domingo, 10 de janeiro de 2010

Chiapas, México...

Libertados, os paramilitares voltam a Chiapas

12 anos do massacre da etnia tzotil, segue a impunidade, com o agravante de que os 30 paramilitares presos foram libertados, alguns deles assassinos confessos dos 45 tzotziles que rezavam em uma igreja.


Gloria Muñoz Ramírez
Desinformémonos
Acteal, Chiapas
Créditos: BrasilDeFato


chiapas

No dia 22 de dezembro de 2009, completam-se 12 anos do massacre em Acteal, comunidade dos Altos de Chiapas, da etnia tzotil. Mais um ano de impunidade, agora, com o agravante de que os 30 paramilitares que haviam sido presos foram libertados, alguns deles assassinos confessos dos 45 tzotziles (18 crianças, 22 mulheres e 6 homens) que estavam rezando em uma igreja.

É novembro, e, na comunidade, as crianças brincam no campo construído em cima do cemitério onde estão enterradas as vítimas. Acteal mudou sua fisionomia ao longo desses anos. O centro de toda comunidade está marcado pelo pesadelo do dia 22 de dezembro de 1997. A neblina nos Altos vai e vem. O ambiente frio como de costume, está carregado pela recente notícia da libertação de um segundo grupo de nove paramilitares que, assim como os 20 libertados em agosto deste ano, são responsáveis pela matança, segundo informações de Las Abeja, associação próxima à igreja à qual pertenciam todas as vítimas.

Sebastián Pérez Vázquez, presidente da mesa diretora da Associação Civil Las Abejas, afirma que os paramilitares continuam armados nas comunidades. “Atualmente tem muitas armas de paramilitares nas comunidades de Puebla, Yaxchemel, Los Chorros, Kanolal, La Esperanza e Acteal. As denúncias vêm sendo feitas há mais de 11 anos e a situação segue igual. Chiapas continua sendo um campo de batalha com mortos, desaparecidos, presos... As terras continuam sendo ocupadas por paramilitares. Estão dadas as condições para novas violências”.

Entrevistado na sede da associação, no centro do povoado, Pérez Vázquez alerta que, ao contrário do que preveem as indicações jurídicas que proíbem o retorno dos ex-detentos para a região, “ao menos dois deles já estão aqui”.

Mariano Luna Ruiz, sobrevivente do massacre, acrescenta: “Queremos a justiça, mas o governo não a faz. Nossa denúncia não é mentira, é a pura verdade. Sou testemunha disso, vimos àqueles que nos mataram. Mataram minha esposa, Juana Pérez Pérez, meu filho, meu cunhado, minha irmã e meus sobrinhos. Ficamos sabendo que já libertaram 29 pessoas e não queremos que nenhuma delas retorne aqui para a comunidade. Sabemos que foram eles que as mataram, e isso ainda me causa muita dor, mesmo depois de 12 anos. Não vamos parar de denunciar e de falar... que culpa tinha minha mulher?”.

María Vázquez Gómez, outra testemunha e sobrevivente, protesta: “Foram mortos minha mãe, meus irmãos e sobrinhos. São meus irmãos e companheiros que estão mortos. Estamos muito incomodados com o fato de os paramilitares terem sido libertados. Ainda hoje nos dói bastante, ficamos indignados quando soubemos que a Suprema Corte os libertaria... Estivemos lá e não nos levaram em consideração. Não voltaremos a ver nossos mortos, mas os familiares dos paramilitares, sim, voltarão a encontrá-los”.

Sete franguinhos para cada família
O líder da Las Abejas destaca que a atual estratégia do governo de Chiapas é dividir as comunidades. “Há menos de um mês vieram aqui pessoas do governo para nos oferecer bicicletas. Queriam entrar aqui para fazer seu palanque e queriam trazer uma Virgem de Guadalupe para Las Abejas. Aqui não estávamos sabendo de nada e recusamos a entrega. A esposa do governador veio para entregar sete franguinhos para cada família. Isso é uma clara provocação para dividir as comunidades. Agora mesmo, enquanto conversamos, a esposa do governador está aqui perto entregando coisas. Como é possível acreditar que vamos transformar a justiça com franguinhos?”, questiona, indignado, Pérez Vázquez.

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