Tania Marques
Em última instância, todos os presos são prisioneiros políticos, porque eles são reféns de um sistema sócio-político-econômico que captura a sua liberdade em nome do desejo de ‘ter’, de ‘possuir’: dinheiro, bens e poder; saúde, sexo e beleza. A mídia de esgoto está presente na maioria das casas do povo brasileiro, bombardeando, através de sua publicidade, muitos produtos de ‘marca’ ou ‘grife’ e associando-os a uma vida bela, tranquila, prazerosa e plena de ‘status’ social. Isso provoca no ser humano a ideia de valorização pessoal ou individual (elevação de sua autoestima) por meio do que ele consome e não pelo que ele é, enquanto humano, gerando nele cada vez mais ansiedade, a ansiedade do consumo. Perto disso, ou melhor, aliado a isso nós temos a propaganda ideológica ininterrupta, instigando-o a acreditar que todo esse planejamento intencional - que faz parte de uma construção histórica e cultural do homem - é algo ‘natural’, isto é, passando a impressão para ele de que tudo está assim e deve ficar do mesmo modo, perpetuado para sempre em sua vida; que assim sempre foi e sempre será, ou, em outras palavras, nunca nada poderá mudar.
Então, o bandido, ‘filhote’ do sistema, produto ‘selvagem’ dessa organização ‘burrocrática’, que se mostra ‘poderosa’ por meio de seus (des)governantes, através de uma ‘pseudodemocracia’ [pseudo, sim, porque quero ver quem tem a coragem de dizer que consegue ser feliz, sabendo que a maioria da população brasileira é excluída dos direitos de ter todas as suas necessidades básicas atendidas: alimentação adequada, educação (não pelo número de escolas, mas pela sua qualidade), saúde, cultura, transporte, lazer, entre outros itens)] fere, sequestra, enlouquece usando e traficando drogas, assassina seu irmão a sangue frio, sem o menor arrependimento ou sentimento de culpa, por ele ser uma vítima ‘insensível’ do abandono em que se encontra por parte do Estado e, na maioria das vezes, de sua família (abandono tanto econômico, físico quanto psicológico), rouba, estupra, quebra tudo em nome de si mesmo, de sua fantasia de ‘ascensão social’ ou mesmo pela sua própria sobrevivência.
Se o bandido é preso, ele vai para a cadeia classificado como um criminoso e enquadrado em um dos artigos do Código Penal Brasileiro, tais como: homicídio, latrocínio, sequestro, estupro, crime hediondo, formação de quadrilha etc. Mas, pelo ângulo em que estou analisando essa questão, este tipo de infrator, principalmente aquele que mata para roubar, tem de ser classificado como ‘prisioneiro político’, até mesmo por que a maioria de suas ações ocorre contra o Estado e contra o ‘estado de coisas’ em que ele se encontra, sugerindo revolta contra a sociedade e contra o sistema vigente.
Como todos os nossos atos são políticos, não vejo porque ter classificações específicas para cada um desses delitos, já que eles acabarão incidindo, com maior ou menor intensidade, na questão política, ou seja, as ações criminosas, que envolvem 'dinheiro' ou outra extorsão são reflexos, consequências, do sistema capitalista atrelado ao mau uso do poder por parte de uma minoria que elabora, executa e gere as leis de acordo com a ética e a ótica burguesas, excluindo os menos favorecidos dos seus direitos, mesmo que isso ocorra de forma sutil. Cabe ressaltar que não podemos deixar fora deste (con)texto os políticos. Os de ‘colarinho branco’ que efetuarem atos como formação de quadrilha, lavagem de dinheiro sujo, abuso de poder, recebimento ou doação de propinas, gasto do dinheiro público em viagens pessoais, em objetos ou imóveis para o seu próprio uso, transporte de divisas na cueca etc. também deverão ser encaixados nessa classificação, se presos forem, é claro! E, chega de ‘pizza’, gente!
http://matheuslaureano.wordpress.com/
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