sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Beatles, de 1970 a 1981....


1970 GIVE PEACE A CHANCE

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LADO A
1 Give Peace A Chance (Lennon, 1969)
2 Isn't It A Pity (Harrison, 1966)
3 Maybe I'm Amazed (Mccartney, 1970)
4 Mother (Lennon, 1970)
5 Not Guilty (Harrison, 1968)
6 Man We Was Lonely (Mccartney, 1970)
7 God (Lennon, 1970)

LADO B
8 It Don't Come Easy (Starkey-Harrison, 1970)
9 Love (Lennon, 1970)
10 All Things Must Pass (Harrison, 1970)
11 Cold Turkey (Lennon, 1969)
12 Teddy Boy (Mccartney, 1970)
13 Instant Karma (Lennon, 1970)
14 My Sweet Lord (Harrison-Williams, 1969)

1971 APPLE SCRUFF

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LADO A
1 Another Day (Mccartney, 1971)
2 Imagine (Lennon, 1971)
3 Try Some Buy Some (Harrison, 1971)
4 Gimme Some Truth (Lennon, 1971)
5 Bye Bye Blackbird (Dixon-Henderson, 1970)
6 Oh My Love (Lennon-Ono, 1971)
7 Uncle Albert, Admiral Halsey (Mccartney, 1971)

LADO B
8 Happy Xmas (Lennon-Ono, 1971)
9 Monkberry Moon Delight (Mccartney, 1971)
10 Beware Of Darkness (Harrison, 1970)
11 Working Class Hero, Power To The People (Lennon, 1970)
12 Too Many People (Mccartney, 1971)
13 How Do You Sleep (Shortened Version) (Lennon, 1971)
14 Apple Scruffs (Harrison, 1970)

1972 HEART OF THE COUNTRY

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LADO A
1 Woman Is The Nigger Of The World (Lennon-Ono, 1972)
2 I'd Have You Anytime (Harrison, 1970)
3 Give Ireland Back To The Irish (Mccartney, 1971)
4 Angela (Lennon-Ono, 1972)
5 Early 1970 (Starkey, 1970)
6 Dear Boy (Mccartney, 1971)
7 Bangla Desh (Harrison, 1971)

LADO B
8 Heart Of The Country (Mccartney, 1971)
9 What Is Life (Harrison, 1970)
10 Country Dreamer (Mccartney, 1972)
11 Jealous Guy (Lennon, 1971)
12 Tomorrow (Mccartney, 1971)
13 Remember (Lennon, 1970)
14 Hear Me Lord (Harrison, 1969)

1973 GIVE ME LOVE

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LADO A
1 Photograph (Starkey-Harrison, 1973)
2 Mind Games (Lennon, 1973)
3 Bluebird (Mccartney, 1973)
4 Don't Let Me Wait Too Long (Harrison, 1973)
5 Little Woman Love (Mccartney, 1971)
6 Behing That Locked Door (Harrison, 1970)
7 Hi, Hi, Hi (Mccartney, 1972)

LADO B
8 Give Me Love (Give Me Peace On Earth) (Harrison, 1973)
9 C'moon (Mccartney, 1973)
10 Attica State (Lennon, 1972)
11 Oh My My (Poncia-Starkey, 1973)
12 The Luck Of The Irish (Lennon-Ono, 1972)
13 My Love (Mccartney, 1973)
14 Linving In The Material World (Harrison, 1973)

1974 STEEL AND GLASS

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LADO A
1 Steel And Glass (Lennon, 1974)
2 Mrs Vanderbilt (McCartney, 1973)
3 No No Song (Axton, 1974)
4 Live And Let Die (Mccartney, 1973)
5 Dark Horse (Harrison, 1974)
6 Jet (Mccartney, 1973)
7 Sunday Bloody Sunday (Lennon-Ono, 1972)

LADO B
8 Nr 9 Dream (Lennon, 1974)
9 So Sad (Harrison, 1973)
10 When The Night (Mccartney, 1973)
11 Ding Dong Ding Dong (Harrison, 1974)
12 Helen Wheels (Mccartney, 1973)
13 Simple Shady (Harrison, 1974)
14 Band On The Run (Mccartney, 1973)

1975 YOU

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LADO A
01 Stand By Me (King-Leiber-Stoller, 1975)
02 Listen To What The Man Said (Mccartney, 1975)
03 It Is He (Jai Sri Krishna) (Harrison, 1974)
04 John Sinclair (Lennon, 1972)
05 One More Kiss (Mccartney, 1973)
06 You're Sixteen (Sherman, 1973)
07 Junior's Farm (Mccartney, 1974)

LADO B
08 I'm The Greatest (Lennon, 1973)
09 No Words (Mccartney-Laine, 1973)
10 The Light That Has Lighted The World (Harrison, 1973)
12 Six O'clock (Mccartney, 1973)
13 Miss O'dell (Harrison, 1973)
13 You Gave Me The Answer (Mccartney, 1975)
14 You (Harrison, 1975)

1976 LOVE SONGS

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LADO A
01 Bless You (Lennon, 1974)
02 Silly Love Songs (Mccartney, 1976)
03 Dear One (Harrison, 1976)
04 Only You (Ram-Rand, 1974)
05 Love In Song, I Am your Singer (Mccartney, 1975)
06 Pure Smokey (Harrison, 1976)
07 Nobody Loves You (When You're Down And Out) (Lennon, 1974)

LADO B
08 San Ferry Anne (Mccartney, 1976)
09 Maya Love (Harrison, 1974)
10 Treat Her Gently, Lonely Old People (Mccartney, 1975)
11 Bye Bye Love (Bryant, 1974)
12 Warm And Beautiful (Mccartney, 1976)
13 Hey Baby (Channel-Cobb, 1976)
14 Beware My Love (Mccartney, 1976)

1977 ROCK SHOW

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LADO A
01 A Dose Of Rock'n'roll (Groszman, 1976)
02 Tight As (Lennon, 1973)
03 Magneto And Titanium Man (Mccartney, 1975)
04 Crackerbox Palace (Harrison, 1976)
05 Let Me Roll It (Mccartney, 1973)
06 Slidin’ And Slidin’ (Bocage-Collins-Penniman-Smith, 1975)
07 Venus And Mars & Rock Show (Mccartney, 1975)

LADO B
08 Scared (Lennon, 1974)
09 Nineteen Hundred And Eighty Five (Mccartney, 1973)
10 Meat City (Lennon, 1973)
11 This Song (Harrison, 1976)
12 Whatever Gets You Throu The Night (Lennon, 1974)
13 Letting Go (Mccartney, 1975)
14 Goodnight Vienna (Lennon, 1974)

1978 THE BEATLES ("BLACK ALBUM")

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DISCO 1 – LADO A
1 Cofee On The Left Bank (Mccartney, 1978)
2 Mamunia (McCartney, 1973)
3 Surprise Surprise (Lennon, 1974)
4 Famous Grupies (Mccartney, 1978)
5 Call Me (Starkey, 1974)
6 This Guitar (Can't Keep From Crying) (Harrison, 1975)
7 Mull Of Kintyre (Mccartney, 1977)

DISCO 1 – LADO B
8 With A Little Luck (Mccartney, 1978)
9 Old Dirt Road (Lennon-Nilsson, 1974)
10 Don't Let It Bring You Down (Mccartney, 1978)
11 Tired Of Midnight Blues (Harrison, 1975)
12 Junk (McCartney, 1970)
13 Drowning In The Sea Of Love (Gamble-Huff, 1977)
14 Free As A Bird (Lennon, 1977)

DISCO 2 – LADO A
1 Name And Address (Mccartney, 1978)
2 Going Down On Love (Lennon, 1974)
3 I'm Carrying (Mccartney, 1978)
4 Cookin (Lennon, 1976)
5 Let 'em In (Mccartney, 1976)
6 Morse Moose And The Grey Goose (Mccartney-Laine, 1978)
7 Learning How To Love You (Harrison, 1976)

DISCO 2 – LADO B
8 Hari's On Tour (Harrison, 1974)
9 London Town (Mccartney, 1978)
10 True Love (Porter, 1976)
11 Pure Gold (Mccartney, 1976)
12 Beautiful Girl (Harrison, 1970)
13 The Note You Never Wrote (McCartney, 1976)
14 Gave It All Up (Poncia-Starkey, 1977)

1979 BLOW AWAY

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LADO A
1 Bring On The Lucie (Lennon, 1973)
2 Getting Closer (Mccartney, 1979)
3 Your Love Is Forever (Harrison-Wright, 1979)
4 Backwards Traveller (McCartney, 1979)
5 It's No Secret (Poncia-Starkey, 1977)
6 To You (Mccartney, 1979)
7 Blow Away (Harrison, 1979)

LADO B
08 Wonderful Christmas Time (McCartney, 1979)
09 Wings (Poncia-Starkey, 1977)
10 If You Believe (Harrison, 1979)
11 To Know Her Is To Love Her (Spector, 1975)
12 I'l Still Love You (Harrison, 1976)
13 Spin It On (McCartney, 1979)
14 Real Love (Lennon, 1979)

1980 STARTING OVER

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LADO A
01 We're Open Tonight (Mccartney, 1979)
02 (Just Like) Starting Over (Lennon, 1980)
03 Soft Hearted Hana (Harrison, 1979)
04 I'm Loosing You. (Lennon, 1980)
05 Daytime Nightime Suffering (Mccartney, 1979)
06 Heart On My Sleeve (Gallagher-Lyle, 1978)
07 Faster (Harrison, 1979)

LADO B
08 I'm Loosing You (Hard Version) (Lennon, 1980)
09 Waterfalls (Mccartney, 1980)
10 Oo-Wee (Poncia-Starkey, 1974)
11 So Glad To See You (Mccartney, 1979)
12 Cleanup Time (Lennon, 1980)
13 Dark Sweet Lady (Harrison, 1979)
14 Watching The Wheels (Lennon, 1980)

1981 ALL THOSE YEARS AGO

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LADO A
1 I'm Stepping Out (Lennon, 1980)
2 Summer's Day Song (Mccartney, 1980)
3 Old Time Relovin (Poncia-Starkey, 1978)
4 Nobody Told Me (Lennon, 1980)
5 Coming Up (Mccartney, 1980)
6 Life Itself (Harrison, 1981)
7 Girlfriend (Mccartney, 1979)

LADO B
8 Love Comes To Everyone (Harrison, 1979)
9 (Forgive Me) My Little Flower Princess (Lennon, 1980)
10 Winter Rose, Love Awake (Mccartney, 1979)
11 Here Comes The Moon (Harrison, 1979)
12 Woman (Lennon, 1980)
13 After The Ball, Million Miles (Mccartney, 1979)
14 All Those Years Ago, Here Today (Harrison-McCartney, 1981)

Créditos: KABONG - Beatles7081

Uma das falhas do governo Lula....

‘Lula não fez reforma agrária’




Escrito por Rodrigo Mendes e Valéria Nader

No dia 20 de agosto último, o trabalhador sem terra e membro do MST Elton Brum da Silva, de 44 anos e pai de dois filhos, foi assassinado pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul, em uma ação de despejo na Fazenda Southall, em São Gabriel, RS. Testemunhas e a posterior divulgação de fotos do corpo de Elton comprovam que ele foi vítima de diversos disparos de calibre 12, todos pelas costas.

A ação da PM gaúcha resultou ainda em diversos homens, mulheres e crianças feridos, vítimas de estilhaços, golpes de espada e mordidas de cachorros. Para o MST, o uso de armas de fogo e de tal grau de truculência demonstra que há, por parte do Estado, uma política de criminalização dos movimentos sociais.

Essa forma de tratamento aos movimentos "não é uma exceção, e sim a regra", segundo nota do MST divulgada no dia seguinte à morte de Elton. Na mesma nota, o movimento condena o Poder Judiciário, por ter barrado a emissão de posse da Fazenda Antoniasi, onde o trabalhador rural Elton Brum seria assentado. Ou seja, pelos trâmites legais, Elton poderia estar trabalhando e produzindo.

Mas esse assassinato é apenas o capítulo mais recente de uma longa história de violência e marginalização sofrida pelos movimentos sociais. O mesmo MST teve outro membro assassinado no Paraná, por seguranças contratados pela transnacional Syngenta. O coronel Mario Pantoja, comandante na ocasião do massacre de Eldorado do Carajás, apesar de condenado a 228 anos de prisão, ainda responde ao processo em liberdade, mais de 13 anos depois do acontecido.

O assassinato de Elton faz parte ainda de um contexto em que a reforma agrária foi abandonada pelo governo Lula, conforme relatou em entrevista ao Correio da Cidadania a coordenadora nacional do MST Marina dos Santos.

Correio da Cidadania: Como o assassinato do trabalhador Elton Brum cai sobre o movimento no atual contexto das lutas?

Marina dos Santos: Para nós é uma situação muito difícil, os latifundiários, a polícia e o governo do Rio Grande de Sul estão usando métodos muito truculentos, em especial o Estado, para massacrar a população pobre do campo. Há uso de tortura, de cães, bala, até choque elétrico. Até espadas, de cima dos cavalos, os soldados usaram. Nesse momento, no Rio Grande do Sul, há uma criminalização muito grande dos movimentos sociais.

CC: A reforma agrária é uma prioridade do governo Lula? Anos se passaram sem a atualização dos índices de produtividade da terra (agora, finalmente, minimamente modificados), ainda há pouco se assinou a MP 458, batizada de "MP da Grilagem" etc. etc. Não tem ficado cada dia mais claro que há uma postura evidente de comprometimento com o agronegócio?

MS: Temos clareza de que a reforma agrária, no governo Lula, ficou para trás atropelada pelo agronegócio, e nós percebemos isso por uma série de coisas, começando pelo avanço nos últimos anos das transnacionais no país. Elas não se apropriam só da terra, tomam conta de toda a linha de produção do campo, da terra, mas também das sementes, da água, toda a cadeia produtiva do campo. Sem contar os investimentos que essas empresas e os fazendeiros mais atrasados, do latifúndio, têm recebido do governo federal, através do BNDES e de vários programas nos últimos anos. O agronegócio produz 120 bilhões de reais, mas o governo injeta 97 bilhões para isso, em especial pelo BNDES. Então, o que o agronegócio produz para a sociedade?

Além disso, o agronegócio usa agrotóxicos, venenos e ainda faz propaganda disso, como se fosse algo bom. Hoje o Brasil é campeão de consumo de veneno no mundo, essa indústria movimenta 7 bilhões de reais por ano. Não há preocupação ambiental, com as derrubadas das florestas, com a apropriação da biodiversidade, e isso tudo durante o governo Lula.

Há também os transgênicos, estão trabalhando pra empurrá-los. E é uma política patrocinada pelo governo. Então, não há espaço para a reforma agrária.

Lula tem falado que fez a maior reforma agrária, mas o que ele fez foi regulamentação fundiária - que tem que ser feita também, mas não se trata de reforma agrária, porque não descentraliza a terra, não mexe na estrutura fundiária. Essa política de reforma agrária é só para evitar os conflitos. O governo federal quer fazer reforma agrária sem conflito, mas isso não existe, uma política de reforma agrária no Brasil, país que mais concentra terra no mundo, tem que ter ofensiva, tem que ter disputa pela terra. Isso que o governo faz é política paliativa, assistencialista, que não destrói o latifúndio, não democratiza, não descentraliza.

CC: Os dirigentes e militantes do movimento sempre afirmam a sua autonomia frente aos governos, o que tem ficado evidente ao longo de sua atuação. Mas não acredita que, no atual momento, o movimento deva aprofundar seu enfrentamento com o atual governo em vista da postura que ele vem mantendo relativamente ao MST e à reforma agrária?

MS: O MST sempre adotou a linha da autonomia, é um movimento social de caráter político, social, organizativo e até sindical. Durante o governo Lula, nós continuamos desempenhando nosso papel, hoje são quase 15 milhões de sem terra no Brasil. Então, além de organizar as famílias, de fazer a ação reivindicativa, o MST nunca fez tanta luta quanto nos últimos anos, pressionamos governos estaduais e federal, ocupamos o ministério da Fazenda. Nós trabalhamos na perspectiva da luta, da reivindicação e da negociação com o Estado. Então, achamos que temos que continuar com essa linha, pois, independente do governo, seja de esquerda, de centro, de direita, o capital é que determina a ação.

CC: Que balanço o movimento faz das jornadas recém empreendidas nos estados? Qual é a efetividade das ocupações nos dias de hoje, quando se sabe que os latifúndios têm por trás de si exatamente o grande capital, como a Cargil, suscitando a necessidade de crítica e mudança do próprio modelo econômico, que privilegia o agronegócio?

MS: O nosso balanço é positivo, por diversos aspectos. Seja pelos internos, por conta do avanço da organização, seja por termos conseguido pautar o governo, com uma pauta antiga nossa, com três pontos. O primeiro é a atualização dos índices de produtividade de terra, que era um compromisso do governo e nunca havia sido cumprido. O segundo é a liberação dos quase 50% de recursos contingenciados no INCRA, para suplementar 90 mil famílias acampadas no país. E o terceiro é o desenvolvimento dos assentamentos, pois havia um compromisso do governo de qualificar os assentamentos, mas, hoje, 40 mil famílias assentadas ainda vivem em condições de acampadas, não receberam linhas de crédito, nenhuma infra-estrutura.

O governo se comprometeu a descontingenciar o orçamento, o que vai dar para assentar 15 mil famílias. Quanto à mudança dos índices de produtividade da terra, houve uma ação raivosa dos latifundiários e ruralistas [a questão ainda não havia sido definida no fechamento desta matéria], e o governo assumiu o compromisso de construir 280 escolas nos assentamentos. No geral, a jornada foi positiva, teve conquistas, por isso é que é necessário ter organização, mobilização e pressão.

CC: Acredita que, por se sentir segura com a política para o campo, a elite rural tem aumentado sua violência?

MS: Mais do que isso, os ruralistas têm tomado atitudes imorais, não têm agido só de maneira violenta, têm avançado muito nessa política de destruição ambiental, com a MP 458. Pelos dados do ministério do Trabalho, 2008 foi o ano no qual mais se encontrou trabalho escravo no Brasil, o que é uma vergonha. Com crise internacional e aqui os proprietários de terra têm todo esse poder e uma ação que é destrutiva pro conjunto da sociedade, não só para os trabalhadores. Eles [os ruralistas] se sentem mesmo muito à vontade.

Por exemplo, vemos nos dados da CPT [Comissão Pastoral da Terra] que os conflitos têm aumentado, a pobreza no campo tem aumentado, e não há política contundente que de fato enfrente esse tipo de ação do latifúndio.

CC: A postura de criminalização do Estado brasileiro (ao menos em algumas partes, como se viu no RS) assusta o MST em relação ao futuro?

MS: Se o Brasil não começar uma política séria de enfrentamento, não tiver política de punição, não só o MST deve ter medo, toda a sociedade vai sofrer. A violência no campo leva ao êxodo rural, desencadeia todo tipo de problema.

CC: Que cenários o movimento vislumbra a partir da próxima eleição presidencial?

MS: Esse é um tema que ainda não discutimos, mas hoje vemos a realidade do Brasil, o Lula que seria uma alternativa deu nisso. Teve avanços, mas tem um legado negativo. Então, qualquer cenário eleitoral tende a piorar a correlação de forças no próximo período.

Rodrigo Mendes é jornalista; Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

Máfias farmacéuticas





Ignacio Ramonet *

Tradução: ADITAL

Poucos meios de comunicação comentaram o fato. A opinião pública não foi alertada. E, no entanto, as preocupantes conclusões do Informe Final (1), publicado pela Comissão Europeia no passado dia 8 de julho sobre os abusos em matéria de competição no setor farmacêutico merecem ser conhecidas pelos cidadãos e amplamente difundidas.

O que diz o Informe? Em síntese: que no comércio dos medicamentos, a competição não está funcionando e que os grandes grupos farmacêuticos recorrem a todo tipo de jogos sujos para impedir a chegada ao mercado de remédios mais eficazes e, sobretudo, para desqualificar os medicamentos genéricos, muito mais baratos. Consequência: a falta de acesso do consumidor aos genéricos se traduz em importantes perdas financeiras não somente para os pacientes, mas também para a Seguridade Social a cargo do Estado (ou seja, dos contribuintes). Isso oferece argumentos aos defensores da privatização dos Sistemas Públicos de saúde, acusados de ser fossos de déficits no orçamento dos Estados.

Os genéricos são medicamentos idênticos quanto aos princípios ativos, dosificação, forma farmacêutica, segurança e eficácia aos medicamentos originais produzidos com exclusividade pelos grandes monopólios farmacêuticos. O período de exclusividade, que se inicia a partir do momento em que o produto é posto à venda, vence aos dez anos; porém, a proteção da patente do fármaco original dura vinte anos. Então, é quando outros fabricantes têm direito a produzir os genéricos, que custam uns 40% a menos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a maioria dos governos recomendam o uso de genéricos porque, devido ao seu menor custo, favorecem o acesso equitativo à saúde das populações expostas a enfermidades evitáveis (2).

O objetivo das grandes marcas farmacêuticas consiste, por conseguinte, em atrasar por todos os meios possíveis a data de vencimento do período de proteção da patente; e se esforçam para patentear agregados supérfluos do produto (um polimorfo, uma forma em gel etc.) e estender dessa maneira, artificialmente, a duração de seu controle sobre o medicamento. O mercado mundial dos medicamentos representa uns 70 bilhões de euros (3); e uma dezena de empresas gigantes, entre elas as chamadas "Big Pharma" -Bayer, GlaxoSmithKline (GSK), Merk, Novartis, Pfizer, Roche, Sanofi-Aventis-, controlam a metade desse mercado.

Seus benefícios são superiores aos obtidos pelos poderosos grupos do complexo militar-industrial. Por cada euro investido na fabricação de um medicamento de marca, os monopólios ganham mil no mercado (4). E três dessas firmas -GSK, Novartis e Sanofi- se dispõem a ganhar milhares de milhões de euros a mais nos próximos meses graças às vendas massivas da vacina contra o vírus A(H1N1), da nova gripe (5).

Essas gigantescas massas de dinheiro outorgam ás "Big Pharma" uma potência financeira absolutamente colossal, utilizadas, em particular, para arruinar, mediante múltiplos julgamentos milionários ante os tribunais, aos modestos fabricantes de genéricos. Seus inúmeros lobbies acossam também permanentemente a Oficina Europeia de Patentes (OEP), cuja sede se encontra em Munique, para atrasar a concessão de autorizações de entrada dos genéricos no mercado. E lançam campanhas enganosas sobre esses fármacos bioequivalentes e assustam aos pacientes. O resultado é que, segundo o recente Informe publicado pela Comissão Europeia, os cidadãos têm que esperar em média sete meses mais do que o normal para aceder aos genéricos, o qual tem sido traduzido nos últimos cinco anos em um incremento desnecessário de aproximadamente 3 bilhões de euros para os consumidores e em uns 20% de aumento para os Sistemas Públicos de Saúde.

A ofensiva dos monopólios farmacêutico-industriais não tem fronteiras. Também estariam implicados no recente golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya, em Honduras, país que importa todas as suas medicinas, produzidas fundamentalmente pelas "Big Pharma". Desde que Honduras ingressou na Alba (Aliança Bolivariana dos Povos da América), em agosto de 2008, Manuel Zelaya negociava um acordo comercial com Havana (Cuba) para importar genéricos cubanos, com o propósito de reduzir os gastos de funcionamento dos hospitais públicos hondurenhos. Além disso, na Cúpula do dia 24 de junho passado, os presidentes da Alba se comprometeram a "revisar a doutrina sobre a propriedade industrial", ou seja, que ameaçavam diretamente seus interesses, impulsionaram aos grupos farmacêuticos transnacionais a apoiar com força o movimento golpista que derrocaria a Zelaya, no dia 28 de junho último (6).

Da mesma forma, Barack Obama, desejoso de reformar o sistema de saúde nos Estados Unidos, que deixa sem cobertura médica a 47 milhões de cidadãos, está afrontando as iras do complexo farmacêutico-industrial. Aqui, as somas em jogo são gigantescas (os gastos com saúde representam o equivalente a 18% do PIB) e são controladas por um vigoroso lobby de interesses privados que reúne, além das "Big Pharma", as grandes companhias de seguros e a todo o setor das clínicas e dos hospitais privados. Nenhum desses atores quer perder seus opulentos privilégios. Por isso, apoiando-se nos grandes meios de comunicação mais conservadores e no Partido Republicano, estão gastando dezenas de milhões de dólares em campanhas de desinformação e de calúnias contra a necessária reforma do sistema de saúde.

É uma batalha crucial. E seria dramático que as máfias farmacêuticas a ganhassem, porque redobrariam os esforços para atacar, na Europa e no resto do mundo, o desenvolvimento dos medicamentos genéricos e a esperança de sistemas de saúde menos custosos e mais solidários.


Notas:

(1) http://ec.europa.eu/comm/competition/sectors/ pharmaceuticals/inquiry/index.html
(2) 90% dos gastos da grande indústria farmacêutica para o desenvolvimento de novos fármacos estão destinados para enfermidades padecidas por somente 10% da população mundial.
(3) Intercontinental Marketing Services (IMS) Health, 19 de março de 2009.
(4) Carlos Machado, "La mafia farmacéutica. Peor el remedio que la enfermedad", 5 de março de 2007 (www.ecoportal.net/content/view/full/67184).
(5) Leia-se, Ignacio Ramonet, "Los culpables de la gripe porcina", Le Monde diplomatique en español , junho de 2009.
(6) Observatorio Social Centroamericano, 29 de junho de 2009.


* Le Monde Diplomatique

Todos os presos são 'prisioneiros políticos'

do blog da Tania Marques








Tania Marques


Em última instância, todos os presos são prisioneiros políticos, porque eles são reféns de um sistema sócio-político-econômico que captura a sua liberdade em nome do desejo de ‘ter’, de ‘possuir’: dinheiro, bens e poder; saúde, sexo e beleza. A mídia de esgoto está presente na maioria das casas do povo brasileiro, bombardeando, através de sua publicidade, muitos produtos de ‘marca’ ou ‘grife’ e associando-os a uma vida bela, tranquila, prazerosa e plena de ‘status’ social. Isso provoca no ser humano a ideia de valorização pessoal ou individual (elevação de sua autoestima) por meio do que ele consome e não pelo que ele é, enquanto humano, gerando nele cada vez mais ansiedade, a ansiedade do consumo. Perto disso, ou melhor, aliado a isso nós temos a propaganda ideológica ininterrupta, instigando-o a acreditar que todo esse planejamento intencional - que faz parte de uma construção histórica e cultural do homem - é algo ‘natural’, isto é, passando a impressão para ele de que tudo está assim e deve ficar do mesmo modo, perpetuado para sempre em sua vida; que assim sempre foi e sempre será, ou, em outras palavras, nunca nada poderá mudar.

Então, o bandido, ‘filhote’ do sistema, produto ‘selvagem’ dessa organização ‘burrocrática’, que se mostra ‘poderosa’ por meio de seus (des)governantes, através de uma ‘pseudodemocracia’ [pseudo, sim, porque quero ver quem tem a coragem de dizer que consegue ser feliz, sabendo que a maioria da população brasileira é excluída dos direitos de ter todas as suas necessidades básicas atendidas: alimentação adequada, educação (não pelo número de escolas, mas pela sua qualidade), saúde, cultura, transporte, lazer, entre outros itens)] fere, sequestra, enlouquece usando e traficando drogas, assassina seu irmão a sangue frio, sem o menor arrependimento ou sentimento de culpa, por ele ser uma vítima ‘insensível’ do abandono em que se encontra por parte do Estado e, na maioria das vezes, de sua família (abandono tanto econômico, físico quanto psicológico), rouba, estupra, quebra tudo em nome de si mesmo, de sua fantasia de ‘ascensão social’ ou mesmo pela sua própria sobrevivência.

Se o bandido é preso, ele vai para a cadeia classificado como um criminoso e enquadrado em um dos artigos do Código Penal Brasileiro, tais como: homicídio, latrocínio, sequestro, estupro, crime hediondo, formação de quadrilha etc. Mas, pelo ângulo em que estou analisando essa questão, este tipo de infrator, principalmente aquele que mata para roubar, tem de ser classificado como ‘prisioneiro político’, até mesmo por que a maioria de suas ações ocorre contra o Estado e contra o ‘estado de coisas’ em que ele se encontra, sugerindo revolta contra a sociedade e contra o sistema vigente.

Como todos os nossos atos são políticos, não vejo porque ter classificações específicas para cada um desses delitos, já que eles acabarão incidindo, com maior ou menor intensidade, na questão política, ou seja, as ações criminosas, que envolvem 'dinheiro' ou outra extorsão são reflexos, consequências, do sistema capitalista atrelado ao mau uso do poder por parte de uma minoria que elabora, executa e gere as leis de acordo com a ética e a ótica burguesas, excluindo os menos favorecidos dos seus direitos, mesmo que isso ocorra de forma sutil. Cabe ressaltar que não podemos deixar fora deste (con)texto os políticos. Os de ‘colarinho branco’ que efetuarem atos como formação de quadrilha, lavagem de dinheiro sujo, abuso de poder, recebimento ou doação de propinas, gasto do dinheiro público em viagens pessoais, em objetos ou imóveis para o seu próprio uso, transporte de divisas na cueca etc. também deverão ser encaixados nessa classificação, se presos forem, é claro! E, chega de ‘pizza’, gente!

Fonte da imagem:
http://matheuslaureano.wordpress.com/

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Os operários argentinos da Zanón expulsam definitivamente o patrão

“Depois de 9 anos de combate, os empregados da fábrica “recuperada” Zanón, na Argentina, conseguiram o reconhecimento legal da gestão trabalhista de sua fábrica. Uma vitoria exemplar em plena crise mundial”.

Se havia convertido em um dos símbolos da resistência à fatalidade capitalista. Na Argentina, os operários da fábrica de cerâmica Zanón, rebatizada FaSinPat por “fábrica sem patrão”, acabam de ganhar uma batalha exemplar : a assembléia provincial de Neuquen, na Patagônia, ordenou a expropriação de seu antigo patrão e declarou a fábrica “sob controle trabalhista”, o que pediam os operários há anos. O “sonho juvenil”, como explicava Luis Díaz, um dos trabalhadores da fábrica, em junho, no perfil que lhe dedicou nossa revista (“HD nº 164, de 4 de junho de 2009), se converteu em realidade. Luis forma parte da aventura desde o principio, em 2001: enquanto no país, em bancarrota, se demite por todos os lados, a solidariedade se organiza ao redor dos operários da fábrica Zanón, que havia fechado suas portas apesar das importantes ajudas do governo argentino. Movimentos de desempregados, de sindicatos da região acodem em seu apoio.

Depois de seis meses de mobilização, os empregados decidem tomar o controle de “sua fábrica”, que tornam a por em funcionamento. No país, centenas de fábricas são “recuperadas” da mesma maneira. Zanón se mantem. Em oito anos, mais de 200 postos de trabalho se criaram, mas a fábrica deve enfrentar regularmente as tentativas de expulsão como a de abril de 2003. Mais de 3000 pessoas, vindas em solidariedade - dos sindicatos, movimentos sociais, universidades da região e de outros lugares- impediram o acesso à fábrica.

Hoje, “a utopia se convertido em realidade graças a nove anos de luta”, explica Pablo, um dos operários da fábrica, ainda que sabendo que outros combates estão à vista. A decisão não resolve tudo. As modalidades de sua aplicação serão igualmente cruciais porque os que se opõem à expropriação não deixarão de utilizá-las para minimizar o alcance do “controle trabalhista”.

Créditos: blog do velho comunista
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Original em L'Humanité

Cultura dos pampas...

Nos tempos em que as Estâncias eram de todos




Escrito por Mário Maestri

Em 1626, jesuítas espanhóis cruzaram o rio Uruguai e fundaram missões, a partir do noroeste do atual Rio Grande do Sul, sobretudo com populações guaranis. Em 1634, os inacianos importaram 1500 bovinos para formar os rebanhos dos dezesseis pueblos do Tape. Em 1636-38 o gado foi abandonado pelos guaranis missioneiros que retornaram para a outra banda do Uruguai, assaltados pelos paulistas escravizadores. O rebanho multiplicou-se, atravessou os rios Jacuí-Ibicuí em direção ao sul, formou a enorme vacaria do Mar, entre o oceano e os rios Jacuí e Negro.

Na segunda metade do século 17, devido à crise da economia açucareira, a coroa portuguesa retomou a procura das minas e lançou novas iniciativas econômicas. Em 1680, fundou a Colônia do Santíssimo Sacramento, diante de Buenos Aires, na outra margem do rio da Prata. Procurava com ela retornar às trocas de cativos, manufaturados e produtos da costa do Brasil pela prata andina, permitidas pela coroa espanhola até o fim da União Ibérica, em 1640. Os couros trazidos pelos espanhóis de Buenos Aires ou do interior da banda oriental do Uruguai, por portugueses, castelhanos e charruas, garantiram o sucesso da cidadela.

Em 1682, os guaranis missioneiros retornaram ao atual Rio Grande do Sul para barrar o saque das vacarias dos pampas e o avanço lusitano. Os Sete Povos apoiaram-se fortemente na extração animal, inicialmente, e na sua criação, a seguir. Mais tarde, a regressão do pastoreio fortaleceu a agricultura missioneira. A economia pastoril dos Sete Povos constituiu a pré-história das estâncias sul-rio-grandenses. Não procedem as propostas ideológicas de que ela seria mera exploração predatória do gado chimarrão.

Em Origens da economia gaúcha: o boi e o poder, livro póstumo de 2005, Guilhermino César descreve a organização das estâncias jesuíticas como a "mais simples possível": "[...] um grupo de catecúmenos [...] tangia reses mansas para um posto deserto, deixava-as em liberdade, e estava formado o criatório". Essa prática jamais teria constituído verdadeira economia pastoril, já "que a criação se fazia [...] ao deus-dará", com os gados "espalhados, em desordem ," caminhando "sem restrições".

Segundo ele, nenhum "regime fundiário vigorara naquela ‘terra de ninguém’ [sic]", onde a incúria quase natural e o "nomadismo congenial" dos guaranis teriam determinado tamanha "instabilidade" na atividade "que, à flor do chão, não ficou memória das estâncias jesuíticas", esfumando-se na "mente coletiva" sua recordação. Essa leitura foi amplamente difundida pela historiografia tradicional sulina, que estabeleceu hiato radical entre as histórias guarani-missioneiras e sul-rio-grandense.

Inicialmente, a exploração missioneira das vacarias deu-se sob licença dos padres superiores, preocupados em não esgotar os gados. Os vaqueiros guaranis não praticaram o abate geral de animais pelo couro, sebo e graxa, deixando as carcaças nos campos, como os corambreros ibéricos e nativos trabalhando sobretudo para Sacramento. Nos anos 1690, exagerando enfaticamente, o padre Sepp escrevia que, após dois meses, os vaqueiros retornavam com "cinqüenta mil vacas", para a "a alimentação" anual de sua missão. Contava que, nos navios da Ordem, partiam 300 mil couros, de "touros mais crescidos", e não de "vacas", certamente para manter a "procriação indispensável".

Preocupados com a perenidade dos rebanhos, os missioneiros fundaram, em 1700, a vacaria dos Pinhais, no Planalto, nas margens do rio Pelotas. Quando os gados das vacarias do Mar e dos Pinhais foram esgotados, pelos coureadores e tropeiros, fogueados pelas descobertas das minas [1695] e pela fundação da vila de Rio Grande [1737], os vaqueiros das missões enfatizaram a criação animal nas estâncias dos pueblos.

As grandes estâncias missioneiras, delimitadas por rios, riachos, matas, serros etc., subdividiam-se em sedes e postos, com aldeias de dez a doze famílias, com suas capelas, currais, plantações etc., povoadas por posteiros, que domesticavam e tratavam os animais nos rodeios e cuidavam que não fugissem.

No Planalto, em estâncias menores, próximas aos Sete Povos, invernava o gado trazido pela Boca do Monte [atual Santa Maria] e pelo Boqueirão [atual Santiago], para o consumo dos pueblos. A criação missioneira assumiu o caráter de produção pastoril extensiva herdado pelas futuras estâncias luso-brasileira, disseminadas na Campanha, nas Missões, nos Campos Neutrais e no norte do atual Uruguai, sobretudo a partir de 1780, após a instalação de charqueadas no Sul, que valorizou fortemente a exploração mercantil dos rebanhos.

O laço, as boleadeiras, o poncho, o mate, o churrasco, a doma em campo aberto, o aquerenciamento e manejo dos gados no rodeio, os vaus dos rios, os boqueirões nas serras, a origem de muitas cidades sulina foram algumas das heranças legadas pelas missões guaranis à civilização sul-rio-grandense. Foi muito amplo o arrolamento de missioneiros e de nativos pampianos como peões nas fazendas luso-brasileiras que proliferariam na região.

A grande diferença entre as duas sociedades foi o caráter do trabalho e da propriedade da terra, coletivo nas missões guaranis, privado nas fazendas luso-brasileiras. Para que, após a ocupação militar lusitana das Missões, em 1801, as estâncias coletivas guaranis fossem melhor repartidas em sesmarias privadas, exploradas com o braço escravizado e assalariado, era necessário que desaparecesse na memória histórica regional aqueles longos e estranhos tempos em que as pampas e os gados eram de todos, e não apenas de alguns poucos.

Bibliografia consultada:

BRUXEL, Arnaldo. Os trinta povos guaranis. Caxias do Sul, Universidade de Caxias do Sul, Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Sulina, 1978.

CESAR, Guilhermino. Origens da economia gaúcha: o boi e o poder. Porto Alegre: IEL: Corag, 2005.

MAESTRI Mário.[Org.] O negro e o gaúcho: Estância e fazendas no Rio Grande do Sul, Uruguai e Brasil. Passo Fundo: EdiUPF, 2008.

MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. A colônia do Sacramento. 1680-1777. Porto Alegre: Globo, 1937. 2 vol.

PINTOS, Anibal Barrios. De las Vaqueiras al alambrado. Montevideo: Nuevo Mundo, 1967.

PORTO, Aurélio. História das missões orientais do Uruguai. 2 ed. Revista e melhorada pelo p. L.G. Jaeger. Porto Alegre: Selbach, 1954. 2 vol.

QUEVEDO, Júlio. As Missões: crise e redefinição. São Paulo: Ática, 1993.

SEPP S.J., padre Antônio. Viagem às missões jesuíticas e trabalhos apostólicos. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo, EdUSP, 1980.

SEVERAL, Rejane da Silveira. A Guerra Guaranítica. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1995.

Mário Maestri é historiador, professor do curso e do programa de pós-graduação em História da UPF.

E-mail: maestr@via-rs.net

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Chomsky: A liberdade de expressão é propriedade das corporações midiáticas nos EEUU







Noam Chomsky
Noam Chomsky
Caracas, 25 Ago. ABN.- Se bem que a liberdade de expressão foi uma conquista dos estadunidenses nos anos 60, hoje está sob o controle de grandes corporações midiáticas que pertencem aos que ostentam o poder econômico.

A premissa pertence ao ensaísta e linguista norte-americano Noam Chomsky, que na segunda-feira passada ofereceu uma conferência magistral na Sala Ríos Reyna, do Teatro Teresa Carreño, em Caracas.

"Nos Estados Unidos o sistema sócio-econômico está projetado para que o controle dos meios esteja nas mãos duma minoria, dona de grandes corporações (...) e o resultado é que sob omanto da 'liberdade de expressão' estão sempre os interesses financeiros desses grupos".

Destacou que as corporações midiáticas são especialistas em desviar a atenção dos grandes temas para centrar a opinião pública em questões como a moda ou o espetáculo em diversos momentos da conjuntura.

Apesar disso, ressaltu que os meios foram os responsáveis pela vitória do atual Chefe de Estado norte-americano Barack Obama, o que, a juízo de Chomsky, contribuiu para a crescente decepção que rodeia o mandatário, porque chegou à presidência sob um lema publicitário que carecia de discurso político.

"Esta decepção com Obama era previsível. Seu lema de campanha foi 'mudança e esperança', mas nunca especificou em que sentido e isso é o que eles sabem fazer, mercadejar os candidatos da mesma maneira que promovem um pasta de dentes", disse o intelectual estadunidense.

Por isso, Chomsky agregou que para falar de liberdade de expressão, os Estados Unidos devem passar obrigatoriamente por permitir o uso dos meios sem que a mão dessas corporações maneje o conteúdo do discurso.

Essa postura foi respaldada pelo economista Michael Albert, que acrescentou que exercer o direito a expressar-se sem restrições nos Estados Unidos implica necessariamente a luta contra as grandes corporações midiáticas que têm o poder sobre o que transmite através da televisão, da rádio e da imprensa.

"A liberdade de expressão é um importante valor para a sociedade norte-americana (...) Mas o que não se adverte é que os que creem exercê-la na plenitude, o fazen sob os desejos dos donos do império midiático e isso em definitivo não é liberdade", sentenciou.

Fonte: Agencia Bolivariana de Noticias

Peter Gabriel - Ein Deutsches Album (1980)

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01. Eindringling (05:06)
02. Keine Selbstkontrolle (04:05)
03. Frag Mich Nicht Immer (06:08)
04. Schnappschuss (Ein Familienfoto) (04:31)
05. Und Durch Den Draht (04:32)
06. Spiel Ohne Grenzen (04:11)
07. Du Bist Nicht Wie Wir (05:35)
08. Ein Normales Leben (04:25)
09. Biko (08:58)

Agrotóxicos: Anvisa e deputados paulistas avaliam retirar do mercado substâncias proibidas em outros países

Simão Pedro - Eduardo Sezimbra

Uma ofensiva contra os agrotóxicos – A luta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tirar do mercado brasileiro 14 princípios ativos presentes em mais de 200 agrotóxicos pode ganhar um novo aliado: a Assembléia Legislativa de São Paulo. O deputado estadual Simão Pedro (PT-SP) protocolou ontem um projeto de lei que determina a retirada desses 14 produtos em todo o estado de São Paulo a partir de 1º de janeiro. A maioria dos princípios ativos – abamectina, acefato, carbofurano, cihexatina, edossulfam, forato, fosmete, glifosato, lactofem, metamidofós, paraquate, parationa metílica, tiram e triclorfom já é proibida nos Estados Unidos, Japão, Canadá e alguns países da Comunidade Européia.

Levantamento recente feito pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Anvisa constatou a presença de acefato, endossulfam e metamidófos em amostras recolhidas de abacaxi, alface, arroz, batata, cebola, cenoura, laranja, mamão, morango, pimentão, repolho, tomate e uva. Reportagem de Luciana Abade, no Jornal do Brasil.

Pioneiro – Vamos dialogar com o governador José Serra para assim como foi com a lei antifumo e com a proibição do amianto na construção civil, o estado de São Paulo seja pioneiro nessa luta – afirmou o deputado.

- Não podemos usar produtos que favoreçam o agronegócio em detrimento da saúde. Temos no estado 18 institutos de pesquisa e três universidades de ponta. Podemos desenvolver produtos que favoreçam a produção sem prejudicar a saúde da população.

A proposição obriga as unidades de saúde das redes pública e privada a notificar todos os casos de doenças e óbitos ocasionados pela exposição a qualquer tipo de agrotóxico sob o argumento de que as ocorrências são subnotificadas. No Brasil, a segunda causa de intoxicação, depois de medicamentos, é por agrotóxicos.

Quem infringir as novas regras está sujeito às penalidades previstas no Código Sanitário do estado que vão desde advertência ao cancelamento de licença de funcionamento da empresa e até invenção. As multas podem chegar a R$ 150 mil.

- O uso desses produtos é responsável por uma forte incidência de câncer. Precisamos proteger a população que está desprotegida e desinformada – ressaltou o autor da proposta. – E o estado de São Paulo deve ser responsável por 40% dos US$ 7 bilhões que o mercado de agrotóxico movimentou no país no ano passado.

No Brasil, o registro de um agrotóxico é eterno. A reavaliação toxológica ocorre quando novos estudos apontam o perigo que esses produtos podem trazer à saúde. A reavaliação dessas 14 substâncias estava prevista na Agenda Regulatória da Anvisa desde 2007, mas uma série de ações judiciais impetradas pela indústria do agrotóxico em 2008 impediram o processo. O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola (Sindag), por exemplo, entrou na Justiça para conseguir a suspensão da reavaliação de nove ingredientes ativos.

Com o apoio do Conselho Nacional de Saúde e da AdvogaciaGeral da União, a Anvisa conseguiu recentemente reverter as decisões judiciais para reavaliar as substâncias, mas ao contrário do previsto, não foi possível finalizá-las até junho. Até o momento, apenas a cihexatina será retirada do mercado brasileiro. O produto deve estar banido até novembro de 2011.

Ferramenta Por meio de nota, o setor de agroquímicos, representado pelas entidades Andef, Andav, Sindag, Abifina e Aenda, admitiu que o instituto da reavaliação é condição essencial para que a sociedade possa se beneficiar, com segurança toxicológica, ambiental e agronômica, do uso dessa tecnologia como ferramenta para a produção agrícola brasileira. Mas que no Brasil esse processo tem sido realizado com “imperfeições que implicam a perda de qualidade”. Entre as mais evidentes, o setor cita que a Anvisa, ao relacionar as 14 substâncias a serem reavaliadas, não atendeu a nenhum dos requisitos previstos no Decreto 4074 que trata da reavaliação de produtos. E que os documentos que embasaram as reavaliações deveriam ficar à disposição dos interessados, o que não ocorre.

O uso desses produtos é responsável por uma forte incidência de câncer. Precisamos proteger a população – Simão Pedro deputado estadual (PT-SP)

Veias abertas

aaaaaamilitares

Por Emiliano José*, de Salvador (BA), na Terra Magazine

A anistia foi uma grande conquista do povo brasileiro. O dia 28 de agosto de 1979 foi um dia de alegria. De reencontro. Um dia em que se celebrava a saída de tantos companheiros da prisão. A volta de tantos outros do exílio. A saída de muitos da vida clandestina.

A anistia foi resultado da luta do Movimento Feminino pela Anistia, do Comitê Brasileiro Pela Anistia, da Igreja Católica e de igrejas evangélicas, de parlamentares que se dedicaram a ela, e nos lembramos com emoção da luta de um Teotônio Vilela.

Na Bahia, é justo simbolizar as homenagens da luta pela anistia, correndo sempre o risco das injustiças, primeiro nos que estiveram à frente do Movimento Feminino pela Anistia, dona Isabel Santana (Bebé Santana) e do Comitê Brasileiro pela Anistia, Joviniano Neto e Ana Guedes.

Depois, nos advogados, e lembro o meu advogado, José Borba Pedreira Lapa, exemplo de coragem, sabedoria jurídica e dignidade, e mais Inácio Gomes, Jaime Guimarães e Ronilda Noblat. Os dois últimos já não estão entre nós.

E por fim, simbolizar as homenagens nos familiares: nossas mães, irmãs, pais, parentes, nossas mulheres, que nunca nos abandonaram.

A anistia foi parte importante da luta contra a ditadura. A partir da anistia, aumentou o ritmo das mobilizações populares, cresceu a organização da sociedade civil e menos de seis anos depois, em 1985, a ditadura acabava.

Sair da prisão, voltar do exílio, respirar o novo clima de liberdade não era pouco, e era obviamente um motivo de grande alegria. Não há como desconhecer isso. Voltávamos à vida, à militância política aberta. Para quem vive mergulhado na política, ser afastado dela compulsoriamente é quase a morte. E a anistia nos repunha na cena política, legalmente. A anistia reanimava nossas esperanças.

Ela, no entanto, não veio ampla, geral e irrestrita. Deixou de lado alguns dos nossos companheiros que estavam presos sob o argumento de que tinham praticado “crimes de sangue”. Sobre estes, Teotônio Vilela, o inesquecível Teotônio Vilela, em sua cruzada pela anistia, dizia não ter encontrado neles nenhum traço terrorista, mas jovens idealistas que haviam arriscado a vida pelo bem do Brasil, completando, com propriedade: “Convidaria todos eles para se hospedarem em minha casa, convite que não faço a muitos ministros do atual governo”. O “atual governo” era a ditadura.

A anistia de então perdoou torturadores e criminosos, recusou-se a qualquer investigação sobre mortos e desaparecidos.

Até hoje lutamos para esclarecer as circunstâncias das mortes de tantos companheiros e para saber onde estão os seus corpos. Não podemos perdoar torturadores. Não devemos. Em nome da humanidade, dos direitos humanos, do direito brasileiro, do direito internacional.

O governo Lula já constituiu comissão destinada a procurar os corpos dos desaparecidos do Araguaia e tomou medidas claras destinadas a abrir todos os arquivos da repressão política organizada pela ditadura. E isso nos alegra, nos conforta. Mas não nos deixa descansados.

E quando começamos a falar disso, penso, começamos a contrariar um pouco àqueles que nos pedem para não falar de dores. Sim, porque às vezes nos pedem, a nós, que lutamos contra a ditadura e sobrevivemos, que não falemos de dores. Nosso amor e nossa esperança, nossos sonhos e nossas utopias, não são desencarnados, no entanto. Têm história, trajetória. Há homens, mulheres e crianças no meio dessa história. Homens, mulheres e crianças que foram torturados, trucidados, mortos, despedaçados.

Para que os nossos sonhos não morram, é preciso que reconheçamos nossas cicatrizes. E, ainda, nossas veias abertas, nossas feridas, nossos corpos que ainda sangram com a lembrança de tantos mortos, torturados, desaparecidos. As feridas da alma, que volta e meia nossa imaginação apalpa, e as do corpo, aquelas que balas e torturas deixaram inscritas em nossa carne.

Como há de se apagar a morte de Carlos Lamarca, fuzilado impiedosamente no meio da caatinga, quase no mesmo lugar onde tombou Corisco?

Como há de se apagar as mortes de José Campos Barreto – Zequinha -, que tombou ao lado de Lamarca? Ou a de Otoniel Campos Barreto, irmão de Zequinha, assassinado no primeiro cerco dos assassinos da ditadura na caçada à Lamarca?

Como esquecer os sofrimentos de outro irmão, Olderico Campos Barreto, ferido à bala, impiedosamente torturado durante dias e dias mesmo com a mão ferida em frangalhos?

Como esquecer as torturas, nesse episódio, de idosos, camponeses, toda uma população submetida a um cerco implacável por assassinos como Fleury e Nilton Cerqueira? Eu e Oldack Miranda contamos tudo isso no livro Lamarca, o Capitão da Guerrilha, a caminho da 16ª edição.

Nós continuamos simplesmente irmãos de nossos irmãos.

Como pedir a Diva Santana que esqueça de sua irmã Dinaelza Santana? Como pedir à sua família que o faça? Como esquecer de Gildo Macedo Lacerda, meu companheiro de AP e de movimento estudantil, preso na Bahia, e mandado para ser morto em Recife? Sua filha Tessa, nascida depois de seu martírio e assassinato, e Mariluce Moura, viúva dele, podem esquecer de tudo isso? Devem esquecer? Não. Nunca.

Como pedir que me esqueça de José Carlos da Matta Machado, Honestino Guimarães, Eduardo Collier e Fernando Santa Cruz? Todos meus companheiros de movimento estudantil, pertencentes à AP, e barbaramente assassinados?

Como esquecer o baiano Carlos Marighella, assassinado friamente em São Paulo?

Nós vamos exigir sempre que a humanidade seja respeitada. Nós caminhamos muito, lutamos muito para que a civilização alcançasse o patamar atual. Não podemos retroceder, abrir mão de valores essenciais. O direito de sepultar o ser querido é sagrado desde tempos imemoriais, e até isso a ditadura nos negou em tantos casos, e nós não podemos fingir que isso não ocorreu.

Como tirar de nossa memória as torturas a que tantas pessoas foram submetidas?

De vingativos, às vezes nos acusam.

Como vingativos?

Lembrar disso tudo é nossa obrigação, é nossa lealdade não só política, mas de sentimentos com os que se foram em nome dos nossos sonhos. Aqueles que morreram defendendo a liberdade, a democracia, o socialismo, a justiça, a melhoria de condições de vida do povo, ideias vistas às vezes como vagas, impalpáveis, e por isso mesmo, mais fortes porque anunciadoras do futuro.

Há muito tempo, trabalhando na pesquisa sobre o padre Renzo Rossi, figura importantíssima de nossa luta pelas liberdades, pude revisitar o horror da ditadura, não tivesse eu próprio visto ele de perto.

Não falo sequer das torturas em pessoas adultas, nas agressões que as mulheres sofreram, nas torturas sexuais, na tortura que levou tantos à morte. Isso já é parte do nosso acervo, macabro acervo.

O que pude revisitar naquela oportunidade, de forma particular, foi o massacre de crianças, como os dois filhos de César Teles e Maria Amélia Teles, de São Paulo, casal preso em dezembro de 1972. Janaína e Edson Luís, de cinco e quatro anos, respectivamente, foram levados presos para a OBAN, em São Paulo, obrigados a ver os pais massacrados. As crianças perguntavam por que estavam ali. Quando os torturadores diziam que ali era um hospital, elas, na sua inocência, perguntavam se a mãe estava doente, e se era por isso que ela estava tão roxa. No inferno, e percebendo ali ser o inferno de uma prisão, indagavam se a mãe era bandida. Ou, ainda: “por que o pai está tão verde?”

As duas crianças foram levadas para Belo Horizonte, onde ficaram meses, em algum aparelho da repressão, e quando os pais voltaram a vê-las, seis meses depois, estavam desestruturadas, sem conseguir articular palavra, com medo de tudo.

A família Teles tem desenvolvido uma luta persistente, política e judicial, pela punição do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, durante muito tempo comandante da tenebrosa OBAN.

Lembro-me ainda de Jessie Jane, de seu marido Colombo Vieira, presos no Rio de Janeiro em 1970. Quando a filha dela nasceu, os dois presos, em setembro de 1976, fizeram-lhe toda sorte de pressões e de terror, na linha de “Filho de comunista tem é que morrer”, apavorando-a durante a noite, impedindo a filha de poucos dias de mamar. Essa saga integra meu livro sobre o padre Renzo ¿ As asas invisíveis do padre Renzo.

Esses são apenas alguns exemplos de tantos outros que conhecemos. Lembro-me de outro: os três filhos de Antônio e Anete Rabelo, crianças ainda, terem sido presos pela repressão na Bahia em 1971, junto com os pais.

A ditadura era uma excrescência, era um regime doente, incontrolável nos seus desvarios, na sua violência, no terror a que submetia toda a população brasileira e particularmente àqueles que se dispunham a lutar contra ela.

Basta que olhemos para qualquer dossiê de mortos e desaparecidos. Dos arquivos da ditadura, alguns dos quais abertos, emergem os corpos trucidados de nossos companheiros. Emerge o sangue de nossos companheiros e companheiras. Qualquer um de nós podia hoje figurar nessa triste galeria. Basta que se olhe o livro de Nilmário Miranda e de Carlos Tibúrcio. Ou o livro editado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, do governo Lula. Os livros que tenho escrito compõem também um painel de revelação do terror, pequeno painel.

Sinto-me em dívida com meus companheiros e companheiras trucidados pela ditadura. Sou um sobrevivente e imponho-me a tarefa de contribuir para a elucidação de um período tão trágico para a vida da Nação. Não, nós não queremos esquecer.

Os nossos companheiros, os tantos que ficaram pelo caminho, que morreram lutando e em condições tão adversas, são parte de nossa vida.

De um lado, eles nos recordam o terror e a covardia de um regime doente – de que modo pode-se qualificar um regime senão de covarde e terrorista quando ela mata pessoas na tortura? E de outro, eles nos lembram do que o sonho é capaz.

Nós caminhávamos no meio da névoa, sob tempestades permanentes, nos feríamos, sentíamos a pele se rasgar na caminhada, caíamos, morríamos tantos, os sobreviventes seguiam, movidos sempre pela necessidade de derrotar a ditadura, iniciar um novo tempo. Às vezes não sabíamos direito o caminho a seguir, tanta a névoa. Mas, seguíamos. Seguíamos sempre movidos por ideais de profundo amor pela humanidade e de ódio à ditadura.

Os nossos mortos deixaram a marca dos mártires, a marca dos que não se dobram, dos que resistem, dos que acreditam em suas idéias. Deixaram a marca dos homens e mulheres que não têm preço.

Nesse momento de tantas lembranças, penso na diferença de atitudes entre o torturador e nós, os torturados. O torturador hoje busca a penumbra, se possível a escuridão completa. Ele foge das luzes. Ele só se esgueira à noite. Esconde-se da luz do dia.

Nós, não.

Fomos massacrados, machucaram nossos corpos, mas nós nunca deixamos de lutar pela luz, pela praça, pelo debate, pela discussão, pela democracia, pela liberdade. Continuamos e queremos continuar no meio da multidão. No meio da plebe que se rebela, que sempre se rebelará. À luz do dia.

Certa vez, quando um coronel me mandou um e-mail reagindo a um artigo em que eu falava de torturas no Quartel de Amaralina, em Salvador, respondi duramente e disse-lhe que ele viesse a público, pelos jornais, dizer-me que ali não houvera torturas, e eu lhe responderia e daria os nomes. Ele sumiu. Continuou nas trevas. As luzes da democracia deixam os torturadores atemorizados.

Nossas dores, que não foram poucas, nossos mortos, que foram muitos, longe de enfraquecerem nossos sonhos e nossas esperanças, nos deram a certeza de que é preciso continuar olhando para a frente, caminhando, lutando por um novo tempo e um novo mundo, lutando para desmistificar a história oficial. É isso o que, com a tranqüilidade de quem apenas cumpre um dever, estamos fazendo hoje. Marcados pelas nossas cicatrizes, com saudades dos que se foram lutando, e convictos de que o sonho e a esperança continuam.

Continuamos a lutar pela abertura completa dos arquivos, certos de que contamos com o interesse do governo Lula para tanto, como, também, contamos, para falar de meu Estado, com o interesse do governador Wagner.

Continuamos a lutar pela punição dos torturadores porque defendemos que o crime da tortura é imprescritível, como têm defendido também os ministros Paulo Vannucci e Tarso Genro. Continuamos a lutar pelo resgate dos corpos dos companheiros e companheiras desaparecidos. A natureza parcial da anistia nos convida a continuar a lutar.

Nossa geração cometeu muitos erros no percurso do combate à ditadura. Sabemos disso. E temos dito isso. Mas a ela, e falo de milhares de combatentes, de militantes donos de uma garra extraordinária, a essa geração não se pode negar a generosidade, a solidariedade com o povo brasileiro, a atitude de colocar a vida em risco, de sacrificar a própria vida em favor dos ideais da democracia e do socialismo.

É por tudo isso que essa geração deve ser lembrada.

Os nossos mortos regaram com sangue o caminho que nos trouxe a esse extraordinário momento de liberdades que vivemos no País.

*Emiliano José é jornalista, ex-preso político e deputado federal (PT-BA). Site: www.emilianojose.com.br.