Os Estados Unidos perderam a razão,
a moral e a própria guerra no Iraque
a moral e a própria guerra no Iraque
José Reinaldo Carvalho*
O último fim de semana foi um dos mais sangrentos desde que as tropas agressoras estadunidenses invadiram o Iraque, em março de 2003. Mais de 250 vítimas fatais com as refregas entre os invasores e forças da resistência.
O trimestre que passou (abril a junho) foi o mais trágico para o exército de ocupação que contabilizou mais 330 mortos, elevando a 3.606 o número de soldados estadunidenses que perderam suas vidas no solo banhado pelo Tigre e o Eufrates. Do lado iraquiano, dezenas de milhares foram assassinados, um genocídio, pelos bombardeios e as incursões do exército da superpotência imperialista.
Cada vez mais a guerra de ocupação norte-americana no país árabe deixa a descoberto duas inarredáveis evidências. A primeira é a de que em ação bélica de inaudita envergadura, desencadeada em nome de interesses estratégicos de natureza econômica e geopolítica, os Estados Unidos revelam-se como um império assassino, que pretende impor a tirania mundial.
Caracteriza-se assim como o principal inimigo da humanidade, uma ameaça real às aspirações de liberdade, independência, progresso e justiça dos povos e nações de todo o mundo. A segunda evidência é a de que, apesar da monstruosa máquina de morte posta em movimento, apesar da inexcedível arrogância, do atropelo da legalidade internacional e da instrumentalização dos organismos multilaterais e de governos títeres, o imperialismo norte-americano está sofrendo uma estrondosa derrota. A ocupação do Iraque entrou definitivamente em crise.
A tal ponto que o secretário da Defesa, Robert Gates cancelou de última hora uma visita que faria a partir desta segunda-feira a quatro países latino-americanos – El Salvador, Colômbia, Peru e Chile – alegando a necessidade de se dedicar durante esta semana às discussões sobre questões envolvendo a ocupação do Iraque.
É que precisamente nesta semana o Senado dos Estados Unidos inicia o debate sobre o orçamento do Pentágono para 2008. A proposta de Bush é que se destine 141, 7 bilhões de dólares para continuar financiando as guerras de ocupação no Iraque e no Afeganistão (esta última com a cumplicidade da OTAN e de governos da União Européia).
Encontra-se em gestação uma crise política, pois além da oposição do Partido Democrata, começam a se manifestar importantes dissidências mesmo entre os elefantes republicanos.
Alguns foram a público para se opor aos planos de Bush. A mais importante voz dissidente até agora foi a do senador Richard Lugar, que não só discorda da aprovação da vultosa verba, como defende a retirada das tropas até meados do ano que vem. Outros dois senadores republicanos fizeram declarações no mesmo sentido.
Mas o fato mais importante com que se inicia a semana foi sem sobra de dúvidas o editorial deste domingo intitulado “O Caminho de Volta”, do insuspeito “New York Times”, que com inusuais radicalismo e imoderação, com estilo cortante e severo, defendeu: “É hora de os Estados Unidos deixarem o Iraque, sem mais prazos do que o Pentágono precisa para organizar a retirada”. O diário nova-iorquino opina, sem meias palavras, que o projeto de Bush no Iraque é uma “causa perdida”.
Alheio às evidências, Bush continua a considerar que a retirada é um “caminho errado e perigoso”. E, aferradas às posições de quintas colunas do exército de ocupação, as forças políticas que compõem o governo fantoche iraquiano reagiram prevendo o “caos e a guerra civil”, se os 157 mil soldados norte-americanos voltarem para casa. Mas o caos e a guerra civil foram instalados no Iraque desde o momento em que os EUA invadiram o país em março de 2003.
Há muitas expectativas sobre o que ocorrerá nos próximos dias. Bush já anunciou que vetará, aliás como já fez anteriormente, qualquer decisão do Congresso que corte o financiamento da ocupação e aponte no sentido da retirada. Aposta num plano que, se levado a efeito, vai fragmentar o Iraque em três “bantustões” xiita, sunita e curdo, sob comando unificado das forças de ocupação e supervisão de uma força multinacional (sic!).
A admissão da derrota por setores dominantes importantes da sociedade estadunidense, a consciência de que a causa da ocupação está perdida, é um vigoroso sinal dos tempos. A política unilateral, exclusivista, antidemocrática e militarista de Bush levou os Estados Unidos a gravíssimo impasse, que por sua vez é resultante dos impasses estruturais do modelo econômico e do modo de vida parasitários desse país imperialista, espoliador e neocolonialista. O impasse de Bush consiste em que saindo ou ficando no Iraque, os Estados Unidos já perderam a razão, a moral e a própria guerra.
Para as forças revolucionárias e progressistas do mundo, para os amantes da paz, os que se batem pela independência nacional e o progresso social, a derrota estadunidense no Iraque é um fator de alento. São cada vez mais numerosas as pessoas que compreendem que o imperialismo não é invencível, havendo pois espaço político e terreno fértil para organizar em todo o mundo a luta antiimperialista.
*José Reinaldo Carvalho é Secretário de Relações Internacionais do PCdoB, diretor do Cebrapaz e membro do Brussel´s Tribunal contra os crimes de guerra no Iraque.
O trimestre que passou (abril a junho) foi o mais trágico para o exército de ocupação que contabilizou mais 330 mortos, elevando a 3.606 o número de soldados estadunidenses que perderam suas vidas no solo banhado pelo Tigre e o Eufrates. Do lado iraquiano, dezenas de milhares foram assassinados, um genocídio, pelos bombardeios e as incursões do exército da superpotência imperialista.
Cada vez mais a guerra de ocupação norte-americana no país árabe deixa a descoberto duas inarredáveis evidências. A primeira é a de que em ação bélica de inaudita envergadura, desencadeada em nome de interesses estratégicos de natureza econômica e geopolítica, os Estados Unidos revelam-se como um império assassino, que pretende impor a tirania mundial.
Caracteriza-se assim como o principal inimigo da humanidade, uma ameaça real às aspirações de liberdade, independência, progresso e justiça dos povos e nações de todo o mundo. A segunda evidência é a de que, apesar da monstruosa máquina de morte posta em movimento, apesar da inexcedível arrogância, do atropelo da legalidade internacional e da instrumentalização dos organismos multilaterais e de governos títeres, o imperialismo norte-americano está sofrendo uma estrondosa derrota. A ocupação do Iraque entrou definitivamente em crise.
A tal ponto que o secretário da Defesa, Robert Gates cancelou de última hora uma visita que faria a partir desta segunda-feira a quatro países latino-americanos – El Salvador, Colômbia, Peru e Chile – alegando a necessidade de se dedicar durante esta semana às discussões sobre questões envolvendo a ocupação do Iraque.
É que precisamente nesta semana o Senado dos Estados Unidos inicia o debate sobre o orçamento do Pentágono para 2008. A proposta de Bush é que se destine 141, 7 bilhões de dólares para continuar financiando as guerras de ocupação no Iraque e no Afeganistão (esta última com a cumplicidade da OTAN e de governos da União Européia).
Encontra-se em gestação uma crise política, pois além da oposição do Partido Democrata, começam a se manifestar importantes dissidências mesmo entre os elefantes republicanos.
Alguns foram a público para se opor aos planos de Bush. A mais importante voz dissidente até agora foi a do senador Richard Lugar, que não só discorda da aprovação da vultosa verba, como defende a retirada das tropas até meados do ano que vem. Outros dois senadores republicanos fizeram declarações no mesmo sentido.
Mas o fato mais importante com que se inicia a semana foi sem sobra de dúvidas o editorial deste domingo intitulado “O Caminho de Volta”, do insuspeito “New York Times”, que com inusuais radicalismo e imoderação, com estilo cortante e severo, defendeu: “É hora de os Estados Unidos deixarem o Iraque, sem mais prazos do que o Pentágono precisa para organizar a retirada”. O diário nova-iorquino opina, sem meias palavras, que o projeto de Bush no Iraque é uma “causa perdida”.
Alheio às evidências, Bush continua a considerar que a retirada é um “caminho errado e perigoso”. E, aferradas às posições de quintas colunas do exército de ocupação, as forças políticas que compõem o governo fantoche iraquiano reagiram prevendo o “caos e a guerra civil”, se os 157 mil soldados norte-americanos voltarem para casa. Mas o caos e a guerra civil foram instalados no Iraque desde o momento em que os EUA invadiram o país em março de 2003.
Há muitas expectativas sobre o que ocorrerá nos próximos dias. Bush já anunciou que vetará, aliás como já fez anteriormente, qualquer decisão do Congresso que corte o financiamento da ocupação e aponte no sentido da retirada. Aposta num plano que, se levado a efeito, vai fragmentar o Iraque em três “bantustões” xiita, sunita e curdo, sob comando unificado das forças de ocupação e supervisão de uma força multinacional (sic!).
A admissão da derrota por setores dominantes importantes da sociedade estadunidense, a consciência de que a causa da ocupação está perdida, é um vigoroso sinal dos tempos. A política unilateral, exclusivista, antidemocrática e militarista de Bush levou os Estados Unidos a gravíssimo impasse, que por sua vez é resultante dos impasses estruturais do modelo econômico e do modo de vida parasitários desse país imperialista, espoliador e neocolonialista. O impasse de Bush consiste em que saindo ou ficando no Iraque, os Estados Unidos já perderam a razão, a moral e a própria guerra.
Para as forças revolucionárias e progressistas do mundo, para os amantes da paz, os que se batem pela independência nacional e o progresso social, a derrota estadunidense no Iraque é um fator de alento. São cada vez mais numerosas as pessoas que compreendem que o imperialismo não é invencível, havendo pois espaço político e terreno fértil para organizar em todo o mundo a luta antiimperialista.
*José Reinaldo Carvalho é Secretário de Relações Internacionais do PCdoB, diretor do Cebrapaz e membro do Brussel´s Tribunal contra os crimes de guerra no Iraque.
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