quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Equador e Bolívia são casos de sucesso em meio à crise global

The Guardian – Londres

De acordo com a sabedoria convencional transmitida diariamente na imprensa econômica, os países em desenvolvimento deveriam se desdobrar para agradar as corporações multinacionais, seguir a política macroeconômica neoliberal e fazer o máximo para atingir um grau de investimento elevado e, assim, atrair capital estrangeiro.
Adivinhem qual país das Américas deve atingir o crescimento econômico mais rápido nesse ano? A Bolívia. O primeiro presidente indígena do país, Evo Morales, foi eleito em 2005 e assumiu o cargo em janeiro de 2006. Bolívia, o país mais pobre da América do Sul, seguiu os acordos com o FMI [Fundo Monetário Internacional] por 20 anos consecutivos e sua renda per-capita ao final desde período era mais baixa do que 27 anos antes.
Evo descartou o FMI apenas três meses depois de assumir a presidência e então nacionalizou a indústria de hidrocarbonetos (especialmente gás natural). Não é preciso dizer que isso não agradou a comunidade corporativa internacional. Também foi mal vista a decisão do país de se retirar do painel de arbitragem internacional do Banco Mundial em maio de 2007, cujas decisões tinham tendência a favorecer as corporações internacionais em detrimento dos governos.
A nacionalização e os crescentes lucros advindos dos royalties dos hidrocarbonetos, no entanto, têm rendido ao governo boliviano bilhões de dólares em receita adicional (o PIB total da Bolívia é de apenas 16,6 bilhões de dólares, para uma população de 10 milhões de habitantes). Essas rendas têm sido úteis para a promoção do desenvolvimento pelo governo, e especialmente para manter o crescimento durante a crise. O investimento público cresceu de 6,3% do PIB em 2005 para 10,5% em 2009.
O crescimento da Bolívia em meio à crise mundial é ainda mais notável, já que o país foi atingido em cheio pela queda de seus preços dos produtos de exportação mais importantes – gás natural e minerais – e também por uma perda de espaço no mercado estadunidense. A administração Bush cortou as preferências comerciais da Bolívia, que eram concedidas dentro do Pacto Andino de Promoção do Comércio e Erradicação das Drogas [ATPDA, na sigla em inglês], supostamente para punir a Bolívia por sua insuficiente cooperação na “guerra contra as drogas”.
Na realidade, foi muito mais complicado: a Bolívia expulsou o embaixador estadunidense por causa de evidências do apoio dado pelo governo estadunidense à oposição ao governo de Morales; a revogação do ATPDA aconteceu logo em seguida. De qualquer maneira, a administração Obama ainda não mudou com relação à política da administração Bush para a Bolívia. Mas a Bolívia já provou que pode se virar muito bem sem a cooperação de Washington.
O presidente de esquerda do Equador, Rafael Correa, é um economista que, muito antes de ser eleito em dezembro de 2006, entendeu e escreveu a respeito das limitações do dogma econômico neoliberal. Ele tomou posse em 2007 e estabeleceu um tribunal internacional para examinar a legitimidade da dívida do país. Em novembro de 2008 a comissão constatou que parte da dívida não foi legalmente contratada, e em dezembro Correa anunciou que o governo não pagaria cerca de 3,2 bilhões de dólares da sua dívida internacional.
Ele foi tiranizado na imprensa econômica, mas a operação foi bem sucedida. O Equador cancelou um terço da sua dívida externa declarando moratória e reembolsando os credores a uma taxa de 35 centavos por dólar. A avaliação para o crédito internacional do país continua baixa, mas não mais do que antes da eleição de Correa, e até subiu um pouco depois que a operação foi completada.
O governo de Correa também causou a fúria dos investidores estrangeiros ao renegociar seus acordos com empresas estrangeiras de petróleo para captar uma parte maior dos lucros com a alta dos preços do petróleo. E Correa resistiu à pressão feita pela petrolífera Chevron e seus poderosos aliados em Washington para retirar seu apoio a um processo contra a empresa por supostamente poluir águas subterrâneas, com danos que poderiam exceder 27 bilhões de dólares.
Como o Equador está se saindo? O crescimento tem atingido saudáveis 4,5% durante os dois primeiros anos da presidência de Correa. E o governo tem garantido a redistribuição da renda: gastos com saúde em relação ao PIB dobraram e gastos sociais em geral têm sido expandidos consideravelmente de 4,5% para 8,3% do PIB em dois anos. Isso inclui a duplicação do programa de transferência de renda às famílias pobres, um aumento de 474 milhões de dólares em despesas de habitação, e outros programas para famílias de baixa renda.
O Equador foi atingido fortemente por uma queda de 77% no preço das suas exportações de petróleo de junho de 2008 até fevereiro de 2009, assim como pelo declínio das remessas de capital provenientes do exterior. Apesar disso, o país superou as adversidades muito bem. Outras políticas heterodoxas, juntamente com a moratória da dívida externa, têm ajudado o Equador a estimular sua economia sem esgotar suas reservas.
A moeda do Equador é o dólar estadunidense, o que descarta a possibilidade de políticas cambiais e monetárias para esforços contra-cíclicos numa recessão – uma deficiência relevante. Em vez disso, o Equador foi capaz de fazer acordos com a China para um pagamento adiantado de 1 bilhão de dólares por petróleo e mais 1 bilhão de empréstimo.
O governo também começou a exigir dos bancos equatorianos que repatriassem algumas de suas reservas mantidas no exterior, esperando trazer de volta 1,2 bilhões e tem começado a repatriar 2,5 bilhões das reservas estrangeiras do banco central para financiar outro grande pacote de estímulo econômico.
O crescimento do Equador provavelmente será de 1% esse ano, o que é muito bom em relação à maior parte de seu hemisfério. O México, por exemplo, no outro lado do espectro, tem projetado um declínio de 7,5% no seu PIB em 2009.
A maior parte dos relatórios e até análises quase-acadêmicas da Bolívia e do Equador dizem que eles são vítimas de governos populistas, socialistas e “anti-americanos” – alinhados com a Venezuela de Hugo Chávez e Cuba, é claro – e estão no caminho da ruína. É claro que ambos os países ainda têm muitos desafios pela frente, dos quais o mais importante será a implementação de estratégias econômicas que diversifiquem e desenvolvam suas economias no longo prazo. Mas eles começaram bem, dedicando à ordem econômica e política externa convencionais – na Europa e nos Estados Unidos – o respeito que ela merece.

Mark Weisbrot
Tradução: Raquel Tebaldi
Para acessar o texto original, clique aqui.

Argentina - Ley de telecomunicaciones

PRESIDENTA CRISTINA KIRCHNER SANCIONA LEI DE QUE POE FIM AO MONOPOLIOS DAS TELECOMUNICAÇÕES.  
 

 



 Lúcio Costa analisa a nova lei argentina de telecomunicações, que declara as telecomunicações um bem público e proíbe as companhias telefônicas de ingressarem no ramo de TV a cabo.

A presidenta Cristina Kirchner sancionou no domingo lei que encerra o controle monopolista sobre as telecomunicações argentinas.
No sábado, o Senado argentino havia convertido em lei o projeto que, tem como finalidade limitar o monopólio dos meios de telecomunicações. O projeto era apoiado pelas organizações sociais e sofria resistência da UCR.

A nova lei substituirá a vigente desde a última ditadura (1976-1983) e, que favorecia a concentração dos meios de comunicação em poucas mãos, segundo legisladores. 
A aliança de parlamentares que apóia a presidenta peronista Cristina Kirchner reuniu 44 votos contra 24 da oposição, liderada pelo UCR, quando da votação do projeto. Ao votar cada um dos artigos do projeto de lei a maioria foi menos contundente para o governo. O debate se encerrou no sábado a noite após 20 horas de discussões.

A presidenta Cristina Kirchner havia obtido a aprovação do projeto de lei na Câmara de Deputados graças ao respaldo dos blocos de centro-esquerda.

A UCR e demais bancadas de oposição criticaram a iniciativa por entender que faculta excessivo poder ao Estado para regular a outorga de licenças de meios de comunicação audiovisuais.

A lei declara os meios audiovisuais bens públicos e proíbe as empresas telefônicas de participarem no negócio de televisão a cabo.

Apoiando a nova lei se encontravam organizações sindicais, de direitos humanos e sociais e, em particular as que agrupam as rádios comunitárias por sua vez, as entidades contrárias a nova lei estavam organizadas em torno dos grandes empresários das comunicações.

O Debate no Senado Argentino

A sessão do Senado foi iniciada com algumas intervenções apaixonadas, mas o fervor diminuiu com o passar das horas, quando os números já estavam contados. O kirchnerismo havia garantido 42 votos para a aprovação do projeto de lei de Serviços Audiovisuais e reunia – sustentavam – ao menos 37 senadores fieis entre os 69 presentes para resistir a qualquer investida opositora para modificar algum artigo.
Como orador do bloco governista, o senador Nicolas Fernandes afirmou que “sempre que se discutem interesses concentrados, monopólios, há tensões e ali a política deve decidir de que lado está e, nós decidimos estar ao lado da sociedade, dos que não podem expressar-se”. “Defendemos a liberdade de imprensa e esta lei ratifica esse compromisso. Não há um só artigo que nela trate dos conteúdos”, concluiu Fernandez.
Diante da aprovação do projeto de lei, o senador oposicionista Carlos Reutemann afirmou que “a busca do judiciário será o caminho que resta aos proprietários das licenças de telecomunicação, mas a conseqüência disto poder ser custosa para o Estado”.  Ao encerrar seu discurso, exclamou: “pela liberdade de imprensa e pela liberdade do povo”.
A resposta do kirchnerismo não tardou. “Aqui se discute a liberdade de imprensa ou liberdade dos proprietários das rotativas. A pior censura que é que não se vê. Isso é o que acontece atualmente graças aos grandes monopólios jornalísticos”, disse a senadora Haidé Giri.
Logo após, numa tirada irônica dirigida ao jornal de direita El Clarin, a senadora afirmou: “Na Argentina o som do clarim está unido às marchas militares. Estou contente porque ao clarim se uniram muitos mais instrumentos para que seja a orquestra do povo argentino”
O senador Rubén Marín assegurou que “todo monopólio ou oligopólio atenta conta a liberdade de expressão. Estamos tratando da capacidade de acumulação de uns poucos uns poucos não condicione a sociedade e aos governos”.
“Discutimos se agenda política, em torno da qual se dão os debates essenciais, é fixada desde a política ou é feita desde os meios de comunicação”, agregou o senador Marcelo Fuentes.
Nas palavras de Horacio Verbitsky, importante jornalista argentino,  artigo publicado no jornal Pagina 12, La Nueva Ley Audiovisual y el Complejo Agromediatico, “ a nova lei audiovisual é uma vitória da representação popular sobre as corporações econômicas” e “constitui um êxito pessoal da presidenta Cristina Kirchner, que foi a responsável pela estratégia participativa que envolveu na questão a setores acadêmicos, profissionais, culturais e artísticos que vinham reclamando uma lei com essas características desde muito tempo”.
Mudanças e Impactos da Nova Lei
A lei aprovada pelo senado e sancionada pela presidenta Cristina Kirchner tem entre seus pontos mais relevantes, a determinação da necessidade de um processo de audiências públicas prévias para decidir a renovação das licenças concedidas aos meios de comunicação audiovisual, a existência de cotas obrigatórias de apresentação de programação nacional, de cotas para a apresentação de filmes e musicais argentinos bem como, a criação da Autoridade de Aplicação que com poderes de fiscalização dos meios de comunicação.
Conforme especialistas, uma vez que a lei esteja plenamente operante é de se esperar, o que deverá ocorrer em três anos,  haverá uma grande ampliação das vozes que se expressaram nos meios de comunicação argentinos, que incluirá desde meios sem fins lucrativos em mãos de universidade, povos originários ou organizações não governamentais, até uma maior quantidade de canais comerciais e um esquema de meios de comunicação públicos com uma maior participação da sociedade civil. 

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Marx, sempre atual....

Marx e a violência na imprensa britânica
KARL MARX

Mais de século e meio nos separam da data em que este texto de Karl Marx foi escrito e as suas palavras mantêm plena actualidade, apesar da revolução Técnico-Científica, das políticas de I&D, do computador Magalhães e até da bandeira americana na Lua. Ou talvez por isso mesmo…



Karl Marx - www.odiario.info

Os excessos cometidos pelos cipaios revoltados, na Índia, são na verdade horríveis, hediondos, indescritíveis, como apenas se pode esperar nas guerras de insurreição, de nacionalidades, de raças, e sobretudo, de religião; numa palavra, tal como aqueles que a respeitável Inglaterra tem o costume de aplaudir, quando eram perpetrados pelos Vendeanos [1] contra os «Azuis», pelas guerrilhas espanholas contra os hereges franceses, pelos Sérvios contra os seus vizinhos alemães e húngaros, pelos Croatas contra os revoltosos de Viena, pela guarda móvel de Cavaignac ou os dezembristas [2] de Bonaparte contra os filhos e as filhas da França proletária. Por infame que seja a conduta dos cipaios, ela não é mais que um reflexo concentrado da conduta da Inglaterra na Índia não só durante a época da fundação do seu Império oriental, mas mesmo durante os últimos dez anos da sua longa dominação. Para caracterizar esta dominação, basta dizer que a tortura constitui uma instituição orgânica da sua política fiscal. Existe na história humana algo que se assemelha à retribuição; e é uma regra da retribuição histórica que os seus instrumentos sejam forjados não pelos ofendidos mas pelos próprios ofensores.

Os primeiros golpes assestados à monarquia francesa vinham da nobreza e não dos camponeses. A revolta indiana não foi iniciada pelos ryot [agricultores], torturados, desonrados e espoliados pelos Britânicos, mas pelos cipaios, por eles vestidos, alimentados, acarinhados, engordados e corrompidos. Para fazer um paralelo das atrocidades dos cipaios, não temos necessidade, como pretendem certos jornais de Londres, de nos reportarmos à Idade Média, nem mesmo de recuar para lá da História da Inglaterra contemporânea. Basta estudar a primeira guerra chinesa, um acontecimento de ontem, por assim dizer. A soldadesca inglesa cometeu então abominações apenas por prazer; as suas paixões não eram nem santificadas pelo fanatismo religioso, nem exasperadas pelo ódio contra uma raça conquistadora e que se impõe pela força, nem provocadas pela feroz resistência dum inimigo heróico. Mulheres violadas, crianças empaladas, aldeias queimadas, não eram mais que ferozes caprichos, cometidos não pelos mandarins, mas pelos próprios oficiais britânicos.

Também na actual catástrofe, seria um erro absoluto supor que toda a crueldade provém do lado dos cipaios e que todo o leite da ternura humana corre do lado dos ingleses. As cartas dos oficiais britânicos ressumam ódio. Um deles, escrevendo de Peshawar [Peshawar, no actual Paquistão], faz uma descrição do desarmamento do 10º regimento de cavalaria irregular, dissolvido por não ter carregado contra o 55º de infantaria indígena, como lhe tinha sido ordenado. Este oficial exulta ao escrever que os homens não só tinham sido desarmados, como despojados das suas fardas e botas e que, depois de terem recebido 12 pence cada um, tinham sido levados para a margem do Indo, metidos em barcos e abandonados ao sabor da corrente, onde, como o esperava deliciado o remetente desta carta, qualquer deles tinha boas hipóteses de se afogar nos rápidos. Um outro informa-nos que, tendo alguns habitantes de Peshawar provocado um alarme nocturno ao fazerem explodir petardos para festejar um casamento (um costume nacional), foram, na manhã seguinte, carregados de cadeias e «chicoteados de tal forma que não o esquecerão facilmente». Informado de Pindi que três chefes indígenas conspiravam, Sir John Lawrence respondeu ordenando que um espião assistisse às reuniões. Em face do relatório do espião, Sir Lawrence envia uma segunda mensagem: «Enforquem-nos». Os chefes foram enforcados.

Um funcionário dos serviços civis escreve de Allahabad: «Temos poder de vida e de morte, e asseguramos-vos que não damos tréguas». Um outro escreve da mesma cidade: «Não se passa um dia sem que penduremos dez a quinze (não combatentes)». Um oficial escreve exultante: «Holmes enforca-os às dúzias, “aos molhos”». Outro, fazendo alusão ao enforcamento sumário dum numeroso grupo de indígenas, diz: «Foi uma ocasião para nos divertirmos». Um terceiro: «Durante os treinos militares a cavalo, qualquer negro que encontremos, penduramo-lo ou então metemos-lhe uma bala na pele». Fomos informados de Bénares que trinta zamindar [colectores de impostos] foram enforcados sob a simples suspeita de simpatizarem com os seus compatriotas e aldeias inteiras foram reduzidas a cinzas pelo mesmo motivo. Um oficial de Bénares, cuja carta foi publicada no The Times de Londres, diz: «As tropas europeias transformaram-se em demónios, na sua luta contra os indígenas».

E é preciso não esquecer que, enquanto as crueldades dos ingleses são relatadas como actos de valentia marcial, descritos de modo curto e simples, sem se alongar em pormenores revoltantes, os excessos dos indígenas, por chocantes que sejam, são deliberadamente exagerados. De quem provinha, por exemplo, o relato circunstanciado, saído primeiro no The Times e que de seguida deu a volta por toda a imprensa londrina, sobre as atrocidades perpetradas em Delhi e em Meerut? De um pusilânime pastor residente em BangaIore, em Mysore [hoje em dia Karnataka], a mais de mil milhas, em linha recta, do local dos acontecimentos. Os relatos autênticos de Delhi mostram que a imaginação do pastor inglês é capaz de engendrar piores horrores que a selvagem fantasia dum revoltoso hindu. Os narizes, os seios cortados, etc., numa palavra, as horríveis mutilações cometidas pelos cipaios, revoltam mais os sentimentos dos europeus que o bombardeamento do casario de Cantão com balas de canhão incendiárias pelo secretário da Associação para a paz de Manchester ou os Árabes queimados vivos na gruta onde tinham sido amontoados por um marechal francês, os soldados britânicos esfolados vivos pelo chicote de nove pontas, à ordem de um tribunal marcial, ou qualquer outro dos procedimentos filantrópicos em uso nas colónias penitenciárias britânicas. A crueldade, como qualquer outra coisa, tem as suas modas, mudando conforme o tempo e os lugares. César, esse letrado consumado, relata com candura como muitos milhares de guerreiros gauleses viram ser-lhes cortada a mão direita por sua ordem. Napoleão teria tido vergonha de o fazer. Preferia expedir os seus próprios regimentos suspeitos de republicanismo para Santo Domingo, para aí morrerem às mãos dos negros ou da febre-amarela.

As infames mutilações cometidas pelos cipaios lembram as práticas do Império bizantino cristão ou as prescrições do código penal do Imperador Carlos V ou, em Inglaterra, os castigos por alta traição, tal como foram registados pelo juiz Blackstone. Aos olhos dos Hindus, cuja religião produz virtuosos na arte de se torturarem a si mesmos, estes tormentos infligidos aos inimigos da sua raça e das suas crenças parecem muito naturais e devem-no parecer ainda mais aos olhos dos ingleses, que, ainda há poucos anos tiravam rendimentos das festas de Juggernaut [3], dando protecção e assistência aos ritos sangrentos duma religião de crueldade.

Os rugidos frenéticos desse «sanguinário velho Times», como Ihe chamava Cobbett [4], a sua forma de representar o papel de um furioso, numa ópera de Mozart, que se deleitava, com os acentos mais melodiosos, à ideia de enforcar o seu inimigo, depois de o assar, depois de o esquartejar, depois de o empalar, depois de esfolar vivo - este furor de vingança pareceria bastante idiota, se, por detrás das declamações trágicas, não víssemos distintamente os cordelinhos da comédia. The Times exagera quanto pode, e não apenas por pânico, pois fornece à comédia um tema que tinha escapado a Moliére: o Tartufo da vingança. O que The Times procura é simplesmente fazer propaganda para assegurar os subsídios do Estado e dar cobertura ao Governo. Como Deli não tombou ao sopro das trombetas, à semelhança dos muros de Jericó, o Império britânico tem de ser aturdido pelos gritos de vingança, para lhe fazer esquecer que o seu governo é responsável pelo mal que aconteceu e pelas dimensões colossais a que o deixou chegar.

Notas:
[1] Em Março de 1793, a França revolucionária estava em Guerra com a Áustria, a Prússia e a Espanha, e a Inglaterra preparava o bloqueio naval. Respondendo a esta situação desesperada, a Convenção decreta o recrutamento de 300 mil conscritos. No Oeste da França esta ordem serviu de pretexto a uma rebelião armada massiva e à guerra civil contra-revolucionária conhecida como “La Vendée” A insurreição resultou em terríveis perdas de vidas e foi derrotada pelas tropas da República em 1794.
[2] Décembriseur no original; membro da Sociedade do Dez de Dezembro, que apoiou Napoleão III na tomada do poder (N.T.).
[3] Palavra derivada do sânscrito, que significa «senhor do Universo» e corresponde a um dos nomes atribuídos ao deus Krishna (N.T.)
[4] Jornalista, panfletário e homem político britânico - 1763-1835 – (N.T.).


Texto escrito em 4 de Setembro de 1857, publicado no New-York Daily Tribune de 16 de Setembro de 1857.

Tradução de Carlos Coutinho

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Quando o PIG admite...

No Brasil, 64% querem maior controle do governo na economia

 
A pesquisa feita a pedido da BBC em 27 países e divulgada nesta segunda-feira revelou que 64% dos brasileiros entrevistados defendem mais controle do governo sobre as principais indústrias do país.

Não apenas isso: 87% dos entrevistados defenderam que o governo tenha um maior papel regulando os negócios no país, enquanto 89% defenderam que o Estado seja mais ativo promovendo a distribuição de riquezas.

A insatisfação dos brasileiros com o capitalismo de livre mercado chamou a atenção dos pesquisadores, que qualificaram de "impressionante" os resultados do país.

"Não é que as pessoas digam, sem pensar, 'sim, queremos que o governo regulamente mais a atividade das empresas'. No Brasil existe um clamor particular em relação a isso", disse Steven Kull, o diretor do Programa sobre Atitudes em Políticas Internacionais (Pipa, na sigla em inglês), com sede em Washington.

O percentual de brasileiros que disseram que o capitalismo "tem muitos problemas e precisamos de um novo sistema econômico" (35%) foi maior que a média mundial (23%).

Enquanto isso, apenas 8% dos brasileiros opinaram que o sistema "funciona bem e mais regulação o tornaria menos eficiente", contra 11% na média mundial.

Para outros 43% dos entrevistados brasileiros, o livre mercado "tem alguns problemas, que podem ser resolvidos através de mais regulação ou controle". A média mundial foi de 51%.

"É uma expressão de grande insatisfação com o sistema e uma falta de confiança de que possa ser corrigido", disse Kull.

"Ao mesmo tempo, não devemos entender que 35% dos brasileiros querem algum tipo de socialismo, esta pergunta não foi incluída. Mas os brasileiros estão tão insatisfeitos com o capitalismo que estão interessados em procurar alternativas."
A pesquisa ouviu 835 entrevistados entre os dias 2 e 4 de julho, nas ruas de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Globalização
O levantamento é divulgado em um momento em que o país discute a questão da presença estatal na economia.

Definir para que caixa vai a receita levantada com a exploração de recursos naturais importantes, como o petróleo da camada pré-sal, divide opiniões entre os que defendem mais e menos presença do governo no setor econômico.

Steven Kull avaliou que esta discussão não é apenas brasileira, mas latino-americana. Para ele, o continente está "mais à esquerda" em relação a outras regiões do mundo.

A pesquisa reflete o "giro para a esquerda" que o continente experimentou no fim da década de 1990, quando o modelo de abertura de mercado que se seguiu à queda do muro de Berlim e à dissolução da antiga União Soviética dava sinais de esgotamento.

Começando com a eleição de líderes como Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, o continente viu outros presidentes de esquerda chegarem ao poder, como o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador).

Mas Kull disse não crer que o ceticismo dos brasileiros na pesquisa "seja necessariamente uma rejeição do processo de abertura dos anos 1990".

"Vimos em pesquisas anteriores que os brasileiros não são os mais entusiasmados com a globalização", disse.

"Eles ainda são bastante negativos em relação à globalização, e o que vemos aqui (nesta pesquisa) é mais o desejo de que o governo faça mais para mitigar os efeitos negativos dela, melhorar a distribuição de renda e colocar mais restrições à atividade das empresas."

Mas ele ressalvou: "Lembre-se de que a resposta dominante aqui é que o capitalismo tem problemas, mas pode ser melhorado com reformas. A rejeição ao atual sistema econômico e à abertura econômica não é dominante, é que há um desejo maior de contrabalancear os efeitos disto".

Em época de barbárie...

Filme sobre mutilação genital feminina estreia na Alemanha

 

Estreia nos cinemas alemães "Wüstenblume" (Flor do Deserto), filmagem do bestseller homônimo lançado por Waris Dirie, em 1998, quando a top model revelou ao mundo que fora vítima de mutilação genital quando criança.

 

Todos os anos, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), por volta de 3 milhões de meninas são vítimas de mutilação genital. A modelo somali Waris Dirie foi uma delas. No apogeu de sua carreira, ela chocou a opinião pública com a revelação de que fora circuncidada quando menina.
Desde que Dirie quebrou o tabu do silêncio, ela escreveu vários livros sobre sua vida, iniciando uma luta contra a circuncisão feminina. Flor do Deserto já vendeu 11 milhões de cópias e sua filmagem representou a Alemanha no último Festival de Cinema de Veneza.
 No mes de outubro,  Desert Flower (Flor do Deserto) estreou nos cinemas alemães. No filme dirigido por Sherry Hormann – que nasceu nos EUA, estudou em Munique e vive em Berlim – a top model etíope Liya Kebede faz o papel de Waris Dirie.
História cinematográfica
Dirie foi uma dos 12 filhos de uma família nômade da Somália. Aos 13 anos escapou de ser vendida como esposa para um homem de 60 anos, por cinco camelos. Após fugir para Mogadíscio, seguiu para Londres, acompanhando seu tio diplomata.
Como autodidata, ela aprendeu a ler e a escrever. Ao ser descoberta por um fotógrafo para uma campanha da cadeia McDonald's, cinco anos mais tarde, Dirie ganhou fama mundial.
Na película, a vida da pequena pastora de ovelhas no seio da família nômade somali-muçulmana aparece primeiramente como um paraíso romântico africano. Após um salto de muitos anos no tempo, ela é mostrada perambulando sem-teto pelas ruas de Londres, trabalhando como faxineira até ser descoberta por um fotógrafo famoso.
Cenas de sua meteórica carreira de modelo são alternadas com flashbacks de seu passado traumático e sangrento. Hormann afirmou que o que lhe interessou na história de Dirie foi o fato de "não ser uma vítima". "Ela está atuante até hoje", observa a diretora.
Prática disseminada
Apesar de ser mais conhecida por comédias românticas, Hormann deixou claro que a principal mensagem do filme no estilo de "gata borralheira" é séria: denunciar que a prática da mutilação genital feminina ainda está bastante disseminada.
Dirie tinha apenas cinco anos quando foi obrigada a passar pela terrível experiência. Uma cena no filme mostra uma garota chorando, retida, enquanto uma mulher corta partes de sua genitália com uma lâmina de barbear. A ferida é então costurada com um fio grosso, deixando um pequeno orifício para passagem de urina.
A OMS estima que, em todo o mundo, cerca de 150 milhões de mulheres foram vítimas de circuncisão – uma prática utilizada para impedir o prazer sexual feminino. Na Etiópia, três quartos da população feminina é vítima da cruel tradição, informa a organização internacional.
Hormann filmou longos trechos do filme em Djibuti, país com grande população somali. Ela conta que a equipe de filmagem sofreu grande hostilidade por parte da população local, e teve que providenciar segurança pessoal.
"As pessoas nos odiavam, nos jogavam pedras porque éramos brancos que vieram para falar sobre a mutilação genital", disse Hormann. "E quando Waris apareceu – isso os provocou ainda mais."
Passividade mundial
A diretora explicou que sua principal motivação para o filme foi chamar a atenção para um problema que não existe somente em outras partes do mundo, mas também cada vez mais na Europa.
"Imigrantes trazem consigo essa tradição para seus novos lares. Isto é muito preocupante", disse Hormann. "Por isso esperamos que o filme ajude a aumentar o grau de conscientização sobre o tema."
É isso o que Waris Dirie tem feito há mais de uma década. A ex-top model é embaixadora especial da ONU contra mutilação feminina e estabeleceu uma fundação com o fim de chamar a atenção para o problema.
"O mundo sabe que essas mutilações são erradas, mas até agora não se fez muita coisa. Não entendo por que o mundo fica só olhando", declarou Waris Dirie no Festival de Veneza. E advertiu: "Em algum lugar do mundo uma menina está sendo mutilada agora. A amanhã, o mesmo destino espera mais outra menina".
CA/dpa/ap/epd/ots
Revisão: Augusto Valente

Lamentável ausência temporária....

Chris Harman: 1942-2009
Harman foi um importante membro do Partido Socialista dos Trabalhadores (Socialist Workers Party), da Inglaterra, e da tendência Socialismo Internacional. Fez importantes contribuições teóricas e políticas à luta revolucionária mundial. Infelizmente grande parte de sua obra não tem tradução para o português. Veja abaixo alguns textos e artigos de Harman, que estão em nossa página:





O que é e como funciona o marxismo
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As duas facetas de Keynes
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Economia marxista, a taxa de lucro e o mundo atual
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A caixa de pandora do capitalismo
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O que são as crises capitalistas para Marx
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A China irá superar os EUA?
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Socialismo e individualidade
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Estados Unidos: Imperialismo y guerra
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Los trabajadores del mundo
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Os "invasores" estão chegando.....

Documento oficial da US Air Force revela as verdadeiras intenções por trás do Acordo Militar EUA-Colômbia

por Eva Golinger [*]
Eva Golinger. Um documento oficial do Departamento da Força Aérea dos EUA revela que a base militar de Palanquero na Colômbia providenciará ao Pentágono "uma oportunidade de conduzir operações de todo o tipo na América do Sul." Esta informação contradiz as explicações dadas pelo presidente colombiano Álvaro Uribe e o Departamento de Estado dos EUA relativas ao acordo militar assinado entre as duas nações no passado dia 30 de Outubro. Ambos governos afirmaram publicamente que o acordo militar se cinge a operações anti-tráfico e anti-terroristas dentro do território colombiano. O presidente Uribe reiterou numerosas vezes que o acordo militar com os EUA não afectará os vizinhos da Colômbia, apesar da preocupação existente na região quanto aos seus verdadeiros objectivos. Mas, o documento da Força Aérea Norte-Americana, datado de Maio de 2009, confirma que as preocupações das nações sul americanas não eram indevidas. O documento expõe que a verdadeira intenção por trás do acordo é de permitir que os EUA lancem "operações militares de todo o tipo numa sub-região crítica do nosso hemisfério, onde a segurança e a estabilidade estão sob ameaça constante de movimentos insurgentes financiados pelo narcotráfico (...) e de governos anti-EUA."

O acordo militar entre Washington e a Colômbia autoriza o acesso e o uso de sete instalações militares em Palaquero, Malambo, Tolemaid, Larandia, Apíay, Cartagena e Málaga. Para além disso, o acordo autoriza "o acesso e o uso, segundo a necessidade, de outras instalações e locais" na Colômbia, sem restrições. Juntamente com a total imunidade, o acordo prevê que os militares e civis norte-americanos, incluindo forças privadas de defesa e segurança, estejam autorizados a utilizar qualquer instalação do país – incluindo aeroportos comerciais – para fins militares, o que significa a renúncia completa da soberania colombiana e oficialmente converte a Colômbia num Estado-cliente dos EUA.

O documento da Força Aérea sublinha a importância da base militar em Palanquero e justifica os 46 milhões de dólares pedidos no orçamento de 2010 (agora aprovado pelo Congresso norte-americano) para melhoria da pista e das instalações associadas, de forma a torná-la um Local de Segurança Cooperativa (Cooperative Security Location, CSL). "Estabelecer um CSL em Palanquero adequa-se melhor à Postura Estratégica no Teatro de operações do Comando Combatente (Command Combatant, COCOM) e demonstra o nosso empenho nesta relação. O desenvolvimento deste CSL cria uma oportunidade única para lançar operações militares de todo o tipo numa sub-região crítica do nosso hemisfério, onde a segurança e a estabilidade estão sob ameaça constante de movimentos insurgentes financiados pelo narcotráfico, de governos anti-EUA, de pobreza endémica e de desastres naturais recorrentes."

Não é difícil imaginar que governos na América do Sul são considerados por Washington como "governos anti-EUA". As constantes posições e declarações agressivas emitidas pelos Departamentos de Estado e de Defesa contra a Venezuela e a Bolívia, e até certo grau contra o Equador, evidenciam que as nações da ALBA são as que Washington descreve como "ameaça permanente". Classificar um país de "anti-EUA" é considerá-lo como inimigo dos Estados Unidos. Neste contexto, torna-se óbvio que o acordo militar com a Colômbia é uma reacção dos EUA a uma região que agora considera pejada de "inimigos".

A luta contra o narcotráfico é secundária

Segundo o documento da Força Aérea dos EUA, "O acesso à Colômbia vai aprofundar a sua parceria estratégica com os Estados Unidos. A forte relação de cooperação em segurança também oferece uma oportunidade de conduzir operações de todo o tipo na América do Sul, incluindo o reforço das capacidades de combate ao narcotráfico". Torna-se evidente por esta afirmação que a luta contra o narcotráfico é secundária relativamente aos verdadeiros objectivos do acordo militar entre a Colômbia e Washington. Novamente, há aqui um claro contraste com as repetidas declarações dos governos de Uribe e Obama insistindo que o objectivo principal do acordo é combater o narcotráfico. A Força Aérea sublinha antes a necessidade de melhorar as operações militares de todo o tipo na América do Sul – não apenas na Colômbia – de maneira a combater as "ameaças constantes" de "governos anti-EUA" na região.

Palaqueros é a melhor opção para uma mobilidade continental

O documento da Força Aérea explica que "Palaquero é sem dúvida o melhor local para investir no desenvolvimento de infra-estruturas dentro da Colômbia. A sua localização central permite alcançar (...) áreas de operações (...) [e] o seu isolamento maximiza a Segurança Operacional (Operational Security, OPSEC) e Protecção da Força ajudando a minimizar o perfil da presença militar dos EUA. A intenção é rentabilizar a infra-estrutura existente ao máximo possível, melhorar a capacidade dos EUA de responder rapidamente a uma crise e assegurar acesso e presença regional a menor custo. [A base de] Palanquero apoia a mobilidade da missão por providenciar acesso facilitado a todo o continente sul-americano, com excepção do Cabo Horn (...) "

Espionagem e guerra

Adicionalmente, este documento confirma que a presença militar norte-americana em Palanquero vai melhorar a capacidade de operações de espionagem e de recolha de informação, e vai permitir o aumento da capacidade de combate na região das forças armadas norte-americanas. "O desenvolvimento deste CSL vai aprofundar a parceria estratégica forjada entre os EUA e a Colômbia e é do interesse das duas nações (...) Presença que também alargará a nossa capacidade de desencadear operações de recolha de informação, vigilância e reconhecimento (Intelligence, Surveillance and Reconnaissance, ISR), melhorar o alcance global, suprir necessidades logísticas, melhorar parcerias, melhorar a cooperação de segurança em teatros de operações e expandir a capacidade de operações expedicionárias".

A linguagem de guerra incluída neste documento evidencia as verdadeiras intenções do acordo militar entre Washington e Colômbia: estão a preparar-se para uma guerra na América Latina. Os últimos dias foram recheados de conflito e tensão entre a Colômbia e a Venezuela. Há poucos dias, o governo venezuelano capturou três espiões do Departamento Administrativo de Segurança (DAS) – a agência de serviços secretos colombiana – e descobriu diversas operações de espionagem e destabilização contra Cuba, Equador e Venezuela. As operações – 'Fénix', 'Salomón' e 'Falcón', respectivamente – foram reveladas em documentos encontrados com os agentes da DAS capturados. Há aproximadamente duas semanas, 10 corpos foram encontrados em Táchira, uma zona fronteiriça com a Colômbia. Completadas as investigações necessárias, o governo venezuelano concluiu que os corpos pertenciam a paramilitares colombianos infiltrados em território venezuelano. Esta perigosa infiltração paramilitar colombiana faz parte de um plano de destabilização contra a Venezuela que procura criar um estado paramilitar dentro do território venezuelano, de maneira a enfraquecer o governo do presidente Chávez.

O acordo militar entre Washington e a Colômbia virá apenas aumentar as tensões regionais e a violência. A informação revelada pelo documento da Força Aérea dos EUA evidencia de forma inquestionável que Washington procura promover um estado de guerra na América do Sul, utilizando a Colômbia como rampa de lançamento. Antes da declaração de guerra, os povos da América Latina devem permanecer fortes e unidos. A integração Latino-Americana é a melhor defesa contra a agressão do império.

*O documento da Força Aérea dos EUA foi submetido em Maio de 2009 ao Congresso norte-americano como parte da justificação do orçamento para 2010. É um documento oficial do governo e atesta a autenticidade do "Livro Branco: Estratégica Global em curso do Comando de Mobilidade Aérea dos EUA" White Book: Global Enroute Strategy of the US Air Mobility Command), que foi denunciado pelo presidente Chávez no encontro da UNASUL em Bariloche na Argentina no passado dia 28 de Agosto. Coloquei o documento original e a tradução não oficial para castelhano que efectuei das partes relevantes do documento referentes a Palanquero no site do Centro de Alerta para a Defesa dos Povos (Centro de Alerta para la Defensa de los Pueblos), um novo espaço que estamos a criar para garantir que a informação estratégica está disponível para aqueles que se encontram sob permanente ameaça de agressão imperialista.

06/Novembro/2009
  • Documento original em inglês: www.centrodealerta.org/
  • Tradução não oficial para castelhano: www.centrodealerta.org/

    [*] Promotora federal de Nova York, vive em Caracas desde 2005. Autora de "The Chávez Code: Cracking US Intervention in Venezuela",   "Bush vs. Chávez: Washington's War on Venezuela",   "The Empire's Web: Encyclopedia of Interventionism and Subversion";   "La Mirada del Imperio sobre el 4F: Los Documentos Desclasificados de Washington sobre la rebelión militar del 4 de febrero de 1992"


    O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=15951 e em
    Postcards from the Revolution . Traduzido pelo colectivo Leitura Capital.


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • UNE condena decisão de expulsar universitária

    O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas, considerou “descabida” a decisão da Universidade Bandeirante (Uniban) de expulsar a aluna Geisy Arruda, após o episódio em que ela foi humilhada por outros alunos por usar um vestido curto.

    De acordo com Chagas, a atitude criminaliza a vítima. “É como nos casos em que se responsabiliza a vítima de um assalto por estar segurando a carteira, ou se diz que uma mulher é culpada quando sofre um assédio ou abuso por causa da sua roupa. Isso nos parece lamentável”, afirmou.

    A UNE, segundo ele, vai chamar a atenção de outras instituições para que recebam a aluna, se for o caso, inclusive oferecendo bolsas de estudo a ela. “Não podemos permitir que ela interrompa sua trajetória escolar por causa disso”, completou Chagas.

    Ele demonstrou ainda preocupação com a possibilidade de o caso gerar reações negativas quanto à organização coletiva de estudantes. Segundo o presidente da UNE, a falta de espaço de mobilização dos alunos para assuntos importantes da vida acadêmica é um dos fatores que propiciam esse tipo de interação não saudável.

    Em nota publicada hoje em jornais de São Paulo, estado onde fica a Uniban, a instituição responsabiliza a aluna pelo episódio ocorrido no último dia 22, quando estudantes formaram uma multidão que a ameaçou de linchamento por causa da roupa que ela usava.

    “Foi constatada atitude provocativa da aluna, que buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar”, diz a nota da Uniban. A instituição considerou ainda que a atitude dos outros alunos foi uma “reação coletiva de defesa do ambiente escolar”.

    Apesar de também suspender, temporariamente, das atividades acadêmicas os demais alunos envolvidos e devidamente identificados no incidente, a universidade ressaltou o apoio a seus “60 mil alunos injustamente aviltados” pela cobertura midiática sobre o caso.

    Mariana Jungmann, 
    Da Agência Brasil

    domingo, 8 de novembro de 2009

    Que saudades desse tempo....

    Faço minhas  as palavras do rico texto da Elaine que sintetiza minha(nossa), angústia perante o que vemos hoje nos movimentos,  ditos sociais, mas atrelados a acomodação daqueles militantes historicos e construtores de uma nova caminhada. Para não ficar repetitivo, leiam o texto dela:


    As lutas populares o financiamento

    Elaine Tavares


    Eu lembro quando era bem menina e fazíamos campanha para os chamados anticandidatos do MDB. Era a ditadura militar e tudo se fazia escondido. Ainda assim, num mutirão de poucas pessoas recolhia-se dinheiro e faziam-se os panfletos que eram empurrados por baixo das portas durante a madrugada. Depois, no final dos anos 70, quando se começou a construção da CUT e do PT, os lutadores sociais faziam a mesma coisa. Era uma romaria com o chapéu para gente ir a encontros, reuniões, para organizar o povo. Todo o financiamento da luta era feito pelos próprios trabalhadores, pela gente em movimento. Ninguém media esforço. Era brechó, venda de disco, de livro velho, de tudo o que se podia imaginar, e na solidariedade de classe, íamos construindo o sonho da anistia, da democracia, da libertação.
    Naqueles dias, as coisas também eram feitas por nossas próprias mãos. As faixas de papel, a cola de farinha, as tintas malucas para as pichações nos muros. Jamais se pensaria em pagar alguém para produzir um panfleto. Tudo era artesanalmente produzido, com os talentos que arrebanhávamos nas fileiras da luta. E, na azáfama de fazer acontecer, se dava a mística da solidariedade, da partilha, da cooperação.Hoje os tempos mudaram, os velhos militantes apaixonados assumiram postos de mando nos sindicatos, nas centrais, nos partidos e tudo perdeu a sua aura. Agora, para não se perder tempo, os materiais de divulgação e propaganda são feitos por assessores, as faixas são terceirizadas e parece que todo mundo fica paralisado quando não há dinheiro para fazer as coisas.Outro dia, durante uma discussão sobre a Conferência Nacional de Comunicação, a qual acredito que não servirá para nada, a não ser respaldar os desejos dos grandes empresários da comunicação, sugeri que fizéssemos uma conferência paralela, assim, com as nossas regras e não com as que foram impostas pelos empresários. Foi interessante observar a reação dos lutadores. A idéia soou como um completo absurdo. “Como vamos trazer as pessoas do interior?” “Como vamos alugar um lugar para o encontro? E onde as pessoas vão dormir? E todos os custos, quem vai bancar?” Perguntas tolas, diante da grandiosidade da liberdade...
    Então eu lembrei a todos daqueles dias em que nós movíamos o mundo sem grana dos sindicatos, sem ajuda das fundações estadunidenses, sem grana do governo. Nós construímos partidos, centrais, mudanças importantes. Nós fizemos coisas demais com o financiamento dos próprios trabalhadores, com gente dormindo na nossa cama, comendo nossa comida, dividindo as parcas economias. Mas, naqueles dias, nós éramos movidos por uma paixão infinda, um desejo abissal de mudar o mundo e nossa pobreza jamais foi obstáculo para nada.
    Hoje vejo alguns lutadores com ares de saciedade, descansando nos aparelhos, aceitando dinheiro das fundações estrangeiras, esperando migalhas do governo e, por conta disso, se rendendo às regras impostas pelos patrões.Eu repilo isso. Tenho nojo e ódio. Quero de volta a luta renhida, feita por nós mesmos, financiada por nós mesmos, na solidariedade, no amor. Quando ninguém nos impunha pautas e ninguém nos infligia regras. Éramos livres! Pois quero outra vez essa liberdade... Ou nada!

    Nas estepes da Mongólia
    Uma vitória transcendente do internacionalismo


    Luis Carapinha “Na historiografia ocidental são raras as referências à batalha travada junto ao rio Khalkhin-Gol entre Maio e Setembro de 1939. A severa derrota ali infligida pelas tropas conjuntas da Mongólia Popular e da União Soviética ao exército de Kwantung do Japão imperialista permanece amplamente ignorada, tal como o significado da curta mas intensa guerra de Khalkhin-Gol”.
    Luís Carapinha* - www.odiario.info


    Na historiografia ocidental são raras as referências à batalha travada junto ao rio Khalkhin-Gol entre Maio e Setembro de 1939. A severa derrota ali infligida pelas tropas conjuntas da Mongólia Popular e da União Soviética ao exército de Kwantung do Japão imperialista permanece amplamente ignorada, tal como o significado da curta mas intensa guerra de Khalkhin-Gol. Facto ainda mais sonante porque contrasta com a vastíssima campanha ideológica de deturpação e revisão da história do século XX, visando extirpá-la dos seus avanços revolucionários e libertadores e denegrir e apagar o papel dos comunistas e da URSS, hoje empreendida. Campanha de cariz anticomunista que ultrapassa todos os limites imagináveis num passado recente, chegando ao ponto de pôr em causa as próprias decisões do Tribunal de Nuremberga [1].

    E, contudo, na véspera do início da II Guerra Mundial o desaire do militarismo japonês naquela região remota da Mongólia oriental junto à fronteira chinesa da Manchúria – que desde 1931 se encontrava sob a ocupação do regime fascista nipónico – haveria de exercer uma influência profunda no próprio curso da mais destrutiva guerra de sempre na História.

    Tóquio arquitectou a intervenção militar de 1939 na República Popular da Mongólia [2] como uma «questão fronteiriça», socorrendo-se, inclusive, de mapas topográficos falseados em que a linha da fronteira mongol oriental aparecia deslocada mais de vinte quilómetros para ocidente, alcançando o curso do rio Khalkhin-Gol. Um pretexto que pretendia encobrir as reais motivações, de carácter expansionista, do imperialismo japonês, nomeadamente os planos que apontavam em direcção ao território da Sibéria e extremo oriente da URSS. Para o Japão, o corredor mongol delimitado pelo rio Khalkhin-Gol, funcionando como barreira natural, representava uma via privilegiada de acesso em direcção à Transbaicália e ao coração da cobiçada Sibéria Oriental. E a visão da tenaz que se fecharia sobre a URSS a partir de ocidente e oriente era cara ao militarismo japonês e aos propósitos megalómanos das potências fascistas do Eixo [3]. A argumentação urdida pelos estrategas japoneses em Khalkhin-Gol seria totalmente desmascarada depois do final da II Guerra Mundial no decurso do Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente que julgou os crimes de guerra do imperialismo japonês.

    Um ano antes, também invocando pretensões de carácter fronteiriço, o Japão já tinha provocado um conflito militar com a URSS no extremo oriente. A incursão de unidades japonesas, a partir do território coreano, na zona da URSS da fronteira tripartida entre a URSS, China e Coreia, desencadeada no final de Julho de 1938 e que ficou conhecida como a batalha do Lago Khasan, acabou por ser repelida pelas forças soviéticas comandadas pelo marechal Bliúkher ao fim de duas semanas de combates encarniçados [4].

    Quando, em Maio de 1939 as tropas japoneses cruzaram a fronteira da Mongólia na zona de Khalkhin-Gol, o expansionismo japonês na Ásia oriental era já uma realidade em pleno desenvolvimento. A Coreia fora anexada ainda em 1910. Na Manchúria, depois da invasão do exército de Kwantung (que integrava as mais numerosas e bem preparadas unidades do Exército Imperial Japonês), o Japão orquestrou a criação, em 1932, do estado títere de Manchukuo (designado Grande Império Manchukuo), à frente do qual colocou como regente o último representante da decadente dinastia chinesa Qing. A intervenção japonesa numa China há décadas sujeita ao jugo e disputa das principais potências imperialistas ampliou-se com a segunda guerra sino-japonesa, lançada sem declaração prévia por Tóquio em 1937. Pequim e Nanquim – na altura a capital da República da China – tombaram sob a ocupação japonesa, que ficou marcada por monstruosas atrocidades. O Massacre de Nanquim constitui um dos mais abomináveis crimes de guerra e genocídio do século XX.

    «Guerra não declarada em Khalhin-Gol». É assim que Jukov, o mais destacado comandante militar da URSS, que em Khalkhin-Gol celebraria a sua primeira grande vitória militar como comandante de tropas – que lhe valeu a primeira das quatro estrelas douradas de Herói da União Soviética com que foi agraciado – qualifica o confronto militar de 1939 na Mongólia com o Japão imperialista, ao qual dedica um capítulo das suas memórias [5].

    A direcção soviética avaliou o ataque surpresa, em Maio de 1939, das forças manchus e japonesas contra as tropas fronteiriças da Mongólia e o seu avanço até à margem esquerda (oriental) do Khalkhin-Gol, não simplesmente como uma mera escaramuça numa terra inóspita e, escassamente, povoada por nómadas, mas como uma «perigosa aventura militar» que tinha como principal alvo a própria URSS.

    No início de Junho, Gueorgui Jukov, talentoso tenente-general, perto de completar 44 anos, e vice-comandante da Região Militar da Bielorrússia, é chamado a Moscovo e imediatamente enviado para a Mongólia a fim de inteirar-se da situação e, se necessário, assumir o comando das operações do 57.º Corpo de Forças Especiais soviéticas em defesa da integridade territorial da Mongólia [6]. A 5 de Junho Jukov já se encontra em Tamsak-Bulak, o quartel-general das forças soviéticas (deslocadas da Região Militar da Transbaicália) na Mongólia, situado a cerca de 120 quilómetros da linha da frente.

    Avaliada a situação no terreno, que confirmou a superioridade numérica do 6.º Exército japonês e das forças fantoches manchus, Jukov solicitou ao Estado-Maior em Moscovo, o reforço de unidades de infantaria, de tanques pesados, aerotransportadas e da aviação. O plano aprovado pelas forças conjuntas soviéticas e mongóis previa o sólido fortalecimento das posições defensivas na margem direita do rio Khalkhin-Gol e a preparação de um contra-ataque demolidor, para desbaratar e expulsar o inimigo de território mongol.

    Durante mais de dois meses, a acção das tropas soviéticas – em conjunto com as unidades mongóis comandadas por Choibalsan – foi crucial para travar e repelir o ímpeto das sucessivas vagas ofensivas japonesas. Estas apenas uma vez lograram transpor a margem direita do Khalkhin-Gol, sendo forçadas quase de imediato a recuar, sofrendo pesadas baixas. Porém, o inimigo continuava entrincheirado em território da Mongólia.

    Nas batalhas daquelas semanas, sob o escaldante calor estival da estepe quase desértica, participaram dezenas de milhares de homens e um elevado número de aviões, tanques, blindados e peças de artilharia de cada lado. O poeta e escritor soviético, Konstantin Simonov – para quem Khalkhin-Gol constituiu a estreia na frente de batalha e que, como correspondente de guerra do jornal Krasnaia Zvezda (Estrela Vermelha), cobriu toda a II Guerra Mundial, acompanhando as tropas soviéticas até Berlim –, lembraria mais tarde, em «Longe no Oriente [7], a intensidade das batalhas naquele Verão de 1939, referindo, por exemplo, jamais ter presenciado, ao longo da sua vasta experiência de guerra, uma tal quantidade de aviões de combate no ar em simultâneo – «várias centenas de cada lado» –, como em Khalkhin-Gol.

    Com as linhas de abastecimento a 700 quilómetros da frente de batalha, o Exército Vermelho montou uma extraordinária operação logística por terra, determinante para o sucesso da operação.

    O impasse em Khalkhin-Gol foi quebrado a 20 de Agosto: antecipando-se aos planos de um novo ataque japonês, as tropas comandadas por Jukov lançaram uma manobra fulminante de larga escala, surpreendendo as tropas ocupantes. Em três dias de intensos combates as forças japonesas foram cercadas. A batalha prosseguiu até dia 31 quando as últimas posições japonesas em território da Mongólia foram completamente derrotadas. O 6º Exército Imperial do Japão acabara de sofrer uma derrota humilhante em Khalkhin-Gol na véspera do início da II Guerra Mundial. Com a ajuda da União Soviética, a soberania e integridade territorial da Mongólia tinham sido defendidas. A 15 de Setembro, Tóquio assinava o acordo de cessar-fogo e dois anos depois [8] reconhecia o traçado da fronteira da Mongólia.

    A dura lição recebida na Mongólia aplacou definitivamente a veleidade agressiva do Japão em relação à URSS. A derrota categórica do Japão foi um dos factores determinantes que impediu que a URSS fosse obrigada a combater em duas frentes na guerra de 1941-45. A confirmação de que o Japão não tencionava atacar a URSS, transmitida de Tóquio por Richard Sorge (que avisara a direcção soviética para o início da operação Barbarossa pela Alemanha nazi, desencadeada a 22 de Junho de 1941) permitiu, nos dias especialmente críticos do Outono de 1941, a transferência para os arredores da capital soviética de importantes reforços militares provenientes do extremo oriente – entre os quais algumas das unidades que tinham combatido em Khalkhin-Gol.

    A derrota nazi na batalha de Moscovo, comandada por Jukov – impedindo a queda da capital e contendo a progressão alemã –, marcaria o início da contra-ofensiva da URSS e da reviravolta na II Guerra cujo destino seria decidido em Stalingrado.

    No caminho da imortal vitória do povo soviético sobre o nazi-fascismo, que configurou o mundo e a ordem internacional que chegaram aos nossos dias, Khalkhin-Gol constituiu, como recorda Jukov [9], uma valiosa escola de internacionalismo e experiência de combate.

    O seu exemplo não foi em vão e não será esquecido.

    Notas:
    [1] Veja-se os exemplos da vergonhosa resolução anticomunista do Conselho da Europa (2006) e da recente moção aprovada pela Assembleia Parlamentar da OSCE que coloca em plano de igualdade a Alemanha nazi e a União Soviética. O processo de grotesca mistificação da história e branqueamento dos crimes do fascismo revela-se também – assumindo contornos ainda mais inquietantes – na reabilitação oficial ou semi-oficial das legiões nazis e forças fascistas e nacionalistas que colaboraram com o ocupante nazi que se verifica – contando com a conivência silenciosa de Bruxelas – em diversos países da UE, com especial destaque para as três repúblicas bálticas e também na Ucrânia.
    [2] Depois da segunda e definitiva declaração da independência e a vitória da revolução, em 1921, sob a influência e com o apoio da gesta revolucionária russa e da URSS, constituída no final de 1922, a República Popular da Mongólia foi proclamada em 1924.
    [3] Em 1936, o Japão assinou com a Alemanha nazi o Pacto Anti-Comintern dirigido contra a URSS e o movimento comunista internacional.
    [4] Cabe aqui igualmente recordar que depois da revolução de Outubro, em 1918, as tropas japonesas desembarcaram em Vladivostok e participaram na ocupação da região de Primórie no extremo oriente da Rússia, que terminou apenas após a vitória do poder soviético na guerra civil russa.
    [5] A versão electrónica da 12.ª e mais recente edição das memórias de Jukov – Jukov G. K., Vospominania i Razmychlenia (Memórias e reflexões), em dois tomos, Moscovo, Olma-Press, 2002 – está disponível em http://militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/index.html
    [6] O tratado de amizade e aliança entre Moscovo e Ulan-Bator, renovado em 1936, previa a ajuda militar da URSS à Mongólia em caso de agressão externa.
    [7] Konstantin Simonov, Sobranie Sochinenia (Colectânea de Obras), tomo 10, Moscovo, Khudojestvennaia Literatura, 1984.
    [8] Em Abril de 1941 a URSS e o Japão assinaram um tratado de não-agressão.
    [9] Diferentemente da guerra de 1939-1940 na Finlândia.


    Este texto foi publicado em Avante nº 1.875 de 5 de Novembro de 2009

    * Analista de política internacional