Escrito por Duarte Pereira no Correio da Cidadania |
A Boitempo Editorial, numa iniciativa conjunta com a Editora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, acaba de lançar a primeira
tradução brasileira integral da obra de Karl Marx, celebrizada como Grundrisse (em português, Esboços ou Fundamentos para a crítica da economia política). Uma tradução brasileira da parte desses manuscritos relativa às chamadas Formen (ou Formações econômicas pré-capitalistas)
já fora publicada pela Editora Paz e Terra em 1975, com importante
introdução escrita pelo historiador britânico Eric Hobsbawn.
Os Grundrisse reúnem manuscritos redigidos por Marx em 1857 e
1858, no andamento de sua monumental investigação crítica do novo modo
de produção e da nova formação social – capitalistas – que emergiam e se
desenvolviam na Europa, assim como das primeiras interpretações dessa
nova economia e dessa nova sociedade, feitas de um ângulo burguês, pelos
economistas denominados clássicos, como Adam Smith e David Ricardo.
Aos Grundrisse, mantidos inéditos por Marx, se seguiria a Contribuição à crítica da economia política, publicada em 1859, e, num nível incomparavelmente superior de elaboração, o primeiro volume de O capital, publicado em 1867. Como se sabe, o 2º e o 3º volumes de O capital
somente seriam publicados em 1885 e 1894, respectivamente, organizados e
editados por Engels após a morte de Marx. O 4º volume, mais conhecido
como Teorias da mais-valia ou como História crítica das doutrinas econômicas,
reunindo os rascunhos escritos por Marx entre 1861 e 1863, seria
organizado e editado por Karl Kautsky em vários tomos publicados entre
1905 e 1910. Existe uma edição brasileira integral dessa obra, traduzida
diretamente do alemão por Reginaldo Sant’Anna e lançada pela Editora
Civilização Brasileira em 1980.
Ao ler os Grundrisse, é preciso não perder de vista dois
comentários feitos pelo próprio Marx, um ressaltando sua importância e
outro alertando para seus limites. Primeiro, que os manuscritos foram “o
resultado de 15 anos de pesquisa, ou seja, dos melhores anos de minha
vida”. E segundo, que “as monografias foram escritas em períodos muito
diversos, para meu próprio esclarecimento, não para publicação”. A
maioria dos temas e das teses dos Grundisse seria reelaborada nas obras posteriores de Marx, principalmente em O capital,
com mais rigor e cuidado no que diz respeito ao conteúdo e à forma e
levando em conta o avanço das investigações do autor. Algumas passagens
dos Grundisse não seriam reescritas por Marx, nem incorporadas a
suas obras posteriores, talvez porque ele sentisse a necessidade de
aprofundá-las.
A publicação da primeira edição integral em português dos Grundrisse,
traduzida diretamente dos originais alemães por Mário Duayer e um grupo
de colaboradores, representa um marco na história da cultura brasileira
e uma contribuição muito importante para o estudo especializado e
histórico-crítico do marxismo.
Quem ler esses manuscritos seminais com a mente despojada de
preconceitos terá a oportunidade de verificar como permanece atual, em
suas linhas essenciais, a crítica de Marx ao capitalismo e ao pensamento
econômico burguês, feita do ponto de vista dos trabalhadores
destituídos de meios modernos de produção e forçados a assalariar-se.
Ficha técnica
Título: Grundrisse
Subtítulo: Manuscritos econômicos de 1857-1858: Esboços da crítica da economia política Título original: Karl Marx Ökonomische Manuskripte 1857/58 Autor: Karl Marx Tradução: Mario Duayer, Nélio Schneider, Alice Helga Werner e Rudiger Hoffman Supervisão editorial e apresentação: Mario Duayer Orelha: Jorge Grespan Quarta capa: Francisco de Oliveira Páginas: 792 Preço: R$ 79,00 ISBN: 978-85-7559-172-7 Editoras: Boitempo e UFRJ
Duarte Pereira, 72 anos, é jornalista e escritor.
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