Notadamente
nos últimos dois anos, vêm ocorrendo tentativas esparsas de se
organizar minimamente a mídia “alternativa”, o que seja ela, a
Blogosfera , sites jornalísticos e algumas revistas, de menor tiragem e
de poucos recursos, ditos "de esquerda", o que inclui a Carta Capital,
a Caros Amigos, a Fórum e a Revista do Brasil, entre o que conta.
A
dificuldade para se lograr tal feito explica o fato de o Brasil ter
essa situação esdrúxula de só existirem grandes meios de comunicação de
direita. Por que não podemos ter grandes jornais de esquerda como na
França, na Itália ou nos Estados Unidos? Na França há o Libération ou
L’Humanité, na Itália, L’Unità, ligado ao ex-Partido Comunista, e o
independente Il Manifesto; nos Estados Unidos, há o socialista The
Nation e, na Grã-Bretanha, The Independent.
Mas
e no Brasil, o que temos? Folha, Globo, Estadão, Correio Brasiliense,
Jornal do Brasil, Zero Hora... E por aí vai. Televisões? Todas de
direita. Rádios e tevês? Entre as que têm grande alcance, todas de
direita. Sobram à esquerda as revistas supra-mencionadas e os sites e
blogs, e essa é a mídia alternativa que se pretende organizar.
Aí
vem a questão: organizar como? Já surgiu a idéia de um portal de
internet, mas ninguém vai querer abrir mão de seu vôo solo para
escrever de graça, com obrigação a cumprir. É diferente de fazer um
blog, onde você decide o que e quando vai publicar sem ter que
respeitar prazos e quaisquer outras imposições que um veículo como um
portal de internet exigiria.
Como
se não bastasse essa dificuldade, não há dinheiro. Ninguém constrói
hoje um portal de internet sem muito, muito dinheiro. Um jornalista da
Record me disse que o recém-criado portal de Internet R7, da Igreja
Universal, conta com uma redação de uma centena e meia de jornalistas e
recursos ilimitados para produzir conteúdo. Estamos falando, pois, de
milhões de reais.
Outro
dia li acho que foi o blogueiro Ricardo Kotscho dizendo que o Brasil
tem mais “colunas” do que a Grécia antiga, pois estamos confinados a
opinar e opinar, ou reproduzir conteúdo dos grandes veículos. Por falta
de dinheiro.
Quando
se fala em “organizar”, o sentido é ao pé da letra. Formar uma
organização nacional dos veículos que, por conta de sua linha
ideológica (e este é o fato crucial), sofrem boicote de um empresariado
que acredita que comunistas comem criancinhas, e que é aquele que
poderia investir em uma fatia do mercado para jornalismo totalmente
desatendida no Brasil.
Diante
disso tudo, nesta quinta-feira estive reunido com o “Publisher” de um
dos mais conhecidos e respeitados veículos da mídia “alternativa”,
alguém que não recebe nome aqui porque não gosta de aparecer. Essa
pessoa se propõe a encabeçar os esforços para se criar uma associação
nacional desses veículos, entre os quais estaria este blog. Trata-se de
uma tentativa de avançar até onde for possível.
Estamos
vivendo um momento complicado, os que nadam contra a corrente da falta
de recursos para fazer jornalismo cidadão, ou seja, sem lucrar nada. O
ano eleitoral e a possibilidade de continuar fora do poder enlouqueceu
a direita, que começa a adotar um nível de radicalização com ameaças de
todo tipo aos que já começam a incomodar mesmo trabalhando de forma
artesanal e sem recursos financeiros.
Fontes
de financiamento, apoio jurídico, venda de espaços para publicidade,
entre outros, seriam preocupação dessa associação. Ela teria força e
representatividade, pois esses milhares de leitores deste, daquele e
daquele outro blog, site ou pequena revista, juntos constituiriam um
grande público.
Tenho
dado minha contribuição para a integração da mídia “alternativa” na
medida do possível. Em breve, colocarei outro anúncio gratuito neste
blog para outra importante revista. Muitos dos sites e blogs “linkados”
aqui dizem que o Cidadania lhes remeteu milhares de leitores. E há a
militância política na ONG Movimento dos Sem Mídia e o comprometimento
com este espaço que já nem me pertence mais.
Se
puder contribuir também para essa associação, contribuirei. Acho que o
Brasil precisa ter pluralidade no espectro ideológico de sua imprensa.
Essa situação de só a direita poder falar para muitos de uma só vez
precisa mudar, e só mudará se cada blogueiro, se cada editor de site ou
revista de esquerda se dispuser a colaborar.
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