quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Tráfico de pessoas não tem freio


Por Mona Alam


Israel continua sendo um dos destinos favoritos para o tráfico de mulheres destinadas ao comércio sexual e para a exploração de trabalhadores imigrantes de países em desenvolvimento, uma forma moderna de escravidão. O Departamento de Estado dos Estados Unidos, em seu informe 2007 sobre tráfico de pessoas, qualificou Israel como nação de nível 2 nesta matéria, isto é, que procura erradicar essa prática mas não atinge os padrões necessários. Os países de nível 1 são os que aplicaram com êxito medidas para controlar o tráfico de pessoas – a maioria das nações ocidentais está nessa categoria – e o nível 3 está reservado para os Estados que não encaram o assunto nem mesmo em seus aspectos mais básicos. Em 2006, Israel figurou na lista de vigilância do Departamento de Estado por tráfico de pessoas. “Essa posição está entre os níveis 2 e 3. os Estados Unidos aplicam sanções econômicas às nações que figuram no último nível, mas, como temos uma estreita relação com Washington, Israel apenas recebeu uma advertência”, disse à IPS Romm Lewkowicz, porta-voz do Hotline, um grupo que defende os direitos dos trabalhadores imigrantes. O governo israelense também foi severamente criticado nos Estados Unidos por sua política de vistos de trabalho, que na prática forçam os imigrantes dos países em desenvolvimento a permanecerem “atados” ao empregador que figura nesse documento. Se não for respeitada essa condição, o trabalhador é considerado imigrante ilegal e pode ser deportado sem mesmo seu caso passar por um tribunal. Isto incentivou alguns empresários a reter o salário dos empregados e inclusive extorqui-los, sabendo que sempre podem substituí-los sem serem castigados. Um dos casos mais notórios foi o chamado “turco por tanques”, em 2002. Israel recondicionou 200 tanques de guerra para a Turquia, uma transação no valor de US$ 687 milhões que representou uma das maiores exportações de armas deste país. Com parte do acordo, 800 cidadãos turcos receberam autorizações para trabalharem em Israel no setor da construção. A agência de emprego turca Yilmazlar participou da contratação. Um desses imigrantes, Shaheen Yelmaz, chegou a Israel em 2006 com a esperança de ajudar seu pai a pagar suas dividas. Haviam prometido a ele um bom emprego com salário de US$ 1.400 por mês, uma pequena fortuna pelos padrões da Turquia, onde o desemprego é alto. Seu sonho se transformou em pesadelo. Os patrões retiraram seu passaporte e o celular. Junto com outros compatriotas foi alojado em um local de condições lamentáveis. “Não podíamos sair à noite, apenas o fazíamos em nosso dia livre, e não nos pagaram durante três meses”, contou Yelmaz à IPS. A embaixada turca não interveio, por causa do acordo para a modernização dos tanques. Os imigrantes, em sua maioria com baixa instrução, foram forçados a assinar documentos em branco antes de deixar a Turquia, assegurando dessa forma sua total dependência a respeito da Yilmazlar. “Nosso empregador israelense nos disse que se não estávamos de acordo podíamos ir embora, mas que a polícia nos prenderia como imigrantes ilegais e nos deportaria”, acrescentou. Organizações de direitos humanos israelenses recorreram à justiça. A Suprema Corte determinou em 2006 que a política de vistos de trabalho era ilegal e ordenou ao Estado estabelecer uma alternativa, algo que ainda não ocorreu. Por fim, Yelmaz foi deportado para a Turquia, com uma dívida de US$ 1.500, e o contrato entre Israel e Yilmazlar foi renovado. “Embora a situação dos trabalhadores imigrantes continue sendo grave, houve alguns avanços a respeito do tráfico de mulheres para sua exploração sexual”, desde que os Estados Unidos colocaram Israel em sua lista de vigilância em 2006, disse Lewcowicz. Mas, surgiram novos problemas. “Israel já não é apenas um importador de prostituas, mas se converteu em exportador. No ano passado descobrimos que mulheres israelenses eram traficadas para a Grã-Bretanha e Irlanda para trabalharem na indústria do sexo”, acrescentou. Segundo a Força de Tarefas sobre Tráfico Humano, com sede em Jerusalém, cerca de mil das aproximadamente 10 mil prostitutas que há em Israel são menores de idade. Imigrantes da extinta União Soviética e de outros países que estavam em sua órbita, vinculados à máfia russa, manejam 20% do tráfico, disse Lewcowicz. O resto está em mãos de israelenses. A Fundação Jamestown, com sede em Washington, disse em um informe que muitas mulheres vítimas do tráfico são levadas através da península do Sinai por beduínos também envolvidos no contrabando de armas. Cada mulher vendida em Israel representa para os traficantes entre US$ 50 mil e 100 mil. Hotline disse que o Estado também ganha em conseqüência desta atividade. Os taxistas que transportam as prostitutas, os advogados que representam seus clientes, os donos de imóveis que alugam como bordeis, pagam imposto sobre os ganhos e esse dinheiro acaba nos cofres do Estado. Deve-se acrescentar os casos de corrupção de policiais, que aceitam subornos para permitir que esta atividade aconteça. (IPS/Envolverde)

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