domingo, 17 de fevereiro de 2008

ESTADOS UNIDOS FORNECIAM INFORMAÇÕES MAS TAMBÉM ESPIONAVAM O ALTO ESCALÃO DO GOVERNO DA COLÔMBIA

Blog do Azenha

WASHINGTON - Documentos publicados ontem pelo Arquivo de Segurança Nacional da Universidade George Washington demonstram que a força-tarefa organizada pelos Estados Unidos e a Colômbia para combater o narcotraficante Pablo Escobar teve ligação com o líder paramilitar Fidel Castaño, que chefiava Los Pepes (Perseguidos por Pablo Escobar), grupo responsável por atentados terroristas contra a família, bens e aliados de Escobar em Medellin.

A suspeita de que a força-tarefa, chamada Bloco de Busca, usou um braço paramilitar para promover guerra suja contra Pablo Escobar é antiga. Mas essa é a primeira vez que documentos oficiais americanos comprovam a ligação. Os documentos foram obtidos a partir do Freedom of Information Act. Essa lei garante a qualquer cidadão ou entidade solicitar à Justiça a divulgação de informações de governo, desde que não comprometam a segurança nacional. Se a Justiça decide que é do interesse público, o governo dá acesso aos documentos mas pode censurá-los parcialmente.

O documento mais importante divulgado ontem narra uma reunião de abril de 1993 em que o diretor da Polícia Nacional Colombiana, general Miguel Antonio Gómez Padilla, dá ordens a um subordinado para "manter contato com Fidel Castaño", o líder dos Los Pepes, com o objetivo de coletar informações. Fica claro, também, que durante todo o período de busca a Pablo Escobar os Estados Unidos espionavam o alto escalão do governo da Colômbia.

Escobar foi morto em 3 de dezembro de 1993. Durante os anos 80, ele moveu uma guerra contra o governo colombiano que incluiu explosões de carros bomba, assassinatos de juízes, policiais e jornalistas e até a derrubada de um avião. Com sua vasta fortuna, Escobar "importou" para a Colômbia especialistas que o ajudaram a promover a guerra, que visava especialmente evitar a aprovação de uma lei que permitiria a extradição de narcotraficantes para os Estados Unidos.

Los Pepes, por sua vez, também promoveram o terror - inclusive com a explosão de um carro-bomba diante do prédio onde morava a família de Pablo Escobar, em Medellin.

Diante da suspeita de colaboração entre o Bloco de Busca e Los Pepes, a própria CIA investigou a possibilidade de que informações repassadas à força-tarefa de Medellin eram compartilhadas com paramilitares e narcotraficantes aliados ao governo colombiano.

De acordo com os dados divulgados, a embaixada dos Estados Unidos em Bogotá suspeitava da cooperação entre Los Pepes e a força-tarefa desde fevereiro de 1993. Em mensagem enviada a Washington especulava que ataques terroristas contra Escobar seriam resultado da ação de policiais fora-da-lei "que querem fazer Escobar experimentar de seu próprio remédio".

Um relatório da CIA de março de 1993 informou que "grupos paramilitares não oficiais de várias origens e com vários motivos estão dando ajuda a Bogotá em seus esforços contra o narcotraficante Pablo Escobar e insurgentes radicais esquerdistas."

Na mesma época a CIA disse que o ministro da Defesa da Colômbia, Rafael Pardo, "estava preocupado com o fato de que a polícia está fornecendo informações a Los Pepes."

Um documento da Embaixada dos Estados Unidos em Bogotá, de agosto de 1993, revela que ao mesmo tempo em que o governo da Colômbia recebia informações americanas era espionado no mais alto escalão. Um telegrama revela, por exemplo, que o promotor colombiano Gustavo DeGreiff tinha obtido provas do envolvimento de integrantes da força-tarefa "com atividades criminosas e abusos dos direitos humanos cometidos por Los Pepes." Essa informação chegava aos Estados Unidos através de arapongas plantados no governo.

Em maio de 1994, cinco meses depois que a força-tarefa foi dissolvida, o Departamento de Estado já chamava Fidel Castaño de "superbandido das drogas", um dos criminosos "mais cruéis da Colômbia", que poderia se tornar um "novo Escobar", por ser mais feroz que este "e ter maior capacidade militar". Castaño, de acordo com o informe, contava com apoio dentro do Exército e da Polícia Nacional Colombiana.

Fidel Castaño sumiu nos anos 90, mas o irmão dele, Carlos Castaño, formou as Forças Unidas de Autodefesa da Colômbia (AUC), que disputavam o controle do narcotráfico ao mesmo tempo em que combatiam as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). As forças de segurança da Colômbia jamais pegaram pesado com as AUC. Elas foram oficialmente desmobilizadas, mas muitos líderes continuam envolvidos com o narcotráfico. Carlos Castaño foi morto pelo próprio irmão, Vicente, que segue no ramo.

Mais recentemente, no que ficou conhecido na Colômbia como Paragate, políticos ligados ao governo de Álvaro Uribe foram acusados de ter ligações com grupos paramilitares de extrema-direita, como as AUC. Eles teriam promovido a aprovação de leis que garantiram a desmobilização do grupo sem punição das lideranças, acusadas de narcotráfico, assassinatos, tortura e outros crimes.

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