Brizola Neto no TIJOLACO
O Globo
anuncia hoje o lançamento, em maio, do Programa Nacional de Ensino
Técnico, o Pronatec. Posto aí em cima uma entrevista, dada em fevereiro,
pela Presidente Dilma Rouseff, em que ela explica os objetivos do
programa e – muito importante – conecta a educação profissional à
formação geral, com a ideia de escolas de dois turnos – o regular e o
profissionalizante.
É, como se vê, uma medida que já vem sendo gestada desde o início do
ano. Mas é, antes ainda, uma questão que se arrasta, no Brasil, há quase
80 anos, sem que tenha sido solucionada de forma adequada.
Já nos anos final dos anos 30, o país vivia o dilema entre dois
modelos de educação profissional e tecnológica. De um lado, o Ministro
da Educação, Gustavo Capanema, defendendo que o Estado o assumisse
diretamente e o fizesse associado à educação dita “formal”; de outro, o
“grupo industrial”, formado por dirigentes empresariais paulistas de
vanguarda, como Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi, que sustentava que o
próprio empresariado – garantidos os recursos para isso – seria o melhor
para gerir essa qualificação profissional.
A
solução do Sistema “S” – Senai, Senac, etc – foi a predominante. E se
provou de alta qualidade, ao longo de décadas. A outra vertente, ainda
que de maneira periférica, também se mostrou um vitoriosa, embora
restrita, com a criação, em 1942, da Escola Técnica Nacional – hoje o
Cefet – que proporcionava visão mais ampla e teórica da atividade
industrial ao lado do ensino convencional. Tanto que, nos anos 70,
passou a ter um acesso tão disputado que, praticamente, só a classe
média a ela conseguia ter acesso, pela admissão concorridíssima, quase a
tornar obrigatórios os cursos de preparação.
Da mesma forma, a partir do fim dos anos 80, o Sistema “S” foi
deixando de ser uma alternativa de formação de profissionais
qualificados. Se antes a necessidade era tão intensa que algumas
oficinas do Senai era envidraçadas para atrair a atenção dos passantes
e captar alunos, a crise econômica acabou com a quase total “garantia
de emprego” com que contavam os egressos do sistema. De outro lado, o
preço desta formação passou a se tornar proibitivo – mais ainda por não
assegurar contratação imediata em bons padrões salariais.
Afinal, excetuando as vagas gratuitas proporcionadas por acordos com o
Governo, que atinge apenas metade das vagas, fazer um curso
profissionalizante nestas instituições passou a ter um custo
proibitivo. O ex-presidente Lula, por exemplo, dificilmente teria
condições de fazer hoje um curso de torneiro mecânico. Por dois meses e
160 horas aula, o custo desta aprendizagem no Senai chega a R$ 1,3 mil.
O esforço feito pelo Governo Lula para criar cursos de qualificação
profissional, muito embora tenha sido e seja ainda positivo, esbarra nos
limites da inexistência, fora do setor estatal e semi-estatal (como o
Sistema “S”) de estruturas capazes de fazê-lo com qualidade e
eficiência. Em geral, acaba-se por produzir apenas profissionais para
funções muito básicas, embora nossa demanda seja, cada vez mais, por
mão-de-obra de média/alta qualidade, capaz de se adequar às estruturas
mais exigentes, competitivas e tecnológicas da atividade industrial e de
serviços.
O Governo Lula produziu muitos avanços. Primeiro, acabou com a
virtual proibição aos Estados de fazerem ensino técnico, pela restrição
imposta por FHC de que arcassem com todo o custeio. Depois, expandiu a
rede de escolas técnicas federais de maneira expressiva e faz subir de
113 mil para 219 mil o número de matrículas, entre 2003 e 2009 (não
tenho os números de 2010).
Mas era preciso um passo adiante, uma decisão. E Dilma a tomou, ao que parece, com o Pronatec.
A formação profissional de qualidade – e isso é inseparável da
formação do ser humano – vai passar a ser uma causa de Governo, à qual
as instituições públicas e semi-públicas devem se integrar.
E dou, desde já, uma sugestão: porque não convovar a Petrobras, as
universidades públicas estaduais e federais do Rio de Janeiro e as
indústrias da cadeia petroleira, inclusive a naval, para fazermos uma
grande Escola Técnica de Petróleo e Gás no Rio de Janeiro, para formar a
mão de obra que o setor já necessita e vai precisar com o pré-sal?
Sem prejuízo do Prominp, que dá formação básica, essencialmente,
temos de formar centenas, milhares de profissionais de alta qualidade
para as plataformas e refinarias. E temos conhecimento para isso. Ali,
em Itaboraí, onde se ergue o pólo petroquímico que será a maior
refinaria brasileira, a pouca distância do pólo naval de Niteroi/São
Gonçalo e do Centro de Pesquisa da Petrobras, há espaço e proximidade
para fazer uma escola de alto padrão, fisica e pedagogicamente conectada
com as necessidades do setor.
A oportunidade está aí. E os recursos também, pois o Fundo Social
para o qual irão boa parte das receitas do pré-sal tem destinação
obrigatória também para esta área da educação, da ciência e da
tecnologia.
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