O gerente- proprietário da Rádio Globo de Honduras, Alejandro Villatoro, colocou no site da emissora na internet duas impressionantes denúncias sobre a censura à imprensa a partir do golpe deste domingo (28). Dirigidos "à comunidade internacional, aos organismos internacionais de direitos humanos e à Corte Interamericana de Direitos Humanos", eles falam por si.
A Rádio Globo só conseguiu voltar ao ar "com uma série de condições, entre elas a de manter um perfil baixo". A programação pode ser acompanhada ao vivo – em http://www.radioglobohonduras.com –, para verificar o que significa o "perfil baixo".
Na tarde desta quarta-feira (1º), num programa com participação ao vivo dos ouvintes por telefone, o radialista cortou rapidamente a ligação de um hondurenho que começou a falar nos "golpistas".
O interlocutor seguinte, talvez advertido pelo insucesso do antecessor, preferiu falar em tese: "A burguesia não tem partido, não tem religião, a religião dela é o dinheiro".
O programa, um debate ao vivo, comentou, com as devidas cautelas, as manifestações a favor e contra o presidente Manuel Zelaya – que os hondurenhos costumam chamar simplesmente de Mel. Um dos debatedores observou, seobre o comício dos golpistas, que "essa gente tem muito dinheiro, normalmente manda os seus empregados".
O noticiário dá conta de que, "neste momento, há emissoras de rádio e televisão estão sendo resguardadas por efetivos policiais e militares". Informa também, com voz neutra, que o Parlamento acaba de "instalar o estado de sítio" e "suspender as garantias individuais". "Nós hondurenos estamos limitados no que se refere a comunicações", observa um comentarista.
As mensagens da Rádio Globo, "a emissora que se ouve porque diz a verdade", formam um interessante complemento com Imprensa hondurenha dá aulas de colaboracionismo tacanho, que o Vermelho publicou ontem: mostram o que acontece com quem não se dispõe a aplaudir o golpe. Veja a íntegra:
"À comunidade internacional e aos organismos internacionais de direitos humanos: denunciamos o seguinte:
Que, após os acontecimentos do último domingo, 28 de junho, nossa empresa, Rádio Globo, continua a ser objeto de represálias, inclusive a interrupção temporária de suas transmissões durante várias horas, desligando nossos transmissores. Depois, a rádio foi autorizada a voltar ao ar, mas com uma série de condições, entre elas a de manter um perfil baixo, o que consideramos humilhante e violador da liberdade de expressão. Também tiraram do ar por várias vezes o nosso site, www.radioglobohonduras.com, restaurado por nossos próprios meios.
A mesma situação acontece com redes noticiosas internacionais internacionais como a CNN em espanhol, cujas transmissões foram interrompidas em várias empresas de TV a cabo.
O gerente-proprietário da Rádio Globo, Alejandro Villatoro, deixa aqui o registro público de que as suas instruções aos jornalistas foi de se manterem neutros em todo este conflito, informando objetivamente, apesar ter sido capturado e sequestrado por militares durante várias horas do domingo, apesar de sua condição de deputado, sem ter cometido qualquer delito e em aberta violação de seus direitos constitucionais."
O segundo comunicado é ainda mais rico em informações:
"Senhores da Corte Interamericana de Direitos Humanos, esta mensagem leva afora minhas saudações a seguinte denúncia:
Como gerente da Rádio Globo, denuncio aos senhores que, após as ações de fato que depuseram o presidente Manuel Zelaya Rosales, iniciou-se uma campanha de intimidação contra os meios de comunicação independentes, entre eles esta emissora, que foi submetida a um atentado.
A partir das seis horas da manhã, quando iniciamos nosso trabalho, a sede da rádiol, situada na Avenida Morazan, foi militarizada. Depois de algumas negociações autorizaram nossa entrada.
Começamos nosso labor informativo, dentro dos parâmetros estabelecidos pelas normas legais ecomprometidos com a liberdade de expressão que nossa consciência nos dita.
Várias tentativas foram feitas pelos militares para entrar no edifício onde transmitíamos a Hondurase ao mundo o que realmente acontecia no país. Às seis da tarde, um comando militar, composto por cerca de sessenta elementos do exército, tomou as instalações físicas da rádio e tirou-a do ar. Os companheiros que se encontravam no estabelecimento (Alejandro Villatoro, proprietário, jornalistas Lidieth Diaz, Rony Martinez, operadores Franklin Mejia Villatoro e Orlando) foram objeto de ameaças de morte, espancamentos e intimidações. No caso de Alejandro Villatoro, que é deputado, sua condição não foi respeitada.
No caso de David Romero Ellner existia uma ordem de prisão contra ele, que conseguiu escapar lançando-se do terceiro andar do prédio que abriga a rádio (cerca de 25 metros de altura), quando fraturou uma clavícula e algumas costelas.
Franklin Mejia, operador, que é menor de idade, foi espancado em meio a gritos discriminatórios ('Preto filho de uma... vamos matá-lo, a menos que nos diga de onde estão transmitindo' e outras ofensas à sua condição humana).
Senhores: o objetivo de fundo de todo este ataque foi, e é, calar a única emissora de Honduras que transmitia os eventos tal como ocorreram. Atualmente, após negociações com os militares, a rádio reabriu suas operações porém sob uma série de condições que limitam a liberdade de expressão no país.
No âmbito deste quadro é que usamos para levar aos senhores esta denúncia formal, para que, com a autoridade que têm, procedam imediatamente a uma investigação do caso."
Fonte: http://www.radioglobohonduras.com
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