Educação: continuamos atrasados |
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do portal EsquerdaNet |
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Segundo a publicação do INE "50 Anos de Estatísticas da Educação", a generalização do acesso à escola foi o factor mais relevante nos últimos 50 anos. No entanto, o atraso na Educação face aos países desenvolvidos permanece igual.
O Instituto Nacional de Estatística
(INE) publicou esta quarta-feira "50 Anos de Estatísticas da
Educação", em conjunto com o Gabinete de Estatística e
Planeamento da Educação (GEPE). Segundo a publicação estavam
matriculados em 1960/61 no sistema de ensino 1 086 115 alunos, mas em
2007/08 já eram mais de 1,8 milhões.
No entanto, segundo os especialistas
consultados pelo jornal I, os dados do INE revelam que Portugal deu
um salto gigante mas não suficiente para contrariar o atraso face
aos países desenvolvidos que permanece igual. Mantemos a mesma distância
de há 50 anos atrás, uma altura que remete para o tempo da
ditadura.
O crescimento exponencial do número de
alunos nas escolas regista-se sobretudo ao nível do ensino
secundário e da educação pré-escolar, que registam durante aquele
período mais 336 361 e 259 630 estudantes, respectivamente. Assim, o
número de crianças no pré-escolar cresceu 40 vezes, a taxa de
escolaridade no ensino secundário escalou de 1,3% para 60% e o
acesso das raparigas ao ensino subiu 15%.
Os dados mostram que o país avançou
muito entre 1960 e 2008 mas segundo a opinião do sociólogo do
Instituto de Ciências Sociais, Manuel Villaverde Cabral, "Fartámos
de correr, mas não conseguimos ainda apanhar o pelotão da frente".
O professor universitário Santana
Castilho comenta do mesmo modo estes dados: "Houve uma
massificação do acesso ao ensino, mas a qualidade não acompanhou
essa evolução". A única conclusão a retirar da publicação
do INE é que, há 50 anos, a Educação em Portugal apresentava
características típicas de um país atrasado e ignorante e que
apenas tem vindo a correr atrás do comboio do desenvolvimento, não
conseguindo mais do que isso.
"O que me salta aos olhos é que o
sistema educativo antes do 25 de Abril era realmente mau, porque 99%
da população estava excluída da escola", disse desanimado o
presidente da Associação de Professores de Português, Paulo Feytor
Pinto perante os dados agora publicados.
O ensino secundário é um dos exemplo
mais flagrantes do atraso português. De acordo com o INE, só 60%
dos portugueses completaram o ensino secundário e essa é a
percentagem de norte-americanos com habilitações superiores.
"Os países escandinavos, por
exemplo, conseguiram recuperar o atraso face aos EUA e, na década de
60, 100% da população já estava escolarizada ao nível do
secundário", conta Manuel Villaverde Cabral, o sociólogo e
autor do estudo "Sucesso e Insucesso - Escola, Economia e
Sociedade". Além disso, acrescenta ainda que "Nos Estados
Unidos, a taxa de escolaridade até ao 12º ano era de 100% ainda
antes da Segunda Guerra Mundial”, embora em Portugal “o ensino
obrigatório até aos 18 anos só acontecerá a partir de 2013."
Todos os países desenvolvidos como
França, Alemanha ou Espanha conseguiram taxas plenas de sucesso no
ensino secundário em Portugal, 30 a 40% da população não consegue
ir além do 9º ano. O sistema exclui sobretudo os que mais precisam,
diz o sociólogo: "O insucesso escolar acontece principalmente
no interior do País e nas periferias de Lisboa e Porto."
Duplicar ou até triplicar o investimento na educação poderá ser
uma solução para apanhar o comboio da modernidade, propõe
Villaverde Cabral que está convencido de que o atraso no sistema
educacional "muito se deve" às elites governamentais que
tomaram opções erradas e contribuíram para um modelo de ensino
"ineficiente e dispendioso".
Paulo Feytor Pinto aponta o nível que
considera apresentar maiores lacunas que diz continuar a ser o
pré-escolar, com uma escolarização de 77,7% e critica ainda o
facto de, mais uma vez , as estatísticas não distinguirem o
abandono escolar de retenções. "A retenção é
administrativa, o importante seria perceber que alunos saem da escola
antes do tempo. Não conseguimos perceber se há uma melhoria ou não
- faz-se o diagnóstico, mas não se traça a evolução."
A diferença verificada entre a taxa de
escolarização aos 15 anos (99,7% em 2006/07) e a taxa de
escolarização para o secundário (60% no mesmo ano lectivo)
representa outra preocupação.
O professor universitário Santana
Castilho admite que "o esforço do país na escolarização é
notável, sobretudo nos últimos 30 anos", considerando, porém,
que os números não podem ser lidos como um retrato fidedigno da
educação em Portugal pois apenas transmitem "a quantidade,
nunca a qualidade". As políticas de educação feitas para as
estatísticas e o decréscimo da exigência do ensino para combater o
abandono escolar são as suas críticas principais.
Os números não bastam e é por isso
que Santana Castilho chama a atenção para o facto de no mandato de
Maria de Lurdes Rodrigues, 20 mil alunos se terem matriculado no
ensino profissional, comentando que “O preço de termos menos
jovens a abandonarem a escola é que até se criaram cursos de
treinador de futebol que dão equivalência ao 12º ano."
Somando número de alunos e número de
docentes nas escolas portuguesas no ano lectivo 2006/2007, a
publicação do INE mostra que existe hoje uma média de 9,75 alunos
por cada professor. Um número que é considerado pelos
investigadores como completamente desvirtuado pois bastará visitar
algumas escolas para se ficar a saber que uma turma tem quase sempre
muito mais de dez alunos.
“É preciso ter em conta que os
professores do ensino especial ou a desempenhar tarefas
administrativas também entram nesse cômputo, e que duas mil escolas
- onde a relação professor/aluno era muito baixa - já fecharam",
avisa Santa Castilho.
Na Alemanha ou França, as taxas no
secundário são de 100% mas em Portugal, 30% da população não
acaba o 9
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