Evo organiza nova ofensiva para derrotar a direita boliviana
Convencidos de que é necessário fazer uma leitura correta dos resultados do referendo de 10 de agosto, o presidente Evo Morales e os movimentos sociais sabem que a direita ferida de morte precisa ser totalmente derrotada para que não se recupere.
Duas semanas depois de ter conseguido a histórica vitória no referendo, com apoio de 68% de todo o país, Evo decidiu se apoiar mais na força do povo e em sua mobilização para enfrentar os planos desestabilizadores da ultra-direita. Assim, o governo vai em busca de ter uma nova Constituição, da reapropriação da autonomia e do estabelecimento de uma nova forma de distribuição dos recursos do Estado.
A determinação foi mais do que oportuna para responder a uma contra-ofensiva que a direita busca concretizar, depois de sua derrota na consulta popular, através de um plano de desestabilização que contém métodos violentos, econômicos e jurídicos que devem ser radicalizados a partir desta segunda-feira (25).
Sem partidos tradicionais, as classes dominantes, comandadas pelas burguesias agro-exportadoras, encontraram nos comitês cívicos e na mídia os instrumentos para resistir ao processo de mudanças e para golpear, nos planos político, físico e simbólico, o presidente Evo e seu projeto emancipador.
Os comitês cívicos de cinco estados da chamada "meia-lua" (Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e a cidade de Sucre) mudaram de tática: deixaram de lado as greves de fome, as paralisações de 24 horas e o bloqueio de estradas para executar um plano orientado a partir do domínio de instituições públicas, campos petroleiros e a suspensão do envio de carne e outros produtos para o ocidente boliviano.
A essas ações – até agora rechaçadas pela população – foram somados atos de violência realizados por grupos paramilitares, que nos últimos dias vitimaram dirigentes e militantes de movimentos sociais, além de policiais que cumpriam seu trabalho.
E é isso o que o governo deve parar. Os movimentos sociais exigiram no último sábado, na reunião que tiveram com o presidente Evo. Acordou-se que todas as forças políticas e sociais se unirão para aprofundar o processo de mudanças e derrotar a direita fascista que agoniza a cada dia.
Governo e movimentos sociais aprovaram a linha de avançar até a aprovação, a partir de um novo referendo, da nova Constituição Política do Estado e a recuperação da bandeira da autonomia que a direita utilizou muito bem em seus objetivos desestabilizadores.
A Constituição aprovada em dezembro passado pelo Assembléia Constituinte deixa para trás o Estado monocultural e reconhece o caráter plurinacional da formação social boliviana, amplia a democracia representativa com a incorporação de formas de democracia direta e comunitária, enfatiza o papel ativo do Estado na economia nacional, respeita a propriedade privada à medida que cumpra uma função econômico-social, proíbe a instalação de bases militares estrangeiras em território nacional e contém uma ampla quantidade de direitos sociais para crianças, jovens e anciãos como nunca antes ocorreu em 183 anos de história republicana.
O projeto de Constituição reconhece quatro tipos de autonomia: departamental (estadual), regional, indígena-camponês e municipal, características que deixam para trás a proposta elitista que quer apenas uma autonomia departamental.
O governo expressou seu desacordo com autonomia departamental a partir do critério de que esta reproduz o centralismo que tanto se critica, por burocratizar e impedir o acesso dos municípios e das comunidades indígenas aos recursos, além de lhes restringir a democracia.
Apoiados em sua vitória em 95 das 112 províncias do país, o governo e os movimentos sociais adotaram, além disso, a decisão de avançar até a eleição de conselheiros e subprefeitos em todo o país.
Nessa mesma linha, o governo e os movimentos sociais ratificaram no sábado que os recursos do Estado devem ser distribuídos com esses critérios, e que todos os níveis de governo devem aportar a sustentabilidade das medidas sociais postas em marcha em dois anos e meio de gestão, como a Renda Dignidade, que favorece a anciãos com o pagamento de 3.000 bolivianos ao ano.
Essa linha de trabalho, cujo mandato já se manifestou positivamente no referendo de 10 de agosto, se traduzirá em uma ofensiva em todos os cenários, desde os parlamentares até o social, e contará, sobretudo, com a unidade férrea que o presidente convocou para garantir a revolução boliviana.
Tradução: Fernando Damasceno,
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