O fraseado não esconde a realidade: A estratégia imperialista e os métodos são imutáveis, com ou sem o bem-falante Barack Obama. O Equador não renovou o acordo da base militar de Manta? Obama impõe cinco bases à Colômbia, onde narcotraficante presidente Uribe não levanta ondas, nem sequer à imunidade criminal dos norte-americanos…
Antonio Albiñana* - www.odiario.info
«A Colômbia perderá soberania e converter-se-á numa base de operações, uma espécie de porta-aviões contra os países vizinhos.» Quem assim fala não é suspeito de anti-americanismo primário, é o senador Rafael Pardo, ex-ministro da Defesa colombiano e candidato do centro à sucessão do presidente Álvaro Uribe.
O plano dos EUA de instalar os seus militares em cinco pontos do território colombiano, com um máximo de 800 militares e 600 civis, criou um clima emocional que se propagou aos Estados vizinhos, sobretudo à Venezuela e ao Equador. As negociações, secretas, desenrolaram-se nos últimos meses nos EUA e o acordo já está alcançado, faltando apenas uma quinta ronda negocial em Bogitá.
Trata-se de substituir a base de Manta, no Equador, o mais importante centro de operações estadunidense na região depois da saída do Panamá, cujo prolongamento o presidente Rafael Correa recusou negociar. Principalmente, depois de se saber que foi em Manta que se montou e apoiou o bombardeamento colombiano de território equatoriano [ver www.odiario.info/articulo.php?p=651&more=1&c=1] para liquidar o dirigente das FARC Raul Reyes. A acção, em que morreram 27 pessoas entre elas um equatoriano, foram uma violação da soberania do Equador, condenada por toda a América Latina e teve como consequência o corte de relações entre a Colômbia e o Equador.
Uma zona de forte presença de guerrilheiros
As responsabilidades que estavam atribuídas a Manta, teoricamente para lutar contra o narcotráfico, vão ser transferidas para três bases militares na Colômbia: Malambo no Atlântico, Tolemaida na região de Tolima, e Larandia em Caquetá, uma zona de forte presença guerrilheira. Mais tarde prevê-se a instalação do Exército estadunidense noutros pontos da Colômbia.
Perante o escândalo suscitado, porta-vozes do Governo apressaram-se a afirmar que será só uma «ampliação» do acordo vigente com os EUA e que nas bases também haverá militares colombianos. A realidade é que as acções dos estadunidenses se ampliarão na luta contra o narcotráfico e o terrorismo. E do Pacífico até ao Caribe.
O Governo de Uribe tenta agora por todos os meios desmentir que seja uma transferência da base militar de Manta, o que foi unilateralmente anunciado pelo próprio embaixador estadunidense, William Bronfield, há algumas semanas. Bronfield foi o cérebro da operação militar dos EUA em Dezembro de 1989 no Panamá, quando os aviões norte-americanos arrasaram um bairro inteiro para levar o seu antigo aliado Noriega, à ciusta de pelo menos 2.000 mortos civis, entre eles o fotógrafo espanhol Juantxu Rodriguez.
O candidato preferido por Uribe para a sua sucessão, o ex-ministro Óscar Filipe Árias, com a alcunha de Uribito, disse há duas semanas que as novas ases estadunidenses se destinam «a defender os colombianos da vizinhança».
A cooperação pacífica dos EUA
Esta ofensiva de deslocação de efectivos, meios militares e tecnologia avançada para a Colômbia rompe com a dinâmica aberta pelo presidente Barack Obama, que nas suas primeiras intervenções tratou de abrir novos caminhos na América Latina, baseados na cooperação pacífica, e com acento nos problemas sociais, afastando-se do autoritarismo que participou na instalação de quase todas as ditaduras do continente.
Além disso, a instalação destas bases tornará inviável a iniciativa da UNASUR, a aliança regional liderada pelo Brasil para evitar situações de crise entre apíses vizinhos. OEquador e a Venezuela já se manifestaram contra a presença militar dos EUA na região.
Para o líder da aliança de esquerda Pólo Democrático, o jurista Carlos Gaviria, «é vergonhoso o ter-se chegado a um acordo, e devia ser objecto de um debate público. Estamos a converter-nos num país subordinado aos Estados Unidos».
Um capítulo do acordo que levanta muita indignação é a imposição dos EUA de que o seu pessoal goze de total imunidade perante a justiça colombiana. Há o precedente do Equador, que reclamou em vão contra o facto de mais de 300 norte-americanos que nunca puderam ser julgados por acusações de delitos diversos, incluindo roubos e homicídios. Na Colômbia houve inúmeros incidentes, incluindo tráfico de drogas, com estadunidenses que actuavam soba a fachada de «assessores civis», quando na realidade eram agentes secretos.
* António Albiñana é colaborador da Agência EFE
Este texto foi publicado no diário espanhol Público, de 16 de Julho de 2009
Tradução de José Paulo Gascão
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