouco, ou nada, impede que empresas estrangeiras se apoderem de grandes fatias de nosso território. Ao Brasil não caberá, portanto, o direito de protelar amplos debates na dita esfera, sob pena de degradar ainda mais suas áreas ou ver sua soberania verdadeiramente em risco.
Somente nos últimos meses, três discussões de grande relevância agitaram os militantes da causa ambiental e os defensores do desenvolvimento a qualquer custo: o lobby pela redução da área de reserva ambiental de 80% para 50% em propriedade privada; a MP 422, alardeada como a MP de incentivo à grilagem, por aumentar de 500 para 1500 hectares o limite de áreas que podem ser legalizadas sem qualquer licitação; e a privatização da floresta amazônica, que já teve 96 mil hectares de suas áreas vendidas (na Flona Jamari-RO) e corre o risco de ver outros mais de 200 milhões de hectares de terras públicas cercadas ilegalmente passarem pelo mesmo processo. O Serviço Florestal Brasileiro acaba de anunciar, por exemplo, um novo projeto de concessão, que permite que empresas privadas explorem trechos da floresta nacional Saracá-Taquera, nos municípios de Faro e Oriximiná, no estado do Pará.
Obviamente, este não é um tema de interesse exclusivo das partes citadas, mas sim de toda a sociedade, verdadeiros donos do patrimônio natural da nação. Com gigantes áreas ainda devolutas, está claro que no Brasil a política de defesa do meio ambiente sofre muitos entraves e tem muito por desenvolver-se.
A ausência de estudos e mapeamentos da Amazônia
Para o geógrafo Aziz Ab’saber, que desenvolveu estudo que mapeia a Amazônia em sub-regiões, é urgente a necessidade de se fatiar suas regiões, a fim de se estudar cada uma delas mais profundamente e compreendê-las melhor. "Só quando for feito o zoneamento de cada célula espacial, como defini essas sub-regiões, é que vão aparecer as diferenças sub-regionais de cada uma delas. A parte científica e técnica é a mais importante: fazer um detalhamento de cada célula-espacial em termos de seu desenvolvimento internalizado".
O professor emérito da USP ainda prossegue em suas advertências. "O conhecimento dessas realidades regionais, tanto em pequenas como em grandes cidades, é muito importante para identificar os problemas de vários setores". Ou seja, para Aziz, somente uma conhecimento a fundo da Amazônia pode levar a que se efetivem políticas eficientes de proteção ambiental e das populações locais.
Porém, fatos como a retirada do único artigo da famigerada MP 422 que podia oferecer algum controle sobre a grilagem, que condicionava a regularização fundiária de propriedades na Amazônia Legal ao zoneamento ecológico-econômico dos estados, mostram a cara de um país fortemente vulnerável a pressões dos maiores beneficiários econômicos da destruição ambiental. Interesses de grandes transnacionais na área seguem prevalecendo sobre o maior rigor na concessão e legalização de terras, apesar dos discursos de efeito do ministro Carlos Minc.
Em artigo publicado na página da Radioagência NP, assim com em diversas de suas falas a este Correio, o também geógrafo Ariovaldo Umbelino recapitula momentos da história do país que marcaram a luta da elite pela propriedade privada e define que "a elite brasileira raramente botou a mão no bolso para comprar a terra. Ela sempre criou instrumentos legais para se apropriar gratuitamente de vastas extensões de terras no Brasil. É por isso que o capitalismo no Brasil tem o caráter rentista". Lembrança muito bem vinda para realçar a compreensão da nova dimensão dos interesses que estão em questão.
"Quando o Lula assumiu a presidência, imaginei ser preciso organizar uma reunião em Brasília com técnicos, cientistas e políticos mais sensíveis sobre as questões da Amazônia, trabalhando para aprofundar conhecimentos em cada uma de suas regiões. Poderiam ser organizadas equipes de trabalho para cuidar de cada célula espacial, que depois se reuniriam e discutiriam o que foi encontrado em cada região. Seria fundamental essa visão dos problemas. É um tema muito importante em termos de conhecimento e da possibilidade de se fazer um planejamento para a região", afirma Ab’saber, explicando como o governo poderia se direcionar na gestão da Amazônia.
Os dados trazidos por Umbelino no artigo supracitado reforçam a importância desse planejamento que nunca saiu no papel. Segundo o geógrafo, "na atualidade, mais de 212 milhões de hectares de terras públicas, devolutas ou não, estão fora dos registros do Incra, dos Institutos de Terras estaduais e dos Cartórios de Registro de Imóveis. Ou seja, estão cercadas, mas não existem para o Estado.Foi por isso que os grileiros sempre atuaram politicamente para impedir que os governos estaduais e a União fizessem as ações discriminatórias das terras devolutas sob suas jurisdições. E aí está a razão pela qual são contra a reforma agrária".
O zoneamento defendido por Aziz também já foi citado pela ex-ministra Marina da Silva como fundamental, e até mesmo pelo diretor do Plano Amazônia Sustentável, ministro Mangabeira Unger. Sendo assim, por que não é levado adiante pelo governo de forma mais decidida e objetiva?
A luta pela apropriação de riquezas
Sem deixar de lado os já numerosos embates internos, há no cenário internacional uma temerária escalada na luta pela apropriação de riquezas naturais, como petróleo, gás, minérios e água. Somos já alvo de potências (nacionais e empresariais) na luta pelo controle de tantos e imprescindíveis recursos, não nos iludamos. A reativação da Quarta Frota norte-americana e o grande número de empresas transnacionais que já operam em nosso território são no mínimo sintomáticos de gordos olhos sobre nossa nação.
A criação de uma Guarda Florestal, sugestão do ministro Minc, é apenas parte de eventuais medidas que podem se tornar necessárias. No entanto, proposições destinadas a atender ao interesse geral da sociedade brasileira têm perdido constantemente as quedas de braço com o agronegócio e as madeireiras. Grilagem legitimada pelo governo e venda de pedaços da floresta é o que temos visto se concretizar de fato.
O bioma amazônico, ocupante de praticamente 60% do nosso território, é peça fundamental para que tenhamos o tão propalado desenvolvimento sustentável, em sua acepção honesta. Conhecê-lo e cuidar dele em sua totalidade são obrigações inadiáveis de quem pretende crescer sem perder sua soberania, que certamente não está ameaçada por conta dos índios, como chegou a se apavorar o general Heleno.
Gabriel Brito é jornalista; Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.
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Antigo testamento para fomentar uso do preservativo | | |
Uma campanha apresentada terça-feira no México utiliza frases do Antigo Testamento para promover o uso do preservativo entre a população do país como meio para combater a expansão da Sida. A campanha consistirá em cartazes e folhetos divulgados nos comboios e estações das linhas do metro da capital mexicana antes e durante a Conferencia Internacional sobre Sida 2008, que se realiza na cidade de 3 a 8 de Agosto.
"Ama ao teu próximo como a ti mesmo. Usa preservativo" e "Gozar não é pecado. Arriscar a tua vida e a do teu parceiro, sim. Protege-te do HIV e da SIDA" são os lemas desta iniciativa promovida por duas associações: Rede Nacional Católica de Jovens pelo Direito a Decidir (RNCJDD) e Católicas pelo Direito a Decidir (CPDD).
A campanha consistirá em cartazes e folhetos nos comboios e no metropolitano da capital mexicana antes e durante a Conferencia Internacional sobre Sida 2008, que se realiza na cidade de 3 a 8 de Agosto. As citações "exaltam o amor como sentimento sagrado, exemplificando-o poeticamente na relação entre duas pessoas" para, deste modo, afirmar que "gozar não é pecado", precisou uma das promotoras da campanha.
"Amado meu! que delicioso eras, que delicioso! O nosso leito e só de folhagem", "Serão teus peitos como cachos de uva e a tua respiração como perfume de maçãs" e "Debaixo da tua língua encontra-se leite e mel" são as três referências do "Cântico dos Cânticos" utilizadas na campanha, um livro do Antigo Testamento, que narra a relação amorosa entre um homem e uma mulher.
Os promotores da campanha criticam a posição da Igreja Católica, que se opõe ao uso do preservativo e que defende a abstinência como método para travar a expansão do HIV. "Precisamos de uma hierarquia mais realista e consciente dos problemas dos seus paroquianos" já que no interior da igreja há muitas pessoas comprometidas com o uso do preservativo", reclamou a porta-voz das jovens católicas.
Mário Maestri*
O Estado brasileiro não deve assegurar privilégios, mas garantir a todas os grupos étnicos que constituem a comunidade nacional, “equivalentes e equiparados” direitos de língua, cultura, escola, etc. O reconhecimento ao ensino da história singular de cada comunidade constitui elemento fundamental, “porque somente então” cada uma delas “se reconhecerá como um fator que faz história, e saberá se libertar da sua posição de inferioridade [...].”
O monopólio político do “luso-brasileiro” deve dar lugar à representação dos diversos grupos étnicos, já “que nada há, neste mundo, que não tenha sido criado pelos homens – e mesmo que no momento pareça solidamente construído – nada há que não possa ser [...] reconstruído pelos mesmos.” “Brasilidade é e somente pode ser o sentimento de profunda união com o solo [...] e a nação brasileira, [...], sem nenhuma tendência de imperialismo étnico por parte de qualquer etnia isolada”, já que o Brasil deve “servir de pátria” “para todas as raças e todos os povos representados no país” e não apenas ao luso-descendente.
Essa proposta de democratização do Brasil, através de sua racialização, ou seja, do reconhecimento dos direitos de expressão, organização e representação singular dos diversos grupos étnicos que integram a comunidade nacional, que sintetizamos, foi apresentada, em Benneckenstein, em 19-22 de março de 1937, no 3º Congresso Anual do Círculo Teuto-Brasileiro de Trabalho de Berlim, na Alemanha nazista. [1]
Destaque-se que esse programa racista procuravam interpretar direitos democráticos efetivamente desrespeitados, sobretudo das comunidades rurais teuto-brasileiras do sul do Brasil, mantidas, mais ou menos, nos cem anos anteriores, com destaque para o período imperial, em inferioridade lingüística, cultural e política, apesar de importante contribuição à sociedade nacional.
A retórica racial nazista enfatizava, corretamente, o monopólio luso-brasileiro, absolutizando as aparências raciais e desconhecendo as essências sociais. Literalmente soterrava o fato de que o monopólio era exercido prioritariamente por classe dominante com luso-ascendência, e não por aquela comunidade como um todo. Essa interpretação racial da realidade social era imprescindível à conquista nazista do direito de representação dos teuto-brasileiros, no contexto de novas instituições nacionais que mantivessem a velha ordem classista, também em relação à comunidade explorada de origem alemã.
A retórica racista encobriu sempre a militância anti-social nazi-fascista. O poder fora entregue pelo capital, na Itália, ao fascismo, em 1922, e na Alemanha, ao nazismo, em 1933, para jugularem o movimento operário que assaltava a ordem capitalista, restaurando hegemonia e dominação fraturadas. No Brasil e no mundo, as propostas de racialização almejavam substituir os interesses comuns dos explorados por identidades fantasmagóricas de etnia, consolidando e não superando a opressão de classe.
O fato de que essa proposta impugnava a construção-consolidação de Estado-nação brasileiro, mesmo sob hegemonia das classes dominantes nacionais, então em fortalecimento, explica o comportamento contraditório dessas últimas, expresso pela ditadura de Getúlio Vargas – simpatia ideológica ao nazi-fascismo e repressão à sua organização e desenvolvimento no Brasil.
O programa de racialização nazi-fascista foi combatido pela política de nacionalização autoritária do Estado Novo [1937-45] e superadas com a derrota do Eixo, em 1945. Sobretudo, foi ultrapassado pela integração das comunidades de descendentes de italiano e alemães e com o fortalecimento do Estado-nação ensejado pelo empuxe nacional-desenvolvimentista. Nos dias atuais, também no Brasil, a mundialização capitalista enseja a retomada das propostas de racialização, como meio de fragilização do movimento social e dos vínculos nacionais dos Estados periféricos.
* Mário Maestri, 59, é historiador e professor do Curso e do Programa de Pós-Graduação em História da UPF. E-mail: maestri@via-rs.net
CartaMaior
PORTO ALEGRE – Filho da experiência do jornal Movimento e precursor do boletim da Democracia Socialista, corrente do Partido dos Trabalhadores, o jornal Em Tempo marcou época com capas memoráveis e denúncias contra a ditadura. O deputado estadual do Rio Grande do Sul e dirigente petista Raul Pont organizou, na capital gaúcha, um reencontro dos fundadores do jornal na década de 70. “Hoje nós vamos repartir os dividendos dos acionistas do Em Tempo”, comentou Pont, com a lista dos primeiros colaboradores do jornal em mãos.
“Brizola não é mais aquele”. “Gramsci na crista da onda”. “Transas de Roberto Carlos”. “Discutindo o eurocomunismo”. “Mais um operário sofre violência em Minas”. As manchetes do primeiro número do jornal Em Tempo, de 23 de janeiro de 1978, são uma boa bússola do que a esquerda pensava na época e do conteúdo que recheou o jornal nas décadas seguintes.
O Em Tempo é filho das primeiras experiências de imprensa alternativa que demarcavam espaço contra a ditadura. Distribuído de carro ou bicicleta pelos próprios colaboradores, em bancas de revistas que aceitassem colocá-lo à venda, o jornal teve circulação nacional, e foi referência para os setores de esquerda que tentavam sobreviver ao regime militar.
A matéria principal, da mesma primeira edição, intitulada “Racha no poder”, começa assim:
“Transformado pelas circunstâncias numa real dissidência burguesa que claramente contesta os planos de continuísmo no Planalto através da nomeação do general Figueiredo para a Presidência da República, o senador Magalhães Pinto reúne a cada dia que passa um número maior de adesões e já até estabeleceu o seu plano: rachar, numa primeira etapa, a convenção da Arena e em seguida conquistar o apoio do MDB, apresentando-se como o ‘candidato de União Nacional’”.
A ilustração é de Chico Caruso e a matéria segue nas páginas 4 e 5 com “ampla cobertura sobre Magalhães e a conjuntura”.
“A idéia e o projeto do jornal, apesar de oportunos e necessários, não garantiam uma coesão entre os responsáveis por consolidar sucursais, bem como os compromissos decorrentes da sustentação material do projeto. Desde a escolha do nome e a chegada das primeiras edições às ruas, a frente do jornal era um permanente tensionamento. O peso desigual das várias sucursais tornava a disputa editorial e a orientação de cada artigo ou matéria uma disputa de táticas e estratégias entre seus protagonistas”, analisa Pont.
As principais sucursais estavam baseadas em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre e foram as equipes destas capitais que mantiveram o projeto e o engajamento editorial do jornal. Daí, para a contribuição decisiva na defesa da construção do PT foi um pulo, até o jornal se tornar a principal expressão de uma das correntes internas do partido, a Democracia Socialista. Segundo Pont, “a democracia interna, a definição pela perspectiva socialista e a luta e apoio à organização da classe trabalhadora fizeram com que a identificação editorial do Em Tempo com o movimento pró-PT fosse total.
Os primeiros passos do PT determinaram uma coesão mais firme e decidida da linha editorial do jornal. O projeto petista não aglutinava toda a esquerda brasileira, o que fez com que a frente jornalística do Em Tempo sofresse novas defecções e, num determinado momento, o próprio projeto esteve prestes a desaparecer”. A dificuldade de realizar e distribuir um jornal e as divergências políticas de linha editorial foram os grandes motivos para a redução de sucursais e pela troca de periodicidade do jornal, de semanal para mensal.
A história do periódico começa, na verdade, em 1977, com o número zero que seguiu costurando a História com cada matéria. Na edição que circulou entre 20 de fevereiro e 6 de março de 78, “Luta pela Anistia em todos os cantos” é a manchete. “Propondo-se a lutar, em todos os cantos, pela anistia ampla, geral e irrestrita, foi lançado no último dia 14, no Rio de Janeiro, o Comitê Brasileiro Pró-Anistia”.
Logo abaixo, em letras grandes: “Brasileiros no exílio. Existem atualmente cerca de 200 presos políticos no Brasil, além de 12 mil brasileiros exilados (incluindo familiares)".
E ainda: 4.582 cassados e 3.783 aposentados pelo AI-5 e demais atos de exceção”. “Todos de volta até o natal”, é a última frase da capa da publicação. No número 6, a manchete pergunta: “14 anos de regime militar! Até quando?”.
Em maio do mesmo ano, “A grande greve do ABC”, ocupa toda a primeira página do Em Tempo, com fotos de fábricas da região paulista. Em julho, foi publicada a lista de policiais e militares acusados por tortura. A capa acusa: “Presos denunciam 233 torturadores”.
“Foi assim, ainda, na luta pela anistia, no apoio à construção da CUT e na defesa das Diretas Já, as grandes manifestações populares que deram ao PT a vanguarda da luta pela democracia. Estivemos, também, no processo de defesa da Assembléia Constituinte, livre e soberana, como bandeira globalizadora na superação do regime militar, e na denúncia dos limites do Congresso Constituinte. O internacionalismo, bandeira tão cara aos socialistas, sempre encontrou no Em Tempo um veículo para sua difusão”, resume Pont.
Fotos: Eduardo Seidl
Gordinhos e despreparados
Para compensar a debilidade das medidas, Yeda cedeu o Palácio Piratini para que o new-secretário de Segurança Edson Goularte fizesse o anúncio. O evento foi montado com pompa sobre o tema "apresentação de projetos destinados a ampliar o efetivo da Brigada Militar" mas o que se viu foi uma tentativa de transformar em solução o que não passa de um remendo.
Detalhe: coube ao secretário Goularte iniciar a exposição mas logo teve a cena roubada pelo comandante-geral da Brigada, coronel Paulo Roberto Mendes. Certo é que não havia muito para dizer".
Wanderley, que qualificou Mendes como "onipresente", sentenciou: "O clamor da sociedade é por um salto qualificado em toda a estrutura da segurança pública. Digamos que isso não seja possível. Há décadas que esse discurso vem sendo repetido, não obstante seja bem diferente em período eleitoral. Não sendo possível o novo, que seria o salto qualificado, apela-se para os remendos, para as improvisações. Também é possível entender. Só não é possível entender que os remendos, as improvisações, recebam duas ou mais demãos para parecerem coisa nova". Enquanto isso no Presídio Central, no Instituto Psiquiátrico Forense... (Maneco)
Ilustração: Hupper
Créditos: Marco Aurélio Weissheimer