Alexandre Haubrich
“As
mulheres reclamam muito dos salários baixos, mas pesquisa revela:
muitas delas têm medo de pedir aumento”. Essa foi a chamada para uma matéria do
Jornal da Globo desta quinta-feira. Na escalada do jornal, o texto
perguntou: “Medo de quê? Por que as mulheres tem mais dificuldade em
pedir aumento?”.
Essa é a explicação encontrada pela Globo para os salários mais
baixos recebidos por mulheres em cargos iguais aos dos homens. A mesma
matéria já aproveita para explicar as maiores dificuldades das mulheres
em ascender na carreira: apenas 28% delas pensam em promoção, contra 39%
dos homens.
Após algumas entrevistas nas ruas, nas quais todas as falas que foram
ao ar são de mulheres dizendo que nunca pediram aumento – referendando a
tal pesquisa –, o repórter, em off, acusa: “Quase metade delas diz que
ganha mal, mas também não faz nada para mudar essa situação”. No fim da
matéria, a entrevistada é uma alta executiva. A partir de sua posição
privilegiada, ela faz uma análise sociológica: “Não vejo limitações.
Quem coloca limitações é a própria pessoa, o mercado está aberto”,
afirma.
Entre tantas aspas destacando frases absurdas, um comentário do Mirgon Kayser,
no Twitter, resumiu a situação com precisão: “Padrão Globo sim… Em
geral a Globo valoriza as explicações mercadológicas que diluam e
mascarem machismo / racismo / homofobia, etc”. É isso. No caso
específico das mulheres, é a reprodução e o fortalecimento do pensamento
segundo o qual a mulher estuprada é a responsável pelo estupro.
A culpa por ser pobre é do próprio pobre, a culpa do desemprego é do
desempregado que não gosta de trabalhar, a culpa de todas as formas de
exploração e/ou opressão é sempre do explorado e oprimido. É assim que a
Rede Globo quer fazer as pessoas pensarem, alimentando, dessa forma, a
segregação, o preconceito e a exclusão por parte das elites, ao mesmo
tempo em que tira dos oprimidos a percepção da necessidade de luta
coletiva para se alcançar uma verdadeira mudança social. Individualiza a
percepção e a luta, colaborando, através da construção desse discurso,
com a manutenção das mais diversas formas de opressão.
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