Durante a visita de Hillary Clinton “deputados
do PT, em resposta à clara intervenção de Hilary em assuntos internos
do Brasil, questionaram a miséria nos EUA, a falta de atendimento médico
a mais de 40 milhões de cidadãos norte-americanos, as intervenções
militares em países do Oriente Médio e no Afeganistão, a morte de civis
em flagrante violação aos direitos humanos, a prisão de Guantánamo e
outros pontos, como o eixo EUA/Israel”.
A senhora Clinton não gostou. É natural.
Laerte Braga
A secretária
de Estado do governo dos Estados Unidos reuniu-se com senadores e
deputados brasileiros para discutir temas como o Irã, o reconhecimento
do governo golpista de Honduras, as propostas do governo Obama para a
América Latina e a velha cantilena que o Brasil é importante parceiro
dos EUA na preservação da democracia na América Latina.
Hilary Clinton está no Brasil para tentar atenuar o impacto das
posições do governo Lula sobre temas como esses que discutiu a portas
fechadas com parlamentares no gabinete do presidente do Senado, José
Sarney.
Os norte-americanos têm consciência que, a despeito do envolvimento
de várias agências daquele país no processo eleitoral de outubro (a
eleição do futuro presidente, entre outras), em franco apoio a
candidatura José Collor Arruda Serra, o presidente Lula tem chances
concretas de eleger sua candidata, a ministra Dilma Roussef. Essa
perspectiva contraria interesses de Obama que pretende ver retomada a
agenda do governo de FHC.
A privatização de empresas como a PETROBRAS, o BANCO DO BRASIL, uma
parceria estreita (que significa controle) sobre a exploração das
reservas petrolíferas do pré-sal e uma presença maior na Amazônia e na
região Meridional do Brasil, tanto através de empresas, como das famosas
“bases militares de combate ao tráfico de drogas”.
A política externa de Lula é o ponto alto de seu governo. O trabalho
desenvolvido pelo ministro Celso Amorim deu ao Brasil uma credibilidade
impressionante em todo o mundo e colocou o País no centro de
importantes decisões, cada vez mais contrárias ao imperialismo
norte-americano. E por dentro do próprio modelo neoliberal. Lula não
mudou a estrutura político econômica do Brasil.
Deputados do PT, em resposta à clara intervenção de Hilary em
assuntos internos do Brasil, questionaram a miséria nos EUA, a falta de
atendimento médico a mais de 40 milhões de cidadãos norte-americanos, as
intervenções militares em países do Oriente Médio e no Afeganistão, a
morte de civis em flagrante violação aos direitos humanos, a prisão de
Guantánamo e outros pontos, como o eixo EUA/Israel. O último «feito»
desse eixo foi a falsificação de passaportes de países europeus para que
agentes do serviço secreto de Israel, o MOSSAD, pudessem assassinar um
líder do Hamas em Dubai.
Hilary esteve com o chanceler Celso Amorim e deve ter estranhado as
diferenças entre o ministro brasileiro de Lula e os dois ministros de
FHC. Lampreia e Celso Láfer. Lampreia aprendeu a dizer sim senhor
faremos tudo que o mestre mandar e não dizia outra coisa durante o
governo do marido da secretária. Láfer chegou a tirar os sapatos no
aeroporto de New York para submeter-se a uma revista, fato inadmissível e
que FHC engoliu em seco, já que funcionário da Fundação Ford, braço do
governo e da iniciativa privada nos EUA para países latino-americanos.
Há dias o presidente Lula fez duras críticas às posições dos EUA no
Oriente Médio e citou a farsa das armas químicas e biológicas para a
invasão do Iraque, no episódio que culminou com o afastamento do
embaixador brasileiro José Maurício Bustani, então presidente da Agência
de Energia Nuclear da ONU, por não aceitar pressões e recusar-se a
assinar um relatório falso sobre essas armas inexistentes.
A passagem de Hillary pelo Chile a pretexto de dar solidariedade à
presidente Bachelet diante da tragédia do terramoto e tsunamis que
abalaram e abalam o país, trouxe de volta a participação crítica dos
militares no processo democrático e o novo presidente, eleito com apoio
dos EUA, já disse que vai endurecer estendendo o toque de recolher no
país e ampliando a presença militar em várias outras áreas.
A simples ideia que o Brasil possa continuar a trilhar caminhos de
preservação de sua soberania e venha a avançar no processo de ocupação
de seu próprio território, Amazônia e sul do País, assusta ao governo
dos EUA. A perspectiva de um gigante adormecido que acorda e começa a
caminhar por suas próprias pernas não interessa a Obama e nem a Wall
Street. Querem o Brasil de quatro e por isso mesmo Hilary termina sua
visita depois de avistar-se com Lula, em São Paulo, onde, naturalmente,
José Collor Arruda Serra vai desmanchar-se em salamaleques e rodopios na
valsa da submissão.
Conversar primeiro com congressistas antes de avistar-se com o
presidente do Brasil é um insulto, um desrespeito e mostra os
verdadeiros objetivos da visita de Hilary. Quando Obama disse, logo nos
primeiros dias de seu governo, que Lula «é o cara», estava contando que
funcionasse aquele esquema de troca de colares, pirolitos e chicletes
pela PETROBRAS, pelo BANCO DO BRASIL, tal e qual funcionava no governo
FHC. Os colares, os pirolitos e os chicletes vinham recheados de dólares
em contas no exterior.
Segundo Hilary o povo hondurenho está sofrendo com as sanções
impostas pelo Brasil ao governo golpista e sua extensão. Não falou sobre
o bloqueio norte-americano imposto a Cuba desde 1962 e seus efeitos. Na
prática a secretária quer arrastar os governos da Venezuela, da Bolívia
e do Equador ao reconhecimento da situação de fato em Honduras, golpe
«legitimado» por uma grotesca farsa eleitoral, ao mesmo tempo que tenta
afastar o Brasil das políticas de integração latino-americana e que
envolvem governos populares na América do Sul e América Central.
A disposição de se criar um organismo latino-americano, que exclua
EUA e Canadá, manifesta por governos dessa região, é inaceitável para os
donos do mundo, acostumados a enxergarem a América Latina como quintal,
como América Latrina.
Já que a moda é muro, levando em conta os problemas criados por
norte-americanos em suas políticas colonialistas, imperialistas, qual
tal cercar os Estados Unidos com um grande muro impedindo a exportação
do modelo Disneyworld, aquele em que você imagina que as assombrações do
trem fantasma são só ficção, quando na verdade chegam aos bandos com
epíteto de «libertadores».
Que o digam os presos quando da ocupação do Iraque, ou os detidos em
Guantánamo.
As unhas e as garras do governo branco e ariano de Obama começam a
ser mostradas sem disfarces em países como o Brasil.
Hillary não pediu a Lula que não vá ao Irã, mas de forma solerte,
que tente convencer o governo de Teerã a desistir de seu programa
nuclear.
Se Israel tem perto de 60 bombas nucleares, isso é outra história, a
senhora Clinton não fala sobre esse assunto, é «legítima defesa» do
estado terrorista contra palestinos. Direito divino de ocupação de
terras palestinas.
«Democracia cristã, ocidental e capitalista» servida ao mundo em
bolos gigantescos de onde saem mariners e aviões que bombardeiam tudo o
que possa parecer inimigo. Inclusive participantes de uma festa de
casamento no Afeganistão.
É só pedir desculpas depois.
Torna-se desnecessário dizer que a mídia brasileira está toda
emperiquitada com a visita da senhora Clinton. É, afinal, a
representante legítima dos patrões.
* Jornalista brasileiro
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