Felipe Prestes no SUL21
O governo do Rio Grande do Sul está convicto de que há interesses não trabalhistas por trás de supostos protestos, atribuídos a policiais militares, e que chegam a níveis cada vez mais graves. Depois de falsas bombas, um explosivo verdadeiro foi encontrado na manhã desta sexta-feira (23) em frente à sede do 9º Batalhão da Brigada Militar, no centro de Porto Alegre. Segundo a BM, o material era um explosivo semelhante ao utilizado em pedreiras, mas não continha detonador, por isso não havia risco de explosão. Para o governo, foi a gota d’água.
O caso motivou uma entrevista coletiva com a participação do assesssor superior do governador, Flavio Koutzii, do secretário de Segurança Pública, Airton Michels, e do comandante-geral da BM, Sérgio Abreu. Para os três, os atos visam desestabilizar o governo e a Brigada Militar. Koutzii cobrou que os partidos de oposição se manifestem. “Esperamos que todas as forças políticas se manifestem, para sabermos se eles condenam ou não os acontecimentos. Estão um pouco atrasadinhos os partidos de oposição em se manifestar”, afirmou o assessor superior.
Koutzii disse ainda que não é possível que os ânimos dos brigadianos tenham se exaltado a ponto de uma ameaça com um explosivo um dia após os soldados e cabos terem aceitado a proposta de reajuste salarial do governo. “O governo respondeu a todas as provocações com propostas salariais. É porque está dando certo que o desespero de alguns se expressa”, disse.
Para o líder do PMDB na Assembleia, Giovani Feltes, o governo tem feito insinuações que colocam todos como suspeitos. “Desde a queima de pneus, integrantes do governo têm declarado que sabem quem está por trás dos protestos e que seria uma tentativa de desestabilizaro governo. Se o governo sabe quem são, que mostre e puna. Se não sabe, porque diz que sabe? Fica todo mundo como suspeito, como se a oposição fosse responsável”, disse.
Sobre a cobrança de Koutzii, Feltes afirmou ser óbvio que a oposição não gosta do tipo de manifestação que vem sendo feita supostamente por brigadianos. Mas não concorda que caiba à oposição o dever de se manifestar. “O que podem fazer os partidos de oposição? A oposição não tem mecanismos, é algo que cabe ao governo”, disse. O deputado afirmou ainda que não levanta suspeições “temerárias”, como têm feito integrantes do governo.
Brigada Militar realiza 26 inquéritos
O comandante-geral da BM informou que a corporação já realiza 26 inquéritos policiais militares (IPMs), um para cada ocorrência. Cada queima de pneu em estradas, além dos fatos mais graves, tem tido sua própria investigação. Sérgio Abreu disse que já foram feitas 40 oitivas. Até agora, o único identificado, por meio de câmeras de segurança, foi João Carlos dos Santos, sargento da reserva da BM, que participou de protesto em Alvorada. Quanto aos demais, embora Abreu diga que haja suspeitos, diz que não é possível dizer se são brigadianos ou não.
Ele levantou a hipótese de que o crime organizado pode estar por trás de protestos. “Os atos visam desprestigiar a Brigada. Nós estamos agindo muito fortemente contra o crime organizado”, disse. Entretanto, nem a BM, nem o governo apresentam evidências mais claras do interesse político ou da participação do crime organizado.
Há também dúvidas se os atos são todos realizados por um mesmo grupo, ou por vários. Para Koutzii, protestos de brigadianos podem ter sido vistos como uma oportunidade para grupos contrários ao governo, dentro ou fora da BM, se aproveitarem. “Pode haver um núcleo duro contra o governo”, disse.
Mesmo sem a certeza de que os fatos estejam todos interligados, o secretário Airton Michels enfatizou que quem for pego em um ato isolado pode sim ser imputado por formação de quadrilha, por estar colaborando com o conjunto de ações. “Quem acha que está fazendo um ato isolado, vai entrar em crimes bem mais graves do que pensa, mas tudo indica que estão todos conectados”, disse. Michels também corroborou com a tese política. “Não tem correlação com os movimentos reivindicatórios, que têm sentado para negociar com o governo. Há uma articulação de forças políticas que visam desestabilizar nossas ações de segurança pública. Uma reação aos resultados que o governo está apresentando nas negociações salariais”.
O secretário ressaltou que a maioria dos crimes foi praticada na “calada da noite”, por isto é muito difícil que haja um flagrante, mas que artefatos como o encontrado nesta sexta “deixam vestígios” que estão levando até os responsáveis. O comandante-geral da BM, por sua vez, disse que os inquéritos ainda vão demorar. “Vai demorar muito ainda a investigação. As provas vão demandar muita pesquisa, muito cruzamento de dados”, explicou. Abreu informou que a Brigada Militar reforçou o policiamento à noite em locais que considera que pode haver atentados e tem monitorado suspeitos.
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