Nós nos sobrecarregamos com a discussão político-pedagógica de nosso
ambiente de trabalho, com a discussão do mundo, com a salvação das
baleias, dos afogados, dos desprotegidos, lutamos pela paz mundial, pelo
bom aprendizado e pela construção das mais diversas áreas do
conhecimento, por laboratórios, por merenda escolar. Nós nos dedicamos
tanto a construir e ajudar aos nossos educandos a se construírem que nem
nos lembramos de nós mesmos. A missão é o objeto, nós somos um soldado
fundamental do bom combate. Quanta ilusão! Na verdade, o Sistema nos vê
como uma peça necessária, mas de fácil reposição.
As negociações desta semana, tanto do CPERS com o Governo do Estado
do RS, quanto do SINPRO, com o Sindicato patronal das Escolas
Particulares, SINEPE, parecem comprovar o que no fundo sempre
desconfiamos, somos importantes, fazemos um papel fundamental, mas de
onde saímos, saem muitos, somos descartáveis. Ainda que venhamos a fazer
greve, depois temos de pagar em dinheiro pela rebeldia de querer
existir; Podemos nos revoltar e tentar abrir os olhos de nossa
comunidade, em termos de contexto político, então somos considerados
agitadores, inclusive pela própria comunidade na qual estamos inseridos.
É de se pensar o porquê disso. Eu fico com a velha hipótese da luta
de classes. O educador é o marisco entre a luta do rochedo e do mar. A
maior parte de nós vem de classes abaixo da classe média. Fizemos a
graduação em docência por ser aquela “mais em conta”, como se diz. A
educação, além de ser a nossa forma de querer salvar o mundo, é a nossa
forma possível de subsistência, nosso trabalho. Assim, magistério não é
apenas vocação, magistério é profissão. Uma profissão que pode de fato
efetuar uma transformação social. Inverter a pirâmide, eliminar a
pirâmide, ensinar a pensar. É óbvio que para quem está no topo não é
vantagem nos dar condições dignas de vida. É óbvio que precisamos estar
sob controle, submissos, em servidão, com medo de sermos demitidos, de
termos nossa vida funcional atrasada por anos. O Sistema não gosta de
sopa de letrinhas, o Sistema é um glutão que come pessoas.
Quanto a nós, temos de ver o alto status financeiro e social de
profissões que não se dedicam a ideais tão fundos com elegância. Não
devemos nos comparar com os outros. Comparemo-nos com nossa própria
classe… que classe? Quando conseguimos unanimidade em greve? Quando
conseguimos unanimidade em ações políticas? Apesar disso, quem consegue
pagar o dentista, a modista, a diarista, a casa própria e
outros-que-tais com um salário de professor? A classe é desunida ou está
em perpétuo susto? Ficamos vendo os Governos economizar em nossos
salários, as Escolas Particulares, em geral, ligadas a grandes
instituições com estabilidade financeira, destaque social, economizando
no salário de seus professores. Não temos como evitar pensar nas
palavras escravidão, assédio moral, violência, exclusão porque o
Sistema, na verdade, aterroriza. Eu já tive a experiência de não fazer
uma greve por medo. Eu tinha voltado ao Magistério Público Estadual,
estava no tal estágio probatório e tive medo. Eu sustentava minha
família, eu não poderia ficar sem emprego. Conto isso porque não estou
escrevendo com alguém que se coloca como superior. Eu tenho medo de não
poder sustentar minha família com minha profissão. Saí da iniciativa
privada humilhada por uma demissão. Diferenças da Escola com meu método
de ensinar. Então, quando se fala em dinheiro, não é só dinheiro moeda, é
dinheiro que gastamos em mais uma porção de batata frita, em doce, em
paracetamol, em antidepressivo. É o conjunto da obra que ataca o coração
do professor que é terrível. Se fosse para falar em desrespeito por
parte dos alunos, humilhação perante pais mimados, coação por parte de
colegas em posições de mando, desconsideração por projetos e idéias,
sinceramente, quem iria querer ser professor?
Nós. Nós queremos ser professores. Nós que somos filiados ao CPERS,
filiados ao SINPRO. Nós que delegamos aos nossos Sindicatos essa tarefa
árdua de enfrentar essas feras em nosso nome. Nós que não desistimos de
mexer na pirâmide. Nós que fazemos a diferença, nós para cujos espaços
depois de abertos não existem peças de reposição porque somos únicos,
cada um de nós, ímpares em seu universo de luta e pares dentre os seus.
SINEPE/RS (sindicatos do Ensino Privado), escuta! Queremos reajuste
salarial com aumento real para a categoria, Já. 28 de março,
segunda-feira, Dia do Aumento Real na Escola, manifestações nas
instituições de ensino privado de todo o Estado reforçando a
reivindicação por aumento real, e mais, limitação do número de alunos
por turma (presencial e a distância); calendário escolar 2011 com a
indisponibilidade do professor nas duas últimas semanas de julho;
destinação de 30% da carga horária para atividades extraclasse;
contratação de professores para as atividades extracurriculares.
Companheiro TARSO, o que é isso, companheiro? Aumento real em R$
38,00 para quem ganha o básico? Essa proposta de reajuste salarial de
10,91% apresentada à direção do Cpers/Sindicato não satisfaz a
categoria. Magistério Público Estadual, já! Assembleia Geral, dia 08 de
abril e a luta continua!
E para não dizerem que não falei na UERGS, mais professores começam a
se evadir de nossa Universidade por falta de condições profissionais
compatíveis com suas formações. Precisamos estar sempre alertas em
relação ao nosso Plano de Carreira, que ainda não está na pauta
principal do Governo do Estado. Precisamos estar vigilantes a respeito
de nossos colegas funcionários, cujos vencimentos, em determinados
casos, estão abaixo de um salário mínimo. Precisamos socorrer nossos
alunos, com sustentabilidade e assistência, como se espera de uma
Instituição Pública. ADUERGS e ASSUERGS: Plano de Cargos e Salários e a
abertura das vagas para atender o limite de 300 professores e
funcionários, Já!
Políticas pedagógicas, paz mundial, construção das mais diversas
áreas do conhecimento, missão e bom combate, que fácil reposição, que
nada! O Sistema que se cuide, transformação de realidades e resistência é
o nosso ramo de negócios.
* Mestre em Comunicação Social, Professora da UERGS
3 comentários:
Turco amado, vou postar este desabafo em todos os meus 8 blogs. Eu o li chorando do início ao fim. Não posso acreditar que teremos esse índice de aumento. Não dá para comprarmos um botijão de gás! Irei à Assembléia no dia 08/04. Eu te encontrareo lá. O Tarso, como todos os outros, é farinha do mesmo saco, sempre soube disso. Abaixo a representatividade. Ele é uma pessoa conscientemente cooptada pelo sistema, só lhe interessa o seu mega salário,os pobres que se fodam. Tem gente na fila para pegar o teu emprego por um salário mínimo. Os podres de Brasília se auto-promoveram com mais de 60% de aumento em cima do absurdo que já ganhavam. Viva o Anarquismo!
Eu sei que chegará o dia da destruição da pirâmide, quando todos estiverem vivenciando as mesmas necessidades que eu estou passando no momomento, terão de dar basta e implantaremos uma nova ordem nesse caos, conheceremos definitivamente a cooperação. Com fome, não se discute, se age! Inverter a pirâmide cairia na lógica do marxismo, teríamos o proletariado explorando uma outra classe social. Não quero isso. Quero igualdade plena de condições para todos. Utopia?! Não importa! Beijos
É sim, luta de classes! É terrivelmente frustrante a coincidência da amargura dos professores quanto à sua situação. Somos os operários (mariscos no rocehedos, tomando a cipoada do mar e presos). A nova fase para leventar o Brasil há de começar pela Educação.
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