Em fotos, Chávez, uma vida dedicada a luta pelo povo
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quarta-feira, 6 de março de 2013
terça-feira, 5 de março de 2013
Morre o presidente Hugo Chávez
O presidente da Venezuela e líder da 'revolução bolivariana', Hugo Chávez Frias, morreu nesta terça (5), aos 58 anos, vítima de câncer. O vice-presidente do país, Nicolás Maduro, fez o anúncio durante a tarde, em rede de rádio e televisão. Ele já havia confirmado, durante o dia, a notícia de que o estado de saúde de Chávez se agravara. "Viva Hugo Chávez! Viva para sempre", celebrou Maduro.
Da Redação* CARTAMAIOR
O vice-presidente da Venezuela, Nicolás
Maduro, anunciou a morte do presidente Hugo Chávez, em pronunciamento em
rede de rádio e televisão. Chávez tinha 58 anos e morre após enfrentar
longo tratamento contra o câncer, parte dele feito em Cuba.
O governo ainda vai informar onde será velado o corpo de Chávez e dará detalhes sobre o sepultamento. Maduro pediu que o povo venezuelano enfrente este momento "com o amor que Chávez ensinou". O vice-presidente encerrou a fala com a frase: "Viva Hugo Chávez! Viva para Sempre".
As Forças Armadas venezuelanas, também em comunicado em rede nacional de rádio e televisão, disse que se unia ao povo "neste momento de dor", que permanece unida e que manterá a luta pelos ideais de Chávez. O texto aponta que a Constituição seguirá sendo respeitada e que Maduro poderá "contar com as Forças Armadas".
Por causa da morte do presidente da Venezuela, Dilma Rousseff cancelou a viagem que faria à Argentina na próxima quinta-feira (7). A presidenta iria a El Calafate para reuniões bilaterais com sua colega argentina, Cristina Kirchner.
Ao falar, com a voz embargada, sobre a morte de Chávez, Dilma afirmou: "O presidente Hugo Chávez deixará no coração, na história e nas lutas da América Latina um vazio. Lamento, como presidente da República e como uma pessoa que tinha por ele um grande carinho".
A presidenta Dilma participava nesta terça do Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, que ocorre em Brasília. Ela e sua colega argentina, Cristina Kirchner, devem viajar à Venezuela para participar do velório de Chávez.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conviveu bastante com Chávez ao longo de seus oito anos de governo, divulgou nota oficial.
"Eu me solidarizo com o povo venezuelano, com os familiares e correligionários de Chávez, neste dia tão triste, mas tenho a confiança de que seu exemplo de amor à pátria e sua dedicação à causa dos menos favorecidos continuarão iluminando o futuro da Venezuela", diz um trecho da nota.
Clique aqui para ler o especial 'O Chavismo além de Chávez'
*Com informações da Agência Brasil
O governo ainda vai informar onde será velado o corpo de Chávez e dará detalhes sobre o sepultamento. Maduro pediu que o povo venezuelano enfrente este momento "com o amor que Chávez ensinou". O vice-presidente encerrou a fala com a frase: "Viva Hugo Chávez! Viva para Sempre".
As Forças Armadas venezuelanas, também em comunicado em rede nacional de rádio e televisão, disse que se unia ao povo "neste momento de dor", que permanece unida e que manterá a luta pelos ideais de Chávez. O texto aponta que a Constituição seguirá sendo respeitada e que Maduro poderá "contar com as Forças Armadas".
Por causa da morte do presidente da Venezuela, Dilma Rousseff cancelou a viagem que faria à Argentina na próxima quinta-feira (7). A presidenta iria a El Calafate para reuniões bilaterais com sua colega argentina, Cristina Kirchner.
Ao falar, com a voz embargada, sobre a morte de Chávez, Dilma afirmou: "O presidente Hugo Chávez deixará no coração, na história e nas lutas da América Latina um vazio. Lamento, como presidente da República e como uma pessoa que tinha por ele um grande carinho".
A presidenta Dilma participava nesta terça do Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, que ocorre em Brasília. Ela e sua colega argentina, Cristina Kirchner, devem viajar à Venezuela para participar do velório de Chávez.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conviveu bastante com Chávez ao longo de seus oito anos de governo, divulgou nota oficial.
"Eu me solidarizo com o povo venezuelano, com os familiares e correligionários de Chávez, neste dia tão triste, mas tenho a confiança de que seu exemplo de amor à pátria e sua dedicação à causa dos menos favorecidos continuarão iluminando o futuro da Venezuela", diz um trecho da nota.
Clique aqui para ler o especial 'O Chavismo além de Chávez'
*Com informações da Agência Brasil
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Stalingrado, onde começou a derrota de Hitler e dos nazistas
José Carlos Ruy*
Adolf Hitler e a
liderança nazista subestimavam os russos; que considerava como
“sub-humanos”, bárbaros, inferiores e indignos de continuar vivendo. Via
os territórios do leste da Europa, sobretudo as estepes férteis da
Ucrânia, como “um lebensraum (espaço vital), à prova de bloqueio" cuja
conquista levaria, depois da vitória, ingleses e norte-americanos a
negociar os termos da paz. Era ali que Hitler pretendia lançar as bases
do "Reich de mil anos", depois de abrir um vazio populacional com o
assassinato de ao menos 30 milhões de eslavos, cujo território seria
ocupado pela colonização étnica alemã.
Destruir a União Soviética e comunismo
Numa das
reuniões de planejamento da Operação Barbarossa (o código nazista para a
invasão da União Soviética, que ocorreria em junho daquele ano), em 30
de março de 1941, Hitler deixou claro o objetivo da guerra: destruir a
União Soviética e o comunismo.
O general Franz
Haider, que foi chefe do estado maior do exército nazista, anotou em
seu diário a declaração do dirigente nazista. Será a “luta de duas
visões de mundo”, disse Hitler numa “sentença aniquilatória contra o
bolchevismo”, que é a “mesma coisa que criminalidade antissocial”,
anotou Haider. “Comunismo, tremendo perigo para o futuro”, disse Hitler.
E ordenou o assassinato puro e simples dos comissários políticos do
Exército Vermelho e da intelectualidade comunista.
Hitler
acreditava que a invasão seria mais uma blitzkrieg - uma guerra
relâmpago a ser resolvida rapidamente. Em seus planos, tudo estaria
terminado antes do Natal de 1941, e do temível inverno russo. “Nós só
temos que chutar a porta da frente e todo o edifício ruirá”, disse em
outra ocasião, registrou o historiador Rupert Matthews. Hitler estava
convicto de que suas tropas seriam recebidas na URSS como “libertadoras”
contra o comunismo.
Era uma crença
generalizada também entre governos aliados, como o norte-americano ou o
inglês, de que os russos se levantariam contra o comunismo. Na véspera
da invasão, o serviço secreto britânico calculou que a União Soviética
estaria liquidada em oito ou dez semanas. Um funcionário do Departamento
de Estado dos EUA foi mais “pessimista” e previu na mesma ocasião que a
derrota soviética ocorreria entre um a três meses. (citados por
Domenico Losurdo).
Mesmo quando os
nazistas foram derrotados em Moscou, em janeiro de 1942, essa crença
não perdeu a força, como mostra a reação do governo inglês diante de um
telegrama enviado por um diplomata de Moscou para Londres. “Essa
ofensiva forçará os nazistas a um longo recuo”, dizia. “Uma nova
ofensiva alemã está prevista para a primavera, podendo fazer alguns
progressos limitados na Rússia, mas não logrará muito. Em seguida, os
russos pretendem dar o golpe de misericórdia no outono ou no inverno.
Não acredito que os russos parem nas fronteiras alemãs, mas que partam
para uma derrota da Alemanha de forma conclusiva e definitiva”. (citado
por Rupert Matthews). Seus chefes em Londres fizeram piada dessa
previsão que o tempo revelaria correta.
Invasão e assassinato em massa
A invasão da
União Soviética, que começou na madrugada de 22 de junho de 1941, foi a
maior e mais feroz ação bélica da história. A artilharia alemã abriu
fogo numa extensa frente de mais de 1.600 quilômetros, indo do Báltico
ao mar Negro. Foram mobilizados cerca de 4,5 milhões de soldados da
Wehrmacht com o apoio de 600.000 veículos e 750.000 cavalos, e cerca de
2.700 aeronaves (mais da metade do efetivo da força aérea alemã).
A passagem das
tropas era seguida pelos efetivos da SS, da Gestapo e dos “esquadrões
especiais” (na verdade esquadrões da morte) com ordens explícitas de
Hitler para agir de maneira brutal contra a população civil e executar
todos os funcionários comunistas, comissários do povo, “judeus em cargos
partidários ou estatais” e “outros elementos radicais (sabotadores,
propagandistas, atiradores de tocaias, assassinos, agitadores etc.)”,
anotou o historiador britânico Richard J. Evans em sua monumental
história do Terceiro Reich, recentemente publicada. Outro historiador
britânico, Rupert Matthews registrou a barbárie que ocorreu no rastro
das tropas invasoras. Cumprindo as ordens assassinas de Hitler, as
bestas humanas com uniforme nazista exterminaram, só em 1941, entre 300
mil e 500 mil pessoas nos territórios soviéticos ocupados.
Era demais até
mesmo para chefes militares da tradição prussiana, como o comandante
alemão Fedor von Bock. No inverno de 1941 ele reclamou a Hitler, por
escrito, sobre as ações bárbaras da SS, da Gestapo e de outras unidades
paramilitares contra a população civil em áreas conquistadas, com
execução em massa de judeus, estupros e assassinatos generalizados,
sendo lugar comum o uso de trabalho escravo em condições terríveis. Ele
reclamava, diz o historiador Rupert Matthews, sobretudo porque esta
bestialidade fortalecia a disposição dos russos para resistir,
fortalecendo os grupos guerrilheiros que logo se juntaram à ação do
Exército Vermelho.
Esse
comportamento bestial logo indispôs as tropas invasoras até mesmo com as
pessoas que se opunham ao comunismo, levando outro general alemão, Hans
Meier-Welcker, a registrar: “Se nossa gente fosse apenas um pouquinho
mais decente e cordata!”.
Os horrores
cometidos pelos alemães fortaleceram, de fato, entre soldados e cidadãos
soviéticos a disposição para acatar a mensagem patriótica difundida
através do rádio por Stálin convocando o povo para unir-se à guerrilha
para sabotar e combater, de todas as formas, o ocupante nazista naquela
que, com razão, é chamada pelos russos de Grande Guerra Pátria.
O ataque contra Stalingrado
A invasão da
União Soviética fora planejada para desdobrar-se em três frente: ao
norte, com o foco em Leningrado; no centro, com Moscou no alvo; e no
sul, onde o objetivo era Kiev. Mas a resistência soviética mostrou a
inviabilidade dessa invasão em três frentes, coisa que os generais
alemães perceberam já em agosto, menos de dois meses depois do início da
agressão. Eles propuseram a Hitler a escolha de um ponto onde colocar o
peso principal que, preferiam, seria Moscou. Mais uma vez o desprezo de
Hitler pelas tropas russas levou-o a subestimar seu poderio. Hitler
preferiu concentrar o ataque ao sul, contra Kiev, em busca dos recursos
econômicos das porções ocidentais da URSS, do Cáucaso e suas reservas de
petróleo.
Em seguida,
decidiu atacar Stalingrado, pelo valor simbólico e propagandístico (era a
cidade de Stalin) e estratégico (o domínio do Volga poderia abrir um
caminho por onde os invasores pretendiam chegar a Moscou).
Foi a origem da
maior e mais sangrenta das batalhas da 2ª Guerra Mundial, que começou
em 17 de julho de 1942. Os 250 mil soldados do 6º Exército (um das joias
da coroa nazista), sob o comando do então general Friedrich von Paulus,
alcançaram o Volga, ao norte de Stalingrado, em 23 de agosto de 1942.
Antes de sua chegada, a cidade foi arrasada pelos bombardeios da
Luftwaffe. A luta prosseguiu nos escombros da cidade, entre setembro de
1942 a janeiro de 1943. A batalha foi dura, e os soldados alemães -
treinados para a blitzkrieg com apoio de tanques - não estavam
preparados para a luta urbana, com os obstáculos representados pelos
escombros. Em Stalingrado cada pedaço de terreno foi disputado
literalmente palmo a palmo, casa a casa, numa batalha corpo a corpo.
A defesa
soviética foi intensa, e o grande contra-ataque para libertar
Stalingrado teve início em 19 de novembro de 1942, reunindo mais de um
milhão de soldados.
As tropas
soviéticas romperam as linhas inimigas a quase 160 km ao oeste da
cidade; a reação alemã inicial foi lenta, demorando a perceber que
estava em andamento uma manobra tradicional de envolvimento, que se
completou no dia 23. Os alemães ainda fizeram uma tentativa de ataque
pelo sul, em 12 de dezembro, repelida pelos soviéticos.
Sem
combustível, comida e munição, no Natal de 1942 o exército de Paulus
estava efetivamente condenado. Menos de um mês depois, em 22 de janeiro
de 1943, ele sugeriu a Hitler (que rejeitou) a rendição como única
maneira de salvar o que restava das tropas. Em 24 de janeiro de 1943
estava cercado nas ruinas de Stalingrado, sendo continuamente atacado
pela artilharia soviética.
Hitler ainda
tentou manter as aparências e, em 30 de janeiro de 1943 (no décimo
aniversário de sua escolha como Chanceler), fez uma solene proclamação
pelo rádio: "Daqui a mil anos, os alemães falarão sobre a Batalha de
Stalingrado com reverência e respeito, e se lembrarão que a despeito de
tudo, a vitória final da Alemanha foi ali decidida". Nesse dia, ele
promoveu Friedrich Von Paulus para o mais alto posto da hierarquia
militar alemã: marechal de campo, em uma evidente tentativa de induzi-lo
a preferir um suicídio “honroso” a cair prisioneiro dos soviéticos.
Em vão. No dia
seguinte, 31 de janeiro de 1943, o agora marechal de campo Friedrich von
Paulus comunicou aos soviéticos sua capitulação, que efetivou em 2 de
fevereiro de 1943.
No total, cerca
de 235 mil soldados alemães e aliados foram capturados; mais de 200 mil
foram mortos, diz Richard Evans. Entre os capturados estavam, além do
marechal Paulus, 24 generais e outros 2.500. Foram mortos cerca de 140
mil soldados da Wehrmacht e 200 mil do Exército Vermelho. Os soviéticos
tomaram do exército inimigo 60 mil veículos, 1,5 mil blindados, seis mil
canhões e dois mil aviões. Os próprios alemães reconheceram que, em
Stalingrado, perderam o correspondente a seis meses da produção de sua
indústria bélica.
Foi a primeira
vez na história que um marechal alemão era feito prisioneiro em combate,
e que dois exércitos alemães foram capturados (o 6º Exército de Paulus e
parte do 4º Exército Panzer, de tanques de guerra). Foram neutralizadas
mais de 20 divisões alemãs; em seis meses de combate, foram mortos mais
de 1,5 milhão de soldados invasores. Entre os russos, o número de
mortos foi semelhante.
Moscou, Leningrado, Stalingrado
O fracasso em
Stalingrado foi a confirmação de uma derrota alemã anunciada antes em
Moscou e no cerco a Leningrado. A primeira etapa da derrota alemã
ocorreu em Moscou onde, em 5 de dezembro de 1941. Era o início do
inverno e as tropas soviéticas e moradores expulsaram os invasores
nazistas que haviam chegado a 80 quilômetros da cidade. Naquele dia
começou a ruir o mito da invencibilidade nazista. Sob o comando do então
general Georgy Zhukov começou o contra-ataque que barrou a tentativa de
blitzkrieg e empurrou os alemães (congelados, famintos e exaustos) de
volta para o ponto de partida de seu ataque, a uns 250 quilômetros. A
consolidação da posição soviética em abril de 1942 afastou a ameaça
alemã contra a capital, reforçando a autoconfiança soviética em seus
soldados, nos equipamentos que produziam (entre eles os tanques T-34 e
os lança foguetes Katyusha), e na capacidade tática e vencer os
invasores nazistas. O dia 5 de dezembro é justamente comemorado na
Rússia como Dia da Glória Militar.
O outro passo
importante foi dado em Leningrado (cidade que Hitler havia prometido
varrer do mapa). O cerco alemão durou mais de dois anos, de 8 de
Setembro de 1941 a 27 de Janeiro de 1944, submetendo os moradores a
intensos bombardeios aéreos, à fome, a epidemias e males semelhantes. Os
moradores e os defensores não esmoreceram; em 18 de janeiro de 1943
conseguiram, pela primeira vez, romper o cerco, mas a luta ainda
demoraria cerca de um ano até a derrota completa do inimigo nazista, em
janeiro de 1944.
O desastre
diante de Moscou foi particularmente catastrófico, classificado pelo
general Franz Haider como “a maior crise em duas guerras mundiais”.
Fritz Told, ministro de Armamentos, concluiu por sua vez que a guerra
não podia ser vencida pois os recursos industriais britânicos,
americanos e soviéticos eram mais poderosos que os da Alemanha, e a
indústria soviética estava produzindo equipamento melhor em escala
maior, mais adaptado para o combate no rigor do inverno, registrou
Richard Evans.
Hitler subestimou a capacidade soviética
As perdas das
Forças Armadas alemãs após a invasão da União Soviética estiveram acima
de todos os cálculos nazistas. Nas ações anteriores, suas perdas foram
assimiláveis: em 1939 chegaram a 19 mil mortos; nas campanhas de 1940,
foram 83 mil - bastante sérias mas não insubstituíveis, comentou o
historiador Richard Evans. Com a invasão da União Soviética esse número
multiplicou-se. Somente em 1941 houve 357 mil soldados alemães dados
como mortos ou desaparecidos, mais de 300 mil deles na frente oriental
onde, a partir de 22 de junho de 1941 estavam engajadas pelo menos 2/3
das forças alemãs.
As grandes
perdas alemãs começaram já no início da invasão. Um mês depois de
atravessarem as fronteiras, o número de mortos, feridos e desaparecidos
alemães já passava de 213 mil e a desordem causada entre as fileiras
levou o Comando Supremo do Exército a ordenar, em 31 de julho, uma
parada no avanço, para reagrupamento. Isto é, cerca de 40 dias depois de
seu início, a invasão começava a perder ímpeto.
Isto é, logo no
início a liderança nazista teve que defrontar-se com as dificuldades
não previstas. Em 2 de julho de 1941, depois de dez dias do início da
invasão, Goebbels escreveu em seu diário: o combate é duro e obstinado, e
“não se pode, de modo algum, falar em passeata. O regime russo
mobilizou o povo”. Avaliação mantida em 24 de julho: “Não podemos nutrir
nenhuma dúvida sobre o fato de que o regime bolchevique, que existe há
quase um quarto de século, lançou marcas profundas no povo da União
Soviética”. E avançou: é preciso dizer ao povo alemão “que esta operação
é muito difícil, mas que podemos superá-la, e a superaremos”. Em 16 de
setembro, seu registro da situação reconhecia que “calculamos o
potencial dos bolcheviques de maneira completamente errada” (citado por
Domenico Losurdo).
Era uma
situação que os generais estavam vivendo na prática. Em 20 de julho de
1941 o general alemão Gotthard Heinrici, escreveu à esposa que “os
russos são muito fortes e lutam com desespero”. “Eles aparecem de súbito
por toda parte, atirando, caem sobre as colunas, carros individuais,
mensageiros, etc.” “Nossas perdas são consideráveis”.
Eram perdas com
as quais os “invencíveis” alemães não estavam acostumados; elas
chegaram a mais de 63 mil homens até o fim de julho; no dia 22 desse
mês, Heinrici reconhecia, em outra carta à esposa, que a disposição
russa para resistir não fora destruída e que o povo não queria depor os
líderes bolcheviques.
Haider, em 2 de
agosto, reconheceu os erros de avaliação: “está ficando cada vez mais
claro que subestimamos o colosso russo, que se preparou de modo
consciente para a guerra”. Em agosto ele avaliou que os alemães já
tinham perdido 10% de seus soldados, que foram mortos ou feridos pela
resistência até o final de julho. Em 15 de agosto ele anotou em seu
diário: “Em vista da fraqueza de nossas forças e dos espaços
infindáveis, podemos jamais alcançar o sucesso”.
Quando a
notícia da derrota em Stalingrado foi transmitida por rádio, em Berlim,
em 4 de fevereiro de 1943, Goebbels, registrou em seu diário: “As
notícias de Stalingrado tiveram um efeito de choque no povo alemão” (Der
Spiegel). Aparentemente era um sentimento geral. Um relatório do
Serviço de Segurança da SS registrou que algumas pessoas de fato viram
em Stalingrado “o começo do fim”, e dizia-se que nos gabinetes de
governo de Berlim havia “em certa medida uma nítida atmosfera de
desespero iminente” (citado por Richard Evans).
O mito do absolutismo soviético
A
historiografia ocidental alimenta um persistente mito sobre Stalingrado.
O Exército Vermelho e a polícia política soviética teriam imposto o
terror sobre seus próprios cidadãos e combatentes para obrigá-los a
combater os invasores. Em 1998, o historiador britânico Anthony Beevor
concluiu que o Exército Vermelho executou mais de 13 mil soldados
durante a batalha, acusados de covardia ou deserção; além disso, 50 mil
soviéticos teriam passado para o lado dos alemães.
Não é verdade.
Esse mito foi demolido por documentos agora revelados no livro The
Stalingrad Protocols, publicado em novembro de 2012, na Alemanha e na
Rússia, escrito pelo historiador alemão Jochen Hellbeck. Segundo os
documentos houve menos de 300 execuções, por covardia, entre os
soviéticos até outubro de 1942, três meses antes da derrota alemã. E,
naqueles meses cruciais, o número de filiados ao Partido Comunista na
cidade conflagrada aumentou, passando de 28.500 para 53.500 entre agosto
e outubro de 1942.
The Stalingrad
Protocols foi escrito com base em cartas e memórias de soldados
soviéticos. Hellbeck consultou mais de 10 mil documentos sobre o
Exército Vermelho existentes na Academia Soviética de Ciências, em
Moscou e sua conclusão é de que a luta contra as tropas hitleristas era
encarada pelos cidadãos soviéticos como uma causa libertadora. “Os
comissários soviéticos souberam captar o sentimento patriótico das
pessoas e mobilizar a população contra a agressão nazista”, diz ele,
derrubando mitos consolidados sobre os soviéticos. Desmente, por
exemplo, a alegação comum na historiografia liberal, de que civis
participaram daquela batalha devido ao medo do terror do regime
soviético. E retrata a história de pessoas que se envolveram de forma
voluntária na defesa de sua cidade e sua pátria.
O esforço do
governo para mobilizar o povo e defender as conquistas do regime surtiu
efeito. O objetivo da luta era claro para a população e para os
soldados. Ele fora apontado inúmeras vezes em transmissões de rádio onde
Stalin falava ao povo desde o início da invasão nazista. Em 23 de
fevereiro de 1942, por exemplo - data do 24º aniversário da entrada do
Exército Vermelho na Primeira Guerra Mundial - ele defendeu o direito de
autodefesa dos soviéticos. “A força do Exército Vermelho”, disse,
“reside sobretudo no fato de não travar uma guerra predatória
imperialista, mas uma guerra patriótica, uma guerra de libertação, uma
guerra justa.” “O Exército Vermelho, como qualquer exército de quaisquer
outros povos, tem o direito e a obrigação de aniquilar os
escravizadores de nossa Pátria”.
Nas
comemorações dos 70 anos da vitória em Stalingrado, a rádio Voz da
Rússia ouviu alguns sobreviventes daquela batalha cujo depoimento
confirma as conclusões do autor de The Stalingrad Protocols. Um exemplo é
o da veterana Taïssia Postnova que, hoje, tem 93 anos de idade; na
ocasião, era estudante de medicina e foi enviada para Stalingrado em
setembro de 1942 para trabalhar como enfermeira. Ela lembrou que os
nazistas "bombardearam continuamente de nove da manhã até às quatro
horas da tarde. Duas vezes nosso bunker foi completamente soterrado após
as explosões”. Viveu os horrores da guerra mas, disse, "não tínhamos
medo. Tínhamos apenas uma ideia em mente: vencer”, em defesa da Pátria e
do regime. “Muitas vezes aqueles que estavam à beira da morte diziam:
'eu morro pela Pátria, por Stalin’. Se não tivesse havido Stalin,
teríamos perdido a guerra", afirmou.
Isso confirma a
opinião de Jochen Hellbeck em entrevista à revista alemã Der Spiegel;
segundo ele, o Exército Vermelho era política e moralmente superior a
seu oponente nazista. “O Exército Vermelho era um exército político”,
disse.
Rendição incondicional
O impulso
soviético iniciado em Moscou e reforçado com a vitória em Stalingrado
cumpriu a previsão do diplomata inglês em Moscou, em 1942: o rolo
compressor do Exército Vermelho não se deteve nas fronteiras russas mas
só parou quando um soldado soviético do destacamento avançado do general
Ivan Koniev, em 2 de maio de 1945, hasteou a bandeira da foice e do
martelo no mastro principal do Reichstag, em Berlim, e a Alemanha foi
completamente derrotada na guerra. Cinco dias depois, em 8 de maio,
Hitler havia cometido suicídio e seus substitutos à frente da Alemanha
nazista, rendição incondicional, diante dos generais Ivan Susloparov,
soviético, Walter Bedell Smith, americano, e François Sevez, francês.
Muito antes
disso, ainda em 1943, a notícia da derrota em Stalingrado foi noticiada
através do rádio, em Berlim, no dia 3 de fevereiro, pelo general
Zeitzler, chefe do Alto Comando das Forças Armadas alemãs, ao som de
tambores abafados e da execução do segundo movimento da Quinta Sinfonia
de Beethoven. Esta foi mais uma vilania dos nazistas: Beethoven foi um
democrata que jamais teria concordado com a barbárie dirigida por Hitler
e seus asseclas. Basta lembrar que, em 1802 (cerca de 140 anos antes
dos eventos trágicos transmitidos pelo general Zeitzler) ele havia
dedicado a Terceira Sinfonia (Eroica) ao Napoleão, dirigente da
revolução francesa. Mas riscou a dedicatória dois anos depois, em 1804,
quando Napoleão se coroou imperador.
A poesia, agora, está nos jornais
A batalha de
Stalingrado ficou na história como um símbolo intenso da resistência
contra a opressão, o imperialismo e a ocupação estrangeira. Um poeta
brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, registrou sua dimensão histórica
imorredoura. Hoje, “a poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais”,
escreveu. “Os telegramas de Moscou repetem Homero. / Mas Homero é
velho. Os telegramas cantam um mundo novo”.
Mundo novo
defendido com muita coragem, sangue, sacrifício para enfrentar aqueles
que, há mais de 70 anos, armaram o até então maior exército jamais visto
para destruir a União Soviética e o comunismo.
*José Carlos Ruy é jornalista
Referências
Evans, Richard J. O Terceiro Reich em Guerra. São Paulo, Planeta, 2012
Losurdo, Domenico. Stalin - storia e critica di uma legenda nera. Roma, Carocci editore, 2008
Matthews,
Rupert. Segunda Guerra Mundial: Stalingrado. A resistência heroica que
destruiu o sonho de Hitler de dominar o mundo. São Paulo, M. Books do
Brasil, 2013
Internet
http://www.spiegel.de/international/zeitgeist/frank-interviews-with-red-army-soldiers-shed-new-light-on-stalingard-a-863229.html,
consultado em 03/02/2013.
http://newsbom.com/world/118575.html, consultado em 03/02/2013.
http://www.independent.ie/world-news/revealed-the-horrific-forgotten-secrets-of-stalingrad-3285052.html,
consultado em 03/02/2013.
http://m.g1.globo.com/mundo/noticia/2013/01/russia-de-putin-celebra-os-70-anos-da-vitoria-de-stalingrado.html,
consultado em 03/02/2013.
Fonte: Fundação Maurício Grabois
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“O PDT se afastou do trabalhismo”, afirma Carlos Araújo
Samir Oliveira no SUL21
Ex-deputado estadual e fundador do PDT no Rio Grande do Sul, Carlos
Franklin Paixão Araújo afirma que o partido está “descaracterizado” e
“afastado das raízes do trabalhismo” no país. Após romper com a sigla em
2004 e permanecer ausente da política desde então, o ex-marido da
presidente Dilma Rousseff (PT) voltará a se filiar ao PDT em março deste
ano.
O retorno de Carlos Araújo ao PDT ocorre às vésperas da convenção que
irá eleger o comando nacional da sigla – que permanece com o
ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi desde a morte de Leonel Brizola, em
2004. Carlos Araújo retorna ao PDT para ajudar os netos de Brizola a
disputar a hegemonia no partido.
Nesta entrevista ao Sul21, Carlos Araújo fala sobre a
situação do PDT no país e no Rio Grande do Sul e defende uma maior
formação política dos seus militantes. Para o ex-deputado, o trabalhismo
é doutrina que irá levar o brasil ao socialismo. “Pretendo me filiar em
março. O trabalhismo é o caminho brasileiro para o socialismo. Quero
participar dessa luta”, explica.
Com 75 anos de idade, Carlos Araújo é natural de São Francisco de
Paula e ingressou clandestinamente na Juventude do Partido Comunista
Brasileiro aos 14 anos – sigla na qual militou até 1957. Formado em
Direito pela UFRGS, começou a ter contato com Leonel Brizola durante a
campanha da Legalidade, em 1961. Após o golpe militar, em 1964,
ingressou na luta armada e foi um dos dirigentes da VAR-Palmares. Foi na
guerrilha que conheceu sua ex-mulher, Dilma Rousseff, com quem foi
casado durante 30 anos, de 1969 a 1999. Graças ao relacionamento com
Carlos Araújo, Dilma veio morar em Porto Alegre, já que o marido
encontrava-se detido na Ilha do Presídio, durante os anos 1970. Ainda
hoje, Carlos Araújo é uma das pessoas mais próximas de Dilma, com quem
teve uma filha, Paula, e compartilha um neto, Gabriel.
Após eleger-se deputado estadual em 1982 e reeleger-se por mais duas
legislaturas, Carlos Araújo – que também disputou a prefeitura de Porto
Alegre em 1988 e 1992 – abandonou a vida pública, devido a um enfisema
pulmonar que vem lhe causando complicações desde 1995.
“O trabalhismo é uma corrente de pensamento que tem como base a defesa dos direitos sociais no capitalismo”
Sul21 – Como o senhor avalia a situação atual do PDT no país?
Carlos Araújo – O PDT está um pouco descaracterizado,
se afastou das raízes do trabalhismo. Falta ao PDT uma prática social
maior, uma maior participação nos movimentos sociais. O partido deveria
se voltar aos grandes problemas nacionais, mas não faz esses debates. A
atuação é muito tímida. Internamente, é preciso haver mais democracia,
discussão e revezamento de poder no PDT. Não podemos ter lideranças que
se eternizam no poder.
Sul21 – Como o partido vem administrando a era pós-Leonel Brizola?
Carlos Araújo – Sempre é difícil administrar um partido
após a perda de um grande líder. Leva tempo até que se encontre um
rumo. O PDT procura esse rumo, mas não tem encontrado. A perda de um
grande líder sempre gera embaraços, cria dificuldades e barreiras a
serem superadas.
Sul21 – Foi um erro do partido ficar tão dependente do Brizola?
Carlos Araújo – Acho que não. A história tem mostrado,
principalmente nos países emergentes, que as forças sociais se
estruturam em cima de grandes lideranças. Líderes como Fidel Castro,
Hugo Chávez e Leonel Brizola discursam durante muito tempo. Fidel chegou
a falar por 14 horas seguidas. O Brizola já discursou por 7 horas.
Esses líderes aprenderam que a educação para a consciência das massas é
formada, em grande parte, pela audição. Esses líderes se destacam e é
muito difícil formar um partido com eles. O PT tem um grande líder, mas o
partido depende muito do Lula. É bom para o PT ter estrutura, conseguir
caminhar sozinho, mas é algo muito difícil.
Sul21 – O senhor ajudou a fundar o PDT no Rio Grande do Sul. O que o partido representava em sua origem?
Carlos Araújo – O PDT sempre representou o trabalhismo.
É uma corrente de pensamento que tem como base a defesa dos direitos
sociais no capitalismo. Getúlio Vargas, que é o fundador do trabalhismo,
quando tomou o poder, em 1930, tinha que responder à seguinte pergunta:
“Como vai ser o processo de desenvolvimento capitalista no Brasil?”.
Então ele disse: “O meu governo terá como base uma democracia social,
uma democracia política e uma democracia econômica. O Estado será um
indutor do desenvolvimento, mas as rédeas do processo estarão nas mãos
das forçais sociais”. Ele usava essa expressão: “Forças sociais”. Em
seguida, as elites paulistas e mineiras se levantaram, em 1932, dizendo
que esse projeto não servia para o país. Eles acreditavam que as forças
sociais não conseguiam gerir o capitalismo no Brasil, defendiam que só
quem poderia fazer isso era o capital internacional. Queriam que os
representantes do capital internacional desenvolvessem o capitalismo
brasileiro.
“Embora tenha feito e esteja fazendo grandes governos, o PT perdeu a sua auréola”
Sul21 – Esse embate existe até hoje no país?
Carlos Araújo – Continua. Por isso tentaram derrubar o
Getúlio em 1932 e em 1937. Por isso conseguiram derrubá-lo em 1945 e o
levar ao suicídio em 1954. Foi a mesma questão que levou a derrubarem o
Jango em 1964. Getúlio dizia que a hegemonia do processo político tem
que estar com as forças sociais. Em 1866, quando houve a primeira
eleição na Inglaterra, perguntaram ao Marx – que dirigia a Internacional
– como os trabalhadores deveriam votar. Havia um candidato capitalista e
outro que representava o regime monárquico anterior. O capitalismo
naquela época era terrível, com crianças morrendo nas fábricas,
trabalhando 20 horas por dia. Marx respondeu que os trabalhadores
deveriam fazer uma aliança com os capitalistas. E disse que o ideal
seria que, nessa aliança, os trabalhadores tivessem a hegemonia. Ele
dizia que os trabalhadores seriam capazes de desenvolver o capitalismo
com mais sabedoria do que os próprios capitalistas, dando um sentido
mais social a ele. Foi isso que Getúlio falou. É isso que aconteceu nos
governos Lula e acontece no governo Dilma. É o desenvolvimento do
capitalismo com as rédeas do processo nas mãos das forças sociais. É a
única forma de desenvolver o capitalismo e dividir o bolo enquanto ele
vai crescendo. Se não vai tudo apenas para um lado. O trabalhismo
representa essa visão do desenvolvimento capitalista.
Sul21 – O PDT não alimenta mais o discurso do trabalhismo?
Carlos Araújo – Não está mais adotando esse discurso e
está muito desvinculado dos movimentos sociais. O PDT perdeu muito
espaço, mas ele pode ser recuperado. Há um espaço para que o PDT avance.
Embora tenha feito e esteja fazendo grandes governos, o PT perdeu a sua
auréola. Isso nos faz pensar em como será no futuro. Sem o PT, surgirá
outro partido para ocupar seu espaço? É uma questão muito delicada e o
trabalhismo tem um papel a desempenhar nesse contexto, desde que esteja
envolvido com os movimentos sociais.
Sul21 – O PDT pode voltar a disputar o poder dentro da esquerda?
Carlos Araújo – Sim. Esse é o destino do PDT, por isso o
partido precisa retomar o seu caminho. O Brizola concorreu por duas
vezes à Presidência. Em uma, ele perdeu por pouco no primeiro turno e
apoiou Lula no segundo. Na outra eleição, foi vice do Lula. Nosso
caminho é esse, é marchar junto com as forças de esquerda.
“Quem é de esquerda e está na política institucional tem que ser militante. Tem que pular muro e subir morro”
Sul21 – O senhor retornará ao PDT?
Carlos Araújo – Pretendo me filiar em março. Eu estava
esperando melhorar um pouco a saúde. Sou trabalhista, penso que o
trabalhismo é o caminho brasileiro para o socialismo. Quero participar
dessa luta.
Sul21 – Quando o senhor tomou essa decisão?
Carlos Araújo – Essa decisão foi construída. O que me
levou a acelerar o processo foi eu pensar que os netos do Brizola têm um
papel a cumprir no partido. Eles estão sendo muito injustiçados dentro
do PDT. Isso me levou à aproximação com eles.
Sul21 – Foi difícil o rompimento com o PDT em 2004?
Carlos Araújo – Foi, eu senti muito. Mas era uma
conjuntura em que eu não queria mais permanecer no PDT nem em partido
nenhum. Foi um afastamento. Saí para ficar mais livre, para não dizerem
que eu desobedeci às normas do partido. Mas continuei muito amigo dos
companheiros trabalhistas, nunca me afastei totalmente. Nunca tive
vontade de ingressar em outros partidos.
Sul21 – Com o retorno ao PDT, o senhor pretende voltar a disputar eleições?
Carlos Araújo - Não vou concorrer. Vou ajudar na
formação de quadros e em tudo o que eu puder. Como eu fiquei doente, é
muito difícil permanecer na política institucional. Quem é de esquerda e
está na política institucional tem que ser militante. Tem que pular
muro e subir morro.
“Há uma crise partidária na esquerda. Os partidos estão muito desorganizados e não formam seus militantes”
Sul21 – Qual a importância da convenção nacional do PDT para renovação do partido?
Carlos Araújo – É muito difícil que haja uma renovação
agora. O estatuto do PDT é muito rígido e autoritário, dá muito poder à
executiva e ao diretório nacional. É muito difícil furar esse cerco. Eu
estou retornando ao PDT e participando de uma corrente que quer sacudir o
partido, que vai disputar a convenção. Estamos tentando fazer uma
conciliação, para verificar se há trânsito dentro do partido.
Acreditamos que o Alceu Collares é um bom candidato para essa transição.
Precisamos ter um candidato que consiga unificar o partido, que está
muito dividido. E que seja um candidato de transição, fixando regras
para uma nova eleição e aproximando as correntes para construir a
unidade possível.
Sul21 – Essa transição seria para realizar reformas no estatuto?
Carlos Araújo – Sim, para oxigenar o partido. O
estatuto precisa ser mais democrático e adequado a nossa realidade. O
estatuto atual foi feito pelo Brizola, que já havia perdido um partido e
não queria perder outro. Então ele fez um estatuto extremamente
centralizado e muito rígido. Agora não temos mais uma liderança do vulto
do Brizola, por isso precisamos adequar o estatuto à nossa realidade.
Sul21 – Então a intenção é lançar um candidato de
conciliação? Não haverá um candidato de oposição ao atual grupo que
comanda o PDT?
Carlos Araújo – Se não der, iremos lançar sim esse
candidato. Tentaremos fazer a conciliação até onde der. Se não for
possível, lançaremos um candidato, mesmo que seja para perder.
Sul21 – Os irmãos Juliana Brizola (deputada estadual gaúcha),
Carlos Brizola (deputado federal licenciado e atual ministro do
Trabalho) e Leonel Brizola (vereador do Rio de Janeiro), todos netos de
Leonel Brizola, fazem parte deste movimento. Quem mais integra o grupo?
Carlos Araújo – Dos integrantes gaúchos eu destacaria o Afonso Mota (secretário estadual do Gabinete dos Prefeitos) e o deputado federal Giovani Cherini. Também há muitos prefeitos.
“O prestígio do Lula e da Dilma é muito grande. Mas essa força eleitoral fantástica não se expressa da mesma forma como grande força política”
Sul21 – É um grupo majoritariamente formado por gaúchos?
Carlos Araújo – Não, temos apoios nos estados. Minas
Gerais nos apoia. Há esforços em vários estados. Essa análise deve ser
feita mais adiante. Na segunda-feira (4) tem uma reunião da executiva
nacional que fixará as regras para a convenção nacional.
Sul21 – O ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi – afastado da
pasta por denúncias de corrupção e presidente nacional da sigla desde a
morte do Brizola – prejudicou o partido?
Carlos Araújo – Eu não gostaria de pessoalizar nada.
Prefiro não abordar esse assunto, ao menos no momento. Quero travar a
luta interna em um nível estritamente político.
Sul21 – Mas no entendimento do grupo do senhor, os dirigentes atuais do PDT são responsáveis pela situação que vocês criticam.
Carlos Araújo – Sim. Queremos democratizar o partido.
Queremos que o PDT tenha uma vida política interna permanente, não só em
época de eleição. Há uma crise partidária na esquerda. Os partidos
estão muito desorganizados e não formam seus militantes. Os jovens
querem cursos, mas os partidos não dão. O PDT tem uns cerca de 600
jovens atuantes em Porto Alegre, que disputaram os DCEs da UFRGS e da
PUCRS com chapa própria. Tem bastante dirigente jovem atuando. Mas eles
estão sedentos por conhecimento e por discussão política. É um absurdo
eles não saberem onde buscar conhecimento, quais livros ler. Eu fiz uma
reunião com esses jovens na terça-feira (26), vou começar a dar cursos a
eles nos sábados à tarde. Eles querem discutir e participar e a
esquerda não está ocupando plenamente esse espaço de debates.
Sul21 – Por que não?
Carlos Araújo – Talvez por estar no poder. São as
chamadas “consequências do poder”. Há uma certa acomodação. Todos os
quadros políticos vão para o aparelho do Estado e ficam envolvidos em
atividades burocráticas. Teria que haver uma maior formação política.
Mas, ao mesmo tempo, os quadros precisam ir para o aparelho do Estado,
precisam governar. É uma questão complicada.
“A principal questão colocada hoje é a do bem estar do conjunto da sociedade ainda no capitalismo. Uma revolução socialista não está na ordem do dia”
Sul21 – Com a chegada do PT e seus aliados ao poder, outros
grupos políticos fazem fortes críticas à esquerda deste projeto que está
no governo do país há 10 anos.
Carlos Araújo – Há uma fragmentação. Mas, veja bem: na
sociedade, o prestígio do Lula e da Dilma é muito grande. Todas as
pesquisas demonstram muito apoio da população. Mas essa força eleitoral
fantástica não se expressa da mesma forma como grande força política. Há
um descompasso.
Sul21 – No campo ideológico, mudou o debate na esquerda?
Anteriormente, principalmente nos anos 1960 e 1970, havia mais forças
organizadas defendendo a superação total do capitalismo. Essa bandeira
já não é mais defendida por muitos desses grupos hoje.
Carlos Araújo – Isso muda com o governo Lula. O mundo
impôs essa mudança. O Vietnã, a China, Cuba e a União Soviética
mostraram que, nos termos em que colocaram, foi inviável a construção do
socialismo numa época em que o regime capitalista ainda era muito forte
no resto do mundo. Lênin, quando estava no poder na União Soviética,
elaborou a Nova Política Econômica, a chamada NEP. Era uma política de
desenvolvimento do capitalismo. O que está em discussão hoje é a
viabilidade do socialismo. Ele é viável somente em um país? Ou é viável
somente quando houver um grande desenvolvimento internacional do
socialismo?
Sul21 – Na sua avaliação, existe algum país plenamente socialista hoje em dia?
Carlos Araújo – Não. Existe um certo nível de bem estar
social em alguns países, como a Suécia. Mas isso foi conquistado em
cima de outros países. O capital sueco no Brasil é muito forte. A
principal questão colocada hoje é a do bem estar do conjunto da
sociedade ainda no capitalismo. Uma revolução socialista não está
colocada na ordem do dia. Quem quiser fazer isso pode ter um pequeno
espaço em alguns lugares, não terá um espaço significativo. A realidade
demonstra isso. O que fazem Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa em
seus países? Eles estão desenvolvendo o capitalismo para tirar a
população da miséria. Mas é claro que esses governos vão se fortalecendo
e a América Latina vai se unindo.
“A internacionalização do capital é um processo em direção ao socialismo. É um processo de desenvolvimento capitalista, mas é, também, um processo em direção ao socialismo”
Sul21 – É possível passar desta etapa de gestor do capitalismo ao socialismo pleno?
Carlos Araújo – A internacionalização do capital é um
processo em direção ao socialismo. É um processo de desenvolvimento
capitalista, mas é, também, um processo em direção ao socialismo. O
capitalismo vai se internacionalizando, rompendo fronteiras nacionais e
se fragmentando. Hoje um controlador de uma grande empresa tem 10% do
seu capital. Socializar essa empresa já não significa mais tirar das
mãos de uma única pessoa. Se a GM (General Motors) for nacionalizada
hoje, por exemplo, quem irá sentir essa medida a não ser uma meia dúzia
de acionistas mais significativos, que possuem 5% ou 8% das ações? Não
estou dizendo que já estamos no socialismo. Mas, como dizia Marx, a nova
sociedade é gerada no útero da atual sociedade.
Sul21 – Voltando ao tema do PDT: o partido no Rio Grande do Sul é muito diferente do PDT nacional?
Carlos Araújo – O partido sempre foi bastante
concentrado no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. E sempre enfrentou
resistências históricas em São Paulo. Mas isso não significa que não
possam ter lideranças em outros estados, o PDT está se fortalecendo.
Sul21 – No Rio Grande do Sul, o PDT aderiu ao governo Yeda
Crusius (PSDB) após perder as eleições de 2006 com Alceu Collares e, em
2010, concorreu ao lado de José Fogaça (PMDB). Como o senhor avalia
essas ações?
Carlos Araújo – Foram equívocos. Isso se confirmou com a
eleição da Dilma. Naturalmente, se formou uma aliança em torno da
candidatura dela no Rio Grande do Sul, inclusive com setores do PMDB
liderados pelo Mendes Ribeiro Filho. Esses equívocos fazem parte da
política, mas não podem se repetir.
Sul21 – O que o senhor defende para o PDT em 2014 no Rio Grande do Sul?
Carlos Araújo – Há uma discussão em torno desse
assunto. Uns defendem candidatura própria, outros querem aliança com o
PMDB e outros querem permanecer apoiando o governo Tarso Genro. Eu
defendo que o PDT apoie o atual governo em 2014, mas com uma maior
participação política nas decisões e com um acordo para que o PT apoie o
PDT em 2018. O PDT é muito forte no estado, precisa ter candidato, mas
agora não é o momento, o partido ainda não está suficientemente
organizado e com força expressiva para isso.
“Defendo que o PDT apoie Tarso em 2014, mas com uma maior participação política nas decisões e com um acordo para que o PT apoie o PDT em 2018”
Sul21 – O PDT precisa reivindicar a indicação do vice-governador em uma eventual aliança com Tarso em 2014?
Carlos Araújo – Isso é inevitável. Parece que o PSB
está tentando um caminho próprio, isso faz com que o PDT passe a ser o
parceiro próximo do Tarso.
Sul21 – Em Porto Alegre, depois de muito tempo o PDT conseguiu vencer uma eleição para a prefeitura.
Carlos Araújo – Vários fatores influenciaram. Um deles
foi a construção de uma ampla frente política. E os candidatos
adversários não tinham muita força política e eleitoral. Isso também
pode pesar a favor do Tarso. Com todas as críticas que se pode ter ao
seu governo, não há uma liderança expressiva para enfrentá-lo.
Sul21 – A senadora Ana Amélia Lemos é a grande aposta do PP. Ela conquistou 3,4 milhões de votos em 2010.
Carlos Araújo – Ela tinha mais potencial antes das
eleições municipais. Ela é uma candidata que tem uma expressão
eleitoral, mas ficou enfraquecida por não seguir as determinações do seu
partido em 2012.
“É justo que o PSB tenha candidato à Presidência, mas é preciso apresentar um programa de governo, dizer o que quer e a que vem”
Sul21 – Voltando a Porto Alegre, o senhor disse que um dos
fatores que favoreceram a vitória de José Fortunati foi a construção de
uma ampla aliança. Mas até que ponto uma aliança tão ampla e diversa se
sustenta politicamente? A de Porto Alegre contém partidos aliados e
partidos que fazem oposição aos governos Dilma e Tarso, como o DEM, o
PPS e o PSDB.
Carlos Araújo – As alianças muito amplas são
trabalhosas de serem administradas. O Fortunati vai ter que se desdobrar
para conseguir governar com uma aliança tão ampla. Começam a vir
exigências, principalmente fisiológicas. E essas alianças atingem, de
certa forma, o perfil político do governo. Eu sou favorável a alianças.
Às vezes são composições que não queremos fazer, mas não existe outra
saída. É uma questão delicada, principalmente quando são alianças muito
amplas, que podem levar o governo ao imobilismo.
Sul21 – Outro partido que está querendo disputar espaço político e se lançar eleitoralmente à Presidência é o PSB.
Carlos Araújo – O PSB tem sido um companheiro de viagem
na esquerda. Provavelmente terá um candidato à Presidência, o que é
justo, mas precisa apresentar um programa de governo. É indispensável
que o PSB diga o que quer e a que vem. O PSB precisa explicar quais as
suas diferenças com o PT, o PDT e o PCdoB. Isso ainda não está colocado.
Tomara que o partido permaneça sempre como força de esquerda.
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