quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A ecologia do desenvolvimento



 

 




Juarez Guimarães - portal da DS



Como visão de mundo orgânica ao capitalismo, o liberalismo tem limites insuperáveis para ir à raiz do impasse ecológico. A valorização do capital pressiona à mais ampla mercantilização de bens e serviços; a mercantilização cria incessantemente padrões artificiais e predatórios de consumo, ao mesmo tempo em que a busca do lucro incentiva tecnologias agressivas ao meio-ambiente; a crença nas virtudes do mercado cria limites à regulação institucional dessas potências destrutivas inscritas na dinâmica do capitalismo; valores do egoísmo, da concorrência e da dominação minam uma cultura solidária, fraterna e democrática receptiva a um novo paradigma ecológico.
É na crítica às potências destrutivas do liberalismo e de seu paradigma que o maior economista brasileiro, Celso Furtado, construiu o seu conceito de desenvolvimento. Revisitar essa obra é um caminho necessário para contribuir para superar as antinomias entre desenvolvimento e ecologia e vincular o desafio de superação da miséria ao desafio ambiental.
O mito do desenvolvimento econômico, de Celso Furtado, é um livro de exílio, escrito na Universidade de Cambridge em 1973 e editado no Brasil no ano seguinte. Ele traz no centro do seu argumento a denúncia da insustentabilidade ambiental do ciclo de crescimento desatado pelo regime militar.
O pensador brasileiro havia lido, então, o estudo de um grupo de economistas do Massachussets Institute of Thecnology (MIT), chamado “Os limites do crescimento”, no qual se perguntavam o que aconteceria se os padrões de consumo dos países ricos fossem universalizados e reproduzidos em escala global. A resposta dos economistas é que a poluição do meio-ambiente e a pressão sobre os recursos naturais não-renováveis seriam de tal monta que levaria a um verdadeiro colapso da civilização. O que faz Celso Furtado é integrar essa previsão ao seu conceito de subdesenvolvimento, de dependência tecnológica e mimetismo cultural, afirmando que a dinâmica do capitalismo leva à concentração de renda e da riqueza e não à universalização dos padrões de consumo. Mas integrava esse limite civilizacional do paradigma de produção e consumo dominante para uma crítica de raiz do novo modelo de crescimento vertiginoso assistido pelo Brasil de 1970 a 1973, com o PIB sempre aumentado a mais de 10 % ao ano.
Furtado denunciava o padrão de um crescimento chamado à época de “milagre econômico”, que provaria não ter bases históricas sólidas. Chamava, então, de mito essa visão de futuro que assimilava irreflexivamente desenvolvimento a progresso e progresso ao simples crescimento econômico. Faz as perguntas fundamentais: “Por que ignorar, na medição do PIB, o custo para a coletividade da destruição dos recursos naturais não renováveis, e o dos solos e florestas (dificilmente mensuráveis)? Por que ignorar a poluição das águas e a destruição total dos peixes nos rios em que as usinas despejam seus resíduos?”.
Armadilhas
O argumento de Furtado é que o crescimento baseado na concentração da renda e no mimetismo de consumo dos países ricos leva a uma artificial diversificação das mercadorias, conduz à produção preferencial de bens de curta duração, produz, em escala ampliada, desperdício, além de não incorporar o custo ecológico. Ele denuncia a destruição da natureza e das culturas arcaicas ou tradicionais que perecem ou são destruídas em função da homogeneização dos padrões culturais.
É assim que conclui seu livro fundador da consciência ecológica econômica brasileira: “Sabemos agora de forma irrefutável que as economias da periferia nunca serão desenvolvidas, no sentido de similares às economias que formam o atual centro do sistema capitalista. Mas, como negar que essa idéia tem sido de grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e levá-los a aceitar enormes sacrifícios, para legitimar a destruição de formas de culturas arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico, para justificar formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema produtivo?”. O grande desafio seria o de definir grandes metas sociais e transformar o modelo econômico na direção dessas metas.
Pensando desde a década de cinqüenta o tema do subdesenvolvimento, a partir da crítica ao desenvolvimento desigual do capitalismo, criando um sistema centro-periferia, e ao pensamento econômico convencional, que pensava a superação do atraso na periferia como uma repetição de estratégias de mercado supostamente verificadas no centro, Celso Furtado aliou ao estruturalismo de suas análises uma perspectiva histórica ampla dos acontecimentos. Esse método histórico-estrutural, apto a pensar o movimento das estruturas e o deslocamento de padrões históricos, permitiu que ele escrevesse o clássico Formação da economia brasileira, enriquecendo a narrativa dos grandes pensadores do país.
Essa primeira vitória sobre o reducionismo econômico lhe permitiu analisar que o subdesenvolvimento constituía uma produção histórica de uma economia periférica, heterônoma, marcada pela irracionalidade dos meios e dos fins. Dependência, exclusão, carecimento de verdadeiras instituições republicanas, mimetismo cultural e predação do meio físico vinham juntos. A economia nordestina, formula Furtado, ocupa irracionalmente o agreste e preda na monocultura canavieira as terras férteis. Um plano de desenvolvimento regional deveria permitir formas mais racionais de ocupação, de produção nas terras férteis, de incentivo seletivo à industrialização, de superação dos padrões coronelísticos de dominação, de distribuição de renda e de irrigação dos solos áridos com frutos democraticamente distribuídos.
Desenvolvimento e cultura
O ensaio dos economistas Oscar Burgueño e Octavio Rodriguez, “Desenvolvimento e cultura”, editado em A grande esperança em Celso Furtado (São Paulo: Editora 34, 2001), nos fala de uma segunda vitória contra o reducionismo econômico, já presente desde as origens no pensamento furtadiano, mas que viria a se desenvolver mais plenamente em suas obras dos anos 1978 e 1984, respectivamente Criatividade e dependência na civilização industrial e Cultura e desenvolvimento em época de crise. Trata-se de pensar o próprio paradigma do desenvolvimento à luz da cultura, dos paradigmas culturais que informam as racionalidades e os valores.
Furtado identifica dois processos de criatividade humana: o primeiro diz respeito à técnica e o segundo, aos valores que homens e mulheres adicionam ao seu patrimônio existencial. Este último é definido como um conjunto criativo capaz de ajudar homens e mulheres a se aprofundar em seu autoconhecimento, através de atividades como a reflexão filosófica, a meditação mística, a criação artística e a investigação científica. Assim, o enriquecimento dessa cultura não-material seria um dos aspectos-chave do desenvolvimento.
É por essa superação radical do economicismo que se funda a ecologia do desenvolvimento em Celso Furtado, e ganha corpo, na raiz mesma do seu pensamento, a crítica da “ideologia do progresso-acumulação”.

A farsa das eleições hondurenhas.....


EUA respaldam eleição em Honduras; Brasil e Argentina não

Contraditório com a decisão de seu país de condenar o golpe, o enviado dos EUA a Honduras, Craig Kelly, defendeu nesta quarta-feira (19) a realização da eleição presidencial do próximo dia 29. O respaldo ao pleito aconteceu apesar do rompimento das negociações entre o governo golpista e o presidente deposto Manuel Zelaya. Já os governos brasileiro e argentino declararam que não reconhecerão o resultado das eleições de Honduras a menos que Zelaya seja restituído antes da votação.

"As eleições hondurenhas são uma parte importante da solução para avançar rumo ao futuro", disse, em Tegucigalpa, Craig Kelly, número dois do Departamento de Estado americano para a América Latina, antes de voltar aos EUA. "Ninguém tem o direito de tirar do povo hondurenho o direito de votar e de escolher os seus líderes", disse a jornalistas.

Kelly, contudo, se negou a responder a perguntas da imprensa. Deu tais declarações sem levar em consideração que esse mesmo direito do quel fala foi ignorado justamente pelo grupo que organiza o pleito, e que arrancou do poder o presidente eleito por esse mesmo povo a qeu se refere.

Na semana passada, o embaixador dos EUA em Honduras, Hugo Llorens, já havia defendido a realização das eleições. Kelly esteve, pela segunda vez em uma semana, em Tegucigalpa para novamente se reunir com Zelaya e Micheletti e tentar salvar o acordo intermediado pelos Estados Unidos e assinado por ambas as partes em 30 de outubro.

Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, deu mais um sinal de que os EUA estão se afastando de Zelaya ao afirmar que a decisão do Congresso hondurenho de votar a restituição de Zelaya após as eleições, anunciada anteontem, "não contradiz o acordo alcançado para resolver a crise política".

"Como o acordo não estabelece prazos para essa votação do Congresso, realizar a votação em 2 de dezembro não é necessariamente incoerente com o acordo", afirmou Kelly. A posição dos EUA, principal parceiro econômico de Honduras, vai contra à de países como Brasil, Argentina e Venezuela, que têm afirmado que não reconhecerão as eleições do dia 29 caso Zelaya não seja restituído antes. Também se opõe ao posicionamento defendido por organizações como a OEA e a ONU, que condenaram o golpe e exigiram a restituição imediata de Zelaya. 

A postura atual dos EUA, na verdade, apenas explicita o que a dubiedade vista até então colocava apenas no campo da desconfiança: não há interesse real dos norte-americanos na retomada da ordem constitucional, por meio do retorno de Zelaya ao cargo.
 
Em declarações de dentro da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado há quase dois meses, Zelaya voltou a acusar os EUA de contraditórios. "Sou reconhecido como presidente, dizem que sou o líder democrático, mas [Kelly] está atendendo a decisões do governo que eles não reconhecem", disse o presidente deposto.

Há duas semanas, Zelaya desistiu do acordo, depois que o Congresso, cuja direção é controlada por Micheletti, não votou a sua restituição até o dia 5, prazo final para a criação de um "governo de unidade". O presidente deposto disse que era "inaceitável" indicar ministros para um governo interino chefiado por Micheletti.

O acordo previa que a volta de Zelaya estava condicionada à ratificação pelo Congresso, que poderia pedir consultas a outras instituições, sem estipular um prazo para a votação. Estava claro, contudo, que seu retorno não poderia se dar após as eleições, uma vez que realizar o pleito sob o comando de um regime golpista, ilegal, retiraria sua validade ou significaria dar legitimidade ao golpe.
 
Ontem, a Suprema Corte de Justiça se reuniu para dar seu parecer sobre a volta de Zelaya, mas o teor só deverá ser revelado no dia 2, data estipulara para a a votação sobre o tema.
 
Brasil e Argentina

Os governos brasileiro e argentino declararam, nesta quarta, oficialmente, que não reconhecerão o resultado das eleições de Honduras a menos que o presidente deposto Manuel Zelaya seja restituído antes do pleito.

A declaração conjunta, feita após visita da presidente argentina, Cristina Kirchner, ao colega Luiz Inácio Lula da Silva, vem um dia após o Congresso hondurenho anunciar que só pretende avaliar a possibilidade de restituição de Zelaya no dia 2 de dezembro, três dias após as eleições.

"[Caso Zelaya não volte ao poder] estará lançado um precedente extremamente perigoso. Este é o consenso de toda a América Latina e Caribe", disse Lula em discurso. Os mandatários também pediram o fim das hostilidades em relação à representação diplomática do Brasil em Tegucigalpa, que abriga Zelaya e correligionários desde meados de setembro.

O documento pede a preservação da inviolabilidade da embaixada e seus ocupantes, assim como a segurança e a liberdade de movimento dos funcionários da missão.

Com agências - www.vermelho.org.br

Viva os 60 anos da Revolução Chinesa

José Ricardo Prieto - blog a novademocracia  

As colossais comemorações feitas pelo atual Estado fascista chinês para comemorar os 60 anos da fundação da República Popular da China pretendiam esconder que a maior população do globo vive, desde o golpe contra-revolucionário de Teng Siaoping em 1976, sob o mais cruel regime de exploração, integrado à economia capitalista e responsável em grande medida pela sobrevida do capitalismo em crise mundial.


Guerra contra a ocupação japonesa
Todos os que hoje se impressionam com a pujança da economia chinesa, com suas taxas altíssimas de crescimento em relação ao restante do mundo, se esquecem que isso se deve à utilização pela burguesia burocrática chinesa de toda a estrutura e conquistas deixadas pelo processo revolucionário que se desenvolveu até a morte do Presidente Mao Tsetung em 1976.
Hoje a China é um país capitalista, com um Estado fascista que impõe repressão e exploração infinitas ao povo. Porém, nada é capaz de apagar a memória da revolução que libertou o povo chinês, marcada pela fundação da República Popular da China em 1º de outubro de 1949. É essa a história que merece ser relembrada.

Nasce o Partido Comunista da China

Sob o influxo da Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, cresce o movimento revolucionário dirigido pelo Kuomintang, liderado por Sun Yat-sen, um burguês nacionalista que pretendia realizar a revolução burguesa de velho tipo. Em 1919, eclode o movimento 4 de Maio. Em 1º de julho de 1921 é fundado o Partido Comunista da China. Neste mesmo ano, surge o governo de Cantão, cujo presidente era o líder revolucionário Dr. Sun Yat-sen. Em seguida, operários e camponeses estabelecem uma inquebrantável aliança e começam a desalojar os latifundiários.
O partido de Sun Yat-sen recebe apoio do Partido Comunista da China em 1923. Chiang Kai-shek, jovem militar que retorna ao seu país após concluir estudos na então Federação das Repúblicas Socialistas Soviéticas, assume o comando da Academia Militar de Wampoa, que se constitui no núcleo do exército revolucionário do Kuomintang, em 1924. O Dr. Sun Yat-sen falece em 1925 e Chiank Kai-shek assume o controle do Kuomintang, acirrando-se as contradições entre comunistas e nacionalistas no interior do partido burguês.
Tem início à expedição ao Norte com o apoio entusiasta das massas camponesas, em 1926. Neste mesmo ano, Chiang Kai-shek prende inúmeros comunistas. Em 1927, forças dirigidas por Chu En-lai são destroçadas pelo Kuomintang.
Em 12 de abril do mesmo ano, em Pequim, Chiang Kai-shek trai a revolução. O Kuomintang desencadeia uma violenta repressão, utilizando-se de campanhas de cerco e aniquilamento, de imediato abatendo 5 mil pessoas, entre comunistas e aliados. Chu En-lai é libertado por mediação. Entre maio e junho de 1927, novo banho de sangue contra os comunistas.

Nasce o Exército Vermelho

Em 1928, colunas comunistas lideradas por Mao Tsetung e Chu Teh se fundem em Chingkanshan dando origem ao Exército Vermelho da China. Aqueles dias foram determinantes para que Chu Teh se convertesse em gênio militar e o Presidente Mao no teórico político máximo da revolução na China.
Progridem nas bases de apoio os planos meticulosos de aprofundamento do poder, da economia e da cultura das amplas massas, enquanto Chiang Kai-shek acumulava fortunas, burocracia e treinava tropas reacionárias nas áreas sob sua governança. Em janeiro de 1930, na província de Fukien, o Presidente Mao é reconhecido o líder máximo da revolução na China. Também no início desse ano é estabelecida a organização militar do Exército Vermelho, com efetivos divididos em quatro corpos, somando 30 mil homens.

Hu Yahan, 1946, durante a 3a Guerra Civil Revolucionária contra o Kuomitang
O comitê central executivo do Partido Comunista da China é reorganizado com um conselho militar revolucionário. Antes de terminar o ano, Chu Teh organiza pequenas unidades e golpeia 100 mil soldados de Chiang Kai-chek agrupados em oito divisões que se dirigiam contra as bases de apoio de Hunan e Oyuwan. Chu Teh faz 10 mil prisioneiros.
Acontecem a segunda e terceira campanhas de cerco e aniquilamento, todavia com a vitória do exército operário e camponês dirigido pelo partido comunista. Na terceira campanha, Chiang Kai-shek havia reduzido as forças de Chu-Teh de 30 mil para 20 mil homens, ao mesmo tempo em que possibilitou aos japoneses invadirem Mukden em setembro de 1931. O Presidente Mao declarou guerra ao Japão. Cerca de 20 mil soldados nacionalistas do 28º exército do Kuomintang desertam e ingressam no exército operário e camponês de Mao Tsetung. Em abril de 1932, Chiang Kai-chek dispõe de 500 mil homens para tentar, na sua quarta campanha de cerco e aniquilamento, destruir o exército operário e camponês, recuando todavia em janeiro de 1933.
Uma quinta campanha é desfechada pelo Kuomintang, com assessoramento técnico do general alemão von Seeckt. A campanha se alongou até 1934, tendo Chiang Kai-shek abandonado toda a resistência ao Japão, que se apoderou da Manchúria.

O fraco se torna forte

O Exército Vermelho preparou sua marcha de combates para as montanhas de Shensi, a mais de 10 mil quilômetros de distância, percorrendo uma média de 40 quilômetros por dia.
O I, II e III exércitos dos camponeses se juntaram ao Exército Vermelho e vitoriosamente completaram a Longa Marcha de 25 mil lis*. Desde meados de 1934, esse exército venceu 18 cadeias de altas montanhas, cinco delas cobertas de neve; atravessou 24 grandes rios profundos e tormentosos; doze províncias localizadas em regiões inóspitas, nas quais ocupou temporariamente 62 cidades, chegando a Shensi do Norte em outubro de 1935, onde estabeleceu suas imbatíveis bases de apoio do grande noroeste.

A guerra antijaponesa

Com aproximadamente 35 mil combatentes, o Exército Vermelho defendeu a região compreendida pelas províncias de Kansu, Suiyuan e Shensi. Ao sul de Shensi, 15 mil soldados de Chiang lançavam ataques isolados contra o exército do povo chinês. Por detrás das linhas de Chiang, entretanto, forças japonesas atacaram o Kuomintang. Habilmente, o Exército Vermelho cessou suas hostilidades às desgastadas forças do Kuomintang. Reuniu quadros civis e militares, desenvolveu suas indústrias e agricultura, criou uma escola militar.
Ocupada desde 1931 pelos japoneses, a Manchúria assiste aos reforços imperialistas que chegam ao seu território constantemente até março de 1932, quando — por "mediação" britânica — os japoneses se retiram. O exército revolucionário se expande constantemente, nesse meio tempo. Já ao final de 1936, 100 mil combatentes revolucionários ocupam o norte de Shensi.
Em janeiro de 1937, Yenan foi declarada capital da República Popular da China.
Nankin era a sede do governo do Kuomintang.

O presidente Mao Tsetung durante a Longa Marcha
Após incidentes — criados pelos japoneses para justificar uma série de massacres por eles próprios perpetrados —, a 30 de julho de 1937, o exército imperial japonês ocupa Pekin e, a 13 de dezembro do mesmo ano, Nankin. No mesmo ano, em Shensi, as tropas japonesas são derrotadas em setembro e outubro. Em seguida, elas desencadeiam uma grande ofensiva em todas as frentes. Em 1939, os efetivos sob o mando do Presidente Mao ocupavam largos territórios e neles estabeleciam o poder operário e camponês.
Chiang Kai-shek pretendia que o Exército Vermelho se desgastasse no enfrentamento com o exército japonês, para aliar-se a eles e destruir o exército de operários e camponeses. Mas essas forças revolucionárias obrigaram que justamente o Kuomintang desempenhasse o desgastado papel. O Exército Vermelho se fortalecia para enfrentar ambos os inimigos.
Em 1940, o Exército Vermelho de operários e camponeses contava com meio milhão de homens guiados por uma invencível linha política. Além do mais, bem armados e treinados. A ofensiva contra o invasor foi lançada, de forma intermitente e segura, levando perdas ao exército japonês fascista que somaram 50 mil homens, entre japoneses e chineses obrigados a lutar a seu lado. Ao desastre imperialista, acrescentavam-se perdas de inúmeros pontos fortificados, quilômetros de vias férreas e o domínio político de imensas regiões. Entre 1939 e 40, o Presidente Mao Tsetung torna-se o líder incontestável dos comunistas e do povo chinês.
Em 1941, a Segunda Guerra mundial se generaliza. Nesse ano, o USA lança uma série de provocações contra os japoneses, obrigando-os a atacar a base ianque Pearl Harbor, no Pacífico. Em 1942, 43 e 44, os comunistas ampliam seu raio de ação, gradualmente desenvolvem a produção, o abastecimento de armas e munições. Preocupados com as ilhas no Pacífico, os japoneses dão prioridade à defensiva na China enquanto a saqueiam, pondo em prática as consignas de "roubar tudo, queimar tudo, matar a todos".
O Poder operário e camponês avança. Cresce o Partido e as regiões libertadas. São ampliadas as escolas de quadros políticos e militares. Em 1944, somente no noroeste da China o Poder que abarcava Shansi-Chahar-Hopei incluía 20 milhões de habitantes.

Período da guerra civil

Era 1945. Concluída a Segunda Guerra Mundial, os efetivos do Kuomintang somavam 280 brigadas. Um total de 2,5 milhões de soldados, contando ainda com uma pequena marinha e quinhentos aviões. Os comunistas chegavam a 300 mil soldados, apoiados por 700 mil guerrilheiros. Toda a administração pública de Chiang estava minada pelas forças do povo. Os revolucionários aguardavam apenas a ordem de ataque.
Em 30 de junho de 1946, a guerra civil estava cristalizada. Entre julho e agosto, as forças comunistas pareciam recuar, mas na realidade se fortaleciam entre as massas, criando a possibilidade de todo o povo envolver-se na guerra.
10 de maio de 1947. O exército operário e camponês lança uma estupenda ofensiva por toda a China. Em dezembro do mesmo ano dá-se a mais encarniçada luta de toda a guerra civil, entre os rios Amarelo e o Yang-tsé. Atacando por detrás das linhas inimigas, estabelecendo golpes que dividiam as forças do Kuomintang em fatias menores e frágeis diante de um contingente vermelho esmagador, as forças de Chiang perdem mais e mais abastecimentos e homens.
Em setembro de 1948, um notável dirigente militar que havia iniciado suas façanhas aos 16 anos como ajudante de ordens de Chu Teh dispõe de 600 mil soldados. Com esse contingente Lin Piao se apodera das guarnições e pontos fortificados de Chiang, entre Mukden e Chinchow. Em novembro, as posições de Chiang são esmagadas por sucessivos, simultâneos e intermináveis ataques que avançam em direção ao sul da China.
Quando chega janeiro, o Presidente Mao oferece a paz, que os reacionários do Kuomintang rejeitaram. Mantendo a demanda de paz, o Exército Vermelho, todavia, segue exercendo o domínio da situação e atacando. De nada vale o apoio do imperialismo ianque a Chiang.
Nankim, a capital do Kuomintang, cai a 13 de abril de 1949, Hankow a 3 de maio e Shaoshing no dia 7. Finalmente, em 4 de dezembro, na fronteira da Indochina, 25 mil soldados do Kuomintang se entregam, enquanto Chiang traidor já havia se refugiado desde o dia 23 de abril na ilha de Formosa sob a proteção do imperialismo ianque.
Em 1º de Outubro, o Presidente Mao Tsetung proclama a República Popular da China, na sua capital, Pequim.

Sob o novo Poder

O proletariado revolucionário da China forneceu enormes contribuições à Primeira Onda Revolucionária Proletária no mundo (1848-1976), tendo o pensamento do Presidente Mao como guia — desde a fundação do Partido Comunista da China, em 1921; da criação do Exército Vermelho; do Levante da Colheita de Outono, em 1927; da libertação da China à fundação da República Popular.
De fato, o Presidente Mao estabeleceu a estratégia do cerco da cidade pelo campo; fundou e dirigiu a República Popular e o estilo de democracia nova. Ultrapassando o período enfocado pela ópera, a história da revolução proletária mundial, no curso das lutas na China não só elevou a questão das rebeliões armadas ao nível da teoria militar do proletariado como impulsionou, desde as bases de apoio, uma nova economia, uma nova política e nova cultura.
À frente do Grande Salto Adiante esteve o Presidente Mao; guia da luta contra o revisionismo moderno e contra toda sorte de doutrinas de restauração capitalista; chefe e mando da Grande Revolução Cultural Proletária; estabeleceu a contradição como a lei fundamental da dialética; desenvolveu a tese do capitalismo burocrático — o capitalismo que se desenvolve nas nações oprimidas pelo imperialismo com seus diversos graus de feudalidade.
Ele aprofundou a teoria marxista-leninista do Estado (desde os três instrumentos: o Partido, o Exército e a Frente Única), como a da luta de classes sob o socialismo. No plano da Revolução Mundial, ainda que sob os mais cruéis refluxos, ele esclareceu a questão dos três mundos que se delineiam e da vitória inexorável dos povos sob a hegemonia do proletariado.
Seus aportes jamais foram um conjunto de fraseologias — deliberadas e artificialmente arquitetadas — para atender ao poder de uma elite, ou de um só homem e a servir a uns tantos seguidores que surgem e se vão com o passar dos tempos.
Ao contrário, ele tomou a prática social de milhões e milhões de revolucionários proletários de todo o mundo (das revoluções antecedentes e a parte que lhe coube dirigir) como critério da verdade na busca e na construção de uma nova sociedade livre da exploração das massas e da existência de classes.
 
 
* Li - Unidade de medida chinesa de distância, equivalente a 576 metros.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Desequilíbrios Globais contra desigualdades internas (compreendendo a Economia Mundial)


James PetrasNesta crise sistémica do capitalismo, cujo epicentro foi no coração do imperialismo, “a saída para os desequilíbrios massivos passa pelos Estados Unidos decidirem executar transformações estruturais internas em larga escala e a longo prazo - nomeadamente à desfineirização e desmilitarização. Mas as forças políticas e económicas beneficiárias da configuração actual estão fortemente entrincheiradas no controlo de ambos os partidos principais e dominam os media e as suas mensagens”.

James Petras - www.odiario.info

Introdução

As crises profundas e continuadas dos principais países capitalistas, especialmente nos Estados Unidos, provocou um debate sobre as causas, consequências e políticas apropriadas para as resolverem.

O debate revelou uma divisão profunda sobre as causas e os remédios, com os políticos, economistas e articulistas anglo-franco-americanos (AFA) de um lado e a correspondente outra parte asiática-germânica (AG) do outro lado. Em termos gerais, os porta-vozes dos AFA põem as culpas das crises nos factores externos, ou, mais especificamente, apontam o dedo aos excedentes positivos no comércio, sectores dinâmicos de exportação e ritmos elevados de investimento em sectores produtivos, e níveis baixos de consumo nos países AG, como a causa dos «desequilíbrios», ou «desequilíbrio», na economia mundial.

Em contraste, os países AG rejeitam a justificação de práticas externas prejudiciais. Põem em destaque os «desequilíbrios» internos no interior dos países AFA, que enfraqueceram as suas posições internacionais, comerciais e financeiras.

Neste artigo, vou argumentar que ambas as políticas económicas internas e as estratégias de construção de impérios externos dos países AFA, têm sido a força motriz para os desequilíbrios globais. As diferenças estruturais entre as duas regiões e as diferenças de estrutura de classe e configurações económicas em cada bloco, impedem qualquer solução fácil e imediata. Pelo contrário, no futuro previsível é provável que o conflito entre potências dinâmicas emergentes de exportação e o bloco ocidental em declínio se intensifique, levando a maiores conflitos comerciais e a possíveis confrontos militares.

As acusações da AFA contra os «desequilíbrios» comerciais da China reúne comércio com o ocidente com as relações de Beijing com o resto do mundo. A China tem comércio equilibrado ou mesmo défices de comércio com países asiáticos, africanos, do Médio Oriente e da América Latina. Além disso, os países AFA têm desequilíbrios de comércio com outras regiões, incluindo o Médio Oriente e a Alemanha. Mesmo que os países AFA reduzam importações da China, é mais do que provável que outros países asiáticos tomem o seu lugar, incluindo Vietname, Coreia do Sul, Taiwan, Bangladesh e Índia. Os défices comerciais resultantes da AFA ficariam na mesma.

Os países AFA culpam a moeda «subvalorizada» da China e reclamam que as autoridades de Beijing manipulam as taxas de câmbio para baixar o preço das exportações e vencer os concorrentes (nomeadamente produtores no interior das AFA). Contudo, a moeda da China tem sido reavaliada consistentemente para cima dos 20% nos últimos cinco anos e, apesar disso, AFA continua a apresentar défices, sugerindo que os produtores nacionais ainda não são capazes de competir com os fabricantes chineses. Mais recentemente, autores na AFA, queixaram-se das taxas baixas dos juros apresentadas pelo governo chinês como um «subsídio» aos exportadores. Contudo, as taxas de juro na AFA estão a zero por cento ou mesmo negativas, isto é, são em vão. Todavia, AFA concederam para cima de 1,5 milhão de milhões em fundos de apoio, e para cima de 1,3 mil milhões para despesas estimulantes - um subsídio cinco vezes superior ao pacote de estímulos da China, sem terem melhorado a sua balança comercial. O que é revelador, dadas as afectações sectoriais, do apoio em cada regime - subsídios - pacotes de estímulos, é que a China recuperou completamente e tem um crescimento de 8% em meados de 2009, enquanto AFA continua a chafurdar em território negativo e continua também com défices comerciais. Isto aponta à centralidade dos factores internos, nomeadamente aos sectores económicos que recebem subsídios de Estado e à forma como os investem, e que têm como resultado que as suas decisões afectem as balanças comerciais.

AFA acusa a China dos baixos salários, da exploração dos trabalhadores, e que isso é a razão dos desequilíbrios comerciais. Contudo, uma percentagem crescente das exportações da China é baseada em avanços tecnológicos e não em mão-de-obra barata. Isto é devido à emergência na Ásia de concorrentes com baixos custos de salários.

AFA queixa-se que a China enfatiza a sua estratégia de “exportações” à custa de produzir para o mercado interno. Todavia, quase metade das exportações da China para os Estados Unidos é realizada a partir de multinacionais americanas que investiram, subcontrataram e co-produziram com as suas homólogas chinesas. Por outras palavras, a política interna americana, a desregulamentação do fluxo de capitais, facilitou o movimento dos fabricantes americanos no exterior, o que resultou num declínio da produção local, num aumento das importações e em maiores défices comerciais.

Causas internas dos défices comerciais (e Economia Mundial Desequilibrada)

A correlação mais evidente e interessante com o crescimento dos desequilíbrios comerciais da AFA é o crescimento e domínio do sector financeiro. A financeirização das economias das AFA e o papel dominante dos directores executivos da Wall Street nas posições económicas estratégicas do Estado é transparente para as massas e até tem sido reconhecida pela maioria dos economistas privados e professores universitários. Os défices comerciais aumentaram na proporção directa do crescimento do poder económico e político do sector financeiro. Em grande parte, isto foi devido à transferência do capital do fabrico para os serviços financeiros, o que conduziu à redução dos investimentos nas inovações e em estratégias de gestão competitivas nos sectores produtivos. Os altos salários, bónus e retornos rápidos no sector financeiro atraíam a maioria dos auto-denominados "melhores e mais inteligentes". Os formados em MBA multiplicaram, enquanto os formados em escolas de engenharia avançada diminuíram. Desapareceram os programas de formação para trabalhadores especializados enquanto cresceu o recrutamento para vendas a retalho de baixa especialização.

O problema era que os serviços financeiros não faziam, não podiam substituir os ganhos do exterior que antes aumentavam através de vendas dos produtos fabricados. Em último lugar, nos mercados financeiros altamente regulados da China, Japão, Índia e no resto da Ásia, onde os bancos estão subordinados à expansão da produção - nomeadamente indústrias financeiras dirigidas por funcionários do Estado. O domínio do capital financeiro e os sectores relacionados do imobiliário e dos seguros conduziram a uma estrutura de classe altamente polarizada: onde presidiam banqueiros de investimentos bilionários e milionários e um exército de trabalhadores de serviços com baixos salários (empregados do retalho, da limpeza, varredores, etc) imigrantes e trabalhadores não-sindicalizados que ocupavam o fundo da escala. Presentemente, as desigualdades no rendimento nos Estados Unidos excedem as de qualquer outro país capitalista "avançado". As desigualdades em Manhattan excedem as de Guatemala. A crescente concentração de riqueza é acompanhada pela redução, nas últimas três décadas, dos ordenados médios. Em resultado disso, o poder de compra dos trabalhadores americanos foi reduzido, dessa forma reduzindo também a procura de bens de qualidade produzidos localmente. O resultado, é a compra de têxteis baratos de importação, sapatos e outros artigos. Passa a haver um declínio nas poupanças e no investimento interno na produção, o que leva a um abaixamento na competitividade. Para além disso, a concorrência entre prestamistas financeiros faz aumentar dispêndios no consumidor e maior endividamento individual, numa altura em que os peritos em produção declinavam por não haver investimento.

A maior parte das empresas produtoras transformaram-se em empresas financeiras, canalizando fundos de investimento em sectores não recebendo câmbios estrangeiros. Pior que tudo, em busca de lucros mais elevados, os produtores transformaram-se em vendedores comerciais, encerrando fábricas e subcontratando produção à China e a outros países asiáticos, e importando produtos finais para os Estados Unidos, assim criando os desequilíbrios comerciais. A recolocação, em larga escala, das multinacionais americanas no estrangeiro, agravou ainda mais os desequilíbrios comerciais.

O papel principal do Estado na criação de desequilíbrios internos, conduzindo a um desequilíbrio global, é o resultado da tomada do Estado pelo sector financeiro e da desregularização dos mercados financeiros. O resultado foi a promoção a longo termo de uma política económica, onde o banco central (Reserva Federal) e o Ministério das Finanças, encorajavam mais o crescimentos dos sectores financeiro, imobiliário e seguros do que o do sector produtivo. A estratégia financeira foi justificada por um grande exército de professores e publicistas que falavam na "pós-indústria", ou na economia de "serviço", ou de "informação", como uma "etapa superior",em vez de uma perversamente desequilibrada, insustentável e injusta economia.

A supremacia financeira coincidiu com a crescente militarização da política estrangeira dos Estados Unidos. A expansão económica dos Estados Unidos no estrangeiro foi eclipsada gradualmente pela crescente dependência nas intervenções militares e na construção de bases militares em centenas de locais. A financeirização enfraqueceu a capacidade produtiva dos exportadores americanos para captar mercados, os políticos americanos aumentaram a dependência na supremacia do poder militar. A canalização de biliões para as despesas militares esgotaram os recursos em esforços para aumentar a competitividade da indústria civil americana e foi um factor importante no seu declínio nos mercados de exportação. Os resultados finais da militarização foram perdas nos proveitos das exportações e no crescimento dos défices comerciais.

Se combinarmos os três grande desequilíbrios internos nas economias da AFA, mas especialmente na dos Estados Unidos, a financeirização da economia, a militarização da política estrangeira e a concentração da riqueza no topo, podemos, pois, entender porque é que os Estados Unidos têm um tão grande e crescente défice comercial.

A estratégia de impulso nas exportações da China

A ênfase da China numa estratégia impulsionadora de exportações e as resultantes e crescentes desigualdades de classe, são claramente o resultado da composição de classe do Estado e da sua estrutura social. Por outras palavras, os factores internos são a força impulsionadora da sua procura por excedentes comerciais. O que é irónico é que alguns dos críticos da AFA, que apontam correctamente os 'desequilíbrios' internos na China, ignorem problemas semelhantes no ocidente. Nomeadamente, não mencionarem a ausência de um plano nacional de saúde nos Estados Unidos, o aumento das desigualdades e da diminuição do poder de compra massivo - mesmo quando apontam estas deficiências na China. O que os defensores ocidentais de maior segurança social na China não falam, é o poder, privilégios e lucros da classe capitalista, que dificulta um maior consumo massivo. E menos do que tudo, falam da força motriz para elevar as condições de vida da classe trabalhadora e dos camponeses, nomeadamente a luta de classes. Em vez disso, contam com os apelos tecnocráticos às elites chinesas para que as despesas sociais sejam maiores.

O Estado chinês evoluiu para uma poderosa máquina de fabrico de bens e de bilionários. A China de hoje tem o maior crescimento, a maior taxa de exploração e as maiores desigualdades de classe da Ásia. Aumentar os salários para estimular o consumo local significa redução de lucros, um anátema para todos os capitalistas, incluindo os chineses. Aumentar a despesa pública na cobertura universal da saúde, especialmente para os 700 milhões de camponeses sem seguro e trabalhadores rurais, significa maiores impostos para os ricos, incluindo as famílias e colegas da elite do governo. Em contraste, a produção para os mercados de exportação não necessita de um maior poder interno do consumidor e, pelo contrário, precisa de salários mais baixos.

A mudança do impulso na exportação para uma estratégia de impulso no mercado interno requer, não apenas, de uma 'mudança na política', mas de uma mudança profunda no poder classista da actual classe capitalista e dos seus apoiantes no Estado, para os trabalhadores e camponeses. Para realizar, em larga escala, compromissos a longo prazo de receitas de serviços sociais para os pobres rurais e salários superiores para os trabalhadores explorados, requer mobilizações sustentadas popularmente, revoltas e greves para garantir os sindicatos independentes e associações de camponeses necessários para que haja uma mudança nas atribuições do Estado para consumo interno.

Os "desequilíbrios" da China são largamente internos, em termos sociais e políticos. É um desequilíbrio de poder social entre um poderoso Estado capitalista e uma massa reprimida e sem poder de trabalhadores e camponeses; um desequilíbrio em rendimento entre uma banca super-rica, imobiliário, elite exportadora de produtos e uma classe trabalhadora com salários baixos e uma classe camponesa subsistente; um desequilíbrio entre um Estado altamente organizado ligado a famílias, ideologia e interesses económicos com a classe capitalista, e uma dispersa, fragmentada e isolada massa de povo trabalhador.

A classe dirigente da China, os seus investimentos exteriores de biliões de dólares em projectos capitalistas ocidentais, através dos seus fundos patrimoniais independentes, os seus investimentos de biliões de dólares em empresas extractivas estrangeiras, é conseguido pela quantidade de capital acumulado, obtido através de níveis intensos de exploração do trabalho e pela eliminação de pensões do Estado, planos de saúde e educação. O papel da China, como um poder imperial emergente, está enraizado no desequilíbrio entre poder global e degradação da segurança social.

O facto dos autores capitalistas ocidentais, dos políticos e dos seus seguidores do campo académico, chamarem a atenção para os mesmos desequilíbrios sociais na China como os seus críticos internos da classe trabalhadora, não devia obscurecer um ponto básico. Os críticos da Wall Street defendem a elite financeira da AFA contra a maior produtividade dos industriais exportadores da China, enquanto os críticos da classe trabalhadora interna criticam os capitalistas e o Estado pelas altas taxas de exploração e concentração de riqueza.

A chave para a redução de desequilíbrios no comércio mundial passa pela redução das desigualdades em cada região. Os Estados Unidos necessitam da mudança profunda de uma economia dominada pela finança para uma economia de produção, em que a finança, a tecnologia de ponta e a educação superior são dirigidas para a criação de uma economia competitiva e produtiva, baseada no trabalho especializado. A ligação no topo entre Wall Street e o Pentagon deve ser substituída pela ligação entre a classe trabalhadora industrial, trabalhadores dos serviços de baixos salários e sector público de empregados e profissionais.

A transformação estrutural da economia dos Estados Unidos é necessária mas isso só não chega. Se os esforços dos Estados Unidos continuarem a persistir num império militar isto irá desviar recursos das prioridades económicas internas e externas. Impérios dirigidos pelos militares alienam sócios comerciais, têm custos elevados e receitas baixas, isolam os investidores económicos e os comerciantes de sociedades produtivas e são destrutivos de instalações civis produtivas internas e externas.

A saída para os desequilíbrios massivos passa pelos Estados Unidos decidirem executar transformações estruturais internas em larga escala e a longo prazo - nomeadamente à desfineirização e desmilitarização. Mas as forças políticas e económicas beneficiárias da configuração actual estão fortemente entrincheiradas no controlo de ambos os partidos principais e dominam os media e as suas mensagens. Contudo, apesar do seu profundo poder institucional sofrem de várias deficiências fatais. Em primeiro lugar, criaram desequilíbrios globais insustentáveis que, mais cedo ou mais tarde, levarão a um colapso do dólar e a bolhas financeiras renovadas, mais virulentas e dispendiosas. Em segundo lugar, o mercado livre, que é o suporte ideológico principal da elite de poder financeiro desregulado, está totalmente desacreditado, como evidenciado pelo pequeno apoio e confiança da Wall Street. Em terceiro lugar, a construção de impérios pelos militares já teve o seu percurso: após nove anos de guerra no Afeganistão a grande maioria de americanos enviou uma mensagem à elite política de ambos os partidos, à Casa Branca e ao Congresso, de que chegou a altura de mudar as aventuras falhadas e financiadas no estrangeiro e resolver o problema dos 20% desempregados americanos (30 milhões), de os 100 milhões ou 33% de americanos sem ou com dispendiosa cobertura de saúde ou com cobertura inadequada. Nenhuma intensidade nos media e culpabilização perita da China para os nossos auto-induzidos "desequilíbrios" pode desviar a opinião americana das suas experiências directas com as nossas próprias desigualdades internas e fracassos de política.


* James Petras é Professor da Universidade de Nova Iorque e amigo e colaborador de odiario.info


Tradução de João Manuel Pinheiro

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Belo texto de Deanna....

E tudo mudou...

O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss

O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone

A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM

A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse

Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal

Ninguém mais vê...

Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service

A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão

O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD

A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email

O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street

O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também

O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike

Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato

Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita ?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...

A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!

A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...

... De tudo.

Inclusive de notar essas diferenças...



*
Deanna - blog leitores escassos


Por motivos que ninguém explica, diversos textos de outros autores circulam pela internet como sendo de Luis Fernando Verissimo. Isso ocorre com outros autores também, mas o estilo mais casual de Verissimo parece torná-lo um alvo fácil.
Abaixo, uma lista de textos falsamente atribuidos a Verissimo, compilada por Elson Barbosa (moderador da comunidade no Orkut - Luis Fernando Verissimo):

- LFV e o Desarmamento / Aprenda a Chamar a Polícia (autor: Rossano Cancelier)
- Quase (autora: Sarah Westphal)
- Dar Não é Fazer Amor (Tatiane Bernardi)
- Depoimento Sobre as Drogas / Pagodeaxéfunk... Drogas da Pesada! (autor: Vitor Trucco)
- Hipocondríaco (autor: Silvio Lach)
- Um Dia de Modess (Rolinha)
- Tipo Assim (autor: Kledir Ramil)
- O Direito do Palavrão (Pedro Ivo Resende)
- A Verdade Sobre Romeu e Julieta (Francine Bittencourt de Oliveira)
- A Impontualidade do Amor (autora: Martha Medeiros)
- Mulheres Modernas / Mulheres Empresárias (autor: Arnaldo Jabor)
- O Que Faz Bem À Saúde / Previna-se (Martha Medeiros)
- Pedindo Uma Pizza em 2009 (autor: Daniel Kurtzman)
- Namoro em Tempos Modernos / Árvore Genealógica (autor: Bond Bilau)
- Filtro Solar (autor: Baz Luhrmann)
- Verão Chegando / The Summer is Tragic! (autora: Rosana Hermann)
- Ainda Bem Que Eu Dei (autora: Daniela Mel)
- Proctologista / Pedido de Amigo (autor: Jacob El-Mokdisi)

Sugestão participe da Comunidade orkut: Afinal, quem é o autor?

- A Pessoa Errada (Autoria Desconhecida)
- Desabafo de um Marido (Autoria Desconhecida)
- Aquele do Remédio e do "Esquece" (Autoria Desconhecida)
- Um Dia de Merda (Autoria Desconhecida)
- Um Dia de Modess (Autoria Desconhecida)
- Verão Chegando (Autoria Desconhecida)
- Necessidades Sexuais / Marte e Vênus (Autoria Desconhecida)
- Big Brother Brasil 4 (Autoria Desconhecida)
- Entrevista com Deus (Autoria Desconhecida)
- Ainda Bem Que Eu Dei (Autoria Desconhecida)
- Dez Coisas Que Levei Anos Para Aprender (Autoria Desconhecida)
- Precisando de Amor (Autoria Desconhecida)
- Sobrevivência / Como Conseguimos Sobreviver? (Autoria Desconhecida)
- Casamento Moderno (Autoria Desconhecida)
- Sobre o Amor (Autoria Desconhecida)
- Oração dos Desesperados / Oração dos Estressados / Oração dos estressadinhos (Autoria Desconhecida)
- Nada como a Simplicidade... (Autoria Desconhecida)
- Mulheres (Autoria Desconhecida)
- Nada como a Simplicidade... (Autoria Desconhecida)
- Nota de falecimento/ Morreu quem atrapalhava o crescimento da empresa (Autoria Desconhecida)
- Coisas de um Coração Apaixonado / Falo a Língua dos Loucos / Quem Nunca Teve... (Autoria Desconhecida)
- Fodeu-se / Foda-se (Autoria Desconhecida)
- Às Vezes / Quando o Coração Doe Até Sangrar (Autoria Desconhecida)
- Complexidade feminina! (Autoria Desconhecida)
- A Felicidade pode demorar (Autoria Desconhecida)
- Como roubar um coração/Roubo! (Autoria Desconhecida)
- Degustação de vinho em Minas e/ou O MINERIM E O DEGUSTADOR DE VINHO (Autoria Desconhecida)
- Depilação masculina (Autoria Desconhecida)

Caso encontrarem o autor desconhecido de algum texto mencionado acima até o momento, favor indicar no e-mail - pessoal (Contatos do Recanto e/ou no mural do Orkut - recados), pois as listas vem sendo constantemente atualizadas.

Nota: Desconfie de textos repassados com o nome de LuiZ Fernando VerÍssimo, de modo geral são falsos.
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/lfv é um site dedicado ao escritor, cartunista e músico Luis Fernando Verissimo.

www.dotdotdot.com.br/lfv/diversos/textos_falsos.php



Emerge uma nova esquerda na Europa



As recentes eleições alemães e portuguesas confirmaram a emergência em vários países da Europa de uma nova esquerda radical. Na Alemanha, Die Linke obteve 11,9% dos sufrágios e 76 deputados no Bundestag. Em Portugal, o Bloco de Esquerda alcançou 9,85% e dobrou sua representação parlamentar, com 16 deputados. Essa nova esquerda surgiu no fim dos anos noventa com a renovação dos movimentos sociais e o auge do movimento alter-mundista. A novidade reside em seu avanço eleitoral, que não se limita a um país ou a dois, senão que esboça uma tendência europeia (ilustrada, entre outros, pela Aliança Vermelha e Verde na Dinamarca, Syriza na Grecia ou o Novo Partido Anticapitalista na França), ainda frágil e desigual, segundo os distintos sistemas eleitorais. Por exemplo, o NPA e a Frente de Esquerda têm na França um potencial acumulado de aproximadamente 12%, mas não contam com nenhum parlamentar eleito, devido a um sistema uninominal de dois turnos que exclui toda representação proporcional e favorece o "voto útil" como um mal menor.
Vários fatores explicam esse fenômeno e, antes de tudo, o afundamento ou o retrocesso dos partidos social-democratas e comunistas, que estruturam há meio século a esquerda tradicional.
Os partidos comunistas, que se haviam identificado com o "campo socialista" e com a União Soviética, desapareceram ou viram sua base social se dissolver, com a exceção relativa da Grécia e de Portugal. Quanto à social democracia, ao acompanhar e impulsionar as políticas liberais no marco dos tratados europeus, contribuiu ativamente para desmantelar o Estado de bem-estar social, no qual obtinha sua legitimidade. Sob o pretexto da "renovação", da "terceira vía" e do "novo centro", se metamorfoseou, além disso, em formação de centro-esquerda, à semelhança do Partido Democrata italiano. À medida que seus vínculos com o eleitorado popular se debilitavam, se reforçava sua integração com os meios de negócios. A passagem de Schröder ao conselho de administração de Gazprom, e a promoção de dois "socialistas" franceses (Dominique Strauss-Kahn e Pascal Lamy) à cabeça do FMI e da OMC simbolizam essa transformação de altos dirigentes socialistas em homens de confiança do grande capital. Paladina da "economia social de mercado" e do compromisso social, a social democracia alemã já pagou por isso ao registrar nas eleições de 27 de setembro uma perda de 10 milhões de eleitores em 10 anos.
Enquanto essa esquerda do centro cada vez se distingue menos da direita do centro, cresce após a queda do muro de Berlim uma nova geração que não terá conhecido mais do que as guerras quentes imperiais, as crises ecológicas e sociais, o desemprego e a precariedade. Uma minoria ativa desses jovens retoma o gosto pela luta e pela política, mas mantém sua desconfiança diante dos jogos eleitorais e dos compromissos institucionais. Ao rechaçar um mundo imundo sem chegar a conceber "o outro mundo" necessário, esse radicalismo pode tomar direções diametralmente opostas: a de uma alternativa claramente anticapitalista ou a de um populismo nacionalista e xenófobo (a Frente Nacional na França, o National Front no Reino Unido), e inclusive a de um novo nihilismo. Entretanto, é alentador constatar que o eleitorado de Die Linke, como o de Olivier Besancenot nas eleições presidenciais francesas de 2007, se caracteriza por ter um componente jovem, precário e popular proporcionalmente superior ao dos outros partidos.
Todavia a nova esquerda não constitui uma corrente homogênea reunida em torno de um projeto estratégico comum. Inscreve-se mais bem num campo de forças polarizado, de um lado, pela resistência e pelos movimentos sociais, e do outro, pela tentação da respeitabilidade institucional. A questão das alianças parlamentares e governamentais já é para essa esquerda uma verdadeira prova de verdade. A Rifundazione Comunista, que ainda ontem aparecia como o buque-insígnia dessa nova esquerda europeia, se suicidou ao participar do Governo Prodi sem impedir o retorno de Berlusconi. Muito mais além das táticas eleitorais, essas opções revelam uma orientação que Oskar Lafontaine resume com acerto: "Fazer pressão para restaurar o Estado de bem-estar social".
Portanto, não se trata de construir pacientemente uma alternativa anticapitalista, senão que de "fazer pressão" sobre a social democracia para salvá-la de seus demônios centristas e fazê-la voltar a uma política reformista clássica no marco da ordem estabelecida.  Quanto a "restaurar o Estado de bem-estar social", para isso seria necessário começar por romper com o Pacto de Estabilidade e o Tratado de Lisboa, reconstruir serviços públicos europeus e submeter o Banco Central Europeu a instâncias eleitas. Em resumo, fazer exatamente o contrário do que fizeram os governos de esquerda durante os últimos 20 anos e que continuam fazendo quando estão no poder.  A moderação da social democracia diante da crise econômica e sua declaração comum durante as últimas eleições europeias demonstram que seu submetimento aos imperativos do mercado não é reversível.
Em troca, no dia seguinte às eleições portuguesas, Francisco Louça, o deputado que coordena o Bloco de Esquerda, rechaçou os cantos de sereia governamentais ao declarar rotundamente que sua formação estaria "na oposição", contra as privatizações anunciadas, o desmantelamento dos serviços públicos e o novo código do trabalho; portanto, na oposição ao Governo Sócrates. Essa opção também está no coração das divergências entre o NPA de Olivier Besancenot, que rechaça qualquer aliança de governo com o Partido Socialista e com o Partido Comunista francés, claramente comprometido com a perspectiva de reconstruir a "esquerda plural", cujo governo conduziu ao desastre de 2002, com Le Pen no segundo turno das eleições presidenciais.
Essas duas opções atravessam, sem dúvida, a maioria dos partidos da nova esquerda e, de concreto, Die Linke, cuja coalizão com o SPD, já muito discutida no Ajuntamento de Berlim, tenderia a se generalizar, como parece anunciar a aliança travada ultimamente no land de Brandenburgo.
Desse modo, se esboça a opção estratégica à qual se verá confrontada a nova esquerda. Ou bem se contenta com um papel de contrapeso e pressão sobre a esquerda tradicional, privilegiando o terreno institucional; ou bem favorece as lutas e os movimentos sociais para construir pacientemente uma nova representação política dos explorados e oprimidos. Isso não exclui de modo nenhum que se busque a mais amplia unidade de ação com a esquerda tradicional contra as privatizações e as deslocalizações, e a favor dos serviços públicos, da proteção social, das liberdades democráticas e da solidariedade com os trabalhadores imigrados e sem documentos. Mas isso exige uma independência rigorosa com respeito a uma esquerda que gestiona lealmente os assuntos do capital, sob o risco de aborrecer a política das novas forças emergentes.
A crise social e ecológica está ainda no seu inicio. Mais além de possíveis recuperações ou melhoras, o desemprego e a precariedade se manterão em níveis muito elevados e os efeitos da mudança climática continuarão se agravando. Efetivamente, não estamos diante de uma crise como as que o capitalismo frequentemente conheceu, senão que diante de uma crise da desmedida de um sistema que pretende quantificar o inquantificável e dar uma medida comum ao incomensurável. É provável que estejamos, portanto, no principio de um sismo, com recomposições e redefinições, do qual sairá uma paisagem política, daqui a uns anos, totalmente recomposta. É preciso se preparar para isso e não sacrificar o surgimento de uma alternativa a médio prazo por operações politiqueiras e hipotéticos lucros imediatos, o que acarreta em amargas desilusões.

Daniel Bensaid é filósofo.  Seu último livro publicado é Elogio de la política profana (Península). Tradução de M. Sampons.
Publicado no jornal El País, 2/11/2009
Fonte: Sin Permiso
Tradução para o português: Sergio Granja

Malawi: Ventos da mudança



Willard Nyangu, 60, lembra de seu retorno, há quarenta anos, às praias do Lago Malawi [terceiro maior da África, situado entre o Malawi, a Tanzânia e Moçambique, numa altitude de 700m acima do nível do mar, possuindo a maior diversidade de peixes do mundo] com sua canoa cheia de peixes depois de uma noite pescando.
Hoje, a história é bem diferente. Apesar de passar uma noite inteira no lago, Nyangu volta para a praia com apenas um punhado de peixes em sua canoa. Ele diz que o padrão de chuvas tem mudado nos últimos 40 anos e culpa a atividade humana, incluindo o desmatamento, pelos níveis incertos de água que afetam os ciclos de reprodução dos peixes.
Estoques minguantes de peixes
O governo do Malawi estima que a indústria pesqueira empregue mais de 300 mil malawianos. Cerca de 14% das comunidades litorâneas sobrevivem através da pesca, processamento e venda do pescado, venda e conserto de barcos e peças, e outras indústrias relacionadas.
A pesca é um fator chave na segurança alimentar do país – chega a contribuir com 70% da proteína animal nas áreas urbana e rural.
No entanto, a média de peixes capturados diminuiu de cerca de 65 mil toneladas por ano em 1970 e 1980 para apenas 50 mil toneladas por ano no final dos anos 90.
Em 2003, especialistas da indústria pesqueira – alarmados pela diminuição dos estoques de peixe – embarcaram numa estratégia de 10 anos para restaurar a quantidade de peixes. O plano tem por objetivo recuperar os esgotados estoques até um nível sustentável.
Clima Imprevisível
Há três anos, Bingu wa Mutharika, presidente do Malawi, levou a questão adiante ao tomar uma iniciativa para aumentar os estoques de água do lago.
Steve Donda, vice-diretor da indústria pesqueira do Malawi, reconhece que a população de peixes do país está diminuindo, mas, diz ele, que outros fatores além da mudança do clima, incluindo a destruição dos ambientes de reprodução, podem ser responsáveis por isso.
Contudo, um relatório publicado em junho pela ONG Oxfam Ventos da Mudança: Mudança do Clima, Pobreza e o Meio Ambiente no Malawi destaca que os ventos se tornaram tão fortes no país e as chuvas tão pesadas que eles têm seguidamente destruído casas, plantações e barcos.
A principal estação das chuvas está se tornando cada vez mais imprevisível. Em geral, nos últimos 40 anos, pescadores e fazendeiros dizem que as temperaturas estão mais altas e que as chuvas estão chegando mais tarde e ficando mais intensas e concentradas, o que reduz a duração do período e desencadeia mais secas e mais enchentes”, observa Elvis Sukali, um correspondente do Oxfam em Linlongwe [capital do Malawi].
Tomando atitudes
O Oxfam recomendou que o governo do Malawi elaborasse uma lista de ações com medidas que devem ser implementadas a fim de iniciar uma adaptação à mudança climática.
Mutharika lançou um plano de alcance nacional chamado Programas de Ação Nacional para a Adaptação (PANA) [em inglês NAPA, National Adaptation Programmes of Action] com o objetivo de melhorar a organização comunitária, recuperar florestas, aumentar a produção agrícola e o estado de prontidão em caso de enchentes e secas e ampliar o monitoramento climático.
Os PANAs custarão 22,43 milhões de dólares [aproximadamente R$38,1 milhões] que, até agora, não foram disponibilizados pela comunidade internacional, que cobra, antes de qualquer coisa, que o Malawi desenvolva seu plano. O Oxfam condenou as agências de desenvolvimento por fazerem isso, dizendo que o contínuo fracasso em financiar a implementação dos PANAs pelos países menos desenvolvidos no mundo é inaceitável.
No entanto, grupos da sociedade civil no Malawi dizem que a falta de fundos donativos não deve se tornar uma desculpa para a inércia das autoridades, e insistem para que o governo faça mais mesmo se os PANAs continuarem sem financiamento.
Menos chuva, menos alimentos”
O relatório do Malawi coincide com os relatórios do Oxfam produzidos na África do Sul e Uganda, que revelaram que as populações destes países estavam enfrentando desafios similares. Embora o continente africano contribua com menos de 3% das emissões globais, o Oxfam sul-africano observa que a mudança climática representa uma grande ameaça ao desenvolvimento do continente.
Em Uganda, uma análise climática feita pelo governo, publicada em dezembro de 2007, observou que as áreas mais úmidas do país ao redor da bacia do Lago Vitória [maior de todos os lagos africanos], no leste e noroeste, estão ficando ainda mais úmidas.
Meteorologistas e fazendeiros relatam o mesmo problema: na maioria dos distritos, os anos recentes têm testemunhado um aumento na irregularidade no início e final da estação das chuvas, e quando a chuva chega, ela é mais pesada e mais violenta.
Fazendeiros e pecuaristas dizem que estas mudanças estão encurtando a estação de chuvas e que o resultado final é menos chuva e mais seca ou, como um fazendeiro colocou: “Menos chuva significa menos alimento.”
Enfrentando a mudança climática
No entanto, alguma cautela é necessária na interpretação destas afirmações.
A fim de lidar com a situação, o Malawi recentemente imitou Angola, Suazilândia e Zâmbia ao lançar duas novas variedades de milho resistente a doenças – ZM 309 e ZM 523 – desenvolvidas por fazendeiros pobres em áreas propensas a estiagem com solos inférteis, a fim de ajudar a proporcionar alguma segurança alimentar.
Este lançamento é parte do projeto Milho Resistente à Seca para a África [em inglês Drought Tolerant Maize for África] e oferece a mais fazendeiros pobres na região da África sub-sahariana variedades de milho – um alimento básico entre os africanos – que têm níveis aumentados de resistência à seca.
Christine Mtambo, chefe do departamento de agricultura do Malawi, que é responsável pela produção rural no Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar, diz que as novas variedades se adaptam às atuais condições climáticas porque elas são resistentes à seca e amadurecem rápido.
Talvez, com a adaptação às mudanças no clima e a aplicação de medidas para aliviar o seu impacto, os pescadores como Nyangu e agricultores com culturas de subsistência serão capazes de enfrentar a mudança climática.
Porém, Raphael Mweninguwe, um renomado colunista ambientalista do Malawi que escreve para o jornal semanal Sunday Times, adverte que a mudança no clima é um aviso para as pessoas reagirem a essas condições aplicando medidas amigáveis ao meio ambiente. Mweninguwe argumenta que deveria haver uma maior consciência das questões relacionadas às mudanças climáticas entre as várias partes envolvidas, tanto dentro do país como fora das fronteiras do Malawi.

Charles Mkoka
Tradução: Aline Oliveira

Para acessar o texto original, clique aqui.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Entrevista de Eduardo Galeano...

Estamos tentando recuperar nossa própria voz

 
Por Fania Rodrigues
 
Um dos mais respeitados escritores e intelectuais da América Latina, Eduardo Hughes Galeano recebeu a Caros Amigos numa tarde de segunda-feira, no Café Brasilero, em Montevidéu. Aos 69 anos fala, em fluente português, sobre sua literatura, o amor pelos cafés e, claro, sobre política. Uruguaio de nascimento (1940), latino-americano
por devoção e cidadão do mundo por paixão, quando criança, sonhava em ser jogador de futebol. “Era uma maravilha jogando, mas só de noite, enquanto dormia”. Melhor assim. Os campos de futebol não perderam nada, porém a literatura ganhou um verdadeiro artesão das palavras. Suas obras combinam elementos da literatura, sensibilidade e observação jornalística, que estão sempre em função de suas paixões. Autor de mais de trinta livros, dezenas de crônicas e artigos, Galeano também é um exímio defensor do socialismo, dos direitos e da dignidade humana. Entre seus livros, pode se destacar As veias abertas da América Latina, a trilogia Memória doFogo, Livro dos Abraços e o último, Espelhos – uma história quase universal, lançado em 2008, em que o autor reescreve, a partir de um outro ponto de vista, episódios que a história oficial camuflou. Galeano “remexe no lixão da história mundial” para dar voz aos “náufragos e humilhados”.
 
Caros Amigos - Você nasceu em Montevidéu? Gostaria que falasse um pouco da sua infância?
Eduardo Galeano - Sim, nasci em Montevidéu. Minha infância? Eu nem lembro, já faz tanto tempo... Mas acho que foi bastante livre. Eu morava em um bairro quase no limite da Montevidéu, onde havia grandes edifícios. Então tinha espaço verde. Sinto pena das coitadas das criancinhas que vejo agora, prisioneiras na varanda de casa. Meninos ricos são tratados como se fossem dinheiro, meninos pobres são tratados como se fossem lixo. Muitos, pobres e ricos, viram prisioneiros, atados aos computadores, à televisão ou a alguma outra máquina. Mas eu tive uma infância muito livre. Fiz a escola primária, secundária, depois comecei a trabalhar por minha conta. Então, com 15 anos, já era completamente livre.
 
Em que trabalhou?
Fiz de tudo o que você possa imaginar. Fui desenhista (adoro desenhar até hoje), taquígrafo, mensageiro, funcionário de banco, trabalhei em agência de publicidade, cobrador... Fiz milhares de coisas, mas, sobretudo, comecei a aprender o ofício de contar história. Eu era um cuenta cuentos (conta contos). E aprendi a fazer isso nos cafés, como esse onde a gente está agora falando, que leva o honroso nome de Brasilero.
 
O mais tradicional dos cafés uruguaios se chama Brasilero!
E esse é último sobrevivente, o último dos moicanos dos cafés nos quais eu fui formado. Minha universidade foram os cafés de Montevidéu, foi aqui que aprendi a arte de narrar, a arte de contar histórias.
 
Conversando com as pessoas?
Escutando. Conversando sim, mas aprendi muito mais escutando. Desde muito menino aprendi que, por alguma razão, nascemos com dois ouvidos e uma única boca. Mas esses cafés típicos de Montevidéu pertenciam a uma época que não existem mais. Pertenciam a um tempo no qual havia tempo para perder o tempo.
 
Como foi sair do Uruguai, na época da ditadura (1973-1984)?
Quando a ditadura se instalou, eu corri para a Argentina, em 1973. Lá fundei uma revista cultural chamada Crisis. Depois fui obrigado a voar de novo. Não podia voltar para o Uruguai, porque não queria ficar preso, e fui obrigado a sair da Argentina porque não queria ser morto. A morte é uma coisa muito chata. Então fiquei na Argentina até o final de 1976, quando se instala a Ditadura argentina. Aí fui para a Espanha, onde fiquei até o final de 1985. Depois disso voltei para o Uruguai. No começo, minha situação em Barcelona foi muito complicada. Eu não tinha documentos, pois a Ditadura uruguaia se recusava a fornecer. O que possuía era um documento de salvo conduto das Nações Unidas, que não servia para muita coisa. Eu tinha que ir todo mês à polícia renovar o meu visto de permanência e passava o dia inteiro preenchendo formulários de perguntas. Então, um dia, onde dizia profissão, coloquei escritor, entre aspas, de formulários. Mas ninguém percebeu. A polícia achou normal ser escritor de formulários!
 
Havia duas listas das ditaduras do Cone Sul. Uma, com os nomes das pessoas que estavam marcadas para morrer e outra para a extradição. Em qual você estava?
Nas duas.
 
Na época da ditadura, muitas pessoas, assim como você, ficaram sem documentos, não podiam sair do país e foram mortas a tiro ou envenenadas...
Eu tive sorte. Não me lembro de ter sido envenenado, nem mesmo pelos críticos literários. Claro que sofri muitas ameaças, mas não vou fazer aqui uma apologia do mártir, do herói da revolução. Mas claro que a vida não era fácil, sobretudo por que a situação dessa revista que fundei na Argentina era difícil, pois chegava muito além das fronteiras tradicionais das revistas culturais. Nós vendíamos entre 30 e 35 mil exemplares. Isso, para uma revista cultural, era uma prova de resistência. Nós pensávamos em fazer era um resgate das mil e uma formas de expressão da sociedade. Não apenas dos profissionais da cultura, mas também das cartas dos presos, da cultura contada pelos operários das fábricas, que raramente viam a luz o sol. Esse tipo de coisa que para nós também era cultura.
 
O livro As Veias abertas da América Latina foi escrito na década de 1970. Hoje, é possível escrever um novo Veias Abertas?
Para mim esse livro foi um porto de partida, não de chegada. Foi o começo de algo, de muitos anos de vida literária e jornalística tentando redescobrir a realidade, tentando ver o não visto e contar o não contado. Depois de Veias escrevi muitos livros que foram continuações, de um certo modo, e uma tentativa de cavar, cada vez mais profundamente, a realidade. Isso com o objeto de ampliar um pouco as ideias, porque Veias é um livro limitado à economia política latino-americana. Os livros seguintes têm que ser lidos com a vida toda, nas suas múltiplas expressões, sem dar muita bola nem ao mapa, nem ao tempo. Se eu fico apaixonado por uma história, me
ponho a contar histórias de qualquer lugar do mundo e de qualquer tempo. Conto a história da história, que podem ter acontecido há 2 mil anos e tento escrever de tal modo que aconteçam de novo, na hora em que são contadas. Aí está o verdadeiro ofício de contar, que aprendi nos cafés de Montevidéu, que inclusive permite a você escutar o som das patas dos cavalos, sentir o cheiro da chuva...
 
Pode-se dizer que hoje existe uma demanda por governos de esquerda na América Latina? Em sua opinião, esses governos têm contribuído para diminuir a pobreza e a desigualdade social nesses países?
O que existe é um panorama muito complexo e diverso de realidades diferentes. Também vemos respostas sociais e políticas diversas. Isso é o que nossa região do mundo tem de melhor: sua diversidade. Esse encontro de cores, de dores tão diferentes, é a nossa riqueza maior. Os novos movimentos, como esses, que estão brotando por toda parte, que tentam oferecer uma resposta diferente às desigualdades sociais, contra os maus costumes da humilhação e o fatalismo tradicional, também são respostas diversas porque expressam realidades diferentes. Não se pode generalizar. O que existe sim é uma energia de mudança. Uma energia popular que gera diversas realidades, não só política, mas realidades de todo tipo, tentando encontrar respostas, depois de vários séculos de experiências não muito brilhantes em matéria de independência. Agora estamos comemorando, em quase todos os países, o bicentenário de uma independência que ainda é uma tarefa por fazer.
 
O que falta para a América Latina ser completamente independente?
Romper com o velho hábito da obediência. Em vez de obedecer à história, inventá-la. Ser capaz de imaginar o futuro e não simplesmente aceitá-lo. Para isso é preciso revoltar-se contra a horrenda herança imperial, romper com essa cultura de impotência
que diz que você é incapaz de fazer, por isso tem que comprar feito, que diz que você é incapaz de mudar, que aquele que nasceu, como nasceu vai morrer. Porque dessa forma não temos nenhuma possibilidade de inventar a vida. A cultura da impotência te ensina
a não vencer com sua própria cabeça, a não caminhar com suas próprias pernas e a não sentir com seu próprio coração. Eu penso que é imprescindível vencer isso para poder gerar uma nova realidade.
 
A América Latina copiou um modelo de desenvolvimento que não foi feito para ela. É possível inventar um modelo próprio de desenvolvimento?
Não vou entrar em detalhes porque se fosse falar da quantidade de cópias erradas seria uma lista infinita. O desafio é pensar no que queremos ser: originais ou cópias? Uma voz ou eco? Agora estamos tentando recuperar nossa própria voz, em diferentes países, de diversas maneiras.
 
A implantação das bases dos Estados Unidos na Colômbia fere a dignidade do povo latinoamericano e compromete a independência e a liberdade da América do Sul?
Sim. É a continuação de uma tradição humilhante. Também há o perigo da intervenção direta dos Estados Unidos nos países latino-americanos. Meu mestre, Ambroce Bierce, um escritor norte-americano maravilhoso, quando se iniciou a expansão imperial dos Estados Unidos, no século 19, dizia que a guerra é um presente divino enviada por Deus para ensinar geografia. Porque assim eles (estadunidenses) Aprendiam geografia. E é verdade. Os EUA têm uma tradição de invadir países sem saber onde estão localizados e como são esses países. Tenho até a suspeita de que (George W.) Bush achasse que as
Escrituras tinham sido inventadas no Texas e não no Iraque, país que ele exterminou. Então, esse perigo militar latente é muito concreto. Atualmente os EUA possuem 850 bases militares em quarenta países. A metade do gasto militar mundial corresponde aos gastos de guerras dos EUA. Esse é um país em que o orçamento militar se chama orçamento de defesa por motivos, para mim, misteriosos e inexplicáveis. Porque a última invasão sofrida pelos EUA foi em 1812 e já faz quase dois séculos. O ministério se chama de defesa, mas é de guerra, mas como que se chama de defesa? O que tem a ver com a defesa? A mesma coisa se aplica às bases na Colômbia, que também são “defensivas”. Todas as guerras dizem ser “defensivas”. Nenhuma guerra tem a honestidade de dizer “eu mato para roubar”. Nenhuma, na história da humanidade. Hitler invadiu a Polônia porque, segundo ele, a Polônia iria invadir a Alemanha. Os pretextos invocados para a instalação dessa base dos EUA na Colômbia não são só ofensivas contra a dignidade nacional dos nossos países, como também ofensivas contra a inteligência humana. Por que dizer que serão colocadas lá para combater o tráfico de drogas e o terrorismo? Tráfico de drogas, muito bem... 80% da heroína que se consome no mundo inteiro vem do Afeganistão. 80%! Afeganistão é um país ocupado pelos EUA. Segundo a legislação internacional, os países ocupantes têm a responsabilidade sobre o que acontece nos países ocupados. Se os EUA têm interesse de verdade de lutar contra o narcotráfico, têm que começar pela própria casa, não pela Colômbia e sim pelo Afeganistão, que faz parte da sua estrutura de poder, e que é o grande abastecedor de heroína, a pior das drogas. O outro pretexto invocado é o terrorismo. Mas não é sério. Não é sério, por favor. A grande fábrica do terrorismo é essa potência mundial que invade países, gera desespero, ódio, angústia. Sabe quem esteve sessenta anos na lista oficial dos terroristas dos EUA? Nelson Mandela, Prêmio Nobel, presidente da África do Sul. Cada vez que viajava aos EUA, ele precisa de um visto especial do presidente dos Estados Unidos, porque era considerado um terrorista perigoso durante sessenta anos. Até 2008. É desse terrorismo que estão falando? Imagina se eu fosse incorporado agora na lista dos terroristas dos EUA e tivesse que esperar sessenta anos para ser tirado. Acho que daqui há sessenta anos vou estar um poquitito mortito.
 
Fania Rodrigues é jornalista
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