Extraido do Blog da Milu
Por
causa da vitória bolchevique em 1917, normalmente, o marxismo é visto
como o motor do movimento revolucionário russo, ou - pelo menos, como
uma manifestação isolada deste movimento. No entanto, o caráter
autocrático da monarquia russa acarretou, não raras vezes, uma oposição
de cunho revolucionário, mesmo quando formada por liberais ou
socialistas moderados. Foi exatamente assim com o movimento conhecido
como dezembrista" (palavra do russo "dekabrist") e com o anarquismo, de diversos tipos, principal tendência do país no século XIX e com a revolução de 1.905.
O movimento dos Dezembristas
foi uma revolta contra a Rússia Imperial por parte de um grupo de
jovens oficiais do exército. O nome dezembristas se deve à data do
levante: 26 de dezembro de 1825. Tudo estava planejado para o verão de
1826, mas a ação teve que se precipitar em virtude da morte do Tzar Aleksandr I (avô do último tzar e responsável pela vitória da Rússia sobre Napoleão),
morte esta que nunca se soube ao certo como se deu e se realmente
aconteceu. A versão oficial é de que ele teve morte súbita, em Taganrog,
Criméia, devido a febres de causa desconhecida. Houve a suspeita de que
tudo não passou de fingimento. Mais tarde, um eremita errante, de nome
Fiodor Kuzmitch, foi considerado como sendo o falecido Tzar.
Aleksandr I
Kuzminitch
Se
Kuzminitch era ou não o Tzar, o certo é que sua figura se tornou
lendária, dando material para enriquecer ainda mais a literatura russa.
Mas a morte ou o desaparecimento do monarca gerou insatisfação, em
virtude da escolha de seu sucessor: Aleksandr não tinha descendentes e,
segundo a lei de sucessão, o trono deveria passar para seu irmão,
Constantino, que havia renunciado a este direito alguns anos antes.
Ocuparia o trono, então, o irmão mais novo, Nikolai, cuja ascensão ficou
marcada para o dia 26 de dezembro. O novo monarca era muito severo e
conservador, o que desagradou aos intelectuais da nobreza e aos
militares.Reuniram cerca de três mil soldados, em prol de uma
Constituição e do fim do regime de servidão. Não passou disto, apesar de
seus planos já terem sido preparados há algum tempo e de suas raízes
existirem há, pelo menos, uma década. A rebelião foi esmagada, muitos
dos dezembristas foram mortos, presos ou enviados para trabalhos
forçados na Sibéria ou no Cáucaso.Apesar do fracasso, eles foram os
primeiros revolucionários a se colocar abertamente contra a autocracia.
A situação ficou calma por alguns
anos, até começarem os movimentos anarquistas, cujo maior expoente foi
Mikhail Bakunin (1814-1876), que a meu ver foi o maior dos
anarquistas, tendo alcançado grande fama no exterior, após um período de
prisão (1851/57). Inicialmente hegeliano, ele passou a repudiar toda a
religião e escravidão explícitas na autoridade instituída, apoiando o "sagrado instinto da revolta".
Bakunin
auto-retrato(1829)
Bakunin foi sucedido por Piotr Kropotkin (1842-1921), que dotou o anarquismo de um conteúdo mais intelectual (foto abaixo).
Ambos,
de maneira surpreendente, foram super respeitados na URSS.Aliás, a
elite educada da Rússia tratava tanto a Bakunin, como a outros teóricos
como celebridades, sendo tolerante para com o terrorismo, o que
influenciou na absolvição de Vera Zassulich, escritora e
terrorista que atirou e feriu um um governador militar em São
Petersburgo, no ano de 1881.Conta a crônica a este respeito que
"sua simpatia, sua modéstia, seu ar ingênuo e sua sinceridade conquistaram o júri, apesar de um crime como o cometido por ela acarretar, em casos semelhantes, uma pena de detenção entre 10 e 20 anos".
Vera
vítima de Vera
As
peculiaridades sociais da Rússia, notadamente a comuna camponesa de
ajuda mútua, faziam com que o anarquismo se combinasse facilmente ao
populismo dominante do sec.XIX. A política tinha tendência a
polarizar-se e os revolucionários recorriam cada vez mais ao terrorismo
(situação muito bem mostrada por Dostoievski em "Os Demônios"), o
que levou ao assassinato do Tzar Aleksandr II (pai do último Tzar), em
1881. Este tzar foi assassinado, malgrado suas inúmeras reformas e
modernização do país e, principalmente, sua alcunha de " o libertador",
pelo fato de ter libertado mais de vinte milhões de pessoas que viviam
sob o regime de servidão. Apesar destes aspectos positivos, usou de
muita repressão, o que explica a revolta contra ele.
Aleksandr foi morto por uma
bomba atirada contra ele por um terrorista isolado. Morreu exatamente no
dia em que iria finalizar a proclamação de suas reformas sociais - dia
primeiro de dezembro de 1826.
Depois de um certo intervalo, a
oposição larga os meios terroristas e passa a ser liderada pelos
metódicos marxistas que, antes da revolução de 17, fizeram a de 1905,
com o famoso "domingo sangrento". A crise política já estava
instalada no país há mais tempos. Houve a libertação dos servos, a
Rússia progredia, passando do feudalismo para o capitalismo, mas cheia
de contradições. As classes abastadas e o imperador insistiam na
manutenção da autocracia e do absolutismo; os antigos servos e os novos
operários da nascente indústria viviam na miséria e, para piorar tudo,
veio a derrota na guerra russo-japonesa. Foi o estopim para o movimento
de 1905.
Manifestantes em direção ao Palácio de Inverno
1905
O
resultado do movimento foi o Manifesto de Outubro, através do qual, o
tzar cedia um pouco de seus poderes à DUMA, cuja criação foi permitida,
assim como permitiu, também, a existência de partidos políticos. Mas,
como é sabido, a autocracia continuou e o resultado foi a Revolução
Bolchevique, o que é matéria para outro post.
Por hoje é só.
Texto redigido com base na seguinte bibliografia:
-Rússia, vol.1 - Edições Del Prado
-http://www.megabook.ru/Article.asp?AID=628313
http://www.bibliotekar.ru/istoriya/208.htm
http://miud.in/osH
http://osten-sacken.h1.ru/text3_03_01.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário