O ministro das relações exteriores de Israel, Avigdor Liberman, visitará o Brasil em julho. O anúncio foi feito ontem pelo chanceler Celso Amorim. Liberman é o líder do partido ultra-direitista Yisrael Beitenu (Israel é nosso lar), que prega abertamente a segregação dos árabes, entre outras barbaridades, e que tem no sionismo a sua base ideológica ao defender o caráter judaico de Israel como um país governado por judeus para judeus e não um país no qual a diversidade – base de qualquer democracia – seja cultivada.
“Como o Paquistão e a Arábia Saudita, Israel é um Estado cujo mundo mental é, em larga medida, limitado pela religião, pela raça e pela origem étnica. Israel é produto do nacionalismo estreito do século 19, um nacionalismo fechado e excludente, baseado na origem étnica e racial, em sangue e terra. Israel é um ‘Estado judeu’ e só é judeu quem nasça judeu ou converta-se conforme a lei judaica (Halakha)”, disse recentemente o jornalista israelense Uri Avnery, no artigo "On The Wrong Side" (aqui, em português). Para ele “o partido de Liberman, que em qualquer país normal seria identificado como partido fascista, cresce” na preferência dos israelenses, pois "Liberman fala como Mussolini, oferece a imagem de um Mussolini israelense, odeia árabes, é capaz de todas as brutalidades.”, explica o jornalista.
Avnery não esta sozinho nesta análise. Logo depois das eleições de fevereiro, Shulamit Aloni, 80 anos, veterana da guerra de 1948 (que levou à criação de Israel), fundadora do partido social democrata Meretz e ministra da Educação no governo de Itzhak Rabin disse disse à jornalista basileira Guila Flint, correspondente da BBC em Tel Aviv, que a força adquirida por Liberman e seu partido é um pesadelo. "O resultado das eleições me deixaram com raiva, medo e vergonha, ao ver que um fascista e racista como Liberman tem as chaves para a composição do novo governo. Em 1948, eu lutei para construir um país democrático, com igualdade de direitos para todos os cidadãos. É como um pesadelo para mim ver que um discurso fascista como o de Mussolini passa a ter tanta legitimidade no nosso mapa político".
Também entrevistado por Guila, o sociólogo Lev Grinberg, da Universidade Ben Gurion, afirmou que "Liberman baseou toda a sua campanha em sentimentos de medo e ódio aos árabes, e foi favorecido pelo clima de guerra que se criou em Israel durante a recente ofensiva à Faixa de Gaza. Como um fascista clássico, ele se aproveitou dos medos da população e incentivou o ódio".
Liberman representa uma tendência preocupante da opinião pública israelense, que tem adotado uma postura permissiva e até mesmo simpática aos discursos belicistas e racistas. Recentemente apontei este fato no artigo “É lícito aos israelenses apoiarem o racismo e a intolerância?”, no qual citei um relatório (de março de 2008) da ONG israelense Mossawa, que já destacava este fenômeno.
Além de acusar líderes políticos israelenses de criarem um clima de "legitimação ao racismo" contra os cidadãos árabes - que representam 20% da população do país – o relatório mostrava que 75% dos cidadãos judeus israelenses não estavam dispostos a morar no mesmo prédio com um vizinho árabe e que 61% deles não receberiam a visita de árabes em sua casa. O estudo indicava também que 55% dos entrevistados defendiam a separação entre judeus e árabes nos espaços de lazer e 69% dos estudantes secundários achavam que os árabes "não são inteligentes".
No documento são citados ministros e parlamentares que "baseiam sua força em posições de ódio e incitam ao racismo". O político mais citado é Avigdor Liberman.
E o que defende o ministro das Relações Exteriores de Israel?
Em suas próprias palavras: "Os árabes israelenses são um problema ainda maior do que os palestinos e a separação entre os dois povos deverá incluir também os árabes de Israel... por mim eles podem pegar a baklawa (doce árabe típico) deles e ir para o inferno".
Para Liberman, Israel deve "trocar" as aldeias árabes israelenses pelos assentamentos nos territórios ocupados, ou seja, as aldeias árabes passariam a fazer parte de um estado palestino e os assentamentos seriam anexados a Israel.
Importante dizer que os árabes israelenses a que se refere o ministro são cidadãos israelenses, da mesma forma que eram cidadãos alemães muitos dos judeus expulsos de suas casas por Hitler e enviados para o exílio forçado e para os campos da morte.
O jornalista Paulo Moreira Leite, no artigo “Ministro israelense tem ideias que lembram nazismo”, faz uma brilhante relação entre o que está ocorrendo em Israel e um passado tenebroso. “Em 1935, dois anos depois da ascensão de Hitler ao poder, foram aprovadas as primeiras leis de Nuremberg. Elas não criaram campos de concentração nem câmaras de gás, mas dividiam a população alemã em duas categorias. A dos cidadãos de ‘puro sangue alemão’, que tinham todos os seus direitos assegurados. Os outros, que não tinha a mesma origem, eram considerados ‘súditos do Estado’.”.
Quem é melhor, Liberman ou Ahmadinejad?
Diante de um currículo como este, seria interessante questionar aos que levantaram cartazes e publicaram artigos contra a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil, se não seria de bom tom fazer o mesmo agora, em relação à visita de Liberman.
A pergunta é apenas uma provocação, pois estes que condenaram a vinda de Ahmadinejad, costumam usar dois pesos e duas medidas e certamente encontrarão caminhos tortuosos para demonizar o iraniano e absolver o israelense. Mas, por mais que se tente, é tarefa hercúlea apontar diferenças éticas entre os dois.
Ahmadinejad preside um país onde os direitos humanos não são respeitados, onde minorias religiosas, homosexuais e mulheres são discriminadas. Lierberman integra um governo que não respeita os direitos humanos dos palestinos, que lhes nega o direito a um Estado e que prega a ampliação de assentamentos ilegais.
No entanto, fechar as portas ao debate é vantagem apenas para os que precisam maquiar a história para atingerem seus objetivos. O isolamento nunca foi uma boa estratégia para quem busca os fatos. Portanto, que venham os dois. E que nossos jornalistas sejam hábeis com as perguntas, que lhes dirijam questionamentos sobre assuntos que lhes são ingratos, e não se transformem em assessores de imprensa de seus entrevistados, como ocorreu com André Petry na edição da revista da Veja desta semana, em sua entrevista com Elie Wiesel.
“Como o Paquistão e a Arábia Saudita, Israel é um Estado cujo mundo mental é, em larga medida, limitado pela religião, pela raça e pela origem étnica. Israel é produto do nacionalismo estreito do século 19, um nacionalismo fechado e excludente, baseado na origem étnica e racial, em sangue e terra. Israel é um ‘Estado judeu’ e só é judeu quem nasça judeu ou converta-se conforme a lei judaica (Halakha)”, disse recentemente o jornalista israelense Uri Avnery, no artigo "On The Wrong Side" (aqui, em português). Para ele “o partido de Liberman, que em qualquer país normal seria identificado como partido fascista, cresce” na preferência dos israelenses, pois "Liberman fala como Mussolini, oferece a imagem de um Mussolini israelense, odeia árabes, é capaz de todas as brutalidades.”, explica o jornalista.
Avnery não esta sozinho nesta análise. Logo depois das eleições de fevereiro, Shulamit Aloni, 80 anos, veterana da guerra de 1948 (que levou à criação de Israel), fundadora do partido social democrata Meretz e ministra da Educação no governo de Itzhak Rabin disse disse à jornalista basileira Guila Flint, correspondente da BBC em Tel Aviv, que a força adquirida por Liberman e seu partido é um pesadelo. "O resultado das eleições me deixaram com raiva, medo e vergonha, ao ver que um fascista e racista como Liberman tem as chaves para a composição do novo governo. Em 1948, eu lutei para construir um país democrático, com igualdade de direitos para todos os cidadãos. É como um pesadelo para mim ver que um discurso fascista como o de Mussolini passa a ter tanta legitimidade no nosso mapa político".
Também entrevistado por Guila, o sociólogo Lev Grinberg, da Universidade Ben Gurion, afirmou que "Liberman baseou toda a sua campanha em sentimentos de medo e ódio aos árabes, e foi favorecido pelo clima de guerra que se criou em Israel durante a recente ofensiva à Faixa de Gaza. Como um fascista clássico, ele se aproveitou dos medos da população e incentivou o ódio".
Liberman representa uma tendência preocupante da opinião pública israelense, que tem adotado uma postura permissiva e até mesmo simpática aos discursos belicistas e racistas. Recentemente apontei este fato no artigo “É lícito aos israelenses apoiarem o racismo e a intolerância?”, no qual citei um relatório (de março de 2008) da ONG israelense Mossawa, que já destacava este fenômeno.
Além de acusar líderes políticos israelenses de criarem um clima de "legitimação ao racismo" contra os cidadãos árabes - que representam 20% da população do país – o relatório mostrava que 75% dos cidadãos judeus israelenses não estavam dispostos a morar no mesmo prédio com um vizinho árabe e que 61% deles não receberiam a visita de árabes em sua casa. O estudo indicava também que 55% dos entrevistados defendiam a separação entre judeus e árabes nos espaços de lazer e 69% dos estudantes secundários achavam que os árabes "não são inteligentes".
No documento são citados ministros e parlamentares que "baseiam sua força em posições de ódio e incitam ao racismo". O político mais citado é Avigdor Liberman.
E o que defende o ministro das Relações Exteriores de Israel?
Em suas próprias palavras: "Os árabes israelenses são um problema ainda maior do que os palestinos e a separação entre os dois povos deverá incluir também os árabes de Israel... por mim eles podem pegar a baklawa (doce árabe típico) deles e ir para o inferno".
Para Liberman, Israel deve "trocar" as aldeias árabes israelenses pelos assentamentos nos territórios ocupados, ou seja, as aldeias árabes passariam a fazer parte de um estado palestino e os assentamentos seriam anexados a Israel.
Importante dizer que os árabes israelenses a que se refere o ministro são cidadãos israelenses, da mesma forma que eram cidadãos alemães muitos dos judeus expulsos de suas casas por Hitler e enviados para o exílio forçado e para os campos da morte.
O jornalista Paulo Moreira Leite, no artigo “Ministro israelense tem ideias que lembram nazismo”, faz uma brilhante relação entre o que está ocorrendo em Israel e um passado tenebroso. “Em 1935, dois anos depois da ascensão de Hitler ao poder, foram aprovadas as primeiras leis de Nuremberg. Elas não criaram campos de concentração nem câmaras de gás, mas dividiam a população alemã em duas categorias. A dos cidadãos de ‘puro sangue alemão’, que tinham todos os seus direitos assegurados. Os outros, que não tinha a mesma origem, eram considerados ‘súditos do Estado’.”.
Quem é melhor, Liberman ou Ahmadinejad?
Diante de um currículo como este, seria interessante questionar aos que levantaram cartazes e publicaram artigos contra a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil, se não seria de bom tom fazer o mesmo agora, em relação à visita de Liberman.
A pergunta é apenas uma provocação, pois estes que condenaram a vinda de Ahmadinejad, costumam usar dois pesos e duas medidas e certamente encontrarão caminhos tortuosos para demonizar o iraniano e absolver o israelense. Mas, por mais que se tente, é tarefa hercúlea apontar diferenças éticas entre os dois.
Ahmadinejad preside um país onde os direitos humanos não são respeitados, onde minorias religiosas, homosexuais e mulheres são discriminadas. Lierberman integra um governo que não respeita os direitos humanos dos palestinos, que lhes nega o direito a um Estado e que prega a ampliação de assentamentos ilegais.
No entanto, fechar as portas ao debate é vantagem apenas para os que precisam maquiar a história para atingerem seus objetivos. O isolamento nunca foi uma boa estratégia para quem busca os fatos. Portanto, que venham os dois. E que nossos jornalistas sejam hábeis com as perguntas, que lhes dirijam questionamentos sobre assuntos que lhes são ingratos, e não se transformem em assessores de imprensa de seus entrevistados, como ocorreu com André Petry na edição da revista da Veja desta semana, em sua entrevista com Elie Wiesel.
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