sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Calamidade em Bhopal-India...


vítimas de Bhopal seguem nascendo

Carlos Gorito - Correio Internacional

BHOPAL, Índia: Bhopal é uma calamidade sem fim. Em 3 de dezembro de 1984, nuvens de veneno vazaram da fábrica de pesticidas Union Carbide matando milhares nessa cidade do centro da Índia. Hoje, um quarto de século depois, as vítimas, desse que é o pior desastre industrial do mundo, continuam nascendo.
Aqui, em bairros onde as pessoas dependem de água contaminada por produtos químicos que vazam da fábrica abandonada e onde muitas mães foram expostas a gases tóxicos quando eram jovens, danos cerebrais e bebês com má formação são 10 vezes mais comuns que a média nacional. Médicos da Clínica Sambhavna de Bhopal [clínica mantida por doações para dar assistência médica gratuita às vítimas do desastre] dizem que nada menos que 1 em 25 bebês ainda está nascendo com defeitos e problemas de desenvolvimento tais como cabeças menores, pés palmados e baixo peso ao nascer.
Aqueles que eram apenas crianças quando a fumaça dominou a cidade de um milhão de habitantes também estão sofrendo. Dolorosas lesões de pele, problemas e feridas estomacais, coceira nos olhos são queixas comuns entre as milhares de famílias, das quais algumas se mudaram para Bhopal apenas em anos recentes. E a clínica da cidade diz que Bhopal agora tem algumas das mais altas taxas de câncer de vesícula e esôfago, tuberculose, anemia e anomalias na tireóide. As meninas começam a menstruar muito mais tarde que o normal e passam por dolorosos problemas ginecológicos, que muitas vezes levam a retirada do útero.
Esses problemas, dizem ativistas tais como os da Bhopal Medical Appeal [BMA, campanha mundial para angariar fundos destinados a ajudar as vítimas do acidente industrial em Bhopal], estão ligados à contínua poluição de partes do suprimento local de água por produtos químicos tais como clorofórmio e tetracloreto de carbono. As famílias não têm escolha a não ser usar água de poços para lavar, cozinhar e beber quando fontes seguras secam, de acordo com uma nova pesquisa que será publicada pela BMA na terça-feira [1/12]. O estudo encontrou níveis mais altos de vários produtos químicos carcinogênicos [que podem causar câncer] nas fontes de água esse ano do que ano passado – sugerindo fortemente que as gerações futuras serão envenenadas a menos que a área seja descontaminada. Isso contraria as afirmações do estado e dos ministros nacionais de que o lugar está limpo.
Enquanto isso, a batalha legal para que o diretor executivo da Union Carbide seja julgado pela alegada negligência de sua companhia não está mais perto do sucesso do que estava há 25 anos. A Anistia Internacional intimará nesta semana o governo da Índia e a Dow Chemicals [corporação estadunidense fabricante de produtos químicos, plásticos e agropecuários], que comprou a Union Carbide em 2001, para que tomem “ações urgentes e decisivas” para garantir que os acusados compareçam no tribunal – mais de 20 anos depois que os mandados de prisão foram emitidos pela primeira vez. A Dow Chemicals continua a negar qualquer responsabilidade pelo caso criminal.
Foi nas primeiras horas do dia 3 de dezembro de 1984 que 27 toneladas de metilisocianteto gasoso – 500 vezes mais tóxico que o cianeto de potássio e usado para fabricar o pesticida Sevin [usado como inseticida em jardins, agricultura e reflorestamento] – começou a vazar da fábrica da Union Carbide para as áreas vizinhas. Centenas de milhares de pessoas foram envenenadas pelo gás enquanto dormiam. Homens, mulheres e crianças que viviam em casebres situados bem ao lado do muro da fábrica acordaram respirando com dificuldade e cegas pelo gás que se dispersou rapidamente.
Acredita-se que cerca de 8 mil pessoas tenham morrido nas primeiras 72 horas. Centenas morreram em suas camas; outras milhares saíram cambaleantes de suas casas para morrer na rua. Estima-se que outras 15 mil pessoas tenham morrido em resultado da exposição ao gás desde então, muitas vezes com danos dolorosos e horrendos aos pulmões, coração, cérebro e outros órgãos, de acordo com a Anistia Internacional. Cerca de três quartos das mulheres grávidas dessa área abortaram espontaneamente seus bebês horas ou dias depois daquela noite. Centenas de bebês têm nascido desde então com deformidades, tais como membros ausentes, órgãos anormais, cabeças malformadas e tumores. Nenhum dos seis sistemas de segurança da fábrica estava operacional naquela noite.
Mesmo hoje, a Anistia Internacional estima que 120 mil pessoas expostas ao gás tenham problemas médicos crônicos. Depois que a fábrica foi fechada em 1985, outras 30 mil pessoas já ficaram doentes por causa da água contaminada por resíduos químicos enterrados ou descartados em lagoas próximas, de acordo com sanitaristas de Bhopal. Crianças e animais domésticos ainda são vistos brincando e pastando na grama que esconde os resíduos porque o governo local tem falhado em proteger a área apropriadamente.
Hazira Bee, de 53 anos, vive em J P Nagar, uma das áreas mais afetadas ao norte da cidade. Na noite do desastre, depois de despertar por causa do cheiro de pimenta queimada, ela e seu marido correram com suas crianças, seus olhos e pulmões ardendo por causa do gás. No pânico, seu filho do meio, Mansoor Ali, de 4 anos, foi deixado para trás. Ele tem passado a maior parte de sua vida dentro e fora de hospitais, enfraquecido severamente pelo dano crônico aos pulmões. A filha de Mansoor, hoje com 3 anos e meio, foi incapaz de manter sua cabeça ereta ou virar para o lado até os 18 meses de idade; ela recém começou a caminhar. Toda a família de Hazira tem sofrido de problemas respiratórios, neurológicos e de pele desde o vazamento.
Hazira disse: “a cena dentro da fábrica era horrível. Eu vi corpos e pessoas machucadas com espuma saindo de suas bocas. Desde o vazamento de gás nós todos estamos doentes. Por causa disso, meus filhos não puderam estudar e agora eles não conseguem bons empregos. Hoje eu sou a única fonte de renda da família. Se esse desastre tivesse acontecido nos Estados Unidos, o governo teria tomado conta de seus cidadãos. Nós queremos que a Union Carbide levem seu resíduo de volta para os Estados Unidos.”
Os relatórios de análise de água da BMA sustentam os estudos do Greenpeace que demonstram que as áreas ao norte da fábrica fechada são as mais afetadas porque a água subterrânea corre nessa direção. A Clínica Sambhavna – fundada há 13 anos com doações privadas – atende 150 pessoas como Hazira e sua família todos os dias. Existem 23 mil pessoas, ou que foram expostas ao gás ou que desde o desastre têm usado suprimentos contaminados de água, registradas com problemas crônicos tais como doenças do fígado, paralisia e anemia severa. Médicos relatam novos pacientes – adultos e crianças – todos os dias na clínica.
De acordo com Satinath Sarangi, um fundador da Clinica Sambhavna, a tuberculose é predominante entre pessoas cujo sistema imunológico tem sido desgastado pela exposição crônica à água envenenada. Câncer cluster [repetida ocorrência de um determinado tipo de câncer em uma determinada comunidade ou bairro] e crianças nascidas com deformidades são outras características distintivas da área, encontradas pelos pesquisadores da clínica que conduziram uma pesquisa de porta em porta nas dezenas de milhares de moradores do local.
No início desse ano, o Conselho Indiano de Pesquisa Médica [sigla em inglês ICMR, organização do governo indiano voltada para a formulação, coordenação e promoção de pesquisas biomédicas], finalmente cedeu à pressão pública e internacional ao reiniciar um programa estatal de pesquisa para entender as taxas alarmantes de natimortos, cânceres, problemas neurológicos e ginecológicos atendidos pelos médicos de Bhopal. Os estudos sobre os problemas de saúde de longo prazo de vítimas da Union Carbide foram deixados a cargo de instituições beneficentes e grupos de pressão depois que o ICRM abandonou seu programa de pesquisa em 1994 de forma polêmica.
O acordo de 470 milhões de dólares [cerca de R$812 milhões] feito pela Union Carbide em 1989 é lembrado como totalmente inadequado pelos profissionais de saúde da cidade e organizações de sobreviventes. Ele foi baseado na estimativa inicial de apenas 3.800 mortos e 102 mil feridos, e a quantia máxima que qualquer vítima recebeu foi de apenas mil dólares [cerca de R$1.700] – cerca de 11 centavos de dólar ao dia por 25 anos [menos de R$0,20]. Se a compensação tivesse sido a mesma daqueles expostos ao amianto sob os tribunais estadunidenses contra réus que também incluíam a Union Carbide, a dívida teria excedido os 10 bilhões de dólares [mais de R$17 bilhões]
A Dow Chemical Company insiste que não tem responsabilidade por esse legado tóxico. No entanto, a correspondência interna, vista pela IoS e a Anistia, entre diferentes ministros indianos (incluindo o Gabinete do Primeiro-ministro) mostra que a companhia continua tentando influenciar ministros numa tentativa de encerrar os processos civis. Esses processos poderiam determinar que a Dow descontaminasse milhares de toneladas de solo poluído.
Colin Toogood, da BMA, disse: “nós queremos ver uma limpeza completa da área do desastre e arredores, incluindo o aqüífero subterrâneo – uma tarefa enorme, mas razoável considerando-se que esse foi o pior desastre industrial no mundo. A compensação desembolsada de 470 milhões de dólares apenas diz respeito às pessoas afetadas pela exposição ao gás naquela noite. Isso não inclui, e nunca incluiu, as crianças nascidas com defeitos terríveis em resultado da exposição de seus pais; as pessoas afetadas pela contaminação do meio ambiente ou da água; e não inclui a própria contaminação do ambiente.”
Tom Sprick, da Union Carbide, declarou: “Nem a Union Carbide nem seus funcionários estão sujeitos à jurisdição da corte indiana já que eles não tiveram nenhum envolvimento na operação da fábrica… O governo da Índia precisa dedicar-se a quaisquer preocupações médicas e de saúde do povo de Bhopal.”
Porém, de acordo com Tim Edwards, um curador da BMA e autor do próximo relatório da Anistia, isso transmite uma idéia de desprezo pelos processos da lei. Ele disse: “em toda forma de sociedade civilizada é o sistema judicial que decide se um acusado tem algo a responder. As cortes da Índia decidiram que a Union Carbide e seu novo dono, a Dow Chemicals, têm de responder à justiça – mas a companhia não gostou nada disso.”
Scot Wheeler, da Dow Chemicals, respondeu: “Tentativas de vincular qualquer responsabilidade a Dow são inapropriadas… como todas as companhias globais, é comum para a Dow ter encontros com líderes e oficiais do governo se nós fazemos negócios e temos planos de crescimento. Também é comum para companhias discutir desafios e oportunidades relacionadas com investimentos.”

Nina Lakhani


Tradução: Aline Oliveira


Para acessar o texto original, clique aqui.

 
Fotografia de  Luca Frediani, retirada daqui

Eleição 2010...

Revolução? 

Wladimir Pomar - Correio da Cidadania

Pelo andar da carruagem, parece que a campanha de 2010 voltará a assistir baixarias da pior espécie. Talvez a utilização do caso Lurian-Mirian Cordeiro, em 1989, se torne brincadeira infantil diante do tipo de acusação assacada por Folha de São Paulo-César Benjamin contra Lula. Sem bandeira, a direita parece disposta a ultrapassar todos os limites, na mesma suposição de Goebbels de que uma mentira, repetida mil vezes, se transforme em verdade. Enquanto uma parte da esquerda flerta com essa aventura de viés fascista, outra amacia a crítica ao período FHC, caracterizando-o como revolução silenciosa. Para compreender o caráter do que chama de nova revolução silenciosa do governo Lula, essa parte da esquerda considera essencial entender os anos dourados do neoliberalismo, que tiveram por base as políticas de liberalização, privatização e desregulação, propugnadas pelo Consenso de Washington e aplicadas pelo FMI e Banco Mundial. Segundo ela, para combater a crise de recessão e desemprego, que se espraiara pelo mundo nos anos 1980. Ainda segundo essa análise, a revolução silenciosa de FHC, cujo maior mote foi "o Estado é mau gestor" e "o Mercado tudo resolve", teve como eixos as reformas estruturais nas contas públicas, impondo a disciplina fiscal, no comércio externo, abrindo o mercado doméstico aos produtos e investimentos estrangeiros no Estado, retirando-o das atividades econômicas através das privatizações, e também na desregulação trabalhista, através da flexibilização das leis do trabalho. Para início de conversa, cabe o reparo sobre as razões do Consenso de Washington. Ele não foi costurado para combater a crise de recessão e desemprego, mas para elevar a taxa média de lucro das corporações transnacionais, mesmo que isto aprofundasse a recessão e o desemprego nas economias nacionais. As políticas de liberalização, privatização e desregulação, aplicadas com denodo por FHC, tinham esse caráter preciso. É verdade que, como todo contra-revolucionário, FHC procurou chamar sua agenda neoliberal de revolução silenciosa. Se os golpistas de 1964 chamaram sua contra-revolução de revolução redentora, por que FHC não teria o direito de fazer o mesmo? No entanto, quando uma parte da esquerda aceita chamar uma contra-revolução de revolução, isso apenas pode significar que ela não leva a sério o conteúdo desses conceitos. Em relação à era FHC, José Luiz Fiori tinha razão em dizer que houve "uma imensa recomposição patrimonial da riqueza brasileira, (...) movida por uma transferência gigantesca de riqueza ou privatização de riqueza". Francisco de Oliveira também estava certo ao afirmar que se assistiu à criação de "uma nova burguesia no país" e que "o governo perdeu boa parte da capacidade que tinha de distribuir favores no Estado entre seus aliados". Portanto, o que a contra-revolução de FHC realizou foi uma brutal reorganização do capitalismo brasileiro, reduzindo a participação do capital estatal na economia. Para o tucanato, o tripé que sustentava o capitalismo desde a era Vargas (capital estatal, capital privado nacional e capital privado estrangeiro), deveria tornar-se um bipé com elefantíase, tendo o capital estrangeiro como principal. Ao Estado caberia apenas o papel de facilitador da relocalização empresarial, ao mesmo tempo em que fingia ser regulador e compensador dos desequilíbrios sociais. Nessas condições, supor que os tucanos apoiavam as políticas neoliberais por acreditarem que esta seria a condição necessária para o crescimento econômico e a inserção competitiva no mercado internacional é o mesmo que acreditar em fadas. Os tucanos e seus associados, do mesmo modo que todos os segmentos sociais e políticos que, em qualquer época, apoiaram a colonização de seu país por invasores estrangeiros, na verdade acreditavam que o neoliberalismo era a salvação de seu grupo particular. Muitos membros desse grupo se transformaram em parte daquela nova burguesia, resultante da recomposição patrimonial da riqueza. Confundir interesses particulares com interesses nacionais é erro primário. Na era FHC o problema não foi somente que o Estado tenha deixado de ser o principal indutor da economia e delegado este papel para o mercado. Ou que ele tenha desregulado, quebrado monopólios, vendido empresas estatais e tentado desmontar a CLT. Ou, ainda, que o país tenha se tornado "o paraíso para investimentos internacionais" e que os movimentos sociais tenham passado a ser criminalizados e desqualificados como forças reacionárias contrárias à modernização. Esse tipo de lista genérica esconde o conteúdo de cada um desses atos. Na verdade, ocorreu uma tentativa criminosa de quebrar o Estado e transformá-lo no principal freio ao desenvolvimento econômico. Ele quebrou somente monopólios estatais, enquanto estimulava a monopolização e a oligopolização privada. A pretensa venda de empresas estatais foi, em geral, uma transferência nebulosa de ativos públicos para o setor privado estrangeiro e nacional, quase no estilo mafioso russo. E os investimentos estrangeiros vieram apenas para lucrar nesses negócios escusos e no cassino das bolsas de valores, ou para fechar indústrias concorrentes. Nessas condições, os anos FHC não foram uma década perdida para seus autores, nem um fracasso para a inserção subordinada do país na economia internacional. Eles conseguiram legar às gerações futuras uma herança contra-revolucionária extremamente complexa, com um Estado quase desmontado, incapaz de planejar e projetar, e com visões econômicas ainda fortes, para as quais políticas industriais estão fora de moda, crescimento e consumo sempre geram inflação e elevar a renda dos pobres é populismo. Essa caminhada só foi momentaneamente paralisada porque os resultados de seu programa de governo introduziram uma cunha profunda na massa da burguesia, ao beneficiarem somente a um pequeno setor dessa classe, e porque os movimentos populares souberam aproveitar-se das contradições no meio da burguesia para derrotar eleitoralmente aquele setor. Assim, a rigor, ao invés de revolução silenciosa de FHC, o que ocorreu foi uma contra-revolução inacabada. E, no caso da vitória de Lula, ela foi, no máximo, uma revolução cultural, o que já é muito para um país em que a hegemonia ideológica e política das classes dominantes ainda é avassaladora.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

Poesia de uma professora indignada....

Os Vinte.

Cinda Saldanha - 17º núcleo do cpers-sindicato




I


Eu vou citar vinte nomes,
são vinte monstros sagrados.
Adolfo, Adilson, Coffy Rodrigues,
na teta mamam deitados.
Brum, Francisco e Westphalen
também estão setenciados.


II


Nélson Júnior,Mauro, Jorge,
juntos nessa relação.
Silvana, Kalil,Giovani,
também levando um quinhão.
Farinha do mesmo saco,
em prol da corrupção.


III


Frederico, Marcos,Luciano,
João Fischer, Pedro Pereira,
outros que somaram força
pra continuar na carreira,
pois arquivando o Processo,
segue impune a roubalheira!


IV


Jerônimo e Carlos Gomes,
a minha lista não para.
Se “escapou por muito pouco
o meu amigo Augusto Lara”...
Mas, a Zilá bem que eu queria,
dar-lhe uns tabefes na cara!!


V


É o nosso Legislativo
da ética e da moral,
onde um cargo,um dinheirinho
não faz ninguem passar mal.
“As instituições tornaram...
o roubo coisa Legal.”


VI


A governadora paulista
só é perita em manobra
pois além de arbitrária
em maldade se desdobra.
Que nem carne de pescoço
e pior que carne de cobra!


VII


Ela encheu o peito de vento,
de morta, ressuscitou
preencheu pequenas rugas
com o dinheiro que roubou,
para mudar o visual...
Até o pescoço encurtou.


VIII


Seu partido contratou
um marqueteiro de coragem,
está fazendo de tudo
pra mudar a sua imagem.
Mas a “face oculta aparece”...
Na bruxa – como miragem!!!


IX


É a nossa marca com ferro
contra o autoritarismo,
das barbáries praticadas
espalhando o terrorismo.
Vamos ver se tu aprende:
“Respeito ao Funcionalismo”.


X


O funcionalismo do Rio Grande
não é de baixar a crista.
Teu problema é bem mais sério
tem prenhez capitalista.
Tu nunca foste farroupilha
és uma ladra paulista.

As mulheres árabes de Israel não precisam sequer de se candidatar a um emprego

É a discriminação e não as especificidades culturais que mantém as famílias árabes na pobreza


por JONATHAN COOK
Em Nazaré

tradução: equipa Todos Por Gaza

Na semana passada, o Ministro das Finanças israelita foi acusado de tentar desviar as atenções das politicas discriminatórias que mantém muitas das famílias árabes do país na pobreza, colocando a culpa para os seus problemas económicos naquilo que descreveu como a “oposição da sociedade árabe ao trabalho feminino”.

Um relatório recente produzido pelo Instituto Nacional de Segurança mostra que metade das famílias árabes em Israel são consideradas pobres comparadas com 14 % das famílias judias.

Yuval Steinitz, Ministro das Finanças israelita, disse durante uma conferência sobre a discriminação no emprego, realizada este mês [novembro] que a falha das mulheres árabes em se tornarem parte da força de trabalho tinha um impacto negativo na economia de Israel. Só dezoito por cento das mulheres árabes estão empregadas, e dessas, apenas metade a tempo inteiro, enquanto que pelo menos 55 % das mulheres judias trabalha.
O ministro atribuiu a baixa taxa de emprego entre esta minoria a “obstáculos culturais, estruturas tradicionais e à crença que as mulheres árabes devem permanecer nas suas cidades de origem”, dizendo ainda que estas restrições são características de todas as sociedades árabes.
Contudo, há investigadores e associações de mulheres que sublinham que o numero de mulheres árabes em Israel é mais baixo do que em quase todos os outros países do mundo árabe, incluído aqueles onde os números do emprego feminino são uma mancha, como sucede na Arábia Saudita e Omã.
“A maior parte das mulheres árabes quer trabalhar, incluindo um grande número de licenciadas, mas o governo tem recusado abordar os vários e grandes obstáculos que lhe têm aparecido no caminho” disse Sawsan Shukhra, da associação Mulheres contra a Violência, uma associação com base em Nazaré.
Esta afirmação é confirmada por um inquérito realizado este mês e que revela que 83 % dos homens de negócios israelitas nas principais profissões (incluindo publicidade, direito, banca, contabilidade e media) admitiram ser contrários à ideia de contratar licenciados árabes, independentemente do seu sexo.

Yousef Jabareen, um urbanista da Universidade Técnica de Technion em Haifa, que realizou um dos maiores inquéritos sobre o emprego das mulheres árabes em Israel, disse que os problemas que estas enfrentam são únicos.
“Em Israel enfrentam uma dupla discriminação, por serem mulheres e por serem árabes” disse.
A média de emprego feminino no mundo árabe é cerca de 40&. Só em Gaza, na Cisjordânia e no Iraque (onde se vive em circunstâncias excepcionais, é que encontramos taxas de emprego entre as mulheres árabes mais baixas do que em Israel.

Jabareen acrescentou que uma série de factores funcionam como obstáculos para as mulheres árabes, entre os quais políticas discriminatórias aplicadas por sucessivos governos para prevenir que a minoria árabe de 1.3 milhões, que constitui cerca de um quinto da população do pais, usufruísse de qualquer tipo de desenvolvimento económico. Estas medidas incluem discriminação generalizada nas políticas de contratação quer no sector privado quer no público, um fracasso em construir zonas industriais e fábricas perto das comunidades árabes, falta de serviço público de apoio à maternidade, quando comparado com aquele que é providenciado às comunidades judias, falta de transportes nas áreas árabes que impedem as mulheres de se deslocar a lugares onde há trabalho e falta de cursos direccionados para as mulheres árabes.

De acordo com um estudo efectuado pela associação Mulheres contra a Violência, 40 por cento das mulheres árabes detentoras de um grau académico não conseguem arranjar emprego. Aquando da entrevista, Mr Jabareen disse que 78% das mulheres desempregadas culpam a falta de oportunidade de emprego pela sua situação.
Maali Abu Roumi, de 24 anos, da cidade de Tamra no norte de Israel, tem procurado emprego como técnica de trabalho social desde que acabou o curso há dois anos. Um relatório elaborado por Sikkuy, uma organização que promove a igualdade cívica em Israel, revelou este mês que a população árabe de Israel recebe cerca de menos 70% de ajuda governamental para serviços sociais do que a população judia, e que os técnicos de serviço social árabes (numa profissão mal paga e que atrai maioritariamente mulheres) tinham uma carga de trabalho superior em 50%.
Maali Abu Roumi disse também que, para além disso, escolas Arabes, ao contrário das escolas judias não podem empregar um trabalhador social porque não têm dinheiro, e que a minoria árabe de Israel não usufruía das instituições de assistência social fundadas por judeus de outros países que ofereciam trabalho a muitos técnicos sociais judeus. “ A maior parte dos judeus com quem estudei já encontraram emprego, enquanto que muito poucos dos árabes do meu curso o conseguiram” disse. “quando um trabalho aparece, é geralmente em part-time e há sempre dúzias de concorrentes”.
O Centro de Planificação Alternativa, uma organização árabe que estuda o uso da terra em Israel, informou que em 2007, apenas 3.5 por centro das zonas industriais do país estavam localizadas em comunidades árabes. A maior parte atraia apenas pequenos negócios como oficinas de reparação de carros ou de carpintaria, que oferecem poucas oportunidade às mulheres.
“O sector privado israelita está quase totalmente fechado ás mulheres árabes devido a práticas discriminatórias dos empregadores que preferem dar emprego a judeus”, disse Mr. Jabareen. Disse ainda que o governo falhou em dar o exemplo: entre os trabalhadores governamentais, menos de 2% são mulheres árabes, apesar de vários ministros pedirem o aumento de emprego para os árabes.

A Sra Sukha sublinha: “ O serviço público é um grande empregador, mas muitos desses trabalhos ficam no centro da cidade, em Tel-Aviv e em Jerusalém, muito longe do norte, onde vive a maioria dos cidadãos árabes.
Para além disso, a maior parte não pode viajar longas distâncias para encontrar trabalho devido à escassez no fornecimento de serviços de apoio às crianças. De 1600 centros de pré-escolar públicos existentes em todo o país só 25 estão junto das comunidades árabes. Shawshan Shukha também critica o ministério do comercio e da industria dizendo que apesar de este investir muito na educação das mulheres judias só 6% das mulheres árabes frequentam cursos, sobretudo os de costura e secretariado.

Jabareen disse que de acordo com este inquérito, 56% das mulheres árabes desempregadas queria trabalhar imediatamente. “Desde 1948 que os governos israelitas culpam as barreiras culturais impedindo as mulheres árabes trabalhar da sua pobreza, mas todas as investigações mostram que o argumento é absurdo” comentou. Há centenas de mulheres árabes que competem pelos trabalhos que aparecem no mercado”.

Acrescentou que os homens árabes também enfrentam discriminação, mas encontram trabalho porque preenchem a necessidade de trabalho pesado e manual que a maior parte dos judeus recusa fazer, e viajando ainda longas distâncias para os locais das obras.
“As mulheres nem sequer têm essa opção” ajuntou. “ Não podem fazer esse tipo de trabalho e precisam de ficar perto das suas comunidades porque têm responsabilidades nas suas casas”.

O urbanista disse ainda que em média as mulheres árabes em Israel têm mais anos de escolarização do que as dos países árabes vizinhos e do que no terceiro mundo. Há até mais mulheres árabes do que homens a estudar na universidade.
“Toda a investigação levada a cabo mostra que quanto mais educada é a população, mais fácil deveria ser encontrar emprego. O caso das mulheres árabes em Israel contraria estes dados. Constituem um caso único”.
Um estudo realizado pelo Banco de Israel e publicado no mês passado sugere razões adicionais para o nível de pobreza das famílias árabes. Mostra que os homens árabes são forçados a reformar-se por volta dos 40 anos, uma década antes dos trabalhadores judeus e dos trabalhadores europeus e americanos.
Os investigadores atribuem o desemprego dos homens árabes ao facto de que a maior parte executa apenas trabalhos físicos muito exigentes e também ao facto destes trabalhadores estarem a ser substituídos por trabalhadores oriundos do terceiro mundo, que recebem menos do que o salário mínimo.


Jonathan Cook é um escritor e jornalista que vive em Nazaré. O seu site é: www.jkcook.net.

(uma versão deste artigo foi originalmente publicada em The National)