sábado, 21 de maio de 2011

Acampados nas ruas, espanhóis protestam por reformas e uma participação mais ativa na política

 No OperaMundi

 

“Praça Livre, aqui ninguém nos representa”, indica um cartaz escrito com tinta preta na entrada da Praça Catalunha de Barcelona, um dos epicentros do surpreendente Movimento 15-M (em referência ao dia 15 de maio), que gerou uma onda de protestos que se estende por toda a Espanha. Milhares de cidadãos comuns protestam há sete dias contra o atual sistema político e econômico de um país com mais de 40% de desemprego juvenil.


E prometem continuar, apesar de a junta eleitoral ter proibido as manifestações neste fim de semana antes das eleições locais deste domingo, ainda que a polícia tenha anunciado que somente atuará em caso de distúrbios ou alterações de ordem.

Em Barcelona, os “indignados” dividiram a praça em três áreas simbólicas – Tahrir, Palestina e Islândia – colocando, ao redor, barracas protegidas do sol por lonas de plástico, cada uma representando uma “comissão” distinta: desde infraestruturas e comunicação até atividades e cozinha. Em frente a eles, se aglomeram dezenas de pessoas, a maioria jovens, mas também aposentados e trabalhadores que se interessam pelas propostas do novo movimento.

Efe

A Praça da Catalunha tornou-se o foco dos protestos em Barcelona. Manifestantes prometem continuar até domingo.

“Isso é como o Speaker’s Corner, mas à sua maneira”, comentou atrás da mesa da comissão de cozinha Alberto Velasco, um comerciante de 32 anos, em referência ao famoso local de debate no Hyde Park de Londres. “Estamos fartos que os pobres paguem a crise dos ricos, a corrupção aqui é um escândalo. Há muita vontade que algo mude, esta é uma centelha de esperança”.
 
Enquanto fala, não deixa nem por um segundo de atender os cidadãos que chegam carregados com bolsas de plástico repletas de comida e utensílios de cozinha para apoiar o protesto. Algumas pessoas perguntam como podem contribuir com dinheiro e depositam 5, 10, 15 euros, em um pote de plástico que está sobre a mesa.

Efe

Cabanas foram erguidas na Praça Porta do Sol, onde os milhares de manifestantes pretedem apresentar reivindicações.

No outro extremo da praça, atravessando acalorados corredores de cidadãos e  fileiras de mensagens de reivindicações de todo o tipo penduradas em cordas, é possível alcançar o local onde se encontra a comissão de comunicação. Lá, Enric Martín, funcionário de 43 anos e um dos porta-vozes do movimento, comenta que, no princípio, o coletivo era formado sobretudo por estudantes que se organizaram através das redes sociais como #spanishrevolution no Twitter.

Entretanto, desde terça-feira (17/05), os mais velhos também se somaram ao protesto após interarem-se pela rádio e televisão. Ele mesmo chegou havia alguns dias perguntando-se o que poderia fazer, equipado com um computador com conexão via satélite. “Há pouco cortaram a conexão wi-fi na praça, para que não possamos expandir nossa mensagem”, protesta.
 
Martín comentou que o movimento, chamado “Democracia Real Ya”, não conta com um líder, é sobretudo pacífico, e destacou que as decisões são adotadas pelo maioria na assembleia popular que é realizada no final do dia. A noite de quinta-feira (19/05) anterior reuniu sete mil pessoas, precedida por um sonoro panelaço. Até agora seu objetivo foi identificar o movimento e organizar-se, ainda que já trabalham na apresentação de um manifesto com exigências mínimas que deverão ser aprovadas em assembleia.

Em Madri, onde o movimento nasceu após uma concentração realizada no último domingo, os manifestantes apresentaram algumas propostas entre as quais figura a reforma eleitoral. Entre elas que a iniciativa privada não possa financiar os partidos e que não haja acusados por corrupção nas listas eleitorais. Tudo isso ainda está para ser decidido. Os protestos serão estendidos para além das eleições de domingo?, pergunto a Martín antes de me despedir. “Veremos, em breve veremos”, afirma.

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