No próximo dia 23 de setembro, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, pedirá na ONU o reconhecimento da Palestino como Estado de pleno direito. Aliados incondicionais de Israel, os EUA, que nada fizeram desde que Obama chegou ao poder para desbloquear o processo de paz, manifestaram-se rapidamente para julgar "contraproducente" a iniciativa de Abbas enquanto que a União Europeia está dividida. O artigo é de Eduardo Febbro.
Eduardo Febbro - Correspondente da Carta Maior em Paris
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, acendeu um pavio que fez voar em pedaços a máscara das potências ocidentais. Abbas anunciou que no próximo dia 23 de setembro pedirá ante o Conselho de Segurança da ONU o reconhecimento da Palestina como Estado de pleno direito.
Aliados incondicionais de Israel, os Estados Unidos, que nada fizeram desde que Obama chegou ao poder para desbloquear o processo de paz, manifestaram-se rapidamente para julgar « contraproducente » a iniciativa de Abbas enquanto que a União Europeia, por meio da chefe da diplomacia europeia, a escandalosa e inoperante Catherine Ashton, defendeu uma « solução construtiva » que conduza à retomada das negociações entre Israel e Palestina.
A fórmula da comissária europeia é de um cinismo calamitoso: ao cabo de 18 anos de negociações o processo não conduziu a nenhum acordo tangível. Os europeus, lúcidos na hora de falar, mas imobilistas na hora de agir, não conseguiram influir em nenhuma das administrações israelenses enquanto Washington foi incapaz de obter de Israel a mais mínima concessão capaz de fazer o processo avançar.
A proclamação de um Estado palestina pretende por fim ao infrutífero regime de negociação instaurados pelos acordos de Oslo. Por outro lado, o movimento de Mahmud Abbas não tem saída já que os EUA adiantaram que exercerão seu poder de veto no Conselho de Segurança. A Palestina não se converterá então no Estado número 194 das Nações Unidas. O máximo que pode conseguir é um estatuto semelhante ao do Vaticano.
Contudo, a decisão do presidente da Autoridade Plaestina é tanto mais emblemática na medida em que ela ocorre no momento em que os países árabes passam por um intenso processo revolucionário. Resulta incongruente para Estados Unidos e União Europeia opor-se a um Estado palestino, ou seja, seguir apoiando Israel incondicionalmente, ao mesmo tempo em que, ainda que tardiamente, apoiraram a primavera árabe. O cinismo sempre se faz evidente quando chega o momento de tomar uma posição.
Mahmud Abbas ignorou as insistentes recomendações dos emissários norteamericanos, da União Europeia e do inócuo Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, Russia, União Europeia e ONU). Ainda que os diálogos tenham fracassado, o Velho Continente insiste em dizer que a União Europeia vai « redobrar » seus esforços para « retomar as negociações entre as partes o mais rápido possível ». Segundo disse a senhora Ashton, « esse é o único meio de por fim ao conflito ».
Assim como ocorre com outras grandes temas cruciais da política internacional, os países da União Europeia estão profundamente divididos sobre a questão. Itália, República Tcheca, Holanda e Polônia se mostram hostis à criação de um Estado palestino reconhecido pela ONU. Ainda que em menor medida, a Alemanha não simpatiza com a ideia. O resto dos países da UE tem uma tendência favorável, mas sabem que a iniciativa palestina pode causar divisões na unidade do grupo. Paris afirmou que « assumirá suas responsabilidades » e precisou que a posição francesa está « guiada pela tripla preocupação de preservar a perspectiva de uma reativação do processo de negociação, evitar a confrontação diplomática e manter a unidade europeia ». As três aspirações simultâneas parecem hoje inalcançáveis.
O portavoz do Departamento de Estado norteamericano, Mark Toner, considerou que a proclamação de um Estado palestino não conduzirá à meta desejada, ou seja, a existência de « dois Estados convivendo em paz e segurança ». Washington e os europeus clamam por um acordo de paz « completo », mas esta perspectiva foi se evaporando com a ampliação da colonização israelense na Cisjordânia.
A posição de Mahmud Abbas tampouco é confortável. Desde maio passado não consegue formar um governo de unidade nacional, seu mandato já expirou, e o território palestino de Gaza permanece mais dividido do que nunca através de suas respectivas administrações, os fundamentalistas do Hamas e a OLP. Quando anunciou que falaria na ONU no próximo dia 23, Abbas manteve intactas as reivindicações históricas da OLP : um Estado palestino dentro das fronteiras do armistício de 1948, um Estado com Jeruslaém Oriental como capital, o retorno dos refugiados e a plena soberania.
A atuação da administração Obama na crise palestina tem sido um fracasso total. Obama suscitou enormes esperanças quando foi eleito e, há pouco mais de dois anos, em um discurso pronunciado no Cairo (junho de 2009), realimentou-as quando disse : « A situação dos palestinos é intolerável ». Mas, até agora, não foi capaz sequer de impedir que Israel siga construindo colônias na Cisjordânia.Aliados incondicionais de Israel, os Estados Unidos, que nada fizeram desde que Obama chegou ao poder para desbloquear o processo de paz, manifestaram-se rapidamente para julgar « contraproducente » a iniciativa de Abbas enquanto que a União Europeia, por meio da chefe da diplomacia europeia, a escandalosa e inoperante Catherine Ashton, defendeu uma « solução construtiva » que conduza à retomada das negociações entre Israel e Palestina.
A fórmula da comissária europeia é de um cinismo calamitoso: ao cabo de 18 anos de negociações o processo não conduziu a nenhum acordo tangível. Os europeus, lúcidos na hora de falar, mas imobilistas na hora de agir, não conseguiram influir em nenhuma das administrações israelenses enquanto Washington foi incapaz de obter de Israel a mais mínima concessão capaz de fazer o processo avançar.
A proclamação de um Estado palestina pretende por fim ao infrutífero regime de negociação instaurados pelos acordos de Oslo. Por outro lado, o movimento de Mahmud Abbas não tem saída já que os EUA adiantaram que exercerão seu poder de veto no Conselho de Segurança. A Palestina não se converterá então no Estado número 194 das Nações Unidas. O máximo que pode conseguir é um estatuto semelhante ao do Vaticano.
Contudo, a decisão do presidente da Autoridade Plaestina é tanto mais emblemática na medida em que ela ocorre no momento em que os países árabes passam por um intenso processo revolucionário. Resulta incongruente para Estados Unidos e União Europeia opor-se a um Estado palestino, ou seja, seguir apoiando Israel incondicionalmente, ao mesmo tempo em que, ainda que tardiamente, apoiraram a primavera árabe. O cinismo sempre se faz evidente quando chega o momento de tomar uma posição.
Mahmud Abbas ignorou as insistentes recomendações dos emissários norteamericanos, da União Europeia e do inócuo Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, Russia, União Europeia e ONU). Ainda que os diálogos tenham fracassado, o Velho Continente insiste em dizer que a União Europeia vai « redobrar » seus esforços para « retomar as negociações entre as partes o mais rápido possível ». Segundo disse a senhora Ashton, « esse é o único meio de por fim ao conflito ».
Assim como ocorre com outras grandes temas cruciais da política internacional, os países da União Europeia estão profundamente divididos sobre a questão. Itália, República Tcheca, Holanda e Polônia se mostram hostis à criação de um Estado palestino reconhecido pela ONU. Ainda que em menor medida, a Alemanha não simpatiza com a ideia. O resto dos países da UE tem uma tendência favorável, mas sabem que a iniciativa palestina pode causar divisões na unidade do grupo. Paris afirmou que « assumirá suas responsabilidades » e precisou que a posição francesa está « guiada pela tripla preocupação de preservar a perspectiva de uma reativação do processo de negociação, evitar a confrontação diplomática e manter a unidade europeia ». As três aspirações simultâneas parecem hoje inalcançáveis.
O portavoz do Departamento de Estado norteamericano, Mark Toner, considerou que a proclamação de um Estado palestino não conduzirá à meta desejada, ou seja, a existência de « dois Estados convivendo em paz e segurança ». Washington e os europeus clamam por um acordo de paz « completo », mas esta perspectiva foi se evaporando com a ampliação da colonização israelense na Cisjordânia.
A posição de Mahmud Abbas tampouco é confortável. Desde maio passado não consegue formar um governo de unidade nacional, seu mandato já expirou, e o território palestino de Gaza permanece mais dividido do que nunca através de suas respectivas administrações, os fundamentalistas do Hamas e a OLP. Quando anunciou que falaria na ONU no próximo dia 23, Abbas manteve intactas as reivindicações históricas da OLP : um Estado palestino dentro das fronteiras do armistício de 1948, um Estado com Jeruslaém Oriental como capital, o retorno dos refugiados e a plena soberania.
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