Samuel Brittan, articulista do "Financial Times", resgata, em artigo reproduzido pelo "Valor Econômico" nesta sexta-feira (26), o que ele chama de “recuperação” das teses de Karl Marx.
“Em meio a quase todas crises periódicas que afetam as economias mercantis, erguem-se vozes dizendo que 'No fim das contas, Marx estava certo'", diz ele. Brittan recorda que alguns anos atrás Nicolas Sarkozy, o poresidente da França, foi visto empunhando uma cópia de Das Capital. Nas últimas semanas, complementa, gurus financeiros, entre eles Nouriel Roubini e George Magnus, escreveram artigos com referências ao “pensador comunista”.
Segundo Brittan , quando a recuperação acontece a grita se dissipa, apenas para ressurgir na vez seguinte em que ocorre uma contração brusca. “A primeira coisa errada no slogan é que ele tem pouco a ver com Karl Marx”, diz ele. “Lembro-me de uma senhora, sob outros aspectos uma profissional extremamente inteligente que, quando indagada sobre por que era marxista, respondeu: ‘Eu fiquei entediada com os amigos de meu pai’.” Em seguida o articulista do Financial Times divaga por caminhos obscuros da história, deixando de lado as luzes do marxismo para mirar em personagens que o imperialismo elegeu como alvos principais — principalmente os revolucionários marxistas Josef Stálin e Mao Tse tung.
Divisão da história
Brittan tenta separar Marx dos marxistas. “É, evidentemente, absurdo culpar Marx, que viveu de 1818 a 1883, pelos crimes cometidos décadas após sua morte. Na verdade, o grande homem disse certa vez: ‘Seja lá que outra coisa eu possa ser, não sou um marxista’. Muitos analistas sérios têm escrito sobre o que Marx quis dizer ou deve ter desejado dizer. Não sou um deles e minha desculpa principal para dar minha própria opinião extremamente seletiva é que nunca demonizei nem adorei esse homem”, escreve. Essa resvalada retórica na verdade serve de gancho para ele enveredar pelo mais baixo antimarxismo ao discorrer sobre a essência da obra de Marx — possivelmente para tentar espantá-la de Wall Street e adjacências.
Começa dizendo que o aspecto de Marx que originalmente o intrigou foi sua divisão da história após o fim da Idade das Trevas: feudalismo, capitalismo, socialismo e comunismo. “Por socialismo, Marx entendia algo semelhante a uma versão extrema da antiga quarta cláusula do Partido Trabalhista britânico, que contemplava a propriedade pública de todos os meios de produção, de distribuição e de trocas. Mas comunismo não implicava nada semelhante a seu significado posterior. Era uma utopia na qual um dia de trabalho curto proveria todas as necessidades da sociedade e as pessoas ficariam livres para ‘caçar de manhã, pescar à tarde e discutir filosofia à noite’. A visão de uma sociedade assim reteve no campo marxista alguns idealistas que, do contrário, poderiam ter abandonado a causa”, assevera.
Livro de Rudolf Hilferding
Partindo daí ele discorre sobre outros aspectos de menor importância. Para ele, “há muitos problemas na versão marxista”. “Será que o capitalismo começou nas repúblicas da Itália no século XV ou ainda não tivera início em muitas regiões da Europa onde a Revolução Industrial não se firmou efetivamente até um momento bem avançado do século XIX? E o que dizer sobre a Rússia, que ainda não tivera uma revolução capitalista, mas onde Marx tinha um número surpreendente de discípulos? Isso começou a preocupá-lo no fim de sua vida, quando ponderou se a Rússia poderia passar diretamente ao socialismo”, escreve.
Brittan cita a conhecida introdução de A. J. P. Taylor, historiador conservador inglês, em uma edição do Manifesto do Partido Comunista (editora Penguin) na qual ele determina que o marxismo foi uma peculiaridade do mundo de língua alemã. “Sua elaboração mais interessante veio de Rudolf Hilferding, um social-democrata austríaco cuja contribuição duradoura foi formulada em seu livro Das Finanzkapital. Nele, Hilferding chamou a atenção para uma nova faceta sinistra, a ascensão de banqueiros e financistas por trás da crescente cartelização do sistema produtivo. Ele não previu a importância bem maior da massa de dinheiro artificial cruzando fronteiras, o que certamente é extremamente relevante, num momento em que os banqueiros centrais estão quebrando a cabeça sobre como reanimar a economia mundial”, finaliza.
Interpretações da realidade
Essas passagens revelam o velho problema da indiferença em relação à alma do marxismo — a dialética. Um exame, mesmo sumário, da obra de Marx evidencia que Britan repete a batida na mesma tecla já milhões de vezes tocada pelos que evitam compreender o marxismo com espírito científico, isento de paixões e sem a carga irracional de ódio herdada em boa parte de preconceitos incutidos por anos de anticomunismo. Mesmo quando ele não é excluído da categoria de fenômeno social — o marxismo é ensinado até nas universidades norte-americanas —, procuram a todo custo destituí-lo de sua alma. É assim que os espíritos se fecham ao seu conhecimento, possivelmente com medo de a ele se converter.
Foi precisamente esse grande pensador quem decifrou o código da economia de crise. E isso não está em nenhum livro em particular. Está no conjunto de sua obra, da qual a parte mais importante é, certamente, O Capital. Ignorar essa premissa básica do marxismo equivale a sair à cata de mitos na tentativa de fugir da realidade. E quem lembra isso, evidentemente em tom crítico, é ninguém menos do que Paul Krugman, o prestigiado economista do MIT (Massachusetss Institute of Tecnhology), assumidamente keynesiano, que, ao comentar as comemorações dos 150 anos do Manifesto do Partido Comunista, em 1998, escreveu: "Artigos proclamam que a turbulenta economia mundial de hoje é exatamente o que o grande homem previu. Um colunista do New Yorker chegou a proclamar Marx como o pensador do futuro."
Interpretações da realidade
Karl Marx não é, portanto, apenas mais um nome no balaio de gatos dos gurus da economia. Ele é, antes de qualquer outra coisa, um cientista que se destaca na história do pensamento social. Sua teoria difere substancialmente das idéias voláteis que são propagadas por gente que ganha a vida montando frases de efeito e expelindo perdigotos em palestras sobre o mercado e redução do Estado mundo afora.
A interpretação científica dos seus princípios radiografa casos de sucesso e fracasso em uma sociedade, gera novas interpretações da realidade, cria novos paradigmas e equações para entender e explicar o que ocorre no mundo. Ao contrário da maioria das pessoas que escrevem ou escreveram sobre economia, Marx tinha farinha no saco — e, por isso, é uma das raras fontes seguras nesse terreno. Por tudo, Marx precisa ser estudado. Por sua originalidade, pela seriedade e consistência de sua obra, porque escrevia bem. Talvez seja por isso que Wall Street tenha tanto interesse em sua leitura. O medo é o de que as grandes massas compreendam a sua alma e tomem seus destinos nas mãos — seguindo a máxima marxista de que não basta interpretar o mundo, mas, sim, tranformá-lo. Daí o esforço milhões de vezes repetido para tentar vulgarizar o marxismo.
Antimarxismo primitivo
Samuel Brittan adota o modelo mais ordinário de vulgarização da obra de Marx: a tentativa de associá-la ao autoritarismo. Não há dúvida de que as experiências socialistas carregam nas costas distorções grosseiras no que diz respeito à interpretação do marxismo. Não resta dúvida também que os dois personagens citados pelo articulista do Financial Times, Josef Stálin e Mao Tse Tung, são os principais responsáveis por essas distorções. Repassar os motivos que os levaram a cometer erros, no entanto, seria chover no molhado. O que importa é constatar que seus acertos pesam muito mais em qualquer balança honesta que se utilize para analisar os processos históricos.
Ao lado deste antimarxismo primitivo, outras vulgaridades mais sofisticadas tentam demonstrar o marxismo como algo essencialmente equivocado. Uma delas é a apresentação da obra de Marx impregnada de erudição e afogada em terminologia complicada, uma forma de obscurecer os problemas. Falta clareza para chegar às situações concretas. E há também os grupos “esquerdistas”, para os quais o anticomunismo de “esquerda” tornou-se uma fixação fanática, um preconceito inextirpável. Nada melhor do que a definição de Lênin para estes grupos: o extremismo é filho de erros oportunistas.
Marx sem alma
Não é possível falar do legado de Marx sem o seu parâmetro revolucionário, sem a sua alma, a sua essência. Numa palavra: a dialética. O marxismo, independente do que dizem dele os já decrépitos “novos filósofos”, não pode evidentemente ser resumido a um modelo. Os bolcheviques de “têmpera especial” partiram a história em duas, abalaram o mundo, romperam pela primeira vez a estrutura e a lógica do capitalismo e do imperialismo — tomaram o céu de assalto, como dizia Karl Marx sobre os revolucionários da Comuna de Paris de 1871 —, mas foram marxistas do seu tempo. O desenvolvimento histórico obriga os marxistas a uma nova perspectiva revolucionária. E, com isso, a um novo posicionamento.
Marx e Engels, no Manifesto do Partido Comunista, estavam bem longe de qualquer triunfalismo revolucionário. Eles disseram que a luta entre classes antagônicas de uma sociedade dilacerada — como é a sociedade capitalista — pode perfeitamente terminar “com a ruína das classes em luta”. Não há nenhuma “providência histórica” que garanta a vitória da classe revolucionária — aquela que poderia superar a contradição existente e recompor a sociedade. Não basta, portanto, como lembrou Galileu Galilei quando acossado pelos aristotélicos das universidades, filosofar folheando textos nos quais fatalmente são encontradas todas as soluções para todos os problemas. Por tudo isso, pode-se concluir: os antimarxistas, como o articulista do Financial Times, leêm um Marx sem alma.
Segundo Brittan , quando a recuperação acontece a grita se dissipa, apenas para ressurgir na vez seguinte em que ocorre uma contração brusca. “A primeira coisa errada no slogan é que ele tem pouco a ver com Karl Marx”, diz ele. “Lembro-me de uma senhora, sob outros aspectos uma profissional extremamente inteligente que, quando indagada sobre por que era marxista, respondeu: ‘Eu fiquei entediada com os amigos de meu pai’.” Em seguida o articulista do Financial Times divaga por caminhos obscuros da história, deixando de lado as luzes do marxismo para mirar em personagens que o imperialismo elegeu como alvos principais — principalmente os revolucionários marxistas Josef Stálin e Mao Tse tung.
Divisão da história
Brittan tenta separar Marx dos marxistas. “É, evidentemente, absurdo culpar Marx, que viveu de 1818 a 1883, pelos crimes cometidos décadas após sua morte. Na verdade, o grande homem disse certa vez: ‘Seja lá que outra coisa eu possa ser, não sou um marxista’. Muitos analistas sérios têm escrito sobre o que Marx quis dizer ou deve ter desejado dizer. Não sou um deles e minha desculpa principal para dar minha própria opinião extremamente seletiva é que nunca demonizei nem adorei esse homem”, escreve. Essa resvalada retórica na verdade serve de gancho para ele enveredar pelo mais baixo antimarxismo ao discorrer sobre a essência da obra de Marx — possivelmente para tentar espantá-la de Wall Street e adjacências.
Começa dizendo que o aspecto de Marx que originalmente o intrigou foi sua divisão da história após o fim da Idade das Trevas: feudalismo, capitalismo, socialismo e comunismo. “Por socialismo, Marx entendia algo semelhante a uma versão extrema da antiga quarta cláusula do Partido Trabalhista britânico, que contemplava a propriedade pública de todos os meios de produção, de distribuição e de trocas. Mas comunismo não implicava nada semelhante a seu significado posterior. Era uma utopia na qual um dia de trabalho curto proveria todas as necessidades da sociedade e as pessoas ficariam livres para ‘caçar de manhã, pescar à tarde e discutir filosofia à noite’. A visão de uma sociedade assim reteve no campo marxista alguns idealistas que, do contrário, poderiam ter abandonado a causa”, assevera.
Livro de Rudolf Hilferding
Partindo daí ele discorre sobre outros aspectos de menor importância. Para ele, “há muitos problemas na versão marxista”. “Será que o capitalismo começou nas repúblicas da Itália no século XV ou ainda não tivera início em muitas regiões da Europa onde a Revolução Industrial não se firmou efetivamente até um momento bem avançado do século XIX? E o que dizer sobre a Rússia, que ainda não tivera uma revolução capitalista, mas onde Marx tinha um número surpreendente de discípulos? Isso começou a preocupá-lo no fim de sua vida, quando ponderou se a Rússia poderia passar diretamente ao socialismo”, escreve.
Brittan cita a conhecida introdução de A. J. P. Taylor, historiador conservador inglês, em uma edição do Manifesto do Partido Comunista (editora Penguin) na qual ele determina que o marxismo foi uma peculiaridade do mundo de língua alemã. “Sua elaboração mais interessante veio de Rudolf Hilferding, um social-democrata austríaco cuja contribuição duradoura foi formulada em seu livro Das Finanzkapital. Nele, Hilferding chamou a atenção para uma nova faceta sinistra, a ascensão de banqueiros e financistas por trás da crescente cartelização do sistema produtivo. Ele não previu a importância bem maior da massa de dinheiro artificial cruzando fronteiras, o que certamente é extremamente relevante, num momento em que os banqueiros centrais estão quebrando a cabeça sobre como reanimar a economia mundial”, finaliza.
Interpretações da realidade
Essas passagens revelam o velho problema da indiferença em relação à alma do marxismo — a dialética. Um exame, mesmo sumário, da obra de Marx evidencia que Britan repete a batida na mesma tecla já milhões de vezes tocada pelos que evitam compreender o marxismo com espírito científico, isento de paixões e sem a carga irracional de ódio herdada em boa parte de preconceitos incutidos por anos de anticomunismo. Mesmo quando ele não é excluído da categoria de fenômeno social — o marxismo é ensinado até nas universidades norte-americanas —, procuram a todo custo destituí-lo de sua alma. É assim que os espíritos se fecham ao seu conhecimento, possivelmente com medo de a ele se converter.
Foi precisamente esse grande pensador quem decifrou o código da economia de crise. E isso não está em nenhum livro em particular. Está no conjunto de sua obra, da qual a parte mais importante é, certamente, O Capital. Ignorar essa premissa básica do marxismo equivale a sair à cata de mitos na tentativa de fugir da realidade. E quem lembra isso, evidentemente em tom crítico, é ninguém menos do que Paul Krugman, o prestigiado economista do MIT (Massachusetss Institute of Tecnhology), assumidamente keynesiano, que, ao comentar as comemorações dos 150 anos do Manifesto do Partido Comunista, em 1998, escreveu: "Artigos proclamam que a turbulenta economia mundial de hoje é exatamente o que o grande homem previu. Um colunista do New Yorker chegou a proclamar Marx como o pensador do futuro."
Interpretações da realidade
Karl Marx não é, portanto, apenas mais um nome no balaio de gatos dos gurus da economia. Ele é, antes de qualquer outra coisa, um cientista que se destaca na história do pensamento social. Sua teoria difere substancialmente das idéias voláteis que são propagadas por gente que ganha a vida montando frases de efeito e expelindo perdigotos em palestras sobre o mercado e redução do Estado mundo afora.
A interpretação científica dos seus princípios radiografa casos de sucesso e fracasso em uma sociedade, gera novas interpretações da realidade, cria novos paradigmas e equações para entender e explicar o que ocorre no mundo. Ao contrário da maioria das pessoas que escrevem ou escreveram sobre economia, Marx tinha farinha no saco — e, por isso, é uma das raras fontes seguras nesse terreno. Por tudo, Marx precisa ser estudado. Por sua originalidade, pela seriedade e consistência de sua obra, porque escrevia bem. Talvez seja por isso que Wall Street tenha tanto interesse em sua leitura. O medo é o de que as grandes massas compreendam a sua alma e tomem seus destinos nas mãos — seguindo a máxima marxista de que não basta interpretar o mundo, mas, sim, tranformá-lo. Daí o esforço milhões de vezes repetido para tentar vulgarizar o marxismo.
Antimarxismo primitivo
Samuel Brittan adota o modelo mais ordinário de vulgarização da obra de Marx: a tentativa de associá-la ao autoritarismo. Não há dúvida de que as experiências socialistas carregam nas costas distorções grosseiras no que diz respeito à interpretação do marxismo. Não resta dúvida também que os dois personagens citados pelo articulista do Financial Times, Josef Stálin e Mao Tse Tung, são os principais responsáveis por essas distorções. Repassar os motivos que os levaram a cometer erros, no entanto, seria chover no molhado. O que importa é constatar que seus acertos pesam muito mais em qualquer balança honesta que se utilize para analisar os processos históricos.
Ao lado deste antimarxismo primitivo, outras vulgaridades mais sofisticadas tentam demonstrar o marxismo como algo essencialmente equivocado. Uma delas é a apresentação da obra de Marx impregnada de erudição e afogada em terminologia complicada, uma forma de obscurecer os problemas. Falta clareza para chegar às situações concretas. E há também os grupos “esquerdistas”, para os quais o anticomunismo de “esquerda” tornou-se uma fixação fanática, um preconceito inextirpável. Nada melhor do que a definição de Lênin para estes grupos: o extremismo é filho de erros oportunistas.
Marx sem alma
Não é possível falar do legado de Marx sem o seu parâmetro revolucionário, sem a sua alma, a sua essência. Numa palavra: a dialética. O marxismo, independente do que dizem dele os já decrépitos “novos filósofos”, não pode evidentemente ser resumido a um modelo. Os bolcheviques de “têmpera especial” partiram a história em duas, abalaram o mundo, romperam pela primeira vez a estrutura e a lógica do capitalismo e do imperialismo — tomaram o céu de assalto, como dizia Karl Marx sobre os revolucionários da Comuna de Paris de 1871 —, mas foram marxistas do seu tempo. O desenvolvimento histórico obriga os marxistas a uma nova perspectiva revolucionária. E, com isso, a um novo posicionamento.
Marx e Engels, no Manifesto do Partido Comunista, estavam bem longe de qualquer triunfalismo revolucionário. Eles disseram que a luta entre classes antagônicas de uma sociedade dilacerada — como é a sociedade capitalista — pode perfeitamente terminar “com a ruína das classes em luta”. Não há nenhuma “providência histórica” que garanta a vitória da classe revolucionária — aquela que poderia superar a contradição existente e recompor a sociedade. Não basta, portanto, como lembrou Galileu Galilei quando acossado pelos aristotélicos das universidades, filosofar folheando textos nos quais fatalmente são encontradas todas as soluções para todos os problemas. Por tudo isso, pode-se concluir: os antimarxistas, como o articulista do Financial Times, leêm um Marx sem alma.
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