Por Izaías Almada
Meu amigo bissexto, porque nos vemos pouco pessoalmente, mas grande amigo, publicitário e músico, o Luiz Orquestra (Luiz Vidal Rocha em cartório), sempre que pode comenta alguma coisa dos artigos que escrevo, normalmente com o entusiasmo dos amigos.
Não sei se sou sempre merecedor dos elogios dele, mas suas reflexões são também um fator de crítica e de arguta observação sobre muitas das mazelas brasileiras, aquelas que insistem em continuar, e algumas delas ampliadas e magnificadas politicamente pela parte mais calhorda da nossa imprensa, seja no rádio, nos jornais, revistas e na televisão.
Disse-me o Luiz Orquestra que comentando um artigo no blog do Ricardo Kotscho, teve a oportunidade de fazer a ele a seguinte pergunta: Qual a pior ditadura no Brasil, a dos militares, a do Poder Judiciário ou a da Rede Globo de Televisão? Em seguida me desafiou a responder também. Perguntinha danada, mas vou tentar…
Começaria por dizer o óbvio, ululante, nas palavras de Nelson Rodrigues: qualquer tipo de ditadura é condenável.
Curiosamente, as perguntas do Luiz, na ordem em que estão feitas, apresentam uma lógica na sua sequencia, pois vão das botas e dos fuzis à manipulação das ideias, passando pela habilidosa e dissimulada justiça à brasileira.
A ditadura militar é explícita e só não a identifica ou não a vê quem dela se beneficia. Alguns até a consideram branda. Costuma botar os canhões nas ruas, bater e arrebentar, fechar congressos e sindicatos, censurar a imprensa, proibir reuniões, instituir o toque de recolher, prender, torturar e matar.
Embora disseminada pelos vários cantos do mundo através da história da humanidade, a ditadura militar (muitas vezes preparada, sustentada e apoiada pelos civis que covardemente não dão as caras), teve um período de forte presença na América Latina nas décadas de 60 e 70, particularmente no seu cone sul. No Brasil, ela durou 21 anos, entre 1964 e 1985.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem diz em três dos seus artigos o seguinte:
Artigo Três
Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo Cinco
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo Nove
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Os três artigos caracterizam bem o que se passou entre nós. Por ser explícita, violenta e palpável, será sempre possível aos cidadãos de um país confrontá-la até por meio das armas e da rebelião. Não são poucos os exemplos a respeito, inclusive em nosso Brasil.
A ditadura do Poder Judiciário, embora condenável em todos os aspectos, é mais sutil, pois se valendo da independência dos poderes republicanos consegue dissimular muitas das injustiças que pratica. Na democracia formal e representativa, que caracteriza a maioria dos países ocidentais, costuma fazer aquilo que se pode definir como justiça de classe, normalmente em defesa daqueles que possuem o poder econômico.
No Brasil chega a ser constrangedor o desempenho da justiça, onde se pode traçar uma nítida linha divisória entre as decisões que beneficiam os mais poderosos economicamente e as condenações aos menos favorecidos, aos que vivem no andar de baixo e nos porões.
Carregando ainda inúmeros vícios do nosso passado colonial, não é demais afirmar que o Poder Judiciário no Brasil não deixou de todo a Casa Grande, sendo mais inclemente nos casos em que os réus estão mais próximos da senzala.
Pode-se dizer que o judiciário caminha na direção do vento e este pode estar a favor ou contra, mas quando exercido sem o sentido primordial para o qual foi concebido, o exercício imparcial da justiça sem atalhos ou subterfúgios, torna-se um instrumento ditatorial dos mais terríveis. Por vezes, só é possível mudar essa característica com o advento de revoluções e grandes transformações na educação de um povo.
Quanto a Rede Globo de Televisão, e parte do complexo mediático a que pertence, tem a característica de ter sido criada na ditadura militar e de se beneficiar de uma justiça verdadeiramente cega. Beneficiária direta de dois tipos de ditaduras apontadas pelo Luiz Orquestra, o canal do plim-plim vem sobrevivendo há varias décadas e governos no delicado e perigoso terreno da manipulação das ideias e das consciências. Já tentou manipular eleições, distorceu debates políticos, criou inúmeros factóides com o objetivo de lançar a confusão na cabeça dos cidadãos brasileiros e faz do seu jornalismo e das suas novelas, com as cinco ou seis exceções de sempre, uma ardilosa e sibilina lavagem cerebral de milhões de espectadores. Na maioria das vezes com o viés conservador e preconceituoso.
Não é por acaso que a letra de um tema musical de uma das suas novelas dizia: “ê,ê,ê, vida de gado… Povo marcado, povo feliz…” Ironia?
A última denúncia feita aqui nesse mesmo blog pelo Rodrigo Vianna sobre o tratamento que a Rede Globo pretende dar ao recém nomeado Ministro da Defesa, Celso Amorim, já diz bem sobre o conceito de democracia da emissora. Em muitas cabeças, a ditadura é perene. E essa acaba por ser a pior…
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