Foto de arquivo da escritora alemã Herta Mueller que comparece a um
festival literáro em Praga. (Foto: Reuters/Der Standard/Andy Urban)
Deixando de lado pesos-pesados como o norte-americano Philip
Roth e o israelense Amos Oz, o prêmio Nobel de Literatura deste ano
ficou com a escritora de língua alemã e origem romena Hertha Müller, de
53 anos.
Autora de copiosa obra, sobretudo de contos e romances, Hertha
Müller nasceu na cidade de Nitzkydorf, na região de Banat, na Romênia.
Seus ascendentes eram alemães, e além do alemão falavam também o
húngaro.
A história pessoal de Hertha ilustra o complicado mapa das
perseguições na Europa. Seus ascendentes emigraram para aquela região
atraídos pela concessão de terras a colonos alemães na virada do século
XIX para o XX.
Lá se consituiu uma colônia de alemães, que cultivavam a própria
língua. Tornaram-se uma minoria, mas viram sua influência crescer
quando, durante a Segunda Guerra Mundial, a Romenia apoiou a Alemanha
nazista. Numa entrevista recente, a própria escritora reconheceu que
seu pai fora da SS, a polícia especial dos nazistas. Com o término da
guerra, a Romênia ficou na órbita soviética. Muitos dos alemães que
tinham emigrado, e seus descendentes, começaram a voltar para a
Alemanha.
Hertha permaneceu na Romênia até 1987, quando emigrou, com o marido,
para Berlim, onde mora até hoje. Seus inúmeros livros falam em geral da
vida de uma minoria, sob um regime que vêem como opressivo em três
dimensões: falta de liberdade, intolerância racial e cultural, e, não
menos importante, a opressão dos homens sobre as mulheres.
Esse é o mundo, por exemplo, de seu livro (traduzido para o inglês)
"A terra das ameixas verdes", narrado por uma estudante cuja colega de
quarto se suicida depois de ser violentada por soldados do exército. O
clima do livro é sufocante e cheio de imagens violentas, como a dos
trabalhadores de um matadouro que bebem o sangue dos animais que matam.
Essa imagem vampiresca espelha a do regime político liderado por
Nicolau Ceacescu, que acabou, em 1989, num banho de sangue de extrema
violência. Ao fim do livro a narradora, ao contrário de sua colega
suicida, decide fugir do país.
Em outro livro (esse traduzido no Brasil com o nome de O
compromisso) um oficial da polícia secreta persegue/assedia uma
trabalhadora de uma fábrica de roupas de um modo kafkeano, pois ela é
chamada seguidamente para ser interrogada em datas que para ela são
aleatórias e sobre acusações que lhe parecem despropositadas e sem nexo.
Hertha Müller já ganhou mais de 20 prêmios literários, e é
considerada uma das principais escritoras de língua alemã nascidas fora
de Alemanha. Na decisão, a Academia da Suécia que outorga os prêmios
Nobel destacou que em sua obra ela destaca "a paisagem dos errantes e
perseguidos", embora a maior parte das traduções jornalísticas para
outras línguas tenha usado o termo "despossuídos".
Como em outras ocasiões, não ficou de todo claro quais foram os
critérios do júri (que se sabe ser extenso) na outorga do prêmio, que
vale 1,4 milhão de dólares norte-americanos, mais de 2 milhões e meio
de reais. Hertha foi a 12a. mulher a receber o prêmio, que começou a
ser dado em 1901. Até agora nenhum escritor brasileiro recebeu o
prêmio, apesar de vários terem sido indicados, como os poetas João
Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar, e o único escritor de língua
portuguesa a recebe-lo foi José Saramago.
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