segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Le Monde: Obama constrangido a repensar estratégia afegã


Obama em Pittsburgh: problemas na volta para casa


Por Corine Lesnes, enviada especial do Le Monde a Pittsburgh (EUA)*








Em Pittsburgh, como em Nova York, o grande ausente desta semana foi o Afeganistão. E no entanto é o problema mais espinhoso entre os que aguardam o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em seu retorno da cúpula do G20, após uma jornada diplomática que ele julgou frutífera e concl;uiu com uma imagem de endurecimento contra o Irã.
O presidente dos EUA terá que decidir sobre uma nova remessa de tropas ao Afeganistão, depois que o comandante das forças da Otan, o general Stanley McChrystal, emviou ao Pentágono sua requisição formal de recursos adicionais, em homens e dinheiro.
O clima degradou-se a tal ponto em Washington que surgiram graves divergências entre civis e militares. Estes providenciaram o vazamento, para a imprensa, em 22 de setembro, de um documento confidencial – nada menos do que um relatório do própriio general McChrystal. Foi o primeiro vazamento em uma administração conhecida por não gostar de tagarelices.
Neste documentode 66 páginas, o general se queixa da falta de recursos e anuncia que a coalizão marcha para o "fracasso". Quase tão impactante como a palavra "fracasso" é o fato de que o relatório foi obtido por Bob Woodward, o jornalista que é a vedete do Washington Post, com muito boas fontes na administração Bush, o que causa arrepios na capital. Desde então, os meios políticos tentam identificar o autor do vazamento.
Alguns se inclinam para a hipótese de militares inquietos ao ver a relutância dos democratas no Congresso em enviar reforços. Outros apontam que o próprio governo está dividido. O vice-presidente, Joe Biden, seria a favor de um reforço da missão antiterrorismo, sem tentar proteger as populações locais.
A agitação começou em agosto, cinco meses depois de Obama apresentar a estratégia do novo governo, que Obama resume sistematicamente com uma aliteração:"Defeat, disrupt, dismantle" ("Derrotar, quebrar, desmantelar") a Al Qaeda. Uma mistura de operações contraguerrilha e também de reconstrução ("construção de uma nação").
O Congresso americano já tinha algumas dúvidas sobre o método. As eleições eleições vieram perturbar tudo. Mas para Bruce Riedel, que conduziu a reforma da doutrina de março, a abordagem atual ainda é a melhor: proteger a população, construindo instituições sólidas. Isso vai levar tempo, avalia ele, "e talvez mais recursos".
Segundo a imprensa, o general McChrystal previu um pedido de 10 mil a 30 mil soldados adicionais, agregados aos reforços dtemporários de 21 mil homens, decididos em março por Obama. Mas, agosto foi um mês mortífero e o apoio da opinião pública despencou. No lançamento da nova estratégia, em abril, 56% dos americanos tinham confiança na política afegã de Obama. Hoje, são apenas 43%, segundo uma sondagem CBS-New York Times. Quanto ao que fazer, 32% pensam que se deve reduzir as tropas, 29% aumentar e 27%, nada mudar.
Os democratas no Congresso pedem uma pausa. Carl Levin, senadoe de Michigan e presidente da Comissão de Defesa do Senado, pediu que os afegãos proporcionem um adestramento melhor antes de enviar tropas aocombate. Alguns aspectos do debate lembram o Iraque. A Casa Branca desenvolveu critérios para avaliar os progressos no país. Estes critérios foram enviadas ao Congresso. Entre eles estava a transparência nas eleições... As reticências dos democratas são embaraçosas para a Casa Branca no momento em que ela quer que seus parceiros da Otan aumentem sua contribuição.
Obama, que planejara ganha tempo tempo, à espera de que o imbróglio das eleições afegãs se resolvesse, pode ser forçado a decidir rapidamente uma nova estratégia, menos de seis meses depois da anterior. Domingo, McChrystal, um veterano comandante das Forças Especiais do Exército, especialista em operações militares e contras-insurgência, será oi entrevistado do programa Sixty Minutes. Nos trechos da entrevista já divulgados, ele disse que a situação é "pior" do que ele esperava encontrar quando chegou em Cabul.
Na sexta-feira, uma reunião nada usual teve lugar na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha. O general Mike Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto, convocou McChrystal e o general Petraeus, comandante do flanco sul, "para ter uma melhor compreensão sobre a solicitação de novas tropas", apresentada pelo comandante no Afeganistão.
Os republicanos não perderam tempo em tirar partido de um debate que divide os seus opositores. Eles acusam Obama de colocar o seu projeto de Reforma da Saúde na frente de qualquer coisa, até da segurança dos soldados americanos. Eles tentaram convidar o general McChrystal para falar no Congresso, mas os democratas se recusaram a realizar audiências enquanto o presidente Obama e o secretário da Defesa, Robert Gates, não decidirem o que vão fazer.
Fonte: Le Monde
Créditos: Patria Latina

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