sexta-feira, 2 de março de 2012

Categoria rejeita proposta do governo; aprova contraposta do sindicato, estado de greve e calendário de mobilização





Os trabalhadores estaduais da educação do RS,  rejeitaram, em assembleia geral realizada nesta sexta-feira (02), em frente ao Palácio Piratini, em Porto Alegre, a proposta de reajuste apresentada pelo governo do estado. A categoria aprovou uma contraproposta elaborada pelo sindicato, que garante, ainda este ano, a integralização do valor do piso salarial.

A proposta aprovada pela categoria consiste no pagamento de um reajuste, em três parcelas, todas de 22,41%, nos meses de maio, agosto e novembro, integralizando o valor do piso salarial, que é de R$ 1.451,00.

A proposta do governo não garante o cumprimento da lei do piso. Ao final de 2014, o estado estaria pagando aos professores R$ 1.259,11 por uma jornada semanal de 40 horas, aquém do valor definido para 2012.

Para os funcionários de escola, a proposta do governo é ainda mais rebaixada. Até o final do mandato, aplicaria somente o índice de 23,5%, integralizado até fevereiro de 2013.

A contraproposta aprovada pela categoria garante aos funcionários os mesmos índices concedidos aos professores.

Estado de greve
A categoria também aprovou o estado de greve, a retirada da Assembleia Legislativa dos projetos que tratam do reajuste salarial e um calendário de mobilização para pressionar o governo a cumprir a lei do piso.

A mobilização consiste na realização de atividades específicas com os funcionários de escola, panelaços, plenárias, seminários, varal de contracheques, visitas às famílias dos alunos, vigílias, campanha de outdoors, exposição de faixas em frente aos partidos do governador e dos seus aliados, pedágios explicativos, faixas em frente às escolas e campanha de e-mails.

Como forma de pressão pelo cumprimento da lei do piso, a categoria também vai cobrar o posicionamento dos senadores da bancada gaúcha, buscar audiência com a presidente da República, ocupar espaços nas câmaras de vereadores e realizar audiências públicas nas promotorias de cada município.

A luta pela implementação do piso também terá pressão aos deputados estaduais para que não votem os projetos de reajuste que estão no Legislativo, aos vereadores, candidatos às eleições municipais, líderes de bancadas e presidentes de partidos. A categoria também vai pressionar os deputados para que votem o projeto de abono das faltas da greve passada.
 
Paralisação nacional
 

O calendário de mobilização tem previsto para os dias 14, 15 e 16 de março a participação da categoria na paralisação nacional pelo cumprimento da lei do piso, dos 10% do PIB para a educação e contra o projeto que altera o indexador de correção do piso. O CPERS participará, junto com outras categorias, de um ato público estadual no dia 16 de março.

Os educadores também fortalecerão o boicote à reforma do ensino médio, continuando o debate com a comunidade escolar para que as escolas construam a suas próprias propostas pedagógicas. A categoria também vai exigir o cumprimento de um terço de horas-atividade, se recusando a cumprir mais períodos e denunciando as coordenadorias de educação que estão utilizando esta prática.

No dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher – serão realizadas panfletagens em locais públicos e participação em atividades unificadas com outras organizações.

João dos Santos e Silva, assessor de imprensa do CPERS/Sindicato
Fotos: Bruno Alencastro

"Israel anuncia teste com mísseis"

Israel tomou uma medida de precaução incomum na quinta-feira, ao anunciar que em breve testará um míssil, na esperança de evitar o aumento das tensões com o Irã.Normalmente, os testes com mísseis feitos a partir de uma base de lançamento perto de Tel Aviv não são comunicados antes. O mais recente ocorreu em novembro. Como resultado, os primeiros relatos da mídia israelense costumavam ser de testemunhas assustadíssimas, abalando o mercado de energia pelo mundo, até que as autoridades de defesa fornecessem as explicações.A Indústria Aeroespacial de Israel (IAI), governada pelo Estado, informou em um comunicado que fará seu primeiro teste com o Arrow 3, um sistema desenvolvido em cooperação com os EUA para abater mísseis balísticos no espaço, "no futuro próximo".O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem feito ameaças veladas de atacar o Irã, caso a diplomacia fracasse em conter o programa nuclear daquele país. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que receberá a visita de Netanyahu na semana que vem, quer continuar com as sanções por enquanto e manifestou preocupação com os riscos de uma guerra entre Israel e Irã.Falando sob a condição de anonimato, uma autoridade israelense disse que o teste com o Arrow 3 incluirá o disparo de um míssil a partir da base de Palmachim, ao sul de Tel Aviv. Ele deve ocorrer após as conversas de segunda-feira entre Obama e Netanyahu na Casa Branca."Sim, isso é novo", disse à Reuters a autoridade sobre a decisão de divulgar uma declaração do IAI na quinta-feira."Queremos evitar mal-entendidos."A autoridade confirmou que Israel quer limitar o risco de agravar o impasse com o Irã. O governo iraniano nega que esteja desenvolvendo armas nucleares e prometeu retaliar um eventual ataque com o lançamento de mísseis contra Tel Aviv e propriedades norte-americanas no Golfo.O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, o general Martin Dempsey, questionou no mês passado se os israelenses têm de fato o poder de fogo para danificar as instalações nucleares do Irã, que são espalhadas pelo país e bem protegidas.
Alguns especialistas suspeitam que Israel esteja blefando sobre um ataque a fim de manter a pressão sobre o Irã pelas potências mundiais.
 

Canções libertárias: Los Hermanos, de Atahualpa Yupanqui



Yo tengo tantos hermanos  /  Eu tenho tantos irmãos
que no los puedo contar.  /  que não os posso contar.
En el valle, la montaña,  /  No vale, na montanha
en la pampa y en el mar.  /  na planície e no mar.
Cada cual con sus trabajos,  /  Cada qual com seus trabalhos
con sus sueños, cada cual.  /  Com seus sonhos, cada qual.
Con la esperanza adelante,  /  Com a esperança adiante
con los recuerdos detrás.  /  Com as recordações para trás.
Yo tengo tantos hermanos  /  Eu tenho tantos irmãos
que no los puedo contar.  /  que não os posso contar.
Gente de mano caliente  /  Gente de mão quente
por eso de la amistad,  / por isso da amizade
Con uno lloro, pa llorarlo,  /  Com um choro pra chorá-lo
con un rezo pa rezar.  /  Com uma reza para rezar
Con un horizonte abierto  /  Com um horizonte aberto
que siempre está más allá.  /  Que sempre está mais além
Y esa fuerza pa buscarlo  /  E essa força pra buscá-lo
con tesón y voluntad.  / Com determinação e vontade
Cuando parece más cerca  /  Quando parece mais perto
es cuando se aleja más.  /  é quando se afasta mais.
Yo tengo tantos hermanos  /  Eu tenho tantos irmãos
que no los puedo contar.  /  que não os posso contar.
Y así seguimos andando  /  E assim seguimos andando
curtidos de soledad.  /  curtidos de solidão
Nos perdemos por el mundo,  /  Nos perdemos pelo mundo
nos volvemos a encontrar.  /  voltamos a nos encontrar
Y así nos reconocemos  /  E assim nos reconhecemos
por el lejano mirar,  /  pelo olhar distante
por la copla que mordemos,  /  pelo dístico que mordemos
semilla de inmensidad.  /  semente da imensidão
Y así seguimos andando  /  E assim seguimos andando
curtidos de soledad.  /  curtidos de solidão
Y en nosotros nuestros muertos  /  E em nós nossos mortos
pa que nadie quede atrás.  /  Pra que ninguém fique pra trás
Yo tengo tantos hermanos  /  Eu tenho tantos irmãos
que no los puedo contar.  /  que não os posso contar.
y una novia muy hermosa  /  e uma namorada muito bela
que se llama ¡Libertad!  /  que se chama Liberdade!

Créditos:  Douglas Ciriaco

A Racionalidade Destrutiva do Capital

Sebastião no blog ARQUIVOS CRITICOS



Ao longo de sua história o capital tem se definido também como crescente racionalização da produção, ou seja, da sua base material e da superestrutura política, jurídica e cultural. As revoluções da técnica e da ciência têm reforçado essa racionalização de todo o ser social.

Max Weber analisa este processo como um desencantamento do mundo, um fenômeno que despoja os seres humanos do conhecimento mítico e dos valores, e o submete a uma vida organizada racionalmente, de forma fria e calculista. Para ele este processo vem se desenvolvendo desde milênios, mas é no capitalismo que ele atinge o máximo da plenitude. Ele tem uma visão dialética deste processo, pois o vê como algo que liberta os homens das superstições mágicas, tornando-o senhor de seu destino, mas que ao mesmo tempo torna a vida do individuo vazia e desprovida de sentido. Assim se define este processo:

“A intelectualização e a racionalização crescentes não equivalem, portanto, a um conhecimento geral crescente acerca das condições em que vivemos.”

Em seguida ele define as consequências da racionalização para os indivíduos.

“O destino de nosso tempo, que se caracteriza pela racionalização, pela intelectualização e, sobretudo, pelo desencantamento do mundo, levou os homens a banirem da vida pública os valores supremos e mais sublimes.”

Para Weber, o tipo de racionalidade que predomina no capitalismo é o da razão instrumental, uma razão manipuladora, preocupada somente com meios e fins para aumentar a produção e a competitividade entre as empresas e entre os indivíduos. É este tipo de razão que aumenta o poder e a expansão do capital, mas que ao mesmo tempo conduz à perda dos valores e do sentido da vida humana.

Georg Lukács considera esse processo de racionalização como um processo de reificação das relações sociais. Além de significar a reificação das relações humanas, este processo também significa uma fragmentação dos trabalhadores dominados por uma força cega que eles mesmos criaram e que agora não sabem o que é. Sobre a reificação e a alienação Lukács afirma:

“Objetivamente, surge um mundo de coisas acabadas e de relações entre coisas (o mundo das mercadorias e do seu movimento no mercado)...Subjetivamente, a atividade do homem – numa economia mercantil realizada – objetiva-se em relação a ele, torna-se numa mercadoria regida pela objetividade das leis sociais naturais estranhas aos homens e deve efetuar os seus movimentos tão independentemente dos homens como qualquer bem destinado à satisfação de necessidades, que se tornou coisa mercantil.”

Sintetizando Weber e Marx, Lukács funde em sua análise a teoria da racionalização do primeiro e a teoria do fetichismo da mercadoria do segundo para concluir que o capitalismo é marcado em seu desenvolvimento pelo crescente domínio do estranhamento dos indivíduos em relação às partes e ao todo do ser social; pela reificação das relações sociais e pela socialização da relação entre as coisas.

Para Lukács, o resultado da racionalização é a perpetuação da alienação e da opressão dos homens pelo sujeito capital.

Para Adorno e Horkheimer, a racionalização capitalista é resultado da dialética do esclarecimento, um processo que começa na antiguidade e chega até os dias do capitalismo contemporâneo. A racionalização e o projeto do esclarecimento tem como objetivo libertar os homens das amarras emocionais do mito. Mas ao perseguir este fim, utilizando-se da razão instrumental manipuladora, os homens retornam ao mito, sendo subjugados novamente por forças cegas e sobrenaturais, típicas do fetichismo do capitalismo.

“No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal’’.


Para os teóricos da Escola de Frankfurt a racionalização crescente da vida humana, em toda a sua totalidade, leva, contraditoriamente, a razão instrumental a cair na irracionalidade da dominação do capital. O capital, desta maneira, se torna um pseudo-sujeito e acaba sucumbindo às leis cegas e irracionais postas em movimento por ele mesmo. Sendo assim, todas as classes sociais sofrem as conseqüências destrutivas postas pela lógica do capital. Suas conclusões mostram a gravidade deste processo:

“O absurdo desta situação, em que o poder do sistema sobre os homens cresce na mesma medida em que subtrai ao poder da natureza, denuncia como obsoleta a razão da sociedade racional.”

Como podemos inferir, a organização racional do ser social do capitalismo se interverte no seu oposto, a desorganização irracional da sociedade em sua totalidade. E conforme avança o capitalismo, sua essência anárquica e irracional se torna cada vez mais absoluta.

Agora procuraremos relacionar o processo de racionalização com o complexo de reestruturação produtiva surgido nos anos setenta, como possível solução para crise estrutural.

A racionalização produtiva significou uma maior flexibilização na utilização do capital e do trabalho, visando reduzir ao máximo os custos, a ociosidade dos fatores produtivos e os riscos impostos pela instabilidade dos mercados. Esse processo se define também pelo rápido desenvolvimento de novos equipamentos informatizados e flexíveis, pela introdução de novas formas de organizar a produção (kanban, just-in-time) e pelo processo de especialização, articulado com um sistema de subcontratação de produção e serviços.

A racionalização dentro do complexo de reestruturação produtiva modificou as relações de produção. As empresas tiveram que apelar para a flexibilização do trabalho. O resultado desta racionalização produtiva foi o aumento da produtividade das empresas, proporcionado pela intensificação da exploração dos trabalhadores. Além disso, tivemos a precarização do emprego, aumento da instabilidade do emprego, ampliação dos contratos de trabalho por tempo determinado e/ou tempo parcial.

Dedecca assim define as conseqüências para os trabalhadores desta racionalização produtiva:

“A organização flexível tem decomposto as relações do trabalho, fragilizado as competências dos trabalhadores, corroído a solidariedade, destruído as capacidades de construção de aprendizagem e de experiências.”

Outras conseqüências da racionalização são o aumento do desemprego e da subutilização da capacidade de trabalho. Ao analisar esse processo de racionalização produtiva, como um dos principais componentes da reestruturação capitalista, senão a principal, que serve ao capital para solucionar sua crise, podemos concluir que este processo representa a afirmação da continuidade da hegemonia do capital em toda a sociedade.

Essa hegemonia do capital tem sido utilizada para perpetuar os interesses de exploração da mais-valia, adaptando as formas de acumulação desta mais-valia às conjunturas sociais, políticas e econômicas que melhor garantam o predomínio da razão de ser do capital, a exploração do trabalho.

E assim, o capital segue sua lógica, explorando e barbarizando toda a sociedade, para garantir a sua existência perversa e irracional. Mas isto tem um limite e esta crise estrutural que se estende até os dias de hoje parece apresentar uma das principais manifestações destes limites, o que talvez só seja solucionado pela negação do modo de produção capitalista.

Narciso Pires: ‘o agronegócio se transformou em um dos grandes e maiores beneficiários do governo’


CPT-MS
Comissão Pastoral da Terra - MS
Adital

A Banda Humanos Vermelhos estará no Tribunal Popular da Terra em MS

Narciso Pires
Uma inédita experiência que conjuga a militância política, defesa ativa dos direitos humanos e difusão da cultura da paz, com a expressão musical, define à Banda Humanos Vermelhos de Curitiba/PR-Brasil. Ela surge do Grupo Tortura Nunca Mais/PR fundada em 1995 por militantes da época da ditadura militar; que a sua vez da inicio à Sociedade DHPAZ/Paraná. Através dessas organizações desenvolvem em universidades do todo o Estado do Paraná oficinas e palestras musicais com o projeto chamado "Resistir é Preciso”. O resgate da memória histórica na luta contra a ditadura militar e as lutas atuais de resistência democrática no Brasil são as principais bandeiras que apresentam mediante o projeto. A Banda Humanos Vermelhos é o principal instrumento dessas organizações em suas atividades políticos-culturais de conscientização. A Comissão Pastoral da Terra-Regional Mato Grosso do Sul (CPT/MS), como integrante da Comissão Pró Tribunal Popular da Terra em Mato Grosso do Sul (TPT/MS) entrevistou o Narciso Pires, presidente da ONG Tortura Nunca Mais/PR, compositor e vocalista da Banda Humanos Vermelhos.

A seguir a entrevista:

CPT/MS - Como e quando surge a Banda Humanos Vermelhos?
Narciso Pires - A Banda Humanos vermelhos foi organizada em 2010 com militantes de direitos humanos comprometidos com a luta por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.

-Vocês formam um grupo musical, porém politicamente comprometido com a transformação da sociedade capitalista. Atualmente como convergem na teoria e na prática esses dois aspectos de vosso modo de atuação pública?
Nossa prática é de estimular a organização da sociedade. Nossos projetos sempre são de organização de Centro Culturais de Direitos Humanos com o objetivo de fomentar espaços de protagonismo cultural e político. Nossa percepção é de que as mudanças em nosso mundo somente serão possíveis com a ampla participação de nosso povo. É um processo lento de amadurecimento e de construção de consciências comprometidas com caminhos que contemplem a todos. Para tanto, a permanente denúncia do sistema de exclusão permeia o nosso trabalho. Com uma nova linguagem, pautada pelos direitos humanos indivisíveis, interdependentes e multiculturais, procuramos contribuir com o despertar dessas consciências. Somos, portanto, também um grupo político. Nossas músicas ressaltam esse propósito. Nosso trabalho visa atingir os corações e as mentes das pessoas.

- O Grupo Tortura Nunca Mais/Paraná-Sociedade DHPAZ/PR tem desenvolvido suas atividades com que orientação ou línea de ação?

Tanto uma como outra organização tem os mesmos propósitos. A banda é um instrumento dessas organizações. Trabalhamos sempre articulados com outras organizações da sociedade. A ideia da RESISTÊNCIA permanente ao sistema é o fio condutor de nossa atuação. O nosso entendimento é que as violações dos direitos humanos em seu espectro mais amplo (políticos, civis, econômicos, sociais, culturais e ambientais) tem a mesma raiz: O SISTEMA DE EXCLUSÃO E A SOCIEDADE DE CLASSES. O advento de um mundo novo só pode ser conquistado através da consciência, do amadurecimento e da vontade da maioria.

- Se registram diferentes tipos de violência contra os povos da terra por conta da defesa de parte do Governo e do Estado brasileiro de programas que interessam o agronegócio, os agrotóxicos, os transgênicos, o latifúndio, etc. Enquanto Grupo de direitos humanos como enxergam essa violência institucional e direta contra os que lutam por reforma agrária e seus territórios tradicionais no Brasil?

A questão da terra sempre foi um divisor de águas no Brasil. A colonização através dos latifúndios, a escravidão negra para servir principalmente ao latifúndio e a proclamação da república, através de um golpe militar, apoiado pelos poderosos senhores da terra insatisfeitos com a abolição da escravatura, bem como o estímulo migratório na República Velha para atender mais uma vez esses interesses, atraindo com mentiras os imigrantes e explorando-os em condições de quase escravidão. O golpe militar de 64, consequência direta da proposta do governo Jango de realizar as reformas de base em nosso país, dentre elas, a principal, a reforma agrária, dão a dimensão histórica do problema da terra. Após 9 anos de governo de esquerda, cujos integrantes principais sempre propuseram a reforma agrária e até a presente data não se realizando, nos faz perceber o quanto, ainda, são poderosos esses senhores de terra. Tão poderosos que o agronegócio se transformou em um dos grandes e maiores beneficiários desse governo, a ponto de mudar o Código Florestal para beneficiá-los e ampliar a devastação da Amazônia conforme os seus interesses. É nesse contexto que se mantém o conflito agrário. Falamos em governo (executivo), mas o parlamento e o judiciário compõem o quadro conservador que impede qualquer mudança significativa. Acreditamos, portanto, em decorrência dessa avaliação que a reforma agrária somente acontecerá, bem como colocar fim à violência no campo, com a prisão e a condenação de jagunços assassinos e os seus mandantes. E quando o nosso povo perceber que essas questões são de seu interesse imediato e que o seu posicionamento franco e a aberto é que fará a diferença, construindo finalmente um país mais justo e igualitário, pondo fim, por consequência na profunda exclusão humana no campo e na cidade

- Em que consiste a palestra musical: "Pela terra, pela vida, resistir é preciso”?

A palestra musical aborda toda essa problemática da terra, da violência, do desenvolvimento que contemple a todos, a construção de uma sociedade mais plural, mais igualitária e fraterna. Trabalha 13 músicas relacionadas com essas questões, mais a abordagem falada, sempre apontando para a necessidade do povo se organizar para mudar a nossa dura realidade, construindo coletivamente esse novo mundo. Ela aborda desde a reforma agrária, a questão indígena, a violência no campo, a migração forçada do campo e pequenas cidades para as médias e grandes, os bolsões de miséria formados no entorno dessas cidades e principalmente na necessidade de se organizar para o protagonismo transformador.

- Estamos aguardando com muito otimismo vossa apresentação e participação ativa e solidária com os movimentos populares de Mato Grosso do Sul, especificamente em Campo Grande. Qual é a vossa opinião sobre a atualidade do Tribunal Popular da Terra em nosso Estado?

Acreditamos que o TRIBUNAL POPULAR DA TERRA pode ser um importante instrumento de denúncia do quadro de exclusão existente, principalmente no campo, da violência e da ausência da vontade política governamental (os três poderes) para a realização de uma reforma agrária que torne esse país mais igual e de espaço de denúncia da violação dos direitos humanos dos trabalhadores rurais e dos povos indígenas.

- Finalmente, como definem o estilo musical da Banda Humanos Vermelhos? Quais são as suas características?

Nosso estilo musical é variado e seria difícil defini-lo. Nossa música é de conteúdo social e procura levar sempre uma mensagem engajada com a luta pela construção de um mundo mais igualitário, mais justo e mais fraterno. Somos militantes de direitos humanos e percebemos no viés cultural, em particular a música, um importante mecanismo de comunicação capaz de atingir o coração e as mentes das pessoas. Estamos convencidos que precisamos incorporar no dia a dia o compromisso permanente com a luta de transformação do mundo.