Resposta coletiva aos que reagiram no meu blog e por emails
Marilza de Melo Foucher
Recebi muitos e-mails reagindo à carta aberta escrita para a senadora Marina publicada em varios blogs no Brasil e no jornal Pagina 20 no Acre. Acho que não conheço a maioria dos que me escreveram, quem sabe já lhes encontrei nas viagens que fiz pelo Brasil de Norte ao Sul. Dai decedi de escrever uma resposta coletiva com copia para Marina. Não sei a posição política deles, nem tão pouca sei como eles analisam a decisão final de Marina. Ao meu ver ela cometeu um erro político fenomenal. Até entendo seu deslumbramento, alias quem não gosta de ser convidado(a) a ser Presidente do Brasil? O ser humano é vaidoso, mas quando ele consegue separar o interesse pessoal do coletivo ele ganha letra de nobreza!
Sou uma militante do desenvolvimento integrado, sustentável e solidário. Eu fui durante muitos anos responsável de projetos para a América Latina. Conheço a atuação de muitas ONGs e o trabalho político dos movimentos sociais.
Muitos integram a dimensão ecológica nos projetos de desenvolvimento, muitos estão ha muitos anos comprometidos com as mudanças estruturais ocorridos no Brasil. Muitas ONGs estão articuladas com outros atores locais, por exemplo, universidades, prefeituras, centros de pesquisas, desenvolvem projetos conjuntos. Um trabalho no qual os resultados se alcançam em longo prazo...
Infelizmente, existem muitos ambientalistas iluminados, que vivem de fazer lobbyng, recebem muita grana daqui da Europa de outros iluminados, estes não têm uma visão integrada do desenvolvimento e desprezam a ecologia política. São capazes de jejuar com a Marina, depois tomar o Santo Daime sem entender mesmo as dimensões espirituais de nossas culturas. O Gabeira defende a liberação da maconha, mas não discute sobre as causas da dependência. Essa mesma reflexão pode-se fazer sobre a globalização da economia, a banda FHC defendia ardorosamente a globalização da economia, ao ponto, de nos considerar como neobobos, e diziam que nós da esquerda, não entendíamos a maravilha que era a globalização dos mercados, todavia eles não entendiam e nem discutiam as causas da exclusão mundial. Vejam hoje o resultado! Os que destruíram o Estado hoje apelam à volta do Estado como regulador da economia!
Fora da simples questão ambiental, eu me pergunto se a maioria dos ambientalistas seria capaz de entender a dimensão política da causa dos excluídos? O desafio de quem trabalha pela inclusão social dos pobres? Reconheceriam a importância da educação popular como metodologia, que leva os excluídos a terem auto-estima, serem sujeitos e, em seguida serem atores de transformação, capazes de exercerem a cidadania política para mudar o Brasil?
Existem no Brasil muitas Ongs e movimentos sociais que atuam há anos lutam pela reforma agrária, reforma urbana, e agem em prol de um desenvolvimento integrado, sustentável e solidário. Apesar de serem próximos do PT ou petistas não se deixam instrumentalizar pelos poderes executivos, eles têm consciência do jogo de poder e exercem uma verdadeira correlação de forças para continuar exigindo do governo um verdadeiro plano de desenvolvimento muito dessas medidas foram postas em pratica pelo governo Lula, todavia o processo de mudança é mais lento do que se esperava, mas quem estar no terreno da ação, tem consciência de quem são seus verdadeiros inimigos que impedem um Brasil para todos! Sabem que a esquerda dividida não terá forças para vencer o lobbyng da direita e seus aliados. Já que dentro do campo aliado o embate da esquerda dentro do governo é difícil... Imagino o que será a próxima campanha! Marina poderá analisar o resultado dessa situaçao depois do desastre político! Lhe desejo boa sorte!
Os ambientalistas iluminados nunca irão se somar nessa luta de mais de 40 anos! A questão ambiental não pode ser isolada dos outros direitos. O direito que todo o cidadão de tenha água potável, rios não poluídos, floresta explorada racionalmente, escolas publicas de qualidade em todos os níveis de ensino, educação ambiental, educação cívica para que todos entendam que têm direitos e deveres face à Republica Brasileira, pagar os impostos corretamente, exigir uma distribuição equitável das riquezas da nação.
Eu fiz sempre a diferença entre os ambientalistas iluminados e os que vêem que a ecologia deve se integrar em qualquer plano ou projeto de desenvolvimento. Atuar com visão de processo é distinta, percebe-se como se interagem os ecossistemas e como a política se articula com os demais setores, não é mesmo? Na floresta vivem seres humanos e não humanos e devemos defender essa convivência. Todos nós necessitamos da mãe terra, de nossa pacha-mama, isto é inquestionável e não precisamos fazer dos ambientalistas nossos gurus! Todavia, vivemos em uma republica, onde a política exige clareza e as contradições devem ser exploradas, entendidas para podermos intervir na realidade e transforma-la. Dai não existe neutralidade política, você é de um campo ou de outro, esse discurso morno, que tornam a política híbrida defendida atualmente a corrente ambientalista, despolitiza a realidade. Marina no seu discurso em Rio Branco me pareceu adotar essa postura.
Se vocês podem observar, muitos desses que estão hoje com Marina, participaram do governo Collor, eles passam da esquerda para direita, trocam de capela e vigário sem problemas, agem assim porque não têm convicção política. Em geral dizem que a ecologia não é nem de esquerda e nem de direita, assim não atacam os verdadeiros problemas estruturais que provocam a exclusão de milhares de seres humanos.
Espero não ter sido confusa na distinção que tentei fazer entre ambientalistas puros e duros com os defensores do eco-desenvolvimento e da cidadania política do qual eu milito há 40 anos!
Com tristeza eu assisto a companheira Marina, a mulher guerreira que eu admiro, transformada em guru dos ambientalistas "iluminados", ( com todo meu respeito aos companheiros da ecologia politica) que o único objetivo é de se aproveitar da imagem positiva que ela usufrui nacionalmente e internacionalmente para tirar proveito político e trazer de volta os que leiloaram o Brasil e apregoavam o Estado Mínimo, privatizando o serviço publico no lugar de melhorar sua qualidade. O que fazer? Resta respeitar sua decisão.
Minha fraternura cabocla franco-brasileira
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