domingo, 22 de abril de 2007

Pinback - Summer in Abaddon




Se me pedissem para definir o Pinback em duas palavras, eu diria MÚSICA MICROSCÓPICA. Pequenez mesmo. Singeleza. Amarras musicais que são tão tênues e estruturas que, de modo geral são tão delicadas e simples, que você nem se dá conta de que esta é uma impressão superficial, já que, na verdade, as canções são microdetalhadas pra caralho. E tudo se torna ainda menor com a inserção dos vocais, que são dois, quase sempre em tempos diferentes. A sensação de algo ínfimo paira sobre a tua cabeça, como aquelas nuvens negras em personagens de desenhos animados. Na realidade, a projeção das canções é que é pequena e ata as partes com certa impressão de ótica microscópica, o que não poderia enganar menos o ouvinte, já que o som do Pinback resvala no gigantismo, por assim dizer.

Agora, se me pedissem para definir o Pinback numa única palavra, eu diria VIRULÊNCIA. O potencial de aderência mental instantânea, a vírus-musicalidade, de uma canção do Pinback é qualquer coisa de impressionante. O gancho sonoro presente aqui, fosse uma Alien do filme clássico, seria certamente um face-hugger, ou melhor, um brain-hugger, dadas as circunstâncias. Cada partícula de som é uma pequenina agulha pronta para "acumpulturar" teu córtex e até despertar prováveis bons sentimentos, o que não passa de figuração, já que quase sempre as letras são miseravelmente tristes ou enfadonhas ou distantes.

E no caso de chegar um mané e me pedir para descrever o Pinback de forma mais concreta, diria tratar-se de uma banda de San Diego, cujo núcleo central é composto por dois sujeitos talentosíssimos, Rob Crow e Amistead Smith IV, que se empenham em compor canções intimistas com instrumentação convencional e eventuais pequenas doses de eletrônica. Só pra contextualizar, diria também que seu álbum anterior, Blue Screen Life, de 2002, é não menos que brilhante, até melhor que este novo.

Summer in Abaddon é um reflexo distorcido de melancolia visto num espelho quebrado. Simboliza o desperdício de tempo e vitalidade experimentado pela dupla de compositores através de uma carga de tédio concentrada e de incontáveis obstáculos enfrentados em seu atribulado cotidiano. Estive pensando que se mal-estar e sentimentos controversos fazem o Pinback escrever música assim, estipulo que quero mais é que eles se fodam mesmo, e continuem compondo.

O álbum, o Verão no Inferno, é angústia para a banda e satisfação pra quem ouve. Um apanhado de 10 canções que revelam ser micro-universos de pena, angústia, ironia, desespero. Ouvir o disco inteiro é como se submeter a um tipo de cromoterapia em preto-e-branco, uma controversa experiência entre neurose e equilíbrio. Veja "Non-Photo Blue", por exemplo: uma eternidade de convenções pop subvertidas, esmerilhadas e reunidas no que aparentemente é apenas uma canção pop. Ou antipop. Ou o que seja. Já "Syracuse" é estranheza a ponto de sugerir que o Pinback nunca ouviu nada a não ser suas próprias vozes interiores antes de chegar a esse disco, pirou, e pariu um casulo de melancolia com qualquer coisa que lembre um certo orientalismo. E se "Sender" ou "The Yellow Ones" não redimirem seus malditos pecados, bem, então você está com problemas perceptíveis até por leigos.



BARBAS ESQUISTAS:
A MARCA DA VANGUARDA
Pra terminar, se me pedissem para definir o Pinback em uma única letra, acho que eu diria X, em alusão ao componente enigmático que permeia cada uma das canções da banda. Creio que o Pinback seja o próximo passo na evolução do Singer-songwriter: dois compositores tradicionais de música triste, enlouquecidos pelo tédio e obcecados por uma simplicidade que de simples não tem absolutamente nada. Se você for esperto, ignora estas definições pouco precisas esboçadas por mim e vai atrás de baixar o disco logo. Se for esperto e tiver grana sobrando, vá trás de comprar logo o disco pra ter acesso a arte massa da embalagem digipak, o que sugere algo fútil, mas vale a pena. [E, bom, se você for uma garota linda, com idade superior a 18 anos e intenções libidinosas evidentes, pegue meu contato no GORDURA, que a gente combina e eu te mostro meu Pinback.] E como serviço de utilidade pública, sugiro ao leitor gorduroso uma lista só com canções "velhas" da banda, pra montar uma coletânea de introdução à obra. É importante que as canções sejam gravadas nessa ordem: 1- "Cut"; 2- "Loro"; 3- "Penelope"; 4- "Offline P.K"; 5- "Byzantine"; 6- "Boo"; 7-"Some Voices"; 8- "Trípoli". Pronto. Agora você já pode mergulhar de cara no disco novo. E minha dica foi de graça.

Baixe aqui: badongo
Renato Mazzini

Um comentário:

Márcio Miranda disse...

Renato, é isso mesmo, concordo com tudo!
Conhecdi no Filme Elizabethtown e vaixei a discografia pra mergulhar num universo musical moderno e genial! abrasss