Stela Pastore / Especial no Sul21
Cuba está às vésperas de aprovar importantes medidas para a
atualização do modelo econômico. Deste sábado até terça (16 a 19) ocorre
o 6º Congresso do Partido Comunista Cubano, o primeiro em 14 anos. As
mudanças econômicas vêm sendo tratadas em todo o país desde meados de
2010, quando o presidente Raul Castro anunciou a necessidade de reduzir o
paternalismo estatal e garantir maior equilíbrio econômico. “A
revolução é mudança permanente”, lembrou o dirigente que promoveu um
amplo debate sobre a proposta em todo o país. “Temos o dever essencial
de corrigir os erros que cometemos durante essas cinco décadas de
construção do socialismo em Cuba”, explicou o presidente, que sucedeu o
irmão Fidel Castro.
Associações, sindicatos, cooperativas, os Comitês de Defesa da
Revolução e meios de comunicação da ilha realizaram intensas discussões
sobre o projeto para abranger os 11,2 milhões de cubanos. Serão medidas
duras, mas necessárias. Devem ser demitidos cerca de 500 mil cubanos
inicialmente e mais de 1,2 milhão nos próximos anos.
Estima-se que 20% de um total aproximado de 5 milhões de servidores
públicos estejam em funções obsoletas. A proposta é que sejam realocados
para outras atividades estatais ou estimulados a atuar em 178 serviços
privados, atuando por conta própria. Cerca de 300 mil “cuentapropistas”
já estão registrados, sendo que a metade se inscreveu depois da abertura
de novas condições de trabalho em outubro.
Também está na pauta a criação de uma rede de cooperativas urbanas e
rurais para estimular a ida para este modelo associativo; maior
autonomia das empresas estatais, descentralização do setor
agroalimentar, redução dos subsídios e estabelecimento de um sistema
fiscal. Talvez a mudança mais substancial seja a eliminação da cartela
de abastecimento — “libreta” — uma cesta de alimentação subsidiada.
“Não podemos seguir adiante sem estas transformações. Precisamos
produzir mais comida e mais bens”, reforça o líder da Central de
Trabalhadores de Cuba, Raymundo Fernandez. E esclarece: Ӄ uma
atualização do socialismo”.
O bloqueio econômico mantido pelos Estados Unidos há meio século, os
impactos climáticos e a crise do capitalismo mundial são fatores que
estimulam as mudanças. Na última década, 16 furacões devastaram a ilha,
com grandes prejuízos. A crise mundial reflete-se na redução do preço
pago ao níquel, produto número um na balança comercial de exportação de
Cuba, que reduziu de 54 mil dólares para 8 mil dólares a tonelada no
mercado internacional.
Por outro lado, a expectativa de vida aumentou: passou de 51, em
1955, para 78 anos, o que também obrigou a ampliar a idade de
aposentadoria de 60 para 65 anos, já em vigor. Em 1989, havia sete
cubanos ativos para um aposentado. Atualmente, este número reduziu para
a metade.
Para muitos cubanos, as medidas são a regularização de algo que hoje
de alguma maneira já ocorre com a atuação paralela de muitos cubanos em
atividades não estatais.
Porém, estão resguardadas várias políticas igualitárias que destacam
Cuba no mundo. Não está prevista qualquer mudança por exemplo, nos
sistemas de saúde e educação, que continuam integralmente gratuitos, de
qualidade e referência global.
Há tranquilidade em áreas fundamentais que dão ao país os melhores
dados no Índice de Desenvolvimento Humano. Antes da Revolução, a taxa de
analfabetismo era de 18% e atualmente é zero; o número de professores
subiu de nove mil para 137 mil. O total de médicos aumentou de 6.280
para 72 mil. A mortalidade infantil, que era de 60 a cada mil nascidos
vivos, reduziu para 4,5 em 2010, uma das menores do mundo.
Os salários baixos — entre 15 a 20 euros –, a circulação de duas
moedas — peso cubano e o peso “convertível” — torna desproporcional a
diferença entre os quem tem acesso à moeda pareada ao euro e dificultam
a sobrevivência a quem está restrito ao peso local. Déficit
habitacional e qualidade dos serviços também são temas candentes aos
cubamos, que devem ser abordados neste encontro, que reúne mais de mil
delegados eleitos em todas as províncias. O 6º Congresso do PCC também
elegerá os membros do comitê central, que designarão os membros do
secretariado e do birô central.
Bloqueio econômico é mantido apesar da ONU
O bloqueio econômico americano, vigente desde 1962, já causou um
prejuízo estimado em US$ 751 bilhões ao pequeno país, distante 180
quilômetros dos EUA. A Assembleia-Geral da ONU condenou, em outubro, o
embargo comercial americano. Foi a 19ª vez que isso ocorreu, sem
qualquer avanço. A resolução teve apoio de 187 dos 192 países membros.
Antes da revolução de 1959, 70% das importações vinham dos EUA, país
destino de 67% dos produtos cubanos.
O embargo proíbe que empresas americanas tenham relações comerciais
com Cuba, ou se associem a outras, de outros países, que mantenham
comércio com Cuba. Um estudo recente divulga os danos do bloqueio
(www.cubavsbloqueo.cu). “Estas sanções são as mais prolongadas da
história e privam o povo cubano de desenvolver-se como poderia.
Castiga-se também os que comerciam conosco”, registra a subdiretora para
a América do Norte do Ministério das Relações Exteriores, Johana
Tablada.
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