Catástrofe no Golfo do México serve de alerta
Por Matthew Berger, da IPS |
Enquanto uma enorme mancha de petróleo
continua afetando a riqueza do Golfo do México, após a explosão há duas
semanas de uma plataforma de extração, ambientalistas insistem em dizer
que a catástrofe deveria servir de alerta para acabar com as perfurações
no mar e para se afastar dos combustíveis fósseis. Alguns em Washington
começam. Os Estados Unidos deveriam começar a dar passos para uma
economia verde, afirmou o senador Robert Menendez, do governante Partido
Democrata. “Agora todos deveríamos ter claro que a perfuração no mar
não é muito segura, e nunca foi”, acrescentou.
Por sua vez, o
diretor-executivo da organização ambientalista norte-americana Sierra
Club, Michael Brune, comparou o vazamento de petróleo com uma “boca de
fogo decapitada”. O “que não sei é quantas vezes precisamos ter esta
conversa” sobre vazamento de petróleo em lugares como o Golfo do México,
o Oceano Ártico e o Rio Amazonas, disse aos jornalistas. No dia 30 de
abril, Brune afirmou que o vazamento marcou “o limite de nossa atração
pelos combustíveis fósseis”.
Por sua vez, a diretora-executiva do
grupo Environment America, Margie Alt, afirmou: “Temos de tomar isto
como uma lição para passar a uma economia de energias limpas”. O
petróleo começou a se espalhar quando a plataforma Deepwater Horizon,
que a British Petroleum (BP) arrendou da firma Transocean, com sede na
Suíça, explodiu no dia 20 de abril e afundou. Estima-se que agora o poço
vaze cinco mil barris (de 159 litros) por dia nas águas do Golfo do
México.
Até agora, os esforços para deter o vazamento têm sido em
vão e é incerto se vai parar. É considerado o pior desastre ambiental e
econômico para os Estados Unidos desde que o petroleiro Exxon Valdez
sofreu um vazamento, em 1989, de quase 50 milhões de litros na Baía de
Prince William Sound, no Alasca. Enquanto se redobra o esforço para
deter a mancha de óleo, em Washington predomina um sentimento de
traição.
“Há tempos a indústria petroleira nos disse que nada
aconteceria, mas, lamentavelmente, aconteceu, e antes também, não apenas
em nosso país, mas em todo o mundo”, disse Menendez. O senador se
referiu repetidas vezes ao vazamento da plataforma de Montara, no Mar de
Timor, entre Austrália e Timor Leste, que durou dez semanas no ano
passado. O diretor-executivo da BP, Tony Hayward, disse à
norte-americana National Public Radio que considera improvável que o
desastre no Golfo do México chegue à mesma magnitude.
O vazamento
tem impacto no debate público norte-americano. As perfurações
petroleiras marítimas já eram um tema quente na política do país há
alguns anos. Desde o aumento dos preços do gás no verão de 2008, crescem
os apelos por uma economia verde, com maior uso de fontes renováveis de
energia, como solar e eólica. Entretanto, líderes do opositor Partido
Republicano, incluindo o ex-candidato presidencial John McCain, fizeram
uma campanha a favor da extração de combustíveis fósseis sob o lema
“Drill, baby, drill” (perfure, querida, perfure), disse o legislador. O
que se tem agora é uma “bomba atômica ambiental”, ressaltou.
Ao
menos um destacado político tirou uma lição do ocorrido no Golfo. O
governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, decidiu suspender um
plano com o qual pensava cobrir o déficit orçamentário de sua
administração, vendendo autorizações para realizar extrações marítimas
na costa da cidade de Santa Bárbara. O governador disse que as imagens
do vazamento no Golfo foram um fator fundamental em sua decisão. Em
1969, Santa Bárbara já sofreu um vazamento, após a explosão de uma
plataforma. Essa catástrofe originou um amplo movimento ambiental, o
mesmo que agora se vê fortalecido pelo ocorrido no Golfo do México.
Impacto
na legislação
O vazamento também pode afetar os atuais esforços
para que o Senado aprove uma lei contra o aquecimento global. Esses
esforços se baseavam em concessões a políticos conservadores mais
inclinados a aceitar a nova lei. Uma dessas concessões foi ao anúncio
feito pelo presidente Barack Obama no mês passado de que se levantaria a
proibição de novas perfurações petroleiras em algumas áreas marítimas
dos Estados Unidos.
Mas o anúncio não teve o efeito esperado.
Pelo contrário, agora alguns senadores progressistas dizem que não
aprovarão a lei se forem permitidas novas extrações. “A proposta do
presidente já estava morta ao chegar”, disse o democrata Bill Nelson, do
Estado da Flórida. “Se a perfuração marítima é parte da legislação
sobre mudança climática, essa legislação não irá a parte alguma”,
acrescentou.
Por sua vez, Menendez disse que havia outro tipo de
concessão que poderia interessar aos conservadores sem apelar para
perfurações, como construir novas usinas atômicas e incentivar pesquisas
com “carvão limpo”.
(IPS/Envolverde)
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