O Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o Brasil |
Daniel Chutorianscy - Correio da Cidadania | |
O Acidente Vascular Cerebral no Brasil não é causa grave para Saúde Pública, e sim Segurança Nacional.
No Brasil, morrem por ano 250.000 pessoas de Acidente Vascular Cerebral
(AVC) - ou "derrame". Quem sabia isso? E ainda mais, milhões de
brasileiros ficam seqüelados, tornando-se "invisíveis" para a
sociedade. Ninguém sabe, ninguém viu....
É a maior causa de mortes no país, superando infartos, câncer,
acidentes de trânsito. Esses dados são fornecidos pelo canal oficial de
informações do governo, a TV Globo (novembro 2009, "Bom Dia Brasil").
Talvez seja muito mais. Quem sabe?
A cifra de 250.000 é um número assustador, corresponde ao tamanho das
guerras e tragédias como furações ou "tsunamis". E ninguém sabe nada
disso... Perguntamos: como é que pode, nenhuma informação ou prevenção?
Para os governos atuais ou do passado, trata-se do fenômeno da
"invisibilidade", não vê, não existe, não toma nenhuma medida e deixa
rolar.
Certamente existe uma vinculação imediata do AVC com as indústrias de
fumo, álcool, drogas (lícitas ou ilícitas), alimentação (o Brasil é o
maior consumidor mundial de agrotóxicos, o transgênico tomou conta do
mercado do consumidor brasileiro), baixíssimos salários, hipertensão,
diabetes e o "tigre nosso de cada dia" que é o estresse de enfrentar
essa realidade alienadamente, uma espécie de "AVCerização" social. Um
sistema de saúde (saúde?) moribundo, com a mídia propagando aos quatro
ventos o consumo de bens pouco duráveis, repetindo a "invisibilidade"
com o mesmo bordão: "não vê, não existe... e deixa rolar". A doença não
traz lucros institucionais.
O acidente vascular cerebral é uma interrupção do circuito cerebral.
Pode ser de dois tipos: isquêmico (85% dos casos) e hemorrágico (15%
dos casos). Saiba você que até quatro horas após um incidente de AVC
isquêmico, pode-se usar medicamento específico (o trombolitico
alteplase), cuja performance é de 50% de melhoras, não deixando
seqüelas.
Tal medicamento existe no Brasil, aprovado seu uso em protocolos do
Ministério da Saúde. Você sabia? Não. É somente usado em alguns poucos
hospitais particulares, a preço muito alto.
Milhares de vidas podem ser salvas, milhares de pessoas podem dispensar
a "invisibilidade ou AVCerização social", mas a que preço?
Investir na doença ou na saúde? A opção pela saúde implica em remover a
"AVCerização social" e começar a nos mexer. "Ninguém quer adoecer ou
morrer", "ter saúde é o principal".
Forcemos, já que é nosso direito, as campanhas nacionais de informação
e prevenção, inclusive o diagnóstico rápido, os hospitais do SUS e
conveniados, bem como os particulares, a ter o medicamento adequado;
organizemos grupos nas unidades de saúde de pacientes avecerizados e
seus familiares, repetindo o modelo dos grupos de hipertensos,
diabéticos etc.; revisemos os critérios de aposentadoria para pacientes
com AVC; forcemos o governo e o Ministério da Saúde a "verem" o que não
querem "ver".
Temos certeza absoluta de que, quando conseguirmos detonar essa
campanha, o país inteiro cobrará as medidas, em vez do "avecê social",
teremos um verdadeiro "pulando a cerca" de saúde, cidadania,
solidariedade e justiça. "Pular a cerca" é dar visibilidade, não é a
sacanagem habitual, aquela do fenômeno da invisibilidade "não vê, não
existe...".
Daniel Chutorianscy é médico, teve um AVC cerca de um ano atrás, não se
manteve "invisível", voltou a trabalhar com algumas seqüelas, não fez
uso, lamentavelmente, do alteplase, fundou o Grupo AVC-PULANDO A CERCA
em agosto de 2009, que, neste pequeno período de tempo, continuou
brigando pela Saúde, e "pulando a cerca" pela visibilidade, pela
justiça e contra a "avecerização" social. Que o AVC, ou derrame, não
mais seja um "derrame" de alienações e engodos. Exigimos Saúde,
Educação, Justiça como instâncias primeiras.
Daniel Chutorianscy é médico. CRM: 52-27646-7
E-mail:
trenzinhocaipira@vnet.com.br
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