segunda-feira, 26 de outubro de 2009

É tempo de o mundo aceitar um Irã nuclear


por  Anoush Maleki, PressTV, Teerã

Créditos: Viomundo

O presidente George W. Bush, apoiado por conhecido grupo de neoconservadores e pela gangue de Tel Aviv, fez o que pôde para formular sua política externa de guerras, de modo a seu sucessor ser obrigado a gerir um terceiro conflito militar no Oriente Médio.
O Irã está na agenda da Casa Branca há muitos anos; hoje, o pretexto mais potente em uso é o programa nuclear iraniano, conduzido rigorosamente conforme as normas e sob vigilância dos especialistas da ONU.
Sob a alegação de que o governo anticapitalista de Teerã trabalharia para obter bombas atômicas para destruir Israel, o governo Bush cooptou apoios internacionais para impor sanções econômicas contra o Irã. O Conselho de Segurança da ONU adotou a via de três rounds de resoluções-sanções e proibiu o Irã de enriquecer urânio mesmo que exclusivamente para fins pacíficos.
O Irã, que é signatário do Tratado de Não-proliferação Nuclear [ing. Nuclear Non-Proliferation Treaty (NPT)], tem legítimo direito de enriquecer urânio para gerar combustível para suas usinas nucleares atualmente em construção. A Agência Internacional de Energia Atômica [ing. International Atomic Energy Agency (IAEA)] — único corpo que tem autoridade para intervir em programas nucleares em todo o planeta – já confirmou essa evidência.
Pois o presidente Bush parecia não ter qualquer dúvida de que, incluindo Teerã no seu famigerado "eixo do mal", o mundo o seguiria sem discutir e passaria a ver os iranianos como perfeitos demônios, decididos a construir bombas atômicas e iniciar uma guerra atômica.
De fato, o que interessava era soar os tambores de guerra contra o Irã. O inesperado revés econômico que os EUA sofreram, contudo, interrompeu a longa sequência de tentativas.
Hoje, até os mais neoconservadores já sabem que um ataque militar ao Irã, para destruir sua infraestrutura nuclear só conseguirá, no máximo, atrasar o desenvolvimento do programa. À parte a retaliação massiva que o exército do Irã e os Guardas da Revolução Islâmica [ing. Islamic Revolution Guards Corps (IRGC)] já anunciaram no caso de ataque ao Irã, o preço do petróleo subiria às alturas, "para mais de $200 o barril, em questão de horas" – o que demoliria os esforços para tentar recuperar a economia dos EUA, como escreveu o presidente do Conselho de Relações Exteriores, Richard N. Haass, em coluna intitulada "A Different Regime Change in Iran" [Uma diferente troca de regime no Irã], no Financial Times (13/10/2009).
A verdade é que o preço desse curso de ação é alto demais.
O presidene Obama, enquanto isso, suavizou a retórica desde que assumiu e adotou linguagem mais amena, oferecendo um raio de esperança para a diplomacia com Teerã – os dois Estados não mantêm relações diplomáticas desde a invasão da embaixada dos EUA em Teerã, em 1980.
Ironicamente, a questão nuclear aproximou mais os dois governos. O Irã está fazendo o que lhe cabe fazer. Está cooperando com a IAEA e considera a possibilidade de comprar urânio enriquecido para seu reator de um provável consórcio a ser constituído por França, Rússia e EUA.
No domingo, o Irã autorizou a inspeção pelos especialistas da ONU, que foram autorizados a visitar uma usina de enriquecimento a sudoeste de Teerã, de cuja existência a Agência foi informada em setembro, cerca de um ano e meio antes de a usina entrar em operação.
Mesmo assim, enquanto os EUA continuarem a divulgar e reforçar suspeitas de que o Irã estaria trabalhando para construir armas atômicas, nada autoriza a ter qualquer esperança de que Washington venha a trabalhar para reconstruir melhores relações. De fato, é chegada a hora de o governo dos EUA começar a agir de modo a merecer mais confiança.
Mais cedo ou mais tarde, a Casa Branca terá de render-se à evidência de que Teerã não desistirá de seu programa nuclear. O governo e os iranianos em geral crêem firmemente que têm o inalienável direito de prosseguir e dar andamento ao seu programa nuclear para objetivos pacíficos.
A natureza da política exterior iraniana, apesar dos seus valores anticapitalistas, é pacífica. O país jamais atacou qualquer nação e há décadas não ameaça, sequer, fazê-lo. Seus líderes e o povo consideram pecado o uso de armas de destruição em massa – já declarado contrário aos princípios do Islã.
Assim sendo, a ideia de que o Irã decida um dia construir e armazenar armas de destruição em massa, usá-las contra outro país, ou entregá-las a terroristas é completo delírio.
O Irã – governo e cidadãos – buscam construir um relacionamento com a comunidade internacional baseado em respeito mútuo, com vistas a alcançar objetivos mútuos.
"Vim [ao Cairo] em busca de um recomeço entre os EUA e os muçulmanos de todo o mundo; recomeço baseado em respeito mútuo, com vistas a alcançar objetivos mútuos. Recomeço baseado na certeza de que os EUA e o Islã não são excludentes e não têm de competir. Em vez disso, sobrepõem-se e partilham princípios comuns – princípios de justiça e progresso; de tolerância e dignidade para todos os seres humanos" – disse o presidente Obama no Cairo, dia 4/6/2009, falando ao mundo muçulmano.
Sabe-se que esses objetivos não serão alcançados do dia para a noite. Resta esperar apenas que o presidente dos EUA tenha sido sincero.
O artigo original, em inglês, pode ser lido em:
http://www.presstv.com/detail.aspx?id=109619&sectionid=3510303
Tradução: Caia Fittipaldi

Da deslocalização de empregos ao salvamento de banqueiros

Os ricos saquearam a economia

  Paul Craig Roberts [*]
. A agência Bloomberg acusou os assessores mais próximos do secretário do Tesouro Timothy Geithner de terem recebido milhões de dólares por ano, trabalhando para o Goldman Sachs, para o Citygroup e para outras empresas da Wall Street. A Bloomberg acrescenta ainda que nenhum destes assessores tinha sido aprovado pelo Senado. Porém, são eles que supervisionam a transferência de centenas de milhares de milhões de dólares de fundos dos contribuintes para os seus antigos patrões.

Esta dádiva de milhares de milhões de dólares dos contribuintes deu aos bancos uma abundância de capital a baixo custo que fez disparar os seus lucros, enquanto os contribuintes que forneceram o capital ficaram desempregados e sem casa.

O JP Morgan Chase anunciou que no terceiro trimestre deste ano lucrou 3,6 mil milhões de dólares.

O Goldman Sachs ganhou tanto dinheiro durante este ano de crise económica que já está a pensar nos chorudos bónus. O jornal londrino Evening Standard informou que os “5 500 funcionários em Londres podem esperar uma média recorde de pagamentos de cerca de 500 mil libras cada (800 mil dólares). Os principais administradores receberão bónus no valor de vários milhões de libras cada, sendo 10 milhões de libras o valor mais alto a pagar (16 milhões de dólares).

Na eventualidade de os bankters (banqueiros+gangsters) não conseguirem pensar numa forma de aproveitar esta abundância, o Financial Times disponibiliza uma nova revista intitulada – “Como gastá-la”.

Os comerciantes de Nova Iorque rezam para que lhes chegue algum desse dinheiro, agora que enfrentam uma queda de 15,3% na ocupação dos hotéis da Quinta Avenida. O perito em estatística John Williams (shadowstats.com) afirma que a venda a retalho ajustada à inflação caiu para o nível de há dez anos: “Os últimos 10 anos de crescimento real do comércio a retalho foram praticamente anulados nesta depressão que ainda vigora”.

Entretanto, o número de utentes dos abrigos da cidade de Nova Iorque atingiu um recorde de 39 mil, sendo que 16 mil são crianças.

A administração da cidade de Nova Iorque ficou tão afectada que está a pagar 90 dólares por noite no aluguer de apartamentos novos para os sem-abrigo. Em desespero, as autoridades estão a oferecer bilhetes de avião só de ida aos sem-abrigo que queiram abandonar a cidade enquanto cobram uma renda aos residentes destes abrigos que têm emprego. Uma mãe solteira que ganhe 800 dólares por mês paga 336 dólares de renda.

O desemprego prolongado tornou-se um sério problema em todo o país, fazendo duplicar a taxa de desemprego oficial de 10 para 20%. Actualmente, o subsídio de desemprego prolongado está a acabar para centenas de milhares de norte-americanos. A elevada taxa de desemprego fez de 2009 um ano excepcional para o ingresso no exército.

While the US speeds plans for the ultimate bunker buster bomb and President Obama prepares to send another 45,000 troops into Afghanistan, 44,789 Americans die every year from lack of medical treatment. National Guardsmen say they would rather face the Taliban than the US economy.

Um número recorde de norte-americanos, mais de um em cada nove, sobrevive graças ao programa governamental de ajuda alimentar “Food Stamps”. Os incumprimentos relacionados com as hipotecas estão a aumentar à medida que os preços do mercado imobiliário caem. Na opinião de Jay Brinkmann, da Mortgage Bankers Association, a perda de emprego alastrou o problema dos empréstimos bancários de alto risco aos empréstimos de taxa fixa. Na feira popular do condado de Wise na Virgínia, duas mil pessoas fizeram fila para obter cuidados de saúde gratuitos.

Numa altura em que os EUA aceleram os planos de construção da bomba destruidora de casamatas (bunker buster bomb) e em que o Presidente Obama se prepara para enviar mais 45 mil soldados para o Afeganistão, 44 789 norte-americanos morrem todos os anos por falta de cuidados médicos. Os elementos da Guarda Nacional dizem que preferem enfrentar os Talibã do que a economia dos EUA.

Não é de admirar. Face aos piores níveis de desemprego desde a Grande Depressão, as companhias norte-americanas continuam a exportar empregos e a substituir os seus funcionários nos EUA por emigrantes mal pagos que têm vistos para trabalhar.

A exportação de empregos, o salvamento de banksters ricos e os défices devidos à guerra estão a destruir o valor do dólar. O dólar norte-americano tem vindo rapidamente a perder valor desde a última Primavera. A divisa da superpotência hegemónica diminuiu 14% em relação ao pula do Botswana, 22% em relação ao real e 11% em relação ao rublo. Assim que o dólar perca o seu estatuto de divisa de reserva, os EUA serão incapazes de liquidar as suas importações ou financiar os défices do seu orçamento governamental.

A deslocalização da produção fez com que os norte-americanos se tornassem excessivamente dependentes das importações e a perda de poder de compra do dólar irá comprometer ainda mais os rendimentos dos EUA. Uma vez que o Federal Reserve se vê forçado a monetizar a questão das dívidas do Tesouro, a inflação interna irá irromper. À excepção dos banksters e dos directores gerais das companhias deslocalizadas para o estrangeiro, não existe uma fonte de procura do consumidor que estimule a economia dos EUA.

O sistema político é insensível para com o povo norte-americano. O sistema é exclusivo de alguns grupos de interesse poderosos que controlam as contribuições para campanhas [eleitorais]. Os grupos de interesse têm exercido o seu poder no sentido de monopolizar a economia para benefício próprio. O povo norte-americano está condenado.
[*] Ex-secretário assistente do Tesouro na administração Reagan, co-autor de The Tyranny of Good Intentions .    Email: PaulCraigRoberts@yahoo.com

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/roberts10162009.html . Traduzido por Ernesto Correia.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Mulheres de montadoras denunciam violações contra seus direitos trabalhistas






Adital -
 
 
Com o objetivo de construir mecanismos que garantam melhores condições de trabalho e respeito aos direitos humanos, as organizações de mulheres que trabalham nas indústrias montadoras elaboraram uma "Agenda Política e Laboral". O tema é urgente, uma vez que 80% das 70.000 pessoas empregadas das máquinas (há cerca de 180 montadoras têxteis no país) são mulheres. As discriminações no setor das montadoras são evidentes. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MINTRAB), os salários entre homens e mulheres seguem diferenciados. "Recebemos um salário equivalente a US$ 110.00 ao mês, enquanto o dos homens é de US$ 125.00 dólares. Esse investimento impede à mulher que trabalha na montadora adquirir a cesta básica vital, estimada em pelo menos US$ 400.00 dólares, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE)", afirma a proposta das organizações.
As entidades denunciam, ademais, as várias formas de violações aos direitos humanos. Dentre muitas, apontam: Não existe uma responsabilidade dos empregadores em cumprir com as normas e medidas de saúde ocupacional, segurança e higiene, água potável para beber, serviços sanitários adequados, e a quantidade necessária destes, por número de trabalhadoras e trabalhadores; Existe abuso, assédio e castigo sexual, maus tratos, golpes e gritos; Existe uma violação ao direito da sindicalização, já que ao menor sinal de reivindicação de seus direitos são despedidas. "Depois de haver discutido, refletido e analisado em profundidade nossa realidade, as trabalhadoras da montadora, casa particular e agroexportadoras, acreditamos que seja importante que se conheça a nível nacional e internacional a constante violação a nossos direitos como mulheres e como mulheres trabalhadoras; evidenciar a falta de vontade política e humana por parte do Governo e das entidades reitoras das políticas trabalhistas em resolver os problemas que enfrentamos nas fábricas, na casa onde trabalhamos e na agricultura", expõem
Assim, as organizações demandam igualdade salarial por igual trabalho entre homens e mulheres, respeito às jornadas laborais segundo o estabelecido no Código de Trabalho, e aumento de salário de acordo com o custo da cesta básica.
Elaboraram a Agenda: Associação de Mulheres Empregadas e Desempregadas Unidas contra a Violência (AMUCV), Associação de Mulheres Sementes de Mostarda, Associação de Trabalhadoras do Lar em Domicílio e da Montadora (ATRAHDOM), Associação pelos Direitos da Trabalhadora da Casa Particular, Mãe Solteira e Mulher Rural (ASOCASA), Centro para a Ação Legal em Direitos Humanos (CALDH), Comitê Permanente de ex-Trabalhadoras da Montadora (CAMBRIDGE), Grupo de Mulheres Amatitlanecas Organizadas Rompendo o Silêncio (MAORS), e Mulheres com Valor Construindo um Futuro Melhor (MUVACOFUM).