entrevistado por Bernd Kramer
Nem o drástico programa de austeridade grego nem o proposto Fundo Monetário Europeu podem ajudar a euro zona a sair das suas dificuldades. Ao invés disso, Heiner Flassbeck — economista chefe da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) e ex-vice-ministro das Finanças alemão — clama por salários mais elevados na República Federal da Alemanha a fim de arrostar a crise. Flassbeck sustenta que a política salarial alemã é responsável pelos problemas da Grécia.
Mr. Flassbeck, será que o drástico programa de austeridade resolverá os problemas para os gregos?
Não. Ao contrário, irá torná-los piores. Se o Estado poupa durante uma recessão, a procura irá também evaporar-se. As situações económica e orçamental ficarão piores.
Na sua perspectiva, a contenção salarial na Alemanha será uma causa importante da tragédia grega? Outros dizem que os gregos simplesmente têm estado a viver acima dos seus meios.
Só se pode viver acima das condições se alguém alhures está a viver abaixo das suas! Os gregos certamente sacaram a descoberto da sua conta, mas só isto não explica os enormes défices comerciais dos países do Sul da Europa e os excedentes da República Federal. A contenção salarial no passado tornou a economia alemã muito competitiva – a expensas dos outros. Os custos unitários do trabalho são significativamente mais altos nos países do Sul da Europa do que na Alemanha. Isto levou aos gigantescos excedentes comerciais alemães. O excedente alemão é o défice dos seus parceiros comerciais. Agora isto é claro na Grécia. O país deve arcar com alto orçamento e défices comerciais.
A contenção salarial salvou muitos empregos na indústria alemã. A força da nossa indústria agora é novamente a inveja de muitos.
Eles deixam de reconhecer a importância da união monetária neste contexto. A política alemã de apertar o cinto funcionou tão bem só porque os seus parceiros comerciais já não podiam desvalorizar as suas próprias divisas. A desvalorização da sua parte teria levado a uma ascensão dos preços das exportações alemãs e a uma redução dos excedentes comerciais da Alemanha. A Alemanha tem abusado da união monetária, devido a uma meta assentido de 2% de inflação, a qual a Alemanha, com o seu ajuste salarial, não respeitou.
Mesmo se a política fosse diferente, isto não poderia exercer influência sobre a política salarial na indústria metalúrgica. Na Alemanha a regra é a negociação colectiva sem a interferência do governo.
Quando Gerhard Schröder era primeiro-ministro, ele prosseguiu a política de pressão maciça sobre os sindicatos trabalhistas. Consequentemente, os salários caíram. O mesmo se aplica ao mais recente acordo negociado colectivamente na indústria metalúrgica.
Precisamos de um Fundo Monetário Europeu?
Não, não precisamos de uma nova instituição. Ao invés disso, devemos tratar dos problemas reais. Portanto, um Fundo Monetário Europeu não é garantia. Basta olhar para o Fundo Monetário Internacional (FMI): a sua actuação é vigorosamente criticada por muitos países em desenvolvimento e emergentes, porque a política económica que ele exige dificilmente resolveu quaisquer problemas – ao contrário, apenas piorou o destino de muitas classes sociais.
O FMI ajudou países asiáticos sacudidos pela crise nos fins dos anos 90. Pouco depois eles registaram crescimento outra vez.
Contudo, o crucial foi o facto de que os países afectados puderam desvalorizar muito as suas próprias divisas e portanto melhorar a sua competitividade.
A chanceler Merkel quer combater mais duramente os especuladores. Deveriam instrumentos especulativos como os credit default swaps (seguro de crédito) serem proibidos?
Definitivamente. Estes instrumentos financeiros não apresentam qualquer benefício, apenas fazem dano. Eles, por exemplo, contribuíram para a emergência de cenários de horror injustificados quanto à solvência da Grécia.
A entrevista original, "'Unser Überschuss ist das Defizit der Partner'" foi publicada no Badische Zeitung em 13/Março/2010. Ver também, Heiner Flassbeck, The Greek Tragedy and the European Crisis, Made in Germany (13/Março/2010). A versão em inglês encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2010/flassbeck140310.html Não. Ao contrário, irá torná-los piores. Se o Estado poupa durante uma recessão, a procura irá também evaporar-se. As situações económica e orçamental ficarão piores.
Na sua perspectiva, a contenção salarial na Alemanha será uma causa importante da tragédia grega? Outros dizem que os gregos simplesmente têm estado a viver acima dos seus meios.
Só se pode viver acima das condições se alguém alhures está a viver abaixo das suas! Os gregos certamente sacaram a descoberto da sua conta, mas só isto não explica os enormes défices comerciais dos países do Sul da Europa e os excedentes da República Federal. A contenção salarial no passado tornou a economia alemã muito competitiva – a expensas dos outros. Os custos unitários do trabalho são significativamente mais altos nos países do Sul da Europa do que na Alemanha. Isto levou aos gigantescos excedentes comerciais alemães. O excedente alemão é o défice dos seus parceiros comerciais. Agora isto é claro na Grécia. O país deve arcar com alto orçamento e défices comerciais.
A contenção salarial salvou muitos empregos na indústria alemã. A força da nossa indústria agora é novamente a inveja de muitos.
Eles deixam de reconhecer a importância da união monetária neste contexto. A política alemã de apertar o cinto funcionou tão bem só porque os seus parceiros comerciais já não podiam desvalorizar as suas próprias divisas. A desvalorização da sua parte teria levado a uma ascensão dos preços das exportações alemãs e a uma redução dos excedentes comerciais da Alemanha. A Alemanha tem abusado da união monetária, devido a uma meta assentido de 2% de inflação, a qual a Alemanha, com o seu ajuste salarial, não respeitou.
Mesmo se a política fosse diferente, isto não poderia exercer influência sobre a política salarial na indústria metalúrgica. Na Alemanha a regra é a negociação colectiva sem a interferência do governo.
Quando Gerhard Schröder era primeiro-ministro, ele prosseguiu a política de pressão maciça sobre os sindicatos trabalhistas. Consequentemente, os salários caíram. O mesmo se aplica ao mais recente acordo negociado colectivamente na indústria metalúrgica.
Precisamos de um Fundo Monetário Europeu?
Não, não precisamos de uma nova instituição. Ao invés disso, devemos tratar dos problemas reais. Portanto, um Fundo Monetário Europeu não é garantia. Basta olhar para o Fundo Monetário Internacional (FMI): a sua actuação é vigorosamente criticada por muitos países em desenvolvimento e emergentes, porque a política económica que ele exige dificilmente resolveu quaisquer problemas – ao contrário, apenas piorou o destino de muitas classes sociais.
O FMI ajudou países asiáticos sacudidos pela crise nos fins dos anos 90. Pouco depois eles registaram crescimento outra vez.
Contudo, o crucial foi o facto de que os países afectados puderam desvalorizar muito as suas próprias divisas e portanto melhorar a sua competitividade.
A chanceler Merkel quer combater mais duramente os especuladores. Deveriam instrumentos especulativos como os credit default swaps (seguro de crédito) serem proibidos?
Definitivamente. Estes instrumentos financeiros não apresentam qualquer benefício, apenas fazem dano. Eles, por exemplo, contribuíram para a emergência de cenários de horror injustificados quanto à solvência da Grécia.
Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .
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