As Organizações Globo estão enfrentando sua Primeira Guerra Mundial,
desde que tiraram da Tupi o cetro de emissora de maior audiência do país
- nos longínquos anos 70.
Nos próximos dias será decidida a questão da transmissão do
campeonato de futebol brasileiro. Não se trata de um mero evento
esportivo. Se perder a disputa, a Globo colocará em xeque toda sua
programação do horário nobre – baseada no hábito diário de
acompanhamento de novelas e de jornais televisivos.
Pela primeira vez, poderá perder a liderança de audiência no país.
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A ameaça é da TV Record, que promete uma proposta de
R$ 550 milhões para conseguir os direitos de transmissão junto ao Clube
dos 13. Por trás da disputa, há mudanças relevantes na legislação de
direito econômico brasileiro.
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Cada clube esportivo detém direitos de imagem sobre seus jogos.
Para administrar seus interesses, anos atrás a Globo incentivou a
formação do Clube dos 13, incumbido de negociar em bloco os direitos dos
seus associados – maiores clubes nacionais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, grandes clubes recebem direitos de
arena superiores aos pequenos clubes. Sob o argumento de que as
condições brasileiras eram diferentes, a Globo conseguiu equalizar os
direitos de transmissão – todos recebendo a mesma quantia, tática
fundamental para transmissões pela televisão aberta, na qual não é
possível o pay-per-view (pagar para assistir).
Se um clube com maior audiência ia reclamar, era encaminhado ao Clube dos 13, que tratava de demovê-lo de suas pretensões.
Mais ainda. Através de um contrato leonino, a Globo tinha uma
cláusula de preferência, direito ao último lance em cada leilão de
transmissão de campeonato. Ou seja, depois do último lance, ela tinha o
direito de cobrir a proposta apresentada.
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Esse modelo foi questionado no CADE (Conselho Administrativo de
Direito Econômico). A Globo e o Clube dos 13 foram obrigados a assinar
um termo de compromisso estabelecendo condições transparentes de
disputa. Isto é, cada concorrente chegando com um envelope com sua
proposta.
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Primeiro, a Globo chamou os clubes e tentou convencê-los a baixar o
preço, sob a alegação de que a audiência do futebol vem caindo há tempos
e o mercado não aceitaria pagar grandes lances pelos direitos de
transmissão.
Não conseguiu disfarçar sua preocupação maior: no mundo todo, a
emissora que tem o esporte mais popular lidera a audiência. Se perder o
futebol, perde a liderança.
O problema maior surgiu na seqüência.
Em outros tempos, não haveria competidores. Apenas uma vez o SBT
ousou competir, levando o Campeonato Paulista. Band e Rede TV nunca
tiveram bala na agulha.
Agora, apareceu a TV Record dispondo-se a elevar o lance a R$ 550
milhões para a TV aberta. No setor de TV fechada, começa a competição
com as teles e, na área da Internet, com os portais.
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A reação da Globo foi tentar implodir o Clube dos 13. Através de
Ronaldo e de comentaristas esportivos conseguiu cooptar o presidente do
Corinthians.
Seja qual for o resultado da pendenga, trata-se de um capítulo central nas transformações pelas quais passa a mídia brasileira.
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