terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Desmistificando Dan Brown...

O CÓDIGO DA VINCI, OU A DEFESA DO “SANGUE AZUL”

Fausto Brignol

Todos os que leram “O CÓDIGO DA VINCI”, de Dan Brown, devem ter ficado um pouco decepcionados com o final de típico “happy-end” norte-americano.

No fim, o mocinho fica com a mocinha e o mundo continua girando como sempre. Tudo está bem e podemos dormir tranqüilos.

Depois daquelas incríveis peripécias que duram quase 24 horas, percebe-se que, na verdade, nada foi revelado. Nada de novo. Nada que seja, comprovadamente, verdade.

Mas o que surpreende, de fato, é a incrível cara-de-pau com que o autor defende os privilégios da aristocracia e da nobreza.

Baseado na falsa e romanceada tese que Maria Madalena teria tido uma filha de Jesus e que essa filha teria dado origem à casa dos Merovíngios, de onde provieram os reis da França e, depois, de outras dinastias européias, Dan Brown defende, descaradamente, a sacralização da monarquia.

Para os milhões de leitores que leram e acreditaram nas informações contidas no livro foi passada uma mensagem subliminar de que a nobreza, a monarquia, é algo sagrado a ser preservado indefinidamente - mesmo nos países democráticos, mas com uma casa real sustentada pelos impostos cobrados ao povo.

O livro também é claramente sionista, na medida em que a filha de Jesus e Madalena seria descendente das casas de Judá e Benjamin, respectivamente, e, portanto, teria o direito ao trono assegurado.

Simples assim. A tese do Direito Divino ressuscitada em pleno séc. XXI.

É claro que o autor tenta encobrir essa tese através de um romance de muita ação, com múltiplas informações superpostas, colocadas de maneira a parecerem verdades incontestes.

As novas informações somente parecem “novas” pela forma de “thriller” com que foi escrito o romance.

Autores bem mais conceituados que Dan Brown, como Juan Atienza, em “O Legado Templário” e Umberto Eco em “O Pêndulo de Foucault” trataram de questões como Santo Graal, Templários, neopaganismo, etc., de uma maneira séria e desmistificadora.

Ao contrário de Dan Brown, que, em seu livro, coloca em destaque e relevo a burguesia e a monarquia como os únicos e legítimos detentores da verdade.

Devemos sempre ficar atentos quanto a esse tipo de literatura, porque o imperialismo cultural e a massificação não se fazem apenas através de revistas, jornais e mídia televisiva. E temos uma nova geração sedenta de novidades e disposta a aceitar qualquer "verdade" que se lhes imponha. Principalmente sob a forma de romance.

Quanto à “Santa Ceia”, de Leonardo Da Vinci... Se Maria Madalena é João, onde está o apóstolo João? Teria ido ao banheiro?

O escritor português Bernardo Sanchez da Motta faz uma crítica muito lúcida sobre "O Código Da Vinci". Leia aqui.


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