quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Justiça italiana pede prisão de 140 por Operação Condor


A Justiça italiana ditou 140 ordens de prisão contra pessoas que participaram da Operação Condor, realizada pelas ditaduras sul-americanas nos anos 70 para eliminar opositores, e iniciará nos próximos dias os procedimentos relativos a pedidos de extradição dos envolvidos. Da lista figuram o ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla, o almirante Emilio Eduardo Massera, e Juan María Bordaberry, ex-comandante da junta militar do Uruguai.


As ordens de detenção foram assinadas pelo juiz Luisann Figliola em resposta à solicitação do promotor Giancarlo Capaldo do tribunal de Roma.

As pessoas envolvidas são acusadas de diversos crimes, em função de sua posição pessoal, sobretudo "massacre, seqüestro e homicídio múltiplo agravado".

A investigação da justiça italiana começou no final dos anos '90, quando as famílias de alguns cidadãos sul-americanos de origem italiana entraram com ações judiciais depois do desaparecimento de seus membros.

Das 140 pessoas que constam da lista, algumas faleceram, como o ditador chileno Augusto Pinochet; já Néstor Jorge Fernández Troccoli, um uruguaio de 60 anos, ex-membro do serviço secreto da marinha de seu país, foi detido em Salerno (sul da Itália), onde vive há alguns anos. Ele será trasladado e interrogado nos próximos dias em Roma.

A Operação Condor

A "Operação Condor" foi aplicada nos anos 70 e 80 pelos regimes militares da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai para eliminar os oposicionistas.

A "Operação Condor", que deixou centenas de vítimas desaparecidas, nasceu durante a Primeira Reunião de Trabalho da Inteligência Nacional, realizada em Santiago, entre 25 de novembro e 1 de dezembro de 1975, segundo a documentação acumulada em investigações.

O incentivador foi o então coronel Manuel Contreras, fundador da DINA, a polícia secreta do regime do general Augusto Pinochet, mas o plano também contou com o apoio de agentes dos Estados Unidos.

"A Operação Condor representou um esforço cooperativo de inteligência e segurança entre muitos países do Cone Sul para combater o terrorismo e a subversão", assinalava um informe desarquivado pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos, no dia 22 de agosto de 1978.

O informe acrescentava que "o coronel Manuel Contreras, chefe da DINA, iniciou um programa de colaboração entre os serviços de inteligência de diferentes países da América do Sul, o qual batizou como Plano Condor".

"Há informação adicional de que a cooperação entre os países incluiria planos para assassinar subversivos, políticos e figuras proeminentes dentro dos limites do país", assinalava outro documento da CIA, datado de 16 de agosto de 1976.

Arquivos do terror

Um dos mais perseverantes investigadores da "Operação Condor" é o advogado paraguaio Martín Almada, que descobriu em seu país os chamados "Arquivos do Terror": dezenas de milhares de documentos que mostravam pela primeira vez, de forma oficial, as operações coordenadas entre as ditaduras do Cone Sul.

Durante uma visita a Santiago, em setembro de 2001, Almada afirmou que Pinochet e Contreras lançaram uma "guerra santa" para eliminar a oposição no Chile e em outros cinco países da região.

"Eles globalizaram o terrorismo e não se deram conta de que, 25 anos depois, viria a globalização da justiça através de Baltasar Garzón", resumiu Almada, fazendo alusão ao juiz espanhol que, em outubro de 1998, conseguiu que o general Pinochet fosse detido em Londres, desencadeando o processo de punição dos crimes cometidos pelo ex-ditador.

Segundo a agência de notícias EFE, a lista incluía 146 nomes, das quais seis já morreram. A lista inclui 61 cidadãos da Argentina, 32 do Uruguai, 22 do Chile, 13 do Brasil, sete da Bolívia, sete do Paraguai e quatro do Peru.

redação: Vermelho

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