Artigo publicado em 15/08/2011 no jornal CORREIO BRAZILIENSE
TIAGO FALCÃO
Se fosse apenas um programa de transferência de renda, o Bolsa Família já traria ganho enorme para a
sociedade. Não só por sua faceta mais evidente, relativa ao alívio imediato da pobreza, mas, também,
pela menos óbvia, referente à sua contribuição para o crescimento econômico - o Ipea aponta que cada
R$1 investido no programa aumenta o PIB em R$ 1,44.
Acontece que o Bolsa Família é bem mais que transferência de renda. Cada benefício assume a forma
de um pacto entre a família beneficiária e o poder público. As famílias têm de manter na escola os
meninos e meninas de seis a 17 anos, de vacinar as crianças, de acompanhar seu desenvolvimento
nutricional e de certificar-se de que as gestantes façam o pré-natal. Cumprir esses compromissos é a
condição para receber as transferências. Já a parte que cabe ao Estado não se limita ao pagamento do
benefício. Envolve também o dever constitucional de ofertar serviços de educação, saúde e assistência
social.
Não fossem as condicionalidades, boa parte das famílias beneficiárias, em especial as que vivem em
pobreza extrema, não teriam acompanhamento de saúde adequado e não conseguiriam manter os filhos
na escola. O mais provável é que essas crianças começassem a trabalhar muito cedo, em atividades de
baixíssimas qualificação e renda, perpetuando o ciclo intergeracional de reprodução da pobreza. Mas,
com a abordagem de responsabilidades mútuas, o Estado se obriga a tornar os serviços disponíveis e
determina que as famílias os utilizem, tornando efetiva a sua universalidade constitucional. Cumpridas as
condicionalidades, essa geração de crianças terá a chance de um futuro mais digno.
Conferir o cumprimento das condicionalidades é tarefa complexa, seja pela necessidade de articular
órgãos historicamente condicionados a trabalhar de forma isolada, seja pelo imenso volume de dados
envolvidos. O acompanhamento efetivo que temos hoje só se tornou possível graças a mecanismos e
processos desenvolvidos e aperfeiçoados ao longo de anos. Para dar uma ideia dessa evolução, no
segundo trimestre de 2002 - um ano depois da criação do Bolsa Escola -, apenas 10% das escolas do
país informavam a frequência dos alunos - de maneira agregada, sem discriminar a assiduidade de cada
um dos estudantes. Hoje, os 5.565 municípios brasileiros fazem o acompanhamento, que envolve todo o
universo de escolas que têm alunos do Bolsa Família - com informações individualizadas por aluno.
Para que isso fosse possível, o MEC desenvolveu um sistema dedicado ao acompanhamento da
frequência escolar do público do Bolsa Família. O registro e monitoramento dos resultados da frequência
são feitos pelo MEC em articulação com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDS) e com a participação dos estados e municípios. A cada dois meses, um exército de mais de 10 mil
profissionais da educação é mobilizado em todos os municípios para registro da informação da
frequência escolar de 16,6 milhões de crianças e jovens, com retorno de informação de quase 90% do
público-alvo. Algo similar acontece na saúde a cada semestre.
Esse esforço conjunto está surtindo efeitos. Dados do IBGE mostram que, entre 2004 e 2009, a
quantidade de jovens de 15 a 17 anos que frequentavam a escola no grupo dos 20% mais pobres
aumentou 13,6%, enquanto que entre os 20% mais ricos não houve variação. No mesmo período, a
quantidade de jovens de 15 a 17 anos que frequentavam a escola na série esperada para sua faixa etária
(ensino médio) cresceu 51% no grupo dos 20% mais pobres, enquanto que no quintil mais rico o
crescimento foi de apenas 1,8%.
Tais conquistas são, em larga medida, fruto de sete anos de política de estímulo à permanência na
escola do Bolsa Família. O MEC aponta que, em 2008, a taxa de abandono escolar do ensino
fundamental entre os estudantes beneficiários foi de 3,6%; menor, portanto, do que o resultado referente
a todo o universo de alunos desse nível, que foi de 4,8%. Pela primeira vez um resultado foi melhor para
os mais pobres em um indicador educacional.
Apesar dos progressos, ainda há uma série de disparidades a reduzir. Por isso a agenda de
condicionalidades persevera como essencial. Para o Estado, o descumprimento das condicionalidades
indica que as famílias têm vulnerabilidades. O acompanhamento das condicionalidades fornece alertas
sobre os desafios de inclusão social para superar a extrema pobreza.
Não é incomum as pessoas perderem de vista que o Bolsa Família não se restringe à transferência de
renda, quando na verdade ele é muito mais que isso. O acompanhamento das condicionalidades envolve
trabalho descomunal que, embora pouco reconhecido, vem mudando a vida das crianças e jovens mais
pobres do Brasil. É isso que nos move.
sociedade. Não só por sua faceta mais evidente, relativa ao alívio imediato da pobreza, mas, também,
pela menos óbvia, referente à sua contribuição para o crescimento econômico - o Ipea aponta que cada
R$1 investido no programa aumenta o PIB em R$ 1,44.
Acontece que o Bolsa Família é bem mais que transferência de renda. Cada benefício assume a forma
de um pacto entre a família beneficiária e o poder público. As famílias têm de manter na escola os
meninos e meninas de seis a 17 anos, de vacinar as crianças, de acompanhar seu desenvolvimento
nutricional e de certificar-se de que as gestantes façam o pré-natal. Cumprir esses compromissos é a
condição para receber as transferências. Já a parte que cabe ao Estado não se limita ao pagamento do
benefício. Envolve também o dever constitucional de ofertar serviços de educação, saúde e assistência
social.
Não fossem as condicionalidades, boa parte das famílias beneficiárias, em especial as que vivem em
pobreza extrema, não teriam acompanhamento de saúde adequado e não conseguiriam manter os filhos
na escola. O mais provável é que essas crianças começassem a trabalhar muito cedo, em atividades de
baixíssimas qualificação e renda, perpetuando o ciclo intergeracional de reprodução da pobreza. Mas,
com a abordagem de responsabilidades mútuas, o Estado se obriga a tornar os serviços disponíveis e
determina que as famílias os utilizem, tornando efetiva a sua universalidade constitucional. Cumpridas as
condicionalidades, essa geração de crianças terá a chance de um futuro mais digno.
Conferir o cumprimento das condicionalidades é tarefa complexa, seja pela necessidade de articular
órgãos historicamente condicionados a trabalhar de forma isolada, seja pelo imenso volume de dados
envolvidos. O acompanhamento efetivo que temos hoje só se tornou possível graças a mecanismos e
processos desenvolvidos e aperfeiçoados ao longo de anos. Para dar uma ideia dessa evolução, no
segundo trimestre de 2002 - um ano depois da criação do Bolsa Escola -, apenas 10% das escolas do
país informavam a frequência dos alunos - de maneira agregada, sem discriminar a assiduidade de cada
um dos estudantes. Hoje, os 5.565 municípios brasileiros fazem o acompanhamento, que envolve todo o
universo de escolas que têm alunos do Bolsa Família - com informações individualizadas por aluno.
Para que isso fosse possível, o MEC desenvolveu um sistema dedicado ao acompanhamento da
frequência escolar do público do Bolsa Família. O registro e monitoramento dos resultados da frequência
são feitos pelo MEC em articulação com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDS) e com a participação dos estados e municípios. A cada dois meses, um exército de mais de 10 mil
profissionais da educação é mobilizado em todos os municípios para registro da informação da
frequência escolar de 16,6 milhões de crianças e jovens, com retorno de informação de quase 90% do
público-alvo. Algo similar acontece na saúde a cada semestre.
Esse esforço conjunto está surtindo efeitos. Dados do IBGE mostram que, entre 2004 e 2009, a
quantidade de jovens de 15 a 17 anos que frequentavam a escola no grupo dos 20% mais pobres
aumentou 13,6%, enquanto que entre os 20% mais ricos não houve variação. No mesmo período, a
quantidade de jovens de 15 a 17 anos que frequentavam a escola na série esperada para sua faixa etária
(ensino médio) cresceu 51% no grupo dos 20% mais pobres, enquanto que no quintil mais rico o
crescimento foi de apenas 1,8%.
Tais conquistas são, em larga medida, fruto de sete anos de política de estímulo à permanência na
escola do Bolsa Família. O MEC aponta que, em 2008, a taxa de abandono escolar do ensino
fundamental entre os estudantes beneficiários foi de 3,6%; menor, portanto, do que o resultado referente
a todo o universo de alunos desse nível, que foi de 4,8%. Pela primeira vez um resultado foi melhor para
os mais pobres em um indicador educacional.
Apesar dos progressos, ainda há uma série de disparidades a reduzir. Por isso a agenda de
condicionalidades persevera como essencial. Para o Estado, o descumprimento das condicionalidades
indica que as famílias têm vulnerabilidades. O acompanhamento das condicionalidades fornece alertas
sobre os desafios de inclusão social para superar a extrema pobreza.
Não é incomum as pessoas perderem de vista que o Bolsa Família não se restringe à transferência de
renda, quando na verdade ele é muito mais que isso. O acompanhamento das condicionalidades envolve
trabalho descomunal que, embora pouco reconhecido, vem mudando a vida das crianças e jovens mais
pobres do Brasil. É isso que nos move.
Secretário nacional de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Nenhum comentário:
Postar um comentário