Depois do Afeganistão, do
Iraque, das ameaças de invasão do Irão, das mais 7 bases
norte-americanas na Colômbia, os Estados Unidos da América prosseguem o
seu belicismo com a invasão da Somália.
“Insidiosa, não declarada, apresentada mesmo de forma astuciosa como
avanço do iluminismo, prossegue a Guerra do Terceiro Mundo e o seu
genocídio, ser humano a ser humano.”
Aqui vão
notícias da Terceira Guerra Mundial. Os Estados Unidos invadiram a
África. Tropas estado-unidenses entraram na Somália, estendendo a sua
frente de guerra desde o Afeganistão e o Paquistão até o Iémen e agora o
Corno da África. Como preparativo para um ataque ao Irão, foram
colocados mísseis americanos em quatro estados do Golfo Pérsico e dizem
que estão a chegar bombas destruidoras de “bunkers” à base dos EUA na
ilha britânica de Diego Garcia, no Oceano Índico.
Em Gaza, a população abandonada e doente, principalmente crianças,
está a ser sepultada atrás de muralhas subterrâneas fornecida pela
América a fim de reforçar um cerco criminoso. Na América Latina, a
administração Obama assegurou sete bases na Colômbia, para travar uma
guerra de atrito contra as democracias populares na Venezuela, Bolívia,
Equador e Paraguai. Enquanto isso, o secretário da “defesa” Robert Gates
queixa-se de que “o público [europeu] em geral e a classe política” são
tão opositores à guerra que eles constituem um “obstáculo” à paz.
Lembre-se de que este é o mês do Coelho Louco [1] .
Segundo um general americano, a invasão e ocupação do Afeganistão
não é tanto uma guerra real e sim uma “guerra de percepção”. Portanto, a
recente “libertação da cidade de Marja” da “estrutura de comando e
controle” do Taliban foi pura Hollywood. Marja não é uma cidade, não
havia comando e controle Taliban. Os libertadores heróicos mataram os
civis do costume, os mais pobres dos pobres. De qualquer forma, foi
fraude. Uma guerra de percepção é feita para proporcionar notícias
falsas para a gente lá de casa, para fazer uma aventura colonial
fracassada parecer valiosa e patriótica, como se o filme Estado de
Guerra [2] fosse real e cortejos de caixões envoltos em bandeiras
através da cidade de Wiltshire, vindos de Wooten Basset [3] não fossem
um exercício de propaganda cínico.
“Guerra é diversão”, costumavam dizer com ironia negra os soldados
no Vietname, o que significava que se a guerra fosse desvendada como não
tendo qualquer finalidade senão justificar o poder voraz fanaticamente à
procura de lucros, como o da indústria de armamento, havia o perigo de a
verdade ser revelada. Este perigo pode ser ilustrado pela percepção
liberal de Tony Blair em 1997 como alguém “que quer criar um mundo
[onde] a ideologia se tenha rendido inteiramente aos valores” (Hugo
Young, The Guardian ) comparada com a avaliação pública de hoje como um
mentiroso e uma guerra criminosa.
Os estados guerreiros ocidentais, tais como os EUA e a Grã-Bretanha,
não estão ameaçados pelos Taliban ou quaisquer outros membros de tribos
introvertidos em lugares remotos, mas pelos instintos anti-guerra dos
seus próprios cidadãos. Considerem-se as sentenças draconianas legadas a
multidões de jovens que em Janeiro últimos protestavam contra o assalto
de Israel a Gaza. A seguir a manifestações nas quais a polícia
paramilitar encurralou milhares, réus primários receberam dois anos e
meio de prisão por delitos menores que normalmente implicariam sentenças
leves. Em ambos os lados do Atlântico, discordância séria a revelar
guerra ilegal tornou-se um crime sério.
O silêncio em outros altos lugares permite esta moral travestida.
Através das artes, literatura, jornalismo e do direito, as elites
liberais, tendo corrido para longe dos resíduos de Blair e agora de
Obama, continua a exibir a sua indiferença para com a barbárie e os
objectivos dos crimes dos estados ocidentais ao promoverem
retrospectivamente as maldades dos seus demónios de conveniência, como
Saddam Hussein. Com Harold Pinter já falecido, tente compilar uma lista
de escritores, artistas e advogados famosos cujos princípios não sejam
consumidos pelo “mercado” ou neutralizados pela sua celebridade. Quem
entre eles falou acerca do holocausto no Iraque durante quase 20 anos de
bloqueio e assalto letais? E tudo isto foi deliberado. Em 22 de Janeiro
de 1991, a US Defence Intelligence Agency previu com pormenor
impressionante como um bloqueio destruiria sistematicamente o sistema de
água potável do Iraque e conduziria a “incidências acrescidas, se não a
epidemias de doença”. De modo que os EUA começaram por eliminar a água
potável para a população iraquiana: uma das causas, como observou a
UNICEF, das mortes de meio milhão de crianças iraquianas com menos de
cinco anos. Mas este extremismo aparentemente não tem nome.
Norman Mailer certa vez disse acreditar que os Estados Unidos, na
sua busca incessante de guerra e dominação, entraram numa “era
pré-fascista”. Mailer parecia hesitante, como se tentasse advertir
acerca de alguma coisa que ele mesmo não podia definir bem. “Fascismo”
não está correcto, pois invoca precedentes históricos inadequados,
recorrendo mais uma vez à iconografia da repressão alemã e italiana. Por
outro lado, o autoritarismo americano, como apontou recentemente o
crítico cultural Henry Giroux, é “mais matizado, menos teatral, mais
astucioso, menos preocupado com modos repressivos de controle do que com
modos manipulativos de consentimento”.
Isto é o americanismo, a única ideologia predatória que nega ser uma
ideologia. A ascensão de corporações tentaculares que são ditaduras em
si próprias e de uma instituição militar que é agora um estado com o
estado, ajusta-se por trás da fachada da melhor democracia que os 35 mil
lobbystas de Washington pode comprar e uma cultura popular programada
para divertir e imbecilizar, é sem precedentes. Mais matizado talvez,
mas os resultados são tanto não ambíguos como familiares. Denis Halliday
e Hans von Sponeck, responsáveis superiores das Nações Unidas no Iraque
durante o bloqueio conduzido pelos americanos e britânicos, não têm
dúvida de que testemunharam genocídio. Eles não viram câmaras de gás.
Insidiosa, não declarada, apresentada mesmo de forma astuciosa como
avanço do iluminismo, prossegue a Guerra do Terceiro Mundo e o seu
genocídio, ser humano a ser humano.
Na próxima campanha eleitoral na Grã-Bretanha, os candidatos
referir-se-ão a esta guerra só para louvar os “nossos rapazes”. Os
candidatos são múmias políticas quase idênticas amortalhadas na Union
Jack e na Stars and Stripes. Como demonstrou Blair um tanto demasiado
entusiasticamente, as elites britânicas amam a América porque a América
permite-lhes insultar e bombardear os nativos e considerar-se um
“parceiro”. Deveríamos interromper a sua diversão.
NT
[1] March Hare: Referência a personagem de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll.
[2] The Hurt Locker . O título do filme no Brasil é Guerra ao Terror.
[3] Wooten Basset: Pequena aldeia, próxima a uma base da RAF, que se tornou sinonimo dos voos de retorno com cadáveres de soldados britânicos.
[1] March Hare: Referência a personagem de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll.
[2] The Hurt Locker . O título do filme no Brasil é Guerra ao Terror.
[3] Wooten Basset: Pequena aldeia, próxima a uma base da RAF, que se tornou sinonimo dos voos de retorno com cadáveres de soldados britânicos.
* Jornalista australiano
O original encontra-se em http://www.johnpilger.com/page.asp?partid=570
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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