Sei
que a blogosfera petista não concordará comigo, mas a meu ver uma das
principais razões para ter existido segundo turno deve-se diretamente à
candidata escolhida por Lula. Com todo respeito à história da Presidenta
Dilma, em especial sua irresignação contra a Ditadura Militar (que não é
tema do post, mas já consignando: esse blogueiro nega-se a considerar
que a resistência a um regime ilegítimo possa ser equiparada aos atos desse regime, como na doutrina dos “dois demônios“),
tratava-se visivelmente de uma candidata sem grande consistência e
inferior, por exemplo, aos Governadores Tarso Genro e Jaques Wagner, do
próprio PT. Com um índice de aprovação superior a 70%, o Governo Lula
terminou de forma tão avassaladoramente popular que, como disse
na época Paulo Ghiraldelli Jr., o voto ideológico passou a ser o da
direita (ou seja, a maioria da população votou com simples pragmatismo).
E, no entanto, apesar de decolar inicialmente a partir do acoplamento
da sua imagem ao Governo (para o qual, sejamos justos, foi fundamental) e
uma atuação nem excepcional nem péssima na campanha, Dilma caiu um
pouco nos índices e chegou a ter um pequeno momento de risco no início
do segundo turno. Mas, bem, são fatos passados.
O que me surpreende é ver na Presidenta Dilma exatamente aquilo que
seu perfil indicava: baixa politização e muita tecnocracia. Uma
tecnocracia com perfil de esquerda, diga-se de passagem, preocupada com o
mais fundamental dos problemas brasileiros: a erradicação da miséria.
Mas ainda assim uma tecnocracia.
Há muitos sinais nesse sentido, e eles são de dois tipos. De um lado,
aqueles que simplesmente privilegiam o eficientismo, os mais óbvios. De
outro, e esses são os que mais me espantam, aqueles que “queimam”
qualquer real politização do debate. Dilma parece cumprir bem o
papel que lhe parece reservado: o de uma Presidenta eficiente, mas que
para levar adiante seus planos sem riscos “congelou” o debate político.
Nesse sentido, acontecimentos relativamente heterogêneos como a demissão de Pedro Abramovay, o recuo nas promissoras politicas do MinC com a Ministra Ana Buarque de Hollanda, a nomeação de um Ministro anódino para o STF, a não-abertura
dos arquivos da Ditadura e a manutenção do salário-mínimo nos patamares
“contratuais”, entre outros (alguns inclusive durantes as eleições,
como a questão do aborto e da criminalização da homofobia), parecem
todos apontar para um curiosíssimo “eficientismo de esquerda”, onde a
politização é vista como negativa e desnecessária, devendo ser
substituída por uma gestão técnica capaz de dar conta de problemas
crônicas sem se desgastar na esfera pública.
Não quero simplesmente jogar no lixo todo progresso que esse
eficientismo pode gerar, inclusive na melhoria da qualidade dos serviços
públicos e dos índices de pobreza no país. Tudo isso não é desprezível,
ao contrário, e de certa forma aprofunda o legado do Governo Lula.
Enfim, é uma estratégia. Mas queremos mais.
Olhando inclusive de um ponto estritamente estratégico, há um risco
nessa manobra da Presidenta Dilma. Sabemos que se testemunha no Brasil a
ascensão de um grande contingente de pessoas para a classe média ou, no
mínimo, acima da linha da extrema pobreza. Como bem percebeu André Singer,
o “lulismo” caiu como uma luva para esse público, pobre e
paradoxalmente conservador, pois mexeu na estrutura social sem
“baderna”. O risco, contudo, é que esse contingente imenso de pessoas
não se torne adepto de políticas de esquerda voltadas para a
transformação social (inclusive em áreas mais nervosas como a
comportamental e a educacional), mas estabilize uma maioria conservadora
a dar novo combustível para a direita. De alguma forma, o eficientismo
do Governo Dilma é devedor do dogma marxista mais atrasado, o de que “a
infraestrutura determina a superestrutura”. Acreditar que apenas
reformas econômicas são suficientes para transformar a sociedade é de um
simplismo atroz, que o diga a perseguição de homossexuais em Cuba. Será
por isso que Dilma nomeou um dos intelectuais de esquerda mais
atrasados para uma importante função na cultura? Deixa para lá.
Em todo caso, se mesmo do ponto de vista estratégico esse
eficientismo é muito arriscado, do ponto de vista político – ou seja, da
esfera onde se dão nossas formas-de-vida – essa posição não é apenas
perigosa, como pode ser inclusive suicida. Torçamos para que não.
Um comentário:
Temos nova Presidenta, novo perfil e novas ideias! Não esperem de Dilma a facilidade de enrolação na politica que tem Lula. Rousseff é casca grossa em relação a temas que envolvem politica e "politicagem". Bom/Ruim? Não sei, vamos ver após um ano. A atuação de Dilma, como já vimos, vem das sombras e estamos conversados, não tem muito papo. Luiz Inácio certamente deve ter avisado também: cuidado com o PT, meu partido quase colocou tudo a perder mais de uma vez! Já a nova classe média tem uma clara opção ao Lulismo: Aécio, Serra, Alckmin, e só escolher! O pernambucano ajudou a sairem da merda, se resolverem pular para o outro lado certamente voltarão a ela!
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