Libertados, os paramilitares voltam a Chiapas
12 anos do massacre da
etnia tzotil, segue a impunidade, com o agravante de que os 30
paramilitares presos foram libertados, alguns deles assassinos
confessos dos 45 tzotziles que rezavam em uma igreja.
Gloria Muñoz Ramírez
Desinformémonos
Acteal, Chiapas
No
dia 22 de dezembro de 2009, completam-se 12 anos do massacre em Acteal,
comunidade dos Altos de Chiapas, da etnia tzotil. Mais um ano de
impunidade, agora, com o agravante de que os 30 paramilitares que
haviam sido presos foram libertados, alguns deles assassinos confessos
dos 45 tzotziles (18 crianças, 22 mulheres e 6 homens) que estavam
rezando em uma igreja.
É
novembro, e, na comunidade, as crianças brincam no campo construído em
cima do cemitério onde estão enterradas as vítimas. Acteal mudou sua
fisionomia ao longo desses anos. O centro de toda comunidade está
marcado pelo pesadelo do dia 22 de dezembro de 1997. A neblina nos
Altos vai e vem. O ambiente frio como de costume, está carregado pela
recente notícia da libertação de um segundo grupo de nove paramilitares
que, assim como os 20 libertados em agosto deste ano, são responsáveis
pela matança, segundo informações de Las Abeja, associação próxima à
igreja à qual pertenciam todas as vítimas.
Sebastián
Pérez Vázquez, presidente da mesa diretora da Associação Civil Las
Abejas, afirma que os paramilitares continuam armados nas comunidades.
“Atualmente tem muitas armas de paramilitares nas comunidades de
Puebla, Yaxchemel, Los Chorros, Kanolal, La Esperanza e Acteal. As
denúncias vêm sendo feitas há mais de 11 anos e a situação segue igual.
Chiapas continua sendo um campo de batalha com mortos, desaparecidos,
presos... As terras continuam sendo ocupadas por paramilitares. Estão
dadas as condições para novas violências”.
Entrevistado
na sede da associação, no centro do povoado, Pérez Vázquez alerta que,
ao contrário do que preveem as indicações jurídicas que proíbem o
retorno dos ex-detentos para a região, “ao menos dois deles já estão
aqui”.
Mariano Luna
Ruiz, sobrevivente do massacre, acrescenta: “Queremos a justiça, mas o
governo não a faz. Nossa denúncia não é mentira, é a pura verdade. Sou
testemunha disso, vimos àqueles que nos mataram. Mataram minha esposa,
Juana Pérez Pérez, meu filho, meu cunhado, minha irmã e meus sobrinhos.
Ficamos sabendo que já libertaram 29 pessoas e não queremos que nenhuma
delas retorne aqui para a comunidade. Sabemos que foram eles que as
mataram, e isso ainda me causa muita dor, mesmo depois de 12 anos. Não
vamos parar de denunciar e de falar... que culpa tinha minha mulher?”.
María
Vázquez Gómez, outra testemunha e sobrevivente, protesta: “Foram mortos
minha mãe, meus irmãos e sobrinhos. São meus irmãos e companheiros que
estão mortos. Estamos muito incomodados com o fato de os paramilitares
terem sido libertados. Ainda hoje nos dói bastante, ficamos indignados
quando soubemos que a Suprema Corte os libertaria... Estivemos lá e não
nos levaram em consideração. Não voltaremos a ver nossos mortos, mas os
familiares dos paramilitares, sim, voltarão a encontrá-los”.
Sete franguinhos para cada família
O
líder da Las Abejas destaca que a atual estratégia do governo de
Chiapas é dividir as comunidades. “Há menos de um mês vieram aqui
pessoas do governo para nos oferecer bicicletas. Queriam entrar aqui
para fazer seu palanque e queriam trazer uma Virgem de Guadalupe para
Las Abejas. Aqui não estávamos sabendo de nada e recusamos a entrega. A
esposa do governador veio para entregar sete franguinhos para cada
família. Isso é uma clara provocação para dividir as comunidades. Agora
mesmo, enquanto conversamos, a esposa do governador está aqui perto
entregando coisas. Como é possível acreditar que vamos transformar a
justiça com franguinhos?”, questiona, indignado, Pérez Vázquez.
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