segunda-feira, 22 de junho de 2009

Enquanto isso no Irã...

Persiste a tensão em Teerão
incentivada pelo Ocidente


Nos últimos dias não houve manifestações nas ruas de Teerão. A que tinha sido anunciada foi desconvocada após o discurso pronunciado pelo Ayatollah Ali Khamenei na Universidade.

Em diferentes bairros da capital foram, porém, registados actos de violência provocados por grupos bem organizados. Uma mesquita foi incendiada, lojas e carros destruídos e uma esquadra atacada a tiro.

O correspondente da BBC foi expulso, acusado de difusão intencional de notícias falsas e o presidente Ahmadinejah pediu aos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido que se abstenham de intervir nos assuntos internos do Irão responsabilizando-os por declarações e atitudes que visam a desestabilizar o país.

É óbvio que a sociedade iraniana está dividida. A contestação dos resultados eleitorais por Mir Hussein Mousavi e os outros candidatos derrotados não teria atingido a amplitude que assumiu em Teerão se um amplo segmento da população não fosse receptivo aos apelos ao protesto. A situação da mulher, no contexto da Revolução Islâmica, contribui, aliás para a má imagem do regime no exterior.

A dimensão do descontentamento popular, de difícil avaliação, foi entretanto apresentada no Ocidente, no âmbito de uma intensa campanha de manipulação e desinformação mediática, como prova de uma gigantesca fraude eleitoral que teria privado da vitória Mir Mousaid. Os números citados pela oposição e largamente difundidos pelos grandes medias dos EUA e da Europa, são, porém, fantasistas e não resistem a uma análise serena dos acontecimentos.

É significativo que um jornal como The Washington Post e a revista Time tenham reconhecido que mais milhão menos milhão, Ahmadinejah venceu a eleição por larga margem, pelo que o sentido dos resultados não foi afectado por fraudes. Mousaid perdeu inclusive nas províncias onde a sua etnia, a azeri (turca), é maioritária.

Um jornalista como o britânico Robert Fisk, que não esconde a sua aversão por Ahmadinejah, sublinha nas suas reportagens que os enviados ocidentais, com raríssimas excepções, desconhecem a história e a geografia de um país multinacional, sete vezes maior do que a Grã-Bretanha. Mas falam com arrogância do que sente e pretende um povo que desconhecem, e escrevem e prevêem o futuro sem sequer, segundo ele relata, terem saído dos hotéis de luxo da zona Norte de Teerão onde vive a grande burguesia iraniana que exige a repetição das eleições.

Merece, aliás, referência que nas três grandes cidades do Interior – Isphaan, Shiraz e Mashad –, todas com mais de dois milhões de habitantes, não há notícia nem de desfiles nem de protestos populares expressivos.

O Governo iraniano diz ter provas de iniciativas destabilizadoras desenvolvidas por organizações estrangeiras – nomeadamente a CIA – envolvidas em acções terroristas nas fronteiras e na capital. Jornais web estadunidenses têm a mesma opinião.

O Ayatollah Khamenei nas suas criticas à ingerência estrangeira, afirmou que a esperança dos EUA de promover no Irão uma «revolução de veludo», ou «laranja», etc., como as que tiveram êxito na ex-Checoslováquia, na Ucrânia e na Geórgia, é reveladora de um profundo desconhecimento da história milenar do Irão. As circunstâncias e a realidade social são outras.

Tudo indica que a tensão social se vai manter em Teerão, tal como as provocações que se poderão estender às fronteiras com o Iraque e o Afeganistão. Para o imperialismo, a recusa do país a submeter-se às suas exigências, nomeadamente no que se refere ao desenvolvimento da energia nuclear, justifica por si só, independentemente destas eleições, uma politica de hostilidade e cerco.

A ameaça de Mousavi de apelar a uma greve geral é esclarecedora, pelo seu carácter provocatório, da imprevisibilidade da evolução da conjuntura.

A situação existente é tão preocupante, com forças empenhadas em agravá-la através de incidentes potencialmente explosivos, que não se pode sequer excluir a possibilidade de uma provocação ou agressão militar contra o Irão, há muito exigida pelo Estado sionista de Israel. Enquanto o Presidente do BCE e alguns analistas se revelam apreensivos relativamente às implicações da tensão no Irão e sobre o Irão no agravamento da profunda crise financeira e económica mundial.


OS EDITORES DE ODIARIO.INFO

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