Por Rafael Pirrho, em Joanesburgo
Antes que se coloque tudo no mesmo saco, é preciso dizer que o ataque à delegação de Togo,
em Angola, não tem chance de se repetir na Copa do Mundo. A África do
Sul possui um leque de problemas sérios, incluindo a violência urbana,
mas entre eles não estão grupos terroristas ou separatistas. Além
disso, aqui há mais estrutura e experiência em grandes eventos, ao
contrário de Angola.
O problema é explicar isso àqueles que já se acostumaram a ver os 53
países africanos como um só. Se há crise em um deles, é comum que todos
recebam o mesmo rótulo. Por isso, não há como negar que, embora esta
seja uma análise equivocada, o que aconteceu em Angola respinga na Copa
da África do Sul.
Mas a barbárie mancha, sobretudo, a imagem de crescimento que Angola
tenta construir. O país é, ao lado da Nigéria, o maior exportador de
petróleo da África, mas engatinha em questões básicas como segurança e
infraestrutura. Tem grandes riquezas naturais, mas ainda sofre para
controlar seu próprio território.
Cabinda, local do atentado contra a seleção togolesa, é uma reunião
de todas essas características. De lá saem cerca de 80% da larga
exportação de petróleo angolano, mas, por isso mesmo, esta é uma região
instável, repleta de interesses econômicos. Ao colocar a cidade
(homônima da província) como sede da Copa Africana, Angola queria
mostrar que a situação por lá estava sob controle. Apostou alto e
perdeu.
Perderam também os milhões de angolanos que esperavam com ansiedade
por esta Copa Africana. Nas últimas semanas, uma enxurrada de
propagandas na TV mostravam como o país já respirava o torneio. Angola
convidou Pelé e Eusébio, festejou as presenças de Drogba e Eto’o,
sonhou com um inédito título continental, mas acabou atingida em cheio
pelos tiros em Cabinda. Os terroristas conseguiram acertar o alvo ao
exporem ao mundo as fragilidades do país.
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