Oligarquias contra Chávez
Mário Augusto Jakobskind, no Direto da Redação
A
mídia conservadora brasileira e latino-americana está fazendo o
possível e o impossível para que a previsão da revista Newsweek se
confirme. A publicação estadunidense, deixando de lado a função
jornalística, somou-se ao desejo de grande parte da oligarquia das
Américas de que o governo Hugo Chávez seja derrubado e previu a eclosão
de um golpe militar no país sul-americano.
A
TV Globo não fez por menos e convocou um “consultor político”, um tal
de Alexandre Barros, para criticar o “silêncio do governo brasileiro”
em relação aos acontecimentos na Venezuela e ao final deixou claro que
“o regime deveria ser derrubado”. E os editores ainda têm coragem de
afirmar que fazem jornalismo imparcial.
A
gritaria da mídia conservadora, acompanhada de uma nota do Departamento
de Estado norte-americano de “preocupação com os acontecimentos na
Venezuela”, deveu-se à suspensão temporária de seis emissoras de TV a
cabo, uma delas a RCTV.
A
manipulação da informação começou com a edição do noticiário que dizia
que Chávez fechou os canais de televisão que se recusaram a transmitir
os pronunciamentos do presidente venezuelano. Trata-se de uma meia
verdade, as emissoras foram suspensas temporariamente até que
demonstrassem que estavam seguindo a legislação midiática aprovada pelo
Congresso. Nada ilegal, portanto, como o noticiário induz. Em poucos
dias, cinco dos canais a cabo, a TV Chile, a American Network, a
Ritmoson, a Sport Plus e a Momentum entregaram a documentação exigida
pela Comissão Nacional de Telecomunicações comprovando que são canais
internacionais, o que permite restabelecer as transmissões. Se a RCTV a
cabo não fizer o mesmo continuará suspensa.
A
oposição, que em setembro vai disputar os votos para a eleição
parlamentar, colocou nas ruas para protestar estudantes de algumas
escolas particulares. Fazem barulho, porque as suas manifestações
contam com todo o apoio de um setor da mídia conservadora que considera
Chávez o diabo.
Os
jornais e as agências de notícias não informaram que no dia 21 de
janeiro último o presidente da Federação de Câmaras e Associações de
Comércio e Produção da Venezuela, a FEDECÁMARAS, Noel Álvarez declarou
em uma entrevista na RCTV que a “solução militar” é a única para a
saída de Chávez. E isso com o acompanhamento entusiasmado do jornalista
Miguel Ángel Rodriguez que o entrevistava.
No
atual momento, a revolução bolivariana aprofunda o projeto socialista,
ou seja, caminha para a mudança do modo de produção, o que não é
admitido em hipótese alguma pelo conservadorismo dos mais diversos
rincões das Américas. Os jornais brasileiros escrevem diariamente
editoriais sugerindo a derrubada de Chávez e um posicionamento do
governo Lula no esquema golpista capitaneado pelo Departamento de
Estado norte-americano.
Mas,
ao mesmo tempo em que ocorriam esses fatos, no Haiti a Sociedade
Interamericana de Imprensa, a SIP, ignorava a denúncia da Federação de
Jornalistas Latino-Americanos (FELAP) sobre o “atropelo contra o
trabalho jornalístico no Haiti por parte das forças de ocupação
estadunidenses”. A nota de protesto, não divulgada no Brasil, é
assinada pelo presidente da entidade, jornalista Juan Carlos Camaño.
Ele coloca questões importantes em pauta. Uma delas, o estabelecimento
de limitações no trabalho jornalístico que levam a ocultar o real
procedimento dos efetivos enviados pelo Pentágono e Casa Branca, que
chegam a uns 15 mil soldados. Como se os haitianos precisassem mais de
militares norte-americanos do que de médicos.
No
mais, as forças conservadoras latino-americanas ganharam um aliado de
peso: o presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, a maior fortuna
do país, que trará com ele figuras de proa do regime ditatorial que
imperou no Chile de setembro de 1973 a 1989. Piñera se elegeu porque a
Concertación se esgotou. No plano econômico tudo continuará como
manteve a aliança de centro esquerda durante 20 anos, com o acréscimo
da privatização, desejo já anunciado por Piñera, de parte da estatal de
cobre, mas no plano externo, o dono da Lan Chile e controlador do
Colo-Colo, o clube de futebol mais popular do país, vai se somar ao
bloco de direita latino-americana pró-EUA encabeçado por Álvaro Uribe.
Piñera
já deu uma pequena mostra do que vem por aí em matéria de política
externa chilena ao criticar gratuitamente Hugo Chávez em sua primeira
entrevista depois de eleito. Ele veio reforçar a campanha do
conservadorismo latino-americano contra a opção socialista que leva
adiante o governo da República Bolivariana de Venezuela. É por aí que
toca a banda das oligarquias furiosas com as mudanças que estão a
ocorrer no continente latino-americano.
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