Diário do Paraguai
Emir SaderAprendemos que na Guerra do Paraguai o Brasil se uniu à Argentina e ao Uruguai para tirar do poder um tirano. Mas Eduardo Galeano se pergunta: Que lição o Brasil, monárquico e escravista, tinha a dar ao Paraguai, republicano e sem escravidão?” O certo é que foram mortos na guerra 70% dos adultos do Paraguai, um país que, mediterrâneo, tinha um modelo econômico voltado para o mercado interno, fora dos circuitos de dominação da Inglaterra.
Hoje o Paraguai pode se somar à lista de governos progressistas da América Latina, elegendo ao ex-bispo Fernando Lugo como presidente. Terminada a longa ditadura de Stroessner – que viveu folgadamente seu exílio no Brasil, - em 1989, o Partido Colorado, que governa o Paraguai desde a década de 1940, tornando-se um verdadeiro partido-Estado, prolongou seu reinado, até que grandes mobilizações populares questionando seus métodos autocráticos de governo, erigiram a Lugo como lider oposicionista favorito a triunfar nas proximas eleições, de abril de 2008.
Tudo parece favorecê-lo: o apoio popular, o prestígio que possui, a crise do governo e do Partido Colorado dividido, o entorno regional. Lugo constituiu uma ampla aliança partidária, o que fez com que alguns movimentos sociais tomem distância em relação a ele, temendo que fique preso a compromissos com forças tradicionais, entre elas o maior partido opositor, o Partido Liberal.
O Partido Colorado está por decidir seu candidato. Pode ser uma ministra de Nicanor Duarte, atual presidente, ou o vice-presidente, Luis Alberto Castiglioni, o favorito, que renunciou recentemente, para poder se candidatar. Este é o mais significativo representante do neoliberalismo, com vínculos estreitos com o governo dos EUA.
Temeroso do favoritismo de Lugo, o governo introduziu uma nova manobra, libertando a Lino Oviedo, político tradicional, com prática conhecida de violência contra os movimentos populares, mas também implicado no assassinato do ex-vice presidente, Luis Argaña. Este é um dos três processos pelos quais Oviedo está condenado – um outro é por tentativa de golpe de Estado -, mas apelando das sentenças, está em liberdade, para tentar tirar votos de Lugo.
Lugo no elaborou ainda sua plataforma, mas certamente terá como uma de suas prioridades as negociações de um novo contrato de Itaipú, em que reivindicará simplesmente que o Brasil pague a preço de mercado a produção, revisando o acordo assinado pela ditadura militar brasileira com a ditadura de Stroessner. Apenas isto permitiria ao Paraguai receber pelo menos o dobro ou mais do que recebe com os acordos atuais.
O tema da reforma agrária deve ser central num eventual governo de Lugo, quando este se compromete a acabar com o latifúndio e critica a Lula pela lentidão na reforma agrária no Brasil. Ainda mais se o candidato do Partido Colorado for Castriglioni, Lugo tenderá mais claramente a desenvolver um discurso anti-neoliberal, pelo qual afirma optar.
Os riscos não são poucos: risco de campanha pesada e suja do governo e do Partido Colorado, incluindo tentativa de fraude eleitoral; risco de Lugo depender muito dos partidos tradicionais e fazer um governo amarrado por excessivos compromissos, inclusive pelas excessivas reticências de setores dos movimentos sociais em apoiá-lo resolutamente. Mas os riscos fazem parte da possiblidade de terminar com a ditadura do Partido Colorado. Nunca as condições internas e externas foram tão favoráveis.
Hoje o Paraguai pode se somar à lista de governos progressistas da América Latina, elegendo ao ex-bispo Fernando Lugo como presidente. Terminada a longa ditadura de Stroessner – que viveu folgadamente seu exílio no Brasil, - em 1989, o Partido Colorado, que governa o Paraguai desde a década de 1940, tornando-se um verdadeiro partido-Estado, prolongou seu reinado, até que grandes mobilizações populares questionando seus métodos autocráticos de governo, erigiram a Lugo como lider oposicionista favorito a triunfar nas proximas eleições, de abril de 2008.
Tudo parece favorecê-lo: o apoio popular, o prestígio que possui, a crise do governo e do Partido Colorado dividido, o entorno regional. Lugo constituiu uma ampla aliança partidária, o que fez com que alguns movimentos sociais tomem distância em relação a ele, temendo que fique preso a compromissos com forças tradicionais, entre elas o maior partido opositor, o Partido Liberal.
O Partido Colorado está por decidir seu candidato. Pode ser uma ministra de Nicanor Duarte, atual presidente, ou o vice-presidente, Luis Alberto Castiglioni, o favorito, que renunciou recentemente, para poder se candidatar. Este é o mais significativo representante do neoliberalismo, com vínculos estreitos com o governo dos EUA.
Temeroso do favoritismo de Lugo, o governo introduziu uma nova manobra, libertando a Lino Oviedo, político tradicional, com prática conhecida de violência contra os movimentos populares, mas também implicado no assassinato do ex-vice presidente, Luis Argaña. Este é um dos três processos pelos quais Oviedo está condenado – um outro é por tentativa de golpe de Estado -, mas apelando das sentenças, está em liberdade, para tentar tirar votos de Lugo.
Lugo no elaborou ainda sua plataforma, mas certamente terá como uma de suas prioridades as negociações de um novo contrato de Itaipú, em que reivindicará simplesmente que o Brasil pague a preço de mercado a produção, revisando o acordo assinado pela ditadura militar brasileira com a ditadura de Stroessner. Apenas isto permitiria ao Paraguai receber pelo menos o dobro ou mais do que recebe com os acordos atuais.
O tema da reforma agrária deve ser central num eventual governo de Lugo, quando este se compromete a acabar com o latifúndio e critica a Lula pela lentidão na reforma agrária no Brasil. Ainda mais se o candidato do Partido Colorado for Castriglioni, Lugo tenderá mais claramente a desenvolver um discurso anti-neoliberal, pelo qual afirma optar.
Os riscos não são poucos: risco de campanha pesada e suja do governo e do Partido Colorado, incluindo tentativa de fraude eleitoral; risco de Lugo depender muito dos partidos tradicionais e fazer um governo amarrado por excessivos compromissos, inclusive pelas excessivas reticências de setores dos movimentos sociais em apoiá-lo resolutamente. Mas os riscos fazem parte da possiblidade de terminar com a ditadura do Partido Colorado. Nunca as condições internas e externas foram tão favoráveis.
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